MELLORY — entre Deuses e Reis escrita por Lunally, Artanis


Capítulo 49
Guerra — parte 2




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As tropas drakinianas já estavam atacando há algum tempo nos arredores de Findoram. Serena arquitetava uma estratégia para a linha de defesa, mas parecia um tanto receosa quanto a seus planos.

— O que foi, querida? - Miguel perguntou ao ver que sua mulher parara de desenhar.

— Não consigo pensar em algo que bloqueie um ataque marítimo... - Ela continuava concentrada no amontoado de papéis.

— Admita logo que precisa da minha ajuda. - O homem pediu esnobando. Os militares de Draken eram especializados em defesa.

— O que te leva a pensar que preciso de você? - A jovem sorriu provocando-o. Recomeçara a anotar algo.

—  Premin é um país litorâneo e por isso, a ofensiva de vocês sempre se deu, em sua grande maioria, pelas rotas marítimas. É plausível que desconheçam defesas em água. - Explicou o rapaz. Estava vestido com seus trajes de guerra, com seu tapa-olho preto sobre o olho direito.

— Ok. O que acha? - A Alfa mostrou o mapa que havia delineado para seu marido.

— Por Helias! Serena, isso aqui está muito bom! - Miguel impressionou com a destreza das linhas da morena. Serena sorriu com o elogio. - Pelo que estou observando, podemos fazer um alinhamento angular e bloquear as saídas das ruas, uma vez que são vias estreitas. Se colocarmos nossas embarcações logo no início do cais, iriamos impedir que eles desancorassem seus barcos. - Propôs percorrendo com os dedos o desenho.

— Parece prudente. Mas, soube que Kalisse controla pessoalmente os canais. - A mulher comentou.

— Pois bem, é só tomarmos o controle das mãos da deusa raposa. - A ideia parecia pulsar dos olhos de Miguel. A preminiana concordou, já estava em tempo de se eliminar aquela raposinha traiçoeira de Wakanda.

*

Nos arredores do templo de Kalisse, poucos humanos ainda insistiam em defender a deusa. A raposa era esperta, esperaria o momento certo para abandonar aquela país que não lhe parecia mais lucrativo. Ria soberba, enquanto se banhava em seu ofurô aromatizado com as mais exóticas essências. Seu faro a alertou sobre a chegada de visitantes inesperados. - Ora, ora, se não são os escolhidos daqueles abutres? - Referiu-se a Serena e Miguel quando estes arrobaram a porta de seu quarto. Tiveram que desacordar alguns guardas para passarem.

— Kalisse, a senhorita continua atroz. - A Alfa comentou. A deusa, há essa altura, já estava vestida com seus trajes decotados usuais. A raposa soltou uma risadinha irônica. - Não se me sinto honrada ou desacata com sua fala, filha do tirano. - Comentou, fazendo uma taça de vinho aparecer em suas mãos.

— Francamente, Kalisse, poupe-nos de suas observações. - Miguel pediu estressado. Só a presença de uma santidade já o enojava. - Você sabe porque viemos aqui.

— É claro! - Concordou parecendo entusiasmada a mulher ruiva. - Querem minha cabeça em uma bandeja! - Riu de sua própria desgraça.

O casal se entreolhou. - Não estamos no clima para piadinhas, raposa. - Miguel comentou entediada. Sacou a adaga de ouro branco. - A senhora decide... ou se mata ou se preferir, nós fazemos o serviço.... - Constatou, apenas o ato de dialogar com deusa o chateando.

Kalisse sorriu. - Parece que a jovem do leão tem algo engasgado.... - Provocou.

— Acertou em cheio. - Com um movimento rápido, a preminiana sacou sua faca bem amolada e pôs-se atrás da deusa. Segurou-a pelos cabelos e estando bem próxima do ouvido da mulher:

— Espero que saiba que sua espiã não me engana nem um pouco. Usada?! Valha-me deus! - Sorriu sarcástica a morena.

— Aposto que adorou a nova companhia de seu marido. - Kalisse já planejava sua própria fuga. Roçando seu dedo pela adaga, a raposa deixou que algumas singelas gotas de sangue divino tocassem o chão. O gotejar trazendo lembranças da morte de Nathaniel à Serena. A deusa estava jogando com ela e parecia estar dando certo. A Alfa arfou, como se tivesse levado um soco na boca do estômago e olhou confusa para Miguel, as palavras sem conseguir deixarem sua boca. Os olhos da raposa tornaram- se avermelhados e ela começou a manusear chamas roxas em suas mãos alongadas. Revestiu- se com a fumaça e desapareceu em meio delas, deixando apenas, desenhado com seu sangue, o símbolo da fortuna.

O drakiniano correu até Serena, que ainda estava em choque com a sensação que tivera anteriormente. - Tudo bem? - Perguntou ele, simultaneamente preocupado com

 o estado de sua esposa e com o escape da deusa.

— Sim. - A Alfa levantou as costas, restaurando sua postura impecável. - Mas, acho que tiramos a sorte grande! - Exclamou sorridente.

— Como assim? - Uma interrogação formou-se no rosto de Miguel.

— Kalisse fugiu, no entanto deixou o controle do cais para nós. A astúcia dela é apenas uma fachada. - Completou a Alfa passando as mãos pelo painel de controle. Miguel sorriu travesso. - Findoram será de Draken. Sem sombra de dúvida.

*

Os extensos e bem protegidos portões de Premin abriram-se ao perceberem a chegada inesperada da deusa raposa. Para uma divindade, sua aparência estava mais do que cansada e ela parecia trazer alguns resquícios maléficos de seu último rito tatuados em seus braços. Três guardas a acompanhavam, bem de perto, fazendo com que ela se sentisse um pouco desconfortável.

— Parece que seu Alfa não informou a vocês, meus caros senhores, que sou uma deusa! – Gargalhou sarcástica enquanto prosseguia com seu rebolado habitual.

— Pelo contrário, é o comando que nos foi dado. Manter os olhos bem abertos a qualquer visitante estrangeiro. – O soldado explicou. Trajava uma armadura recoberta por fios de prata. Algo comum. A família real usava oura. O exército o metal prateado.

— Que falta de modos! – Cuspiu as palavras a ruiva, depois de uma bufada. Aumentou o ritmo de seus passos até avistar a fachada do Palácio do Leão Rei. O homem de porte majestoso e com cabelos penteados loiro-dourados a esperava enquanto enfaixava sua própria perna. Aparentemente havia se ferido em algum conflito.

— Brutus! – Kalisse chamou, dando-lhe um beijo na bochecha. O Alfa pareceu incomodado com tamanha intimidade.

— O que quer, raposa? – Ele perguntou enojado. Estava com a cabeça em outros lugares.

— Asilo, meu belo. – Ela sorriu travessa. – Fui expulsa de meu reino. Adivinhe por quem?

Brutus a olhou sério. Detestava as brincadeiras da deusa.

— A bastarda de Mathias. – A mulher respondeu a si mesma, passando as unhas pelo tórax do rei.

— Foi mandada embora por aquela insolente? Pensei que fosse mais forte do que isso, Kalisse. – Constatou o homem provocando-a.

— E sou. – Retrucou ela orgulhosa. – Mas, tenho planos mais importantes para o momento. Sabe, eu não deveria gastar meu precioso tempo, sujando minhas mãos com o sangue daquela sem-terra. – A raposa fez uma lixa magicamente aparecer em suas mãos e começou a passá-la em suas unhas. – Então, irá deixar-me ficar ou não?

— E eu lá tenho opção? – Reclamou ele concordando. – Que fique claro, raposa. Você me deve uma. – Encarou-a sério antes de se retirar.

 TERMINO DA GUERRA

A guerra foi cessada, não houve tantas mortes por parte da aliança de Draken. Os institutos se renderam tanto o conselho dos betas de findoram, como os militares e anciões. A vitoria de Draken já foi declarada.

Findoram respondeu fácil a colonização. Acho que com a morte do alfa e o abandono da deusa eles aceitaram que haviam perdido e até mesmo desistiram de lutar. Na verdade até recebiam o povo com uma hospitalidade estranha, serviam bebidas e até algumas mulheres se insinuavam de forma vulgar.

— É um povo muito aproveitador e sedutor. — falou Scorpio rindo da situação, como os selvagens e bárbaros já tiveram contato com varias culturas, não estranharam a reação do povo de Findoram, mas o Drakinianos que são disciplinados e fechados estavam sem jeito e atrapalhados com a situação.

— O que vamos fazer agora? — Serena indagou, queria ir embora, não aguentava mais aquele país.

— Colonizar. — Hatori respondeu. E os outros ficaram assustados. — Devemos melhorar Findoram, dar condições para ela evoluir, se esse reino continuar assim, nunca vai parar de se afundar e procurar modos ruins de sobreviver.

— Isso gasta tempo e dinheiro. — reclamou Miguel.

Hatori olhou para os bárbaros que bebiam com os findorianos. — Graças aos acordos que fizemos no Basílio tem muito dinheiro entrando em Draken, o problema é o tempo. — suspirou, ele próprio não tinha tanta fé, mas era a única opção valida. — A escravidão e comercio deste será abolida, e deveremos ensinar/educar, esse povo com novas praticas. — explicou detalhadamente. — Vamos inserir eles no mercado econômico, já passou dá hora deste reino evoluir.

— Você tem um motivo nobre rapaz, mas nada assegura que o povo será fiel a você, Kalisse pode até aproveitar, deixar você reformar e evoluir a país dela, e voltar para revidar. — Scorpio cita tentando expor a possibilidades maléficas deste plano.

— É um risco que corremos da mesma forma que não temos total certeza do que sua rainha irá fazer quando tiver o trono de Premim. — Hatori mostrou outro lado, sem intrigas, apenas um fato, tanto que Miguel e Serena nem revidaram. — E é por isso que vamos matar Kalisse.

— Matar uma deusa? Impossível, está reencarnará. — o selvagem não entendeu o motivo, todos sabem que os deuses não morrem, a única coisa que tira o status de deuses dele é se virarem caídos.

Hatori riu, o selvagem era ingênuo apesar da idade. — Sim, irá, e nos a criaremos e moldaremos essa personalidade dela. É a única opção favorável. — respondeu e se retirou. Tratou de ir já comandar seus soldados para a divisão, dos que ficariam aqui para continuar o trabalho e para os que iriam embora. Tinha que explicar os programas para evoluir aquele povo, e tinha que decidir como seria as campanhas de conscientização.

— Vamos perder mais soldados. — Miguel falou desanimado.

— Por quê? — Serena perguntou e Scorpio ficou intrigado também. Nem havia mais batalhas por enquanto para perderem militares.

— Eles têm mania de casar com os estrangeiros e não voltarem. — suspirou o alfa menor fingindo cara de decepção.

Os presentes riram da brincadeira. Não importa a hora, Miguel nunca perde a oportunidade.

— Criar um deus. — Serena riu em deboche. — Que loucura!

Miguel e Serena logo trataram de fazer seus afazeres.

*

Hatori mandou escreverem uma carta e explicar a situação para Golty, pois ele prometeu ao Ren, líder dos anciões, que os manteria informados.  O alfa maior em um intervalo que teve parou um pouco e analisou seu corpo, não doía nem tinha marcas, mas tinha certeza de algo reagia em seu corpo, um veneno que não seria fácil de tratar.

 FUGA DOS EX-ALFAS DE PREMIM — FURIA DE BRUTUS POR GUERRA

Com a chegada cada vez mais próxima da estação das flores, as masmorras preminianas ficavam agitadas. Mathias observava a magreza de sua esposa e lamentava-se um pouco por dentro por tê-la feito acatar com seu pedido hediondo. Mandar uma mãe assassinar um filho é uma atrocidade incontestável.

— Liliana, precisamos fugir. - Disse tentando manter alguma firmeza na voz.

— Já tentamos de tudo, meu rei. Mas, como o senhor mesmo sabe, não há saída ou propina que nos tire daqui. - Respondeu sonolenta. A comida escassa enfraquecendo suas vértebras.

— Minha Rainha! - O homem grisalho segurou a mão cadavérica da loira. - Acabo de ter uma excelente ideia! - Exclamou com um sorriso frio no rosto.

— Prossiga. - Ela pediu sem ao menos dar- se o trabalho de o encarar.

— E se fizéssemos um pacto? - O rosto do Alfa estava preenchido por uma expressão diabólica. A mulher fitou-o. Não compreendia aonde seu marido desejava chegar. Pactos só haviam trazido desgraça para a família real. - E quem aceitaria fazer um acordo com reis destronados? - Questionou cética.

— Quem mais poderia ser? - Mathias empolgava-se cada vez mais. - Além daquele que vive onde as fronteiras de Wakanda terminam e o Novo Mundo se inicia?

— O senhor não está falando sobre... - A dócil foi interrompida por seu homem.

— Exatamente. Estou falando de Zen, o Feroz. O melhor amigo de Amom. - Riu sarcástico.

*

A névoa negra encobria o interior da cela e estremecia a alma de Liliana. Ela teve de concordar com a hipótese levantada por seu marido, pois já se via sem opção. O casal desenhava com lascas de pedra vários círculos com um olho no meio. Estando pronto o desenho, evocaram o espírito e um tremor ouviu-se por todo o calabouço. Como petróleo, um líquido preto começou a deslizar pela minúscula janela da jaula e ao tocar o chão, metamorfoseava-se, pouco a pouco, em um humano com cabelos loiros e trançados. Estava recoberto de peles e seus olhos estavam atiçados como os de um felino. Mathias e Liliana prostaram-se no chão, em respeito e medo àquele ser fantabuloso.

— Espero que tenham um bom motivo para atrapalhar meu sono! - Esbravejou Zen, pequenas garras surgindo da ponta de seus dedos. - Não sou de ceder a cortesias de megeras como vocês.

— Oh! Adorado Zen, desejamos firmar um pacto. - O rei falou convicto, olhando para a criatura. Os olhos do feroz saltaram de excitação.

— Devo avisar-lhes que todo o pedido tem um preço. - Alertou apenas para manter a tradição.

— Qualquer coisa! - Liliana insistiu delirando com a fome.

— Assim que eu gosto. O que querem? - Zen indagou sorrindo malévolo.

— Uma saída, mi lorde. - A Alfa respondeu de sulpetão.

— Ora, ora! Mas o que me darão em troca de sua liberdade? - O felino insitiu parecendo estar embriagado.

— A criança de minha filha. - Mathias respondeu sem dó. Seu amor por Serena havia cessado no momento em que ela o aprisionara naquele lugar imundo. Ele se vingaria, com toda a certeza.

— Com uma oferta dessas, como poderei recusar? - Zen estendeu a mão ao rei a fim de firmar o acordo. O homem apertou- a fraco. Ao término do toque, uma das paredes da masmorra se desfez em um vórtice e o ser os convidou para entrar.

— Para onde está nos levando? - Liliana gaguejou antes de adentrar na escuridão.

— Muitas perguntas, querida. Poucas surpresas. - Espalmou as costas dos reis e jogou-os em meio ao desconhecido.

— Estou só a imaginar a cara do leão, quando souber que a primogênita de sua escolhida se trata da minha mais nova mercadoria.


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