Aliensexualidade escrita por Cat Lumpy


Capítulo 4
Parte 04




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706164/chapter/4

Eu tinha só sete anos quando vi um disco voador. Dois meses depois e eu notei as criaturas de outros planetas na Terra, sempre na minha cidade, pareciam gostar do lugar, principalmente da praia. Era fácil de percebê-los, os aliens não sabiam se misturar a nossa sociedade.

Fiquei fascinado com eles, cresci observando-os, virei um fanático pelas espécies extraterrestres. Daí, como os alienígenas pareciam adorar um passeio pela cidade, resolvi me tornar guia turístico, assim eu poderia continuar com meu estranho hobby de assisti-los interagir com humanos.

Toda vez que um aparecia no meio dos gringos eu sorria interiormente, era muito fácil perceber os olhos estranhamente escuros e a dificuldade em falar, sem contar com os tiques esquisitos causados pelo disfarce holográfico, se você passasse algum tempo o encarando, repararia que sua aparência tremia a cada dez segundos.

Foram dois anos trabalhando e em um fatídico dia de segunda-feira eu percebi, notei que não havia mais nenhum extraterrestre, eles desapareceram. Tentei me confortar, pensando que só estavam passando um período em seus planetas, mas passaram-se meses, e então um ano, e eles não voltaram.

Calma, pensei naquele tempo, talvez ainda estejam aqui e você não consiga os diferenciar, talvez tenham ficado bons em se misturar. Entretanto, como eu poderia saber se isso era verdade? Foi quando eu passei um tempo deprimido.

— Daniel, — senti algo gelado tocar minha bochecha, uma cerveja — sai dessa.

Peguei a cerveja e dei um pequeno sorriso a José, que se sentou ao meu lado. Ele sabia da minha obsessão e também tinha certeza de que aliens existiam. José era meu melhor amigo há anos, ele era um advogado recém-saído da faculdade quando nos conhecemos. O homem estava bêbado, jogado no calçadão da praia quando o conheci.

Eu senti pena dele e resolvi o fazer companhia. Ouvi sua história, como sua possível carreira promissora tinha sido arruinada por causa de um alienígena. Se fosse qualquer outra pessoa teria achado que José era só um bêbado maluco, mas ele tinha tido a sorte de ser eu a ouvi-lo.

Viramos amigos instantaneamente. O ajudei a reconstruir sua vida. Deixei-o ficar em meu apartamento até conseguir alugar um próprio. Foram horas olhando anúncios de empregos no jornal. Bem, no final das contas José tinha conseguido um bom trabalho, uma namorada incrível e, não um apartamento, mas uma casa, enquanto eu tinha arrumado um amigo para toda a vida.

— Cara, você não sabe como é isso. — balancei a cabeça sob o brilho alaranjado do pôr do sol, estávamos sentados no calçadão, no mesmo lugar onde tínhamos nos conhecido.

José não disse nada, só continuou olhando para a praia, bebericando a cerveja. Eu dei um gole na minha.

— Eu passei minha vida inteira ao redor deles e agora eles simplesmente se foram. É um pouco engraçado, sinto como se tivessem me esquecido.

— Sabe do que você precisa? — ele começou depois de um tempo em silêncio — De uma namorada.

Ah, eu segui o conselho de José e como segui. Sair com muitas de minhas clientes virou uma rotina interessante. Inglesa, italiana, alemã, russa, americana, mexicana. Era uma lista grande de nacionalidades. José, claro, desaprovou amargamente.

— Você não entendeu, não é? Sabe o que é uma namorada? — me disse irritado no corredor do hospital.

Ele encarava a mulher loira e de olhos azuis que segurava minha mão. Outra inglesa. Dei de ombros indiferentemente, ela não sabia falar português. Aliás, eu sei muitas línguas, sou um guia.

— Eu me sinto melhor. — sorri maliciosamente.

José soltou um longo suspiro.

— O que vou fazer com você, seu babaca?

— Com licença, — uma mulher de touca e jaleco apareceu de uma das portas do corredor — senhor Pereira?

Meu amigo acenou com a cabeça para a moça. Eu tinha reparado no quanto as mãos dele tremiam. José estava nervoso e com razão, seu primeiro filho estava nascendo. Ele nunca saberá que eu só levei aquela gringa junto comigo para o hospital para distraí-lo um pouco. Ele me mataria se descobrisse!

— É uma linda e saudável menininha! — falou sorrindo para meu amigo.

Nunca me esquecerei daquele momento em que José me abraçou forte, chorando e dizendo que eu seria o padrinho. Claro que no dia seguinte ele negou as lágrimas:

— Era só um cisco no meu olho!

E então a vida prosseguiu. José casado e com uma bela e aconchegante casinha. Eu solteiro e com meu bagunçado apartamento. Foi aí que Linda apareceu. A palavra certa é: nostálgico. Ela despertou em mim o que há muito tinha sido esquecido.

Era aquele sentimento de “lar doce lar”, de volta as raízes ou algo assim. Linda me atraía, puxava-me. E o mais assustador é que ela não precisava fazer nada. Eu simplesmente sentia que deveria ficar perto dela. Para...

Para não deixa-la escapar!

É. Eu finalmente tinha entendido a força invisível. Era meu subconsciente, sempre ligado no fanatismo por extraterrestres. Ele sabia o tempo todo o que Linda era. E por isso me levava sempre a ela, eu não podia perdê-la de vista, não podia deixar que Linda tivesse a oportunidade de me abandonar como os outros!

Uma lembrança sonolenta:

Seus braços em volta de mim, os cabelos ruivos fazendo coquinhas em meu queixo. Nossos corpos entrelaçados. Era de manhã, estávamos no número 18. O sonho encobria a consciência da realidade.

— Daniel, — a voz doce de sotaque estranho — acho que você não precisa mais me ensinar a amá-lo.

***

Certo. Ela era uma extraterrestre. Linda era uma Alien! Segurei a respiração, o ar fazendo uma pressão insuportável em meus pulmões. Meus olhos arregalados captando a imagem dela: cabelos de tentáculos vermelhos, olhos negros, pele brilhosa, vestido branco de noiva e lágrimas pretas nas bochechas.

Linda. A mulher que eu amava.

— Você... — eu não conseguia formular uma frase.

Meu coração saltava de tanta... alegria! Linda, a alien que eu amava!

Ela levantou-se apressada, limpando as manchas pretas das bochechas com as mãos inquietas. O olhar que me lançava era uma mistura de esperança e arrependimento.

Desencostei-me da porta e deixei o ar sair, tentando respirar normalmente. E então, sorri. Um sorriso largo. E Linda quase derreteu de alívio. Ela hesitou por alguns minutos, ainda indecisa. Estendi meus braços, convidando-a, e ela veio até mim.

Seu corpo pequeno encaixava-se perfeitamente no meu, os braços finos me rodearam. Foi um abraço apertado. Linda não ia escapar. Ela estava presa a mim.

Respirei o perfume adocicado que exalava de seu corpo, um cheiro inebriante. Ela se afastou um pouco, as mãos deslizando para meu peitoral. Os olhos negros fitavam os meus verdes, a honestidade que eles passavam era desconcertante, mas eu mantive seu olhar.

Linda ergueu-se nas pontas dos pés e inclinou a cabeça para trás, os lábios hipnóticos atraindo minha atenção. Naquele momento, eu não precisava de mais nada além deles. Levei minha boca em direção a dela. E afoguei-me na dança que era o beijo.

Nossas línguas valsavam, enrolando-se em passos lentos e quentes. Minha mente era uma explosão de fogos de artifício. Linda me deixava tonto de desejo, louco de amor. Apertei-a em meus braços. Ela suspirou entre nossos lábios e eu comecei a ter certeza de que nós nos atrasaríamos para o casamento. E foi aí que uma dúvida invadiu minha cabeça, e eu não tive escolha senão interromper o beijo.

— Linda, — sussurrei — alienígenas e humanos podem se casar?

Ela sorriu radiantemente e deu de ombros antes de voltar a grudar seu rosto no meu.

— Ei, Daniel, — uma voz acompanhou as batidas na porta, era José — você me deve mais uma cerveja! Tive que vir de táxi!

Ouvimos ele suspirar do outro lado, eu quase podia ver o sorriso que devia estar estampado na cara dele.

—Seja lá o que estiverem fazendo aí, terminem dentro de duas horas. Não quero ter que pagar mais para aqueles músicos, eles cobram sessenta por hora!

Eu e Linda não seguramos o riso, José era uma figura!

— Pode deixar! — respondi.

***

— Daniel, — Linda falou baixinho, seus dedos percorriam a linha de meu maxilar — precisamos conversar.

— Hum. — murmurei em resposta.

A cabeça ruiva estava sobre meu ombro, virei meu rosto para fita-la, eu não me cansava de ver os olhos dela, ora azuis, ora negros. Estavam azuis. Remexi-me um pouco na cama, “precisamos conversar” não era um bom sinal.

— Bem, — ela desviou o olhar, o que me deixou ainda mais temeroso — é que...

Linda deixou a voz morrer na garganta, voltando a me encarar.

— Por que seus olhos são tão verdes? — perguntou fazendo uma pequena careta.

— Linda, — adverti-a, ela tinha a mania de mudar de assunto quando não queria falar sobre algo, agora eu estava realmente preocupado — quer me matar de suspense?

Ela percorreu o quarto de nossa nova casa com os olhos. Já estavam negros.

— São... — Linda suspirou, por fim dizendo — meus pais.

— Seus... pais? — repeti no automático, eu ainda não conhecia os pais dela, e estávamos casados há dois meses!

— Eles estão vindo para conhecê-lo. — completou.

Enfim, a minha vida é bem normal, exceto, é claro, por minha mulher. Como eu já disse, ela é uma alien. E eu a amo.

— Certo, vamos recebê-los. — dei um pequeno sorriso malicioso para ela — E acho melhor aproveitarmos enquanto eles não chegam.

Eu sou Daniel Silva, e essa foi a história de como conheci minha maravilhosa esposa, Linda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem se quiserem que eu dê continuidade a One Short, ok?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aliensexualidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.