Malfeito feito escrita por msnakegawa


Capítulo 56
Aquilo não significou nada


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Espero que estejam bem e que gostem desse capítulo, ficou bem grande mas é porque acontecem muitas coisas importantes!



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"Pelas cuecas sujas de Merlin, eu perdi o juízo?", Lily ainda não acreditava que tinha aceitado beijar James Potter. Ela agiu naturalmente até o fim da noite, mas quando foi para o quarto sozinha começou a pensar demais. Era um hábito terrível que ela tinha, repetir suas ações em sua mente e pensar nas coisas que podia ter feito diferente.

Como era de se esperar, Mary estava no quarto de Peter e Lenny, no quarto de Sirius. Só sobrava James, com quem ela não queria conversar naquele momento. Ela não estava brava com ele, não realmente. Ela havia aceitado a proposta doida dele, era ela quem havia enlouquecido de vez. Era James Potter!

No final do corredor, James estava se sentindo nas nuvens. Parecia que a qualquer momento alguém o acordaria dizendo que foi só um sonho. É claro, estava longe de ser o que James queria: havia sido um beijo de um ou dois segundos, um beijo entre amigos. Mesmo assim era mais do que ele jamais imaginou quando a convidou para o natal. Ele nem mesmo sabia como aquela ideia tinha surgido em sua cabeça e muito menos como ele fez Lily aceitar.

O combinado foi fingir que não tinha acontecido e torcer para aquele beijo dar sorte para os dois e valer a pena e, para Potter, já tinha funcionado. Parte de James queria contar para os marotos, mas outra parte dele queria aquilo só para ele, como se contar para alguém pudesse fazer o momento escapar de suas memórias.

James prometeu para si mesmo que 1977 seria um ótimo ano. Ele conquistaria Lily da maneira certa e poderia beijá-la para sempre. Também estava em sua lista de coisas para fazer em 1977 ganhar a Taça das Casas e ter a melhor festa de aniversário de 17 anos que a comunidade bruxa já viu.

Na manhã seguinte, James ficou mais vermelho que um berrador quando trombou com Lily saindo do banheiro. Seus cabelos estavam molhados e ela estava distraída secando-o com a toalha quando sentiu o impacto do corpo de James, a desequilibrando.

— Opa! — James a segurou pelos braços, se enroscando na toalha que ela segurava. Calça jeans ficava sempre tão bem nela, e o suéter verde fazia seus olhos ficarem ainda mais esmeraldas. "Caramba, como ela é linda!".

Lily sentiu sua barriga gelar com o toque de James. Os dois ficaram parados no meio do corredor por cerca de cinco segundos, mas os segundos pareciam demorar mais para aqueles dois. Os olhos de James brilhavam atrás dos óculos retangulares, apreciando cada detalhe da garota em sua frente. — Você está babando, Potter. — Ela se soltou de seus braços, rindo da cara de bobo dele e tentando quebrar o clima tenso entre os dois. Ela estava se sentindo estranha por causa do beijo, mas não queria voltar à fase em que eles se odiavam, então manteve a postura e o bom humor pelo bem da humanidade.

Entrou no quarto se sentindo um pouco estranha, como se seu estômago tivesse virado de cabeça para baixo. "Aquele beijo não significou nada", ela repetiu como um mantra em sua cabeça a manhã toda até finalmente voltarem a Londres. No trem, o grupo lotou uma cabine e começou a relembrar as melhores partes do feriado.

— E Remus bêbado? Foi muito engraçado! — James lembrou, rindo tanto que sua barriga estava doendo. Ele não falou nada sobre o beijo para ninguém e Lily agradeceu mentalmente por isso. Provavelmente ela estava dando muita importância para algo que não tinha sentido.

— Eu ainda estou me sentindo meio de ressaca. — Remus comentou, se sentindo fraco por causa da lua. Ele tinha encontrado os amigos depois de voltar para casa.

— Nós precisamos praticamente carregar você até seu quarto... Você nunca bebe tanto assim! — Lily gargalhou ao lembrar de Remus cambaleando pela rua.

— Você também bebeu bastante, ok? — Ele tentou se defender. — E quanto ao Sirius, que não tem moral nem com a Sra. Potter? Ela o mandou vestir uma roupa e descer com a Marlene!

— Mamãe entende minhas necessidades. — Sirius se gabou, jogando os cachos para trás e sorrindo torto. — E quanto a vocês dois, hein? — Apontou para Peter e Mary, que coraram imediatamente, denunciando outro acontecimento durante o recesso.

— Só queria declarar que eu dormi sozinha ontem a noite. — Lily provocou Mary, sugerindo que ela tinha dormido com Peter. Ela estava agindo melhor do que ela mesma esperava, talvez realmente tivesse sido só um beijo entre amigos.

— Perdeu sua chance, hein Pontas! — Sirius cutucou James com o cotovelo, o fazendo ficar vermelho como um pimentão.

— Cala a boca, Sirius! — James brigou, tentando manter a postura. Lily sabia que ele havia ficado daquele jeito por causa do beijo,  mas ambos fingiram naturalidade.

James tinha prometido para Rose que não passaria dos limites, e mesmo assim ele passou. Tinha dado certo, mas ainda assim ele se sentia nervoso só de pensar no que aconteceu. Ele tinha beijado Lily Evans! E o melhor, ela tinha aceitado. Ele sentia seu estômago fazer um looping ao lembrar dos lábios macios e doces de Lily nos seus, mesmo que tenha sido por um segundo. A ruiva o fez prometer que ele não ia contar para ninguém sobre aquilo, nem mesmo para Sirius e, por mais que agora ele quisesse gritar para o mundo que ele finalmente havia beijado Lily Evans, não podia quebrar a confiança dela e manteve a boca fechada.

Era um belo esforço manter a naturalidade quando tudo o que ele queria era sentir os lábios dela de novo, mas era necessário. Eles eram amigos e ela tinha namorado. Aquele beijo não podia significar nada.

Quando o trem finalmente chegou na estação, todos seguiram para o Salão Comunal cansados demais da viagem. Diferente do que Lily imaginava, Fabian não estava na Torre da Grifinória então seguiu até a cabana de Hagrid, o segundo lugar que o garoto mais ficava.

Atolados até os joelhos na neve acumulada no cercado dos hipogrifos, Fabian, Gideon e Hagrid usavam pás para limpar ou pelo menos jogar a neve para o lado de fora. Lily estava com saudades de Fabian e com uma pitada de culpa pelo que aconteceu no ano novo, mesmo que não tivesse significado nada.

Não foi traição, nem nada do tipo. Não havia sentimento envolvido, foi simplesmente um beijo de boa sorte para um bom 1977. Apenas uma tradição cumprida entre dois amigos. Não tinha motivos para Lily falar sobre aquilo com Fabian, não tinha importância.

Lily alcançou a cabana do Hagrid e se assustou com a porta abrindo. Uma garota loira, com cabelos lisos na altura dos ombros usando um cachecol da Sonserina e um par de galochas cinzas passou pela porta segurando um balde com a comida dos hipogrifos.

— Oi! Você deve ser a Lily! — A garota colocou o balde no chão e limpou a mão na blusa, estendendo-a para Lily enquanto sorria. — Eu sou Grace Malfoy, quinto ano.

— Muito prazer, Lily Evans. — Uma parte dela estava impressionada com a animação da menina. Estava muito frio nos jardins, mas ela não parecia estar incomodada com isso nem com o cheiro esquisito vindo de uma pilha de compostos ali do lado.

— Fabian me falou muito de você. — Ela pegou o balde novamente e começou a andar ao lado de Lily. — O Professor Kettleburn me disse que se eu quero mesmo ser magizoologista, eu devia conversar mais com Hagrid e outros alunos com interesse nessa área. Então eu conheci os garotos e comecei a ajudar aqui... Foi uma semana bem doida, se posso dizer. — Elas chegaram no cercado, então Grace passou entre as madeiras com a comida para os hipogrifos e Lily ficou sozinha do lado de fora.

— Lily! — Fabian viu os cabelos ruivos contrastando com a neve meio derretida que cobria o gramado. Da mesma forma que Grace fez, Fabian também limpou as mãos na blusa antes de passar pelo cercado e ir de encontro com a namorada. — Eu te abraçaria, mas estou um pouco sujo. — Ele abriu os braços, mas pensou duas vezes ao ver a cor de suas roupas. O sorriso tímido dele era uma das coisas que Lily mais gostava, era discreto, mas fofo. Bem diferente do sorriso exibido do Potter. "Por que ela estava pensando nisso, afinal?".

— Recebeu meu presente? Eu pedi para aquela corujinha voltar direto para Hogwarts... — Lily ficou na ponta dos pés para beijar o garoto.

— Eu adorei, Hagrid falou que nunca tinha visto essa versão... — Ele passou o braço pelo ombro de Lily. Grace já tinha terminado de alimentar os hipogrifos e se juntou a eles. — Você já conheceu a Grace, não é? — As duas trocaram sorrisos amistosos. — Acho que você estava certa, nem todos os sonserinos são ruins. — Falou para Lily, mas obviamente foi para provocar a nova amiga.

— Ei! — Grace bateu no braço de Fabian, um pouco ofendida. Lily notou que os dois já estavam bem próximos para apenas uma semana como amigos e ficou feliz por Fabian, ele não tinha muitos amigos além de seu irmão. — Você tem algum amigo da Sonserina, Lily?

— Já tive. Agora nós não nos falamos mais. — Lily não pensou muito em Severus nos últimos tempos.

— Ah... — Grace pareceu ter ficado sem graça, desviando o olhar e mexendo no cabo do balde em suas mãos, inquieta.

— Não, é só que ele começou a andar com outras pessoas e... — Lily fez uma careta tentando pensar numa forma de explicar o que aconteceu. — Basicamente ele mostrou que não é uma boa pessoa. — Deu de ombros, pensando consigo mesma que não foram as amizades de Snape que os afastaram e sim, as escolhas que o garoto fez.

— Que droga... Isso não ajuda muito a nossa reputação. — Ela riu, mas parecia um pouco frustrada com a atitude de alguns sonserinos. — Mas eu prometo que sou legal.

— Oi Lily. — Gideon se juntou a eles. Depois do que aconteceu com a Marlene, ele não parecia mais tão amigável com Lily, mas era de se entender. Ela não ficou do lado dele e ainda contou a verdade para Fabian. Foram dias um pouco conturbados. — Vocês vão jantar? — E assim, eles seguiram todos juntos para o Salão Principal.

O jantar estava maravilhoso, como se Hogwarts desse boas vindas aos alunos depois do recesso de natal. As mesas de cada uma das casas competiam sobre qual fazia mais barulho, todos empolgados contando as novidades sobre as férias.

Bonjour mes amis! — Dorcas se juntou aos amigos na mesa, sentando entre Gideon e Mary. Os dois grupos estavam um pouco separados porque Marlene e Gideon não estavam em seu melhor momento, ainda mais quando se tratava de contar as novidades do natal. — Eu imagino que as férias de vocês foram muito legais, mas eu já decidi: vou me mudar para a França se não passar nos NIEMs! — Ela serviu seu prato, animada.

— Nós vamos passar! E você não pode abandonar a gente, Dorcas! — Mary tinha um espírito motivacional as vezes.

— Me deixa sonhar! Lá é tão lindo... E os garotos... — Dorcas suspirou, encantada.

— Você não está com o Chang? — Lily levantou a sobrancelha para a loira.

— Eu posso admirar a paisagem, certo? — Dorcas sorria abertamente, lembrando-se da viagem.  — Eu não beijei nenhum deles nem nada. — Lily sentiu seu estômago gelar por um momento, sentindo uma pontada de culpa. Seus olhos voaram na direção de James, que gargalhava de alguma coisa que Marlene tinha falado. Lágrimas escorriam de trás de seus óculos retangulares de tanto rir, e suas bochechas estavam levemente coradas. Ele não tinha falado nada. Provavelmente ele contava tudo para Sirius, mas visto que não recebeu nenhum tipo de provocação, Black não sabia do que tinha acontecido no ano novo. E não tinha motivo para ele contar, aquilo não significou nada.

— Como foi o natal em Hogwarts? — Lily voltou a atenção para a conversa. Fabian e Gideon se divertiram contando sobre os primeiros dias de Grace ajudando Hagrid, narrando sobre como o cavalo-do-lago sumiu no Lago Negro assim que viu a lula gigante e contando sobre o jantar de natal: McGonagall e Dumbledore resolveram dançar quando sobraram poucos alunos no salão.

— No primeiro ano, eu achava que eles fossem um casal. — Mary riu ao confessar para os amigos.

— Eu também!

— Sei lá, as vezes eles preferiram focar na carreira ou algo assim...

— Vai saber...

— Falando em casal, eu fiquei de encontrar o Chang depois do jantar. — Dorcas limpou sua boca com um guardanapo e se levantou, olhando para a mesa da Corvinal. — Vejo vocês mais tarde. — Se despediu e partiu ao encontro do novo namorado.

Chang era alto e tinha braços fortes, ombros largos e cabelo bem curto. Parado perto da sala de Transfiguração, ele era irresistível. Dorcas pensou bastante nele durante a viagem, enquanto observava casais apaixonados se beijando e passeando perto da Torre Eiffel.

Bonjour mon amour! — Ele abriu um sorriso ao ouvir Dorcas. Ela tinha realmente gostado da língua francesa, era tão romântica e soava tão bem!

— Pelo visto gostou da viagem... — Chang a abraçou forte. O abraço logo se transformou num beijo carregado de saudade. Fazia pouco tempo que os dois estavam juntos, mas na adolescência as coisas ficam mais intensas e pouco tempo pode significar muito. Robbie interrompeu o beijo para olhar pelo corredor em busca de um armário de vassouras e encontrou um a uns quatro metros de distância.

Ninguém sabia porque Hogwarts tinha tantos armários de vassouras, a única utilidade deles era servir de espaço para uns amassos e Dorcas e Chang estavam aproveitando muito bem o local. Dorcas observou milhares de beijos franceses durante o recesso e parecia ter aprendido alguma coisa, pois os beijos estavam cada vez mais molhados e intensos. Chang passava as mãos da cintura de Dorcas para suas coxas, depois colocava as mãos nos bolsos de trás de sua calça preta enquanto ela afagava seus cabelos curtos e apertava sua nuca, o puxando para mais perto.

Por um momento, Dorcas se lembrou das vezes que ficava assim com Remus. Ele era tão carinhoso quando a acariciava, deixando-a arrepiada todas as vezes. Era engraçado ter com quem comparar os beijos de Remus, tão cuidadosos e apaixonados, contra os de Chang, que eram bem mais urgentes e cheios de desejo. Ela não devia estar pensando em Remus enquanto beijava Robbie. Eles tinham crescido, as coisas eram diferentes agora. Os hormônios estavam agindo mais forte e Dorcas sabia que era só sua cabeça querendo a deixar doida, mas era melhor encerrar a noite antes que ela fizesse alguma besteira.

— Rob, acho melhor nós irmos... — Separou seus lábios, um pouco receosa. Ele fez cara de triste, mas assentiu. No caminho até o sexto andar, Dorcas tentou se distrair falando sobre as férias e perguntando como havia sido os dias no castelo. Quando ela alcançou os dormitórios femininos da Grifinória, apenas se jogou na cama se sentindo confusa.

As coisas estavam indo bem, ela tinha superado seus problemas com Remus. Por que ele não saia de sua cabeça, então? Ela estava com Robbie Chang, oras! Ele era um dos caras mais desejados da Corvinal, ela deveria estar se sentindo ótima.

Mas, ao invés de ótimo, os dias que seguiram trouxeram uma notícia terrível.

Londres, 16 de janeiro de 1977.

ASSASSINATO DE DOIS NASCIDOS TROUXAS EM YORKSHIRE

O Ministério da Magia anunciou que durante a madrugada ocorreu um ataque na região de Yorkshire. Os dois nascidos trouxas estavam participando do treinamento de aurores, mas não conseguiram resistir à tortura causada pela maldição Cruciatus e vieram a falecer.

"Eles eram muito bons no treinamento, mas ainda não estavam preparados para um ataque como este. É por isso que eu sempre digo que precisamos de vigilância constante.", comentou Alastor Moody, chefe dos aurores.

Ainda não se sabe quem foi o autor do ataque, mas a comunidade bruxa está cada vez mais frágil e assustada.

— Eu não acredito que eles estão dizendo que não sabem quem foi o autor do ataque! É claro que foi Você-Sabe-Quem! — Marlene reclamava para o Profeta Diário em suas mãos na manhã de sábado.

— Lembra o que o Professor Digory disse, estão usando a maldição Imperius para controlar pessoas de dentro do Ministério. Talvez eles também tenham tomado o Profeta Diário. — Peter sugeriu, comendo um croissant.

— Cara, eles não iriam anunciar que houve um assassinato se estivessem no comando do Profeta Diário. — Remus revirou os olhos para a lerdeza de Peter. As vezes era difícil fazê-lo entender as circunstâncias.

— Oi gente! Vocês já vão desc... — Lily se sentou entre Marlene e James, sem perceber. Quando olhou para a direita e viu os cabelos arrebitados dele, sentiu o rosto corar e parou a frase no meio. Eles não tinham conversado muito depois que as aulas voltaram. As desculpas eram muitas, desde estudar para alguma prova que só aconteceria dali a dois ou três meses ou os jogos que estavam chegando.

— Oi Lily. — James sorriu torto para ela, também um pouco corado. Passou os dedos por seu cabelo castanho escuro e pegou seu pomo roubado de cima da mesa.— Já estamos descendo para o campo. — Respondeu a pergunta de Lily, mesmo que ela não tivesse terminado a frase.

Os marotos foram seguidos até o campo por uma multidão de alunos. O vento frio de janeiro não foi o suficiente para afastar os alunos do campo de quadribol. Ainda que não fosse um jogo decisivo, as arquibancadas estavam lotadas de alunos vestindo as cores da Grifinória e da Corvinal. Chang estava com o rosto pintado de azul e bronze ao lado de Dorcas, que balançava bandeirinhas da Grifinória a cada gol.

Do alto, Potter avistou Lily sentada perto de Marlene e Fabian, e franziu os olhos para uma garota loira sentada ao lado do Prewett usando as vestes da Sonserina. Como se estivessem em sintonia, Lily percebeu que James olhava naquela direção e acenou, fazendo o coração dele derreter.

— Pontas, acorda ai! — Sirius se jogou na frente dele para impedir que um balaço lhe acertasse. — Não sei se você reparou, mas está rolando um jogo aqui...

Depois disso, James focou em procurar o pomo de ouro dourado voando em algum lugar daquele campo gigante. O jogo estava bem equilibrado, a decisão seria na captura do pomo.

Já fazia cerca de três horas que o jogo havia começado e nenhum sinal do pomo. Os jogadores estavam começando a fica impacientes, muitos alunos deixaram as arquibancadas para irem almoçar. James estava evitando olhar para Lily, mas vez ou outra passava os olhos na direção em que estavam. Quando faltava pouco para completar a quarta hora de jogo, ele baixou o voo até perto das arquibancadas para pegar uma garrafa d'água.

— Potter! — Ele ouviu a voz de Lily gritar no meio da multidão, e logo outros alunos começaram a gritar, apontando para o lado esquerdo do campo. Lá estava o maldito pomo, brilhando inocentemente.

A apanhadora da Corvinal também avistou o pomo e os dois partiram para o ataque. A garota era mais leve que James, o que a fazia voar mais facilmente. Por outro lado, a vassoura dele era invencível. Os dois estavam lado a lado e ele conseguia sentir as asas do pomo em suas mãos quando a apanhadora da Corvinal lhe deu um leve empurrão e agarrou o pomo.

Não houve festa de comemoração naquele dia, todos estavam cansados e tristes demais para pensar em beber. Mas logo teriam outra oportunidade de fazer o Salão Comunal explodir em festa porque o aniversário de Lily estava chegando.

No dia 30 de janeiro, a neve derretia graças aos raios de sol insistentes que passavam pelas nuvens. Não estava exatamente um dia muito bonito, mas o importante é que era aniversário de Lily Evans.

Durante o café da manhã, uma carta de seus pais e um pacote com mais filme para sua máquina fotográfica chegaram com o correio, junto com um exemplar do Profeta Diário que não trazia nenhuma notícia extremamente triste. Naqueles tempos, isso era algo a se comemorar. A carta dos Evans mencionou Petúnia brevemente, dizendo que ela desejava um feliz aniversário e perguntando como as coisas estavam. Lily sabia que eram seus pais dizendo isso, Tuney não era muito interessada na vida dela em Hogwarts.

Uma corujinha atrasada chegou trazendo uma segunda carta para Lily, que franziu o cenho ao ver o remetente: Severus Snape. Ela pensou em nem abrir a carta, mas decidiu ler o conteúdo dela, esperando que fosse apenas um "Feliz aniversário" e nada mais.

Cara Lily,

Me encontre na segunda sala da ala oeste do terceiro andar às 10 horas. Venha sozinha, só quero conversar.

Severus.

Ela não sabia exatamente o motivo, mas resolveu encontrá-lo antes de ir para o campo de quadribol para ver a Grifinória ganhar da Lufa Lufa. Abriu a porta da sala e encontrou Severus sentado em uma das mesas da sala.

— Snape. — Ela tentou soar firme. Ele já foi um assunto delicado para ela, mas no momento tudo o que ela sentia era indiferença. — É melhor que seja rápido, eu tenho mais o que fazer.

— Você está muito bonita. — Ele sempre achou isso, mas nunca teve coragem de dizer enquanto ainda eram amigos. Depois que Lily cortou qualquer possibilidade de contato entre os dois, a vontade de dizer isso a ela aumentou ainda mais. As sardas contrastando com sua pele branca, o cabelo longo e cor de acaju caindo sobre os ombros e os maravilhosos olhos verdes dela eram uma visão perfeita para Severus.

— Se você me chamou só pra isso, eu já vou indo. — Ela girou seus calcanhares para voltar para a porta, aborrecida com o fato dele a elogiar como se nunca a tivesse chamado de sangue ruim.

— Não! — Ele se levantou num salto e a parou, segurando-a. A mão dele era tão gelada quanto uma pedra de gelo, envolvendo os dedos ao redor de seu pulso. — Eu queria te desejar feliz aniversário... — Ele ainda não tinha a soltado, mas ela fez questão de se afastar quando ele colocou a mão dentro de suas vestes negras. Não podia confiar nele depois do que aconteceu com Mary. Talvez estivesse enfeitiçado, ou só cego demais a ponto de a azará-la.

Ela sacou sua varinha antes que ele tirasse do bolso uma caixinha rosa com um laço. "Ok, agora eu pareço uma louca. Mas é sempre melhor garantir, não posso confiar mais em Severus", abaixou a varinha mas não a guardou.

— Eu sinto muito por tudo aquilo. — Ele parecia sincero, mas sua voz tremia de nervoso. Estendeu a caixinha para Lily, que a pegou receosa. — Por ter te chamado de... Você sabe.

— Sim, eu sei. — Ela fechou a cara. Não abriu a caixinha e nem pretendia.

— Eu sinto sua falta.

— Snape... — Ela suspirou e sentou em uma mesa bem afastada dele. — Eu já te disse que enquanto você não mudar seu comportamento e suas amiz...

— Mas meus amigos não são como você pensa.

"Não, eles com certeza são piores do que eu pensava.", não disse aquilo em voz alta ou geraria mais confusão ainda.

— Eles não são boa companhia. O que eles fazem com os mais fracos nos corredores e o que fizeram com Mary... — Lembrou-se da cara de Mulciber torturando sua amiga.

— Ninguém sabe se foram Avery e Mulciber que machucaram sua amiguinha... —Severus a interrompeu.

Lily mandou uma expressão incrédula em sua direção. — Eu estava lá, Snape. Eu vi os dois.

— Você também não tem as melhores companhias do mundo! — Resmungou, sem argumentos. Seu rosto começava a ficar vermelho. — Cada dia mais amiguinha dos malditos marotos!

— Eles são muito melhores que seus amigos! São boas pessoas, ajudam os outros ao invés de usar as maldições imperdoáveis.

— Eles viviam me azarando! Como pode dizer que eles são boas pessoas?

— Eles não fazem mais esse tipo de coisa. Eles cresceram, você devia fazer o mesmo.

— Você só está dizendo isso porque deve ter uma quedinha pelo Potter.

— É claro que não, ele é só meu amigo.

— Você diz isso, mas defende ele a todo custo. Achei que você tinha mais personalidade, Lily.

— Olha só, se você me chamou até aqui só pra me aborrecer no meu aniversário, isso mostra que não se importa realmente comigo. — Jogou a caixinha de presente contra ele, irritada. — Você não quer ser meu amigo, só quer tirar o peso da culpa por ter me chamado de sangue ruim e ter ido para o lado do Voldemort!

— Não diga o nome dele.

— Você nem nega. — Seus olhos lacrimejavam de raiva, ela só queria sair dali.

— Você não entende, Lily.

— Eu não entendo, porque eu sou uma nascida trouxa não é mesmo? Nem devia estar aqui. — Ela saiu pisando duro, mas parou na porta. — Um dia você vai se arrepender por isso, Snape. Por ter ido para o lado deles desse jeito.

Graças a distração causada por Snape, Lily chegou no fim do jogo entre Grifinória e Lufa Lufa. Estava subindo as escadas quando ouviu todos da Grifinória vibrando porque James e o apanhador da Lufa-lufa estavam competindo para pegar o pomo. Era uma manobra um pouco arriscada, mas ele deu um leve impulso para ficar de pé na vassoura e finalmente capturou o pomo, causando um alvoroço nas arquibancadas.

Diferente do último jogo, naquela tarde o Salão Comunal sediou uma grande festa. Haviam balões pendurados perto das paredes e uma faixa de "Feliz aniversário Lily/ótimo jogo, time!" pendurada na parte mais alta do Salão, além de uma mesa com muita comida e bebida.

— Um brinde a Lily! — Sirius gritou, de cima do sofá, levantando uma caneca cheia de hidromel. Todos acompanharam e viraram suas canecas em homenagem a Lily.

Em todos aqueles anos, ela não se lembrava de ter tido realmente uma festa de aniversário. Em algum ano seu aniversário caiu no fim de semana, mas tinha sido só ela e Severus comemorando. Naquele ano a Grifinória inteira estava comemorando com ela, não só a vitória no jogo, mas também seus 17 anos.

Ela não costumava beber muito nas festas, já eram regras quebradas demais para ficar bêbada na escola. Mas os outros alunos não pareciam pensar muito sobre isso, porque antes do anoitecer já tinha uma porção de adolescentes caídos pelos cantos.

— Eu acho que vou procurar o Chang! — Dorcas estava animadíssima, falando com a voz mais fina que o normal.

— Tem certeza que você está bem pra andar pelo castelo? — Lily franziu a testa, observando a amiga dando pulinhos de alegria.

— É claro que siiiim! — Ela abraçou Lily de supetão, quase a derrubando. — Feliz aniversário, ruiva! — Se despediu, saindo pelo buraco na parede saltitando.

— Lils, eu sei que é a sua festa, mas eu prometi para Hagrid que passaria na cabana dele ontem e não consegui ir. Você promete não ficar chateada? — Fabian a abraçou por trás, se sentindo culpado por ter que deixar a festa. — Eu vou pensar em algum jeito de te recompensar depois...

— Não se preocupe, vou estar aqui ajudando outros adolescentes bêbados a não vomitarem no carpete ou na tapeçaria com mais de mil anos de história. — Lily tentou quebrar o gelo, vendo que Fabian estava um pouco tenso. — Está tudo bem, Fab... De verdade! Mande um oi para o Hagrid por mim!

Talvez fosse apenas coisa da cabeça de Lily, mas parecia que ela e Fabian não tinham mais tanta necessidade de ficarem juntos. Eles nunca foram do tipo super grudento, mas normalmente aproveitavam os fins de semana para namorarem um pouco e conversarem sobre a vida, só curtindo a companhia um do outro. Possivelmente era culpa das aulas de aparatação que tinham começado, e do cavalo-do-lago perdido que tomava o restante do tempo de Fabian, mas Lily percebeu que não achava isso de todo ruim, não estava exatamente sentindo falta dele.

— Por que você está franzindo a testa para o nada, Evans? — James parou ao lado dela, oferecendo um copo cheio de hidromel.

— Apenas observando a bagunça de ficou esse Salão Comunal. — Lily aceitou a bebida e indicou o sofá, para que os dois sentassem juntos. Ela achou que depois do ano novo fosse ficar um clima estranho entre os dois, ou que James tentaria alguma coisa que a deixaria irritada, e agradeceu mentalmente por ele não ter dado motivos para ela voltar a odiá-lo.

— Então não está gostando da festa?

— Claro que estou, acho que nunca tive uma festa de aniversário de verdade aqui em Hogwarts...

— Sorte sua que nós ganhamos o jogo, então. — James passou os dedos por seu cabelo e lançou seu melhor sorriso provocante para ela.

— Ei, achei que a festa fosse pra mim, não pelo jogo! —  Ela desencostou do sofá e bateu de leve no peito de James.

— E é pra você, mas imagine como as pessoas estariam desanimadas por causa do jogo... Sorte sua que eu peguei o pomo. — Ele deu uma piscadela que a fez revirar os olhos.

— Então muito obrigada, seu egocêntrico!

— Hey Pontas, vou buscar mais comida. Será que precisa de mais alguma coisa? — Remus parou em frente aos dois, lançando um olhar um tanto sugestivo para eles.

— Acho que não, algum pedido, ruiva?

— Cupcakes! — Lily sorriu para James, lembrando da noite que ela conheceu a cozinha.

— Cupcakes para a aniversariante, então! — Remus partiu para o buraco na parede. Não era só porque ele ouvia isso desde que eles entraram em Hogwarts, mas James e Lily realmente combinavam. Fabian era um cara legal e tudo mais, mas James era uma das melhores pessoas que Remus conhecia, assim como Lily. Ele sorriu agradecido pelos dois finalmente terem amadurecido o suficiente para serem amigos.

Com a lua cheia se aproximando, Lupin não estava exatamente no clima para beber. Principalmente depois da última lua cheia, que foi uma mistura de ressaca com os efeitos da licantropia. Por isso, ele ficou responsável de ir buscar mais comida na cozinha e de acalmar McGonagall caso ela descobrisse sobre a festa.

Os corredores estavam bem vazios porque os alunos da Lufa Lufa estavam desanimados demais com o resultado do jogo para saírem e todos da Grifinória estavam festejando no Salão Comunal. Quando estava perto do terceiro andar, Remus ouviu algumas vozes virando o corredor.

— O que vai fazer mais tarde? — Uma voz masculina perguntou.

— Fiquei de encontrar a Dorcas hoje depois do jogo. — Remus congelou ao ouvir o nome de Dorcas. — Quem sabe hoje não é o grande dia? — O maroto deu um passo a frente já com o rosto esquentando. — Ah, oi Lupin! — Eles viram Remus se aproximar no corredor. — Você deve saber bem, Dorcas tem cara de santinha, mas deve ser a maior safada, não é?

— O QUE? — Só podia ser brincadeira. Chang nunca falaria de Dorcas daquela forma.

— Ih, parece que ele não conheceu a Dorcas como eu vou conhecer hoje a noite. — Chang riu para o amigo corvino ao seu lado.

— Não se atreva a falar da Dorcas desse jeito! — O sangue de Remus fervia e seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo, sentindo toda a adrenalina.

— Cara, ela é MINHA namorada! Cuide da sua vida. Você a perdeu quando deu um fora nela, fim de jogo. Se contente com isso. — Ele sorriu, triunfante.

E então Remus perdeu o restante de juízo que tinha e voou na direção de Chang, dando um belo soco em seu nariz.

Lily ficaria sem seus cupcakes naquela noite.


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Notas finais do capítulo

Que outro nome colocar no capítulo se não "aquilo não significou nada"? Lily repetiu isso tantas vezes em sua cabeça que eu devo dizer que senti uma pontada de dúvida ali... O que acham?

Então vocês finalmente conheceram nossa sonserina do bem, uma integrante inventada para a família Malfoy, que é uma linha fora da curva naquela família tradicional e que é muito importante para os próximos capítulos!

O que acharam desse encontro entre Lily e Snape? Não sei se vocês gostam dele, mas falando por mim, mesmo sabendo todas as coisas que ele fez pelo Harry e pelo Dumbledore eu não consigo achar ele maravilhoso como todo mundo...

E o final do capítulo com Remus batendo no Chang? Eu adoro o Remus, então amei escrever uma cena dele tão bad boy kkkkkkk

Me contem o que acharam! Quero o feedback de vocês! Os capítulos estão num tamanho bom?

Até sexta que vem, quando eu estarei oficialmente de férias! Beijos



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