Atlantis escrita por Argonauta


Capítulo 7
Capítulo 6 - Falta de Atenção


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Aqui está mais um capítulo, o qual escrevi com muuuito carinho.
Espero que gostem e desculpa qualquer erro! ♥



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                 – Quer que eu comece? – Pergunto à minha mãe, batucando meus dedos na colcha que cobre minha cama.

                – Ahn? Não, não – Responde ela, saindo de seu transe que consiste em encarar o meu carpete azul-escuro.

                – Tem certeza?

                – Tenho.

                – Jura? – Pergunto, e ela finalmente desvia os olhos do carpete – Porque estamos sentadas aqui há dez minutos, e você ainda não disse o que queria.

                – Ah, desculpa... – Pede ela, e reviro de leve os olhos.

                O fato de ela ter feito lasanha no jantar não desculpa o fato de, ontem, ela ter dito tudo aquilo sobre Jayden, inclusive tentar afastar-me dele. Ainda não conversamos sobre isso, mas algo me diz que isso vai mudar agora.

                – Raven, eu queria que você me desculpasse – Diz ela, e, antes que eu diga alguma coisa maldosa, continua – Escute, okay? Deixe eu falar dessa vez.

                – Tudo bem – Dou um longo suspiro e escuto atentamente tudo que ela quer dizer.

                – Todos já suspeitavam que Jayden estava em estado terminal. Mas Scarlett, embora seja uma mulher completamente sem compaixão, custava a acreditar nisso, e eu a compreendo. Ela tem medo de perder seu único filho, e não podíamos culpá-la por isso.

                “Nós confirmamos um pouco antes de você doar seu sangue a ele, mas a papelada da doação já estava toda pronta, então decidimos doar mesmo assim, já que isso não traria nenhum problema para você e nem para Jayden. Foi como a última tentativa, como se Scarlett precisasse disso para não desistir completamente.”

                “Mas, assim que vi vocês dois tão próximos, eu me assustei. Eu sei que você é muito apegada a ele, assim como ele é apegado à você. Só que saber que sua filha está tão próxima de alguém que pode morrer em breve é... aterrorizante. Você pode se machucar muito quando ele se for, e eu não quero que você sofra.”

                – Mãe, eu te garanto que vou sofrer muito mais se você insistir em me afastar dele. – Digo, e ela sorri, tentando ignorar as lágrimas que estão prestes a escorrer em seu rosto.

                – Me desculpa, Rae. Eu não sei o que tinha em minha cabeça quando tive aquela ideia... De verdade. Me perdoa.

                – Tudo bem, mãe. Você está desculpada – Digo, e ela dá um breve sorriso – Mas e quanto à Jayden? Por quanto tempo vocês pretendem esconder isso dele?

                – Eu tentei convencer Scarlett a contar a verdade a ele, mas não posso obrigá-la. Ela diz que ele ficará devastado, e você também sabe disso. Nem todos lidam bem com o fato de saber que têm um tempo determinado de vida.

                – Quanto tempo ele tem? – Pergunto, sem ter certeza se quero mesmo saber a resposta. Sinto um nó em minha garganta.

                – No máximo cinco anos – Ela responde, e sinto meu coração se apertar.

                Tento lutar com as lágrimas, e fico feliz ao ver que venci a batalha. Nunca gostei de chorar em frente a minha mãe, porque eu quase podia ouvir seu coração se quebrando. Muita gente está saindo machucada com tudo que está acontecendo, e não quero que minha mãe seja uma dessas pessoas.

                – Eu quero que esses sejam os melhores cinco anos da vida dele.

                – Podem ser menos. Digo, um pouco menos de cinco anos.

                – Que seja. Quero que ele se sinta feliz nesses poucos anos, ou dias, de vida.

                – Você vai conseguir fazer isso, Rae. Ele merece, e sei que você é a melhor pessoa para fazê-lo feliz. – Diz minha mãe, e dou um breve sorriso.

                – Eu penso em tudo que quero fazer, no quanto quero ajudá-lo... Mas é como se eu estivesse longe demais – Admito – Eu estou... quebrada – o nó em minha garganta se aperta, e é mais difícil ainda lutar contra as lágrimas.

                – Não diga isso, Rae. Você vai conseguir ajudá-lo, e, se quer minha opinião, não acho que você precisa se esforçar muito. O Jayden te adora.

                – Mas eu não sei nem por onde devo começar, mãe! Ele merece tudo de melhor, algo que o dinheiro é incapaz de comprar, que uma música é incapaz de cantar, que uma dançarina é incapaz de dançar e que um poeta é incapaz de escrever... Ele merece tudo e um pouco mais.

                Minha mãe olha em meus olhos marejados e esboça um sorriso, como se estivesse orgulhosa. Embora eu não entenda o que aquele olhar quer dizer, enxugo minhas lágrimas e faço o possível para desfazer aquele nó que está em minha garganta.

                – Você o ama – Ela sussurra, e mais uma vez olha em meus olhos.

                Não sei se amor é a palavra certa, mas eu com certeza me importo muito com ele. Se amar é se importar mais do que o recomendável com alguém, então, sim, eu o amo.

                –Escuta, uma vez Jayden me disse que nunca tinha ido a uma formatura, e que queria muito saber como é – Diz minha mãe, e logo a encaro, sentindo que isso é uma dica de por onde devo começar.

                – Mas como vou arranjar uma formatura para ir? De uma hora para a outra?

                – Tenho certeza que você vai conseguir – Diz minha mãe, levantando-se da cama e beijando o topo da minha cabeça.

                Ela sai do quarto, deixando-me sozinha com uma pergunta que não me deixa em paz: Como eu vou arranjar uma formatura?

                                                                                              ~*~

                Sempre ouvi dizer que amigos são como anjos sem asas, e só agora pude perceber que essa é a pura verdade. Além de minhas melhores amigas terem me dado o maior apoio com a situação que me encontro, Geórgia acabou de me dar uma ideia maravilhosa.

                – Ei, Rae, por que você não fala com o Edward? A irmã dele vai se formar daqui duas semanas, acho.

                Depois disso, eu poderia jurar que estava quase a esmagando com meu abraço.

                Eu me encontrava num escuro total, já que não fazia ideia de como conseguiria ir a uma formatura sabendo que ainda estou no primeiro ano da faculdade. E eu não iria conseguir um ingresso para a formatura do ultimo ano, até porque não tenho nenhum tipo de proximidade com eles. E, com certeza, eu não iria entrar de penetra numa formatura de pessoas desconhecidas.

                Até que Geórgia me deu a incrível ideia de pedir para Edward, e não sei como não havia pensado nisso antes.

                Edward faz curso de artes-cênicas, e conhece Geórgia desde que se conhece por gente. Os dois moram na mesma rua, não demoraria para que se tornassem amigos, ou o mais próximo disso. A verdade é que ninguém poderia ser amigo de Edward. Não pelo fato de ele ser bizarramente popular e de nariz em pé, mas porque era a pessoa mais venenosa que conheço.

                Não do tipo criminoso, mas do tipo falso. Se existe uma versão de Regina George masculina e sem as capangas, essa com certeza é Edward. Não duvido que ele tenha um livro em que xinga todas as pessoas que conhece.

                E ele sabe muito bem de sua fama, e até gosta disso. Todos gostam ou o respeitam, mesmo que isso seja no mínimo infantil, contando que já estamos na faculdade. É uma espécie de elitismo que chega a dar nojo, mas ninguém parece se importar mesmo com isso.

                Caminho até Edward como sol queimando meus cabelos e fazendo minha nuca soar. Não sei exatamente o que devo dizer para convencê-lo a me dar dois ingressos da formatura de sua irmã, mas sei que esse é o único jeito de levar Jayden à sua primeira formatura – sendo que a mesma nem é dele.

                – Deixa que eu falo com ele, Raven. – Diz Geórgia, apressando um pouco o passo.

                Assim que chegamos até Edward, o mesmo revira os olhos e dá um sorriso maroto, o mesmo que faz com que Geórgia se derreta. É verdade, ele não é nem um pouco feio, e, mesmo que Geo seja durona e tenha a regra “pega mas não se apega” cravada em sua mente, eu e Brenda sabemos que ela ainda morre de amores pelo Ed.

                – Edward, eu meio que... preciso da sua ajuda – Diz Geórgia, parecendo levemente receosa, algo que é difícil com ela.

                – Não – Responde Edward, sem desviar seu olhar de seu telefone que provavelmente custou muito caro, mesmo que sua família não seja uma das mais ricas.

                – Sua irmã vai se formar, certo? – Continua Geo, sem se preocupar com o que ele acabara de dizer – Precisamos de duas entradas para a formatura. Podemos pagar até vinte cinco libras.

                Edward finalmente desvia seu olhar do celular e nos encara com o mesmo sorriso, e os olhos queimando. Ele morde o lábio inferior antes de dizer:

                – Cinquenta. Cada uma.

                – Trinta.

                – Quarenta.

                – Fechado – Diz Geórgia, percebendo que esse será o preço mais barato que ele oferecerá.

                Por mais que eu não faça ideia de como vou arranjar oitenta libras em duas semanas, sinto como se um peso saísse de minhas costas. Pelo menos agora eu já tenho um lugar para levar Jayden, e um lugar que eu tenho certeza que ele vai amar.

                – Mas me diz – Diz Edward, quando estamos prestes a nos afastarmos dele – O que você quer na formatura da minha irmã? Vai pegar até gente do ensino médio agora, Geórgia? Que decepção.

                – Cale a sua maldita boca, Edward. – Diz Geórgia, e posso ver ela se segurando para não dar uns bons tapas naquele rosto com a barba por fazer. Edward tem uma habilidade de irritar todo mundo, e digamos que não é tão difícil deixar Geo irritada – Eu pego quem eu quiser, e isso com certeza não é da sua conta. Mas, só para a sua informação, essas entradas não são para mim. São para Raven – Ela aponta para mim com a cabeça.

                – É você quem vai pegar uns caras do ensino médio? – Pergunta ele para mim, com uma incredulidade fingida.

                – Se eu fosse, isso seria um problema para você? – Pergunto, e fico feliz em vê-lo sem resposta ao menos uma vez. Antes que ele diga outra coisa, nos afastamos e caminhamos rapidamente para a sala de aula.

                Dizem que quando se faz algo que gosta, o tempo passa mais rápido, e isso é a mais pura verdade. A psicologia pode ser chata ou entediante para muita gente, mas eu gosto e, sinceramente, acho genial e indispensável. Não ficamos doente apenas fisicamente, e pode ter certeza que as doenças psicológicas são bem mais sérias.

                Tudo bem, eu tenho que confessar que não estava completamente presente nas aulas de hoje. Por mais que eu tenha me esforçado para ficar atenta, meus pensamentos sempre acabavam se desviando para Jayden e no como eu esperava que fosse a formatura. Nosso cérebro é quase expert em criar ilusões que, para nós, são perfeitas. E é uma pena que essas ilusões não passam de apenas ilusões.

                Eu só não quero, de modo algum, que Jayden não se sinta confortável ou que sua mãe não o autorize a sair comigo, mesmo que ele já tenha vinte e um anos e já seja de maior, podendo, de acordo com a lei, fazer o que bem quiser. Às vezes acho que Scarlett acredita que a lei não se aplica à pessoas com leucemia. Mas, antes de leucêmico, o filho dela é um garoto que precisa conhecer ao menos o país em que ele vive.

                E, entre pensamentos e raros momentos em que presto atenção no que os professores dizem, as aulas do dia finalmente acabam, fazendo todos arrastarem-se para fora da sala como uma horda de zumbis.

                – Juro, para mim a Crow-Mags estava falando outra língua – Diz Brenda, jogando-se no banco do ponto de ônibus.

                – Hoje ela estava com a macaca mesmo. Algo me diz que o maridão da Cow—Mags não a satisfez ontem. – Brinca Geórgia, fazendo uma velha brincadeira com o nome da professora, uma velhinha que todos odeiam, exceto Brenda [N/A: Cow significa “vaca” em inglês].

                – Hahaha, você é muito engraçada mesmo, Geórgia – Brenda revira os olhos – E você, Rae? Entendeu alguma coisa daquele trabalho que ela passou?

                – Trabalho? – Pergunto, sem forçar minha duvida.

                Eu realmente estava em outra dimensão, porque poderia jurar não ter escutado nada relacionado a trabalho.

                – Estava pensando em quem, Raven, sua tarada? – Pergunta Geórgia, com uma cara de malicia hilária, que me faz soltar altas gargalhadas.

                – Raven, acorda para a vida. Eu sei que você está preocupada com Jayden, mas sua vida não pode girar em torno dele. – Brenda reclama, fazendo com que eu revire meus olhos, e fazendo com que Geórgia tenha um de seus mini-ataques de raiva.

                – Puta que pariu, Brenda! A Raven só estava pensando no garoto, uma maldita vez em toda a vida dela ela não prestou atenção na aula – Geórgia fala tudo isso em um tom alto – O que você acha de parar de ser chata?!

                – Cale a boca – Brenda resmunga, e Geórgia dá um leve sorriso maroto. Nós duas sabemos que Brenda perde o controle muito fácil, e que nunca consegue achar uma boa resposta em uma briga. Não é segredo para ninguém que Geórgia se aproveita disso.

                Até os ônibus das duas chegar, elas ficaram se provocando. Por mais que eu as amasse muito, quase agradeci aos céus o fato de elas terem ido embora. Às vezes incomoda ter que aguentar duas das suas pessoas favoritas no mundo se xingando o tempo todo e, mesmo que eu já esteja acostumada com isso, é bem exaustivo.

                Mas, assim que percebi que meu ônibus iria demorar e que Edward estava se aproximando, quase entrei naquele ônibus junto com as duas.

                – Você vai arranjar as oitenta libras até semana que vem? – Pergunta ele, sem nenhum tipo de “oi” e nem nada.

                – Sim, eu espero. Mas pode ter certeza que eu não vou te calotear nem nada – Digo, sem ao menos olhar para ele.

                Mesmo sem estar olhando para ele, posso perceber que está com um breve sorriso no rosto, prestes a, provavelmente, jogar todo seu veneno sobre mim.

                – Vou precisar de outra coisa além do dinheiro – E eu estava completamente certa.

                Finalmente o encaro, percebendo que, quando o sol entra em contato com seus olhos, os mesmos assumem uma coloração de castanho-claro quase angelical. Pena que o dono daqueles olhos é uma fúria em forma de garoto.

                – Ah, claro. Sempre tem mais com você, não é?

                – Você vai querer ir nessa droga de formatura ou não? – Pergunta ele, após revirar seus olhos.

                – Já não basta eu lhe pagar oitenta libras?!

                A única vontade que tenho agora é de socar seu belo rosto, mas sei que não o farei. O jeito com o qual ele fala me provoca uma raiva que queima minhas entranhas, e esse é seu veneno. Ele se torna completamente insuportável, faz com que todos sintam uma raiva incontrolável dele, mas, ainda assim, consegue o que quer.

                – Ah, qual é, Raven. Nem é um favor fora do comum.

                Permaneço em silêncio, apenas o encarando e tentando deixar evidente a vontade de o matar que estou sentindo.

                – Esse era para ser seu olhar aterrorizante? Porque parece mais com náuseas – Provoca ele, o que aumenta ainda mais minha vontade. Nesse ponto de ônibus tem algum bom esconderijo para um cadáver?

                – Diz logo o que você quer, Edward.

                – Além das oitenta libras – Diz ele, com um tom pausado que me faz ficar ainda mais curiosa – Você terá que dançar duas músicas comigo. Inteiras, e sem reclamar.

                Quando ele diz isso, quase imagino o quão horrível seria deixar Jayden sozinho assistindo-me dançar com um cara como Edward, mas não acredito que eu tenha alguma outra escapatória. Se eu negar sua oferta, com certeza ele não me venderá a entrada, e acredito que não ir à formatura é pior do que dançar duas músicas com Ed.

                – Você é um completo idiota, Edward. Chega a me enojar – Cuspo as palavras, e ele dá um daqueles sorrisos que faria Geórgia enlouquecer.

                – Vai querer as entradas ou não?

                – Tudo bem, eu vou querer – Digo, e ele exclama em vitória – Mas apenas duas músicas, e elas não precisam ser lentas.

                – Não se esqueça do dinheiro – Ele pisca e se afasta.

                Aquela raiva passa por um momento, até minha curiosidade resolver fazer uma outra pergunta que eu provavelmente não deveria ter feito:

                – Quanto é a entrada na verdade?

                – Vinte libras – Ele diz, sem se virar para trás e, imediatamente, sinto aquela raiva de novo. – As outras vinte são por mão de obra.

                – Você tem sorte de eu não carregar nenhuma faca comigo.

                Ele dá uma grande gargalhada, até se afastar completamente.


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