Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 3
Hoje tem tudo para ser o pior dia


Notas iniciais do capítulo

Gente! Olá! Primeiramente eu quero agradecer aos comentários do capítulo anterior, por mais que sejam muito poucos eu fico extremamente feliz em saber que vocês estão gostando da história. Bem, aqui vai mais um capítulo. Espero que gostem! :D



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Acordei no dia seguinte sentindo um desconforto terrível, não só de ressaca, mas um desconforto real. Abri meus olhos e me deparei com uma Holly debruçada em cima de mim com a boca aberta, sua baba escorria sobre o meu pijama. Com uma careta a coloquei no seu lado da cama e me virei para olhar o relógio que ficava no meu criado mudo. Quando percebi que já passava das onze da manhã, dei um pulo e me levantei. Já havia perdido a manhã inteira que eu tinha para revisar algumas coisas para segunda-feira e acredite ou não, onze horas no relógio cronológico de Lilian Evans é equivalente a acordar às duas da tarde.

Levantei-me e deixei Holly ali, ela parecia estar em um sono tão profundo que acho que não valia a pena acordá-la agora. Tomei um banho e fui direto para a cozinha, esquentei um litro de leite e despejei um pouco em minha caneca preferida – que tinha algumas notas musicais e um belo violoncelo na estampa – e dissolvi uma colher de sopa de cappuccino na mistura, estava precisando para despertar.

Sentei-me no sofá junto a uma pilha de livros e comecei a rever doenças infecciosas passando para os casos mais graves, enquanto bebericava meu cappuccino. Fui repetindo cada doença e seus respectivos tratamentos e causas em voz alta, de repente sou desconcentrada ao ouvir a voz de uma Holly ainda meio fora de si.

— Mãe? – ela passou as costas da mão direita sobre os olhos enquanto vinha em minha direção.

— Sua mãe está na Romênia, Holly. Você bebeu demais ontem e eu deixei que você dormisse aqui – disse voltando a focar meu olhar sobre o parágrafo que falava sobre a malária.

— E quem me trouxe? Você não pode ter voltado pra casa comigo nos braços, muito menos a pé – ela afastou um bocado de livros e se sentou ao meu lado ainda com os olhos entreabertos por conta da sensibilidade à luz que entrava da porta de vidro que dava para a sacada.

— Potter nos deu uma carona – disse dando de ombros e folheei o livro.

— O quê? – ela arregalou os olhos como se tivesse sarado da ressaca na mesma hora – James nos trouxe pra casa?

— É.

— Que ótima hora que eu fui perder a consciência! – disse ela com sarcasmo e me balançou pelos ombros – Mas então? O que aconteceu? Vocês conversaram? Ele disse mais alguma coisa sobre aquela velha caduca? Me conta logo!

— Calma! – a repreendi e fiz com que ela largasse os meus ombros – Não aconteceu nada! Ele simplesmente se ofereceu para nos dar carona, já que Sirius estava bêbado e Remus e Peter estavam em sei lá aonde. Ele nos trouxe pra cá de carro e foi só – ergui as sobrancelhas e voltei a direcionar meu olhar para o livro mais uma vez.

— Ah! Para de me esconder as coisas, Lils! Não pode ter acontecido só isso, James sempre foi apaixonado por você. Você não viu o jeito que ele ficou te olhando quando você entrou no Três Vassouras? Ele não deu nenhum... sinal? – ela disse essa última parte em uma voz baixa e sorriu maliciosa.

— Sinal? Do que você está falando, Holly? James e eu nunca tivemos nada e nunca vamos ter. Agora será que você pode me deixar estudar? – bufei e olhei de volta ao livro pela centésima vez.

— Tá bem, tá bem! Já não tá mais aqui quem falou – ela ergueu os braços se rendendo e se levantou indo até a cozinha – está acordada há quanto tempo? – ela abriu a geladeira.

— Não muito. Uns quarenta minutos. Os sintomas da Ébola se resumem a dor de cabeça, febre, dores musculares, garganta inflamada... – disse eu de olhos fechados fazendo um esforço de me lembrar de tudo o que eu havia lido naquela página.

— Minha cabeça tá latejando! – Holly colocou o leite para ferver e se apoiou no balcão da pia com as mãos na cabeça.

—... Evitar contato com sangue ou secreções corporais infectadas... Tem aspirina no armário dos copos... É importante diagnosticar a doença durante a fase inicial e usar medidas de precaução universais para todos os pacientes – repetia como uma máquina em modo automático.

Holly encheu um copo com água e tomou o comprimido, logo depois fez o mesmo procedimento que eu fizera há instantes atrás com o leite e voltara ao sofá com algumas torradas para acompanhamento, o barulho da crocância da torrada em atrito com os dentes de minha amiga estavam me irritando profundamente, na verdade qualquer ruído bobo era capaz de me atrapalhar, é por isso que eu sempre costumei estudar sozinha, algumas vezes em grupo, mas num lugar mais silencioso onde os integrantes ficavam mais cada um por si. Respirei fundo fechando os olhos reunindo toda a paciência existente no meu interior e ergui meu olhar para Holly.

— Dá pra você não comer isso? Tá me atrapalhando.

— Aff Lils, você sabe esse sebo inteiro de trás pra frente, não quer dar uma parada não? O que você tinha pra aprender, com certeza você já aprendeu.

— Mas eu preciso... – fui interrompida.

— Mas nada, Srta. Evans! Vamos! Circulando! – ela disse largando a caneca e as torradas em cima da mesinha de centro (o que me deu uma aflição tremenda, já que estava sujando tudo com as migalhas das torradas) e pegando metade dos meus livros nos braços levando-os para o meu quarto. Suspirei.

Talvez eu estivesse certa em estar estudando, eu sempre sonhei com esse emprego e essa carreira e ela estava tão perto de se concretizar que eu nem estava acreditando, queria que tudo saísse perfeito. Por outro lado, Holly podia estar com a razão, que eu só estava ansiosa demais e forçar demais não seria a solução, eu já tinha estudado demais para chegar aonde cheguei, agora era só meditar o que eu já tinha absorvido.

— O que acha de fazermos uma noite das garotas hoje? – Holly propôs enquanto organizávamos os livros nas minhas prateleiras em ordem alfabética.

— Não sei não... Tenho que me preparar para segunda e...

— Lily! – ela exclamou.

— Tá bem! Mas só vai ser eu, você a Alice e a Ninfadora, mais ninguém.

— Perfeito! Vou ligar para elas agora mesmo.

Terminei de organizar tudo de volta ao lugar que estava e fiz uma breve limpeza na casa. Sentei-me no sofá e minhas amigas chegaram pouco tempo depois. Fazia um bom tempo que não via Ninfadora Tonks, tínhamos uma conversa rápida pra lá e pra cá, mas nunca tínhamos tempo para nos ver. Ela fora minha terceira melhor amiga no colégio, apesar de não sermos da mesma série, ela era de fato uns cinco anos mais nova do que nós, mas era considerada amiga da mesma forma.

— Que máximo! Rosa! Da última vez que os vi estavam azuis – disse ao receber Tonks na porta de casa depois de cumprimentar Alice.

— É, gosto de mudar o meu cabelo. Acho que essa cor ficou legal, mas ainda tem tantas cores que eu gosto! – Tonks disse enquanto passava as mãos pelas pontas dos cabelos tingidos.

— Mas assim ficou ótimo. Cabelo colorido cai bem em você – disse simplesmente enquanto fechei a porta – Fiquem à vontade, a casa é nossa – elas riram. Eu não costumava dizer isso em hipótese alguma, sempre morei na casa dos meus pais e não fazia questão que eles nos deixassem sozinhas em casa, a não ser que Petúnia quisesse dar um passeio.

— Mas e então Lily? Como vão os seus pais? Não os vejo desde a sua formatura da faculdade – todas nós agora estávamos no meu quarto. Tonks estava deitada sobre a minha enorme almofada no chão, Holly estava na cadeira da minha escrivaninha e eu e Alice estávamos em minha cama.

— Vão bem. Ainda não caiu a minha ficha que vou morar sem eles, mas acho que com o tempo eu me acostumo, até porque eu vejo essa coisa aqui quase todos os dias – aponto para Holly que abriu um sorriso largo.

— Meus pais foram para a Romênia, aí resolvi passar mais tempo com Lils. Aproveitar enquanto ela não entra na vida da medicina e começar a vida corrida – a morena disse.

— Verdade, eles mencionaram que fariam uma viagem um dia para a Romênia, só não sabiam quando. Caramba, vejo que o grupo do WhatsApp não resolve muita coisa não em! – Tonks disse e nós rimos.

— É realmente bastante coisa pra falar, aí não dá pra ir contando tudo – Alice comentou.

— Realmente. Mas e você? Está firme com o Frank, né? Porque vocês super combinam! – animou-se Tonks que até bateu o cotovelo no meu guarda-roupa ao tentar se levantar – Ai – murmurou ela. Digamos que Ninfadora é do tipo bem desastradinha.

— Estamos ótimos. Frank é um amor, não tenho nada a dizer contra ele. E obrigada – ela corou – Machucou?

— Ahn?Ah, não... Está tudo bem – Ela se ajeitou já sentada na almofada e nos encarou – Lily ainda tem aquele kit de fazer unhas maravilhoso que você tinha? Tô precisada de fazer as minhas...

— Claro! Vou pegar – fui até o meu guarda-roupa e me enfiei diante algumas tranqueiras minhas, à procura da minha caixa milagrosa.

— Holly Hall! Você já pegou Sirius Black depois da chegada de Lily? Como assim? – Tonks exclamou quando eu finalmente achei a caixa e ela pintava as suas unhas com um esmalte preto.

— Ahn? Eu peguei Sirius? Não lembro – Holly franziu o cenho e todas as demais riram.

— Você mandou uma mensagem de áudio no grupo contando isso pra gente e você não me parecia muito sóbria pro meu gosto, huh? – Tonks ergueu as sobrancelhas e sorriu maliciosa, Holly arregalou os olhos.

— Como? O quê? Eu não fiz isso! – ela ficou de boca aberta e não pude conter o riso.

— Eu tive que arrancar você dele, se eu não tivesse chegado à tempo aposto que vocês estariam fazendo bem mais do que simplesmente darem uns bons amassos – informei-a e minha amiga corou furiosamente – Mas não se preocupe tanto, acho que ele não se lembra também, estava mais bêbado do que qualquer um naquele bar – a tranquilizei, mas pareceu não funcionar muito bem.

— Mas eu não era para ter feito uma coisa dessas! Mal nos vimos e...

— Relaxe, Holly! Você e Sirius já se conhecem há uma década, não tem o porquê de ficar assim – Tonks disse com os dedos da mão separados em função de não borrar as unhas pintadas.

Alice agora fazia uma trança espinha de peixe em Holly, que a propósito ficava maravilhosa nesse penteado e eu treinava alguns tipos de sombra me olhando no reflexo do pequeno espelho portátil que eu guardava em cima da penteadeira. Pedimos pizza e ficamos assistindo filme e conversando até pegarmos no sono.

No domingo de manhã eu fui a primeira a acordar (Novidade!). Segui direto para o banheiro e deixei minhas amigas dormirem em paz, tomei meu banho com a maior tranquilidade do mundo e preparei um café da manhã bem legal, que incluía uma jarra de suco de abóbora, torradas, pão, torta de blueberry e geleia de morango. Lembrava um pouco o café da manhã que mamãe tinha preparado para mim no dia em que deixei minha cidadezinha, Little Whinging, só que de uma maneira menos original.

O cheiro do café provavelmente despertou o grupo que dormia no quarto, pois todas apareceram na cozinha ao mesmo tempo e se sentaram à mesa.

— Hm... Que horas são? – Holly perguntou enquanto pegava um pedaço de torta e mordiscava.

— Nove e meia – Alice disse lendo o relógio analógico na parede do cômodo e se serviu de uma fatia de pão com geleia de morango.

— Tinha me esquecido que a Lily é a pessoa matinal aqui – Tonks murmurou ainda aparentando estar num meio termo entre um sono e a vida real, ela despejou as primeiras gotas de suco de abóbora fora do copo e eu percebi que ela estava realmente acordada.

— E eu me esqueci do quanto você é desastrada com as coisas, Ninfadora – disse em tom de provocação e sorri de canto me ocupando em secar a poça de suco em cima da mesa para depois voltar a bebericar meu cappuccino em plena tranquilidade.

— Não me chame de Ninfadora! – Tonks urrou e eu sorri satisfeita. Eu sabia muito bem que Tonks não gostava de ser chamada pelo seu primeiro nome, preferia ser chamada pelo apelido Dora ou simplesmente pelo seu sobrenome. Ela achava que seus pais foram cruéis demais em relação à decisão do seu nome e por isso nunca gostou de pronunciá-lo em voz alta, muito menos apreciou escutar o mesmo da boca de outros.

— Tudo bem, Dora. Só estava brincando – fiz menção de dar um gole na minha bebida quando me lembro da ligação que recebi na noite de sexta – Hm! Snape me ligou sexta-feira à noite no Três Vassouras e nós marcamos de nos ver hoje as seis para assistir um filme.

— O quê? Você vai sair com Ranhoso? – Tonks cuspiu metade do suco na mesa.

— Não chame meu amigo assim! E sim, eu vou sair com ele, como amiga, é óbvio.

— Desculpe a intromissão, mas Severo sempre gostou de você, Lils. É bem provável que ele tente alguma coisa hoje à noite – Alice comentou depois de engolir metade da sua fatia de pão com geleia.

— Então é bom que ele fique sabendo que eu não deixarei isso acontecer. Somos amigos e é só isso. E afinal, faz um bom tempo que eu não o vejo, desde a formatura da faculdade e nós não temos tido muito contato desde esse dia. Então não vejo problema nenhum em sair para ver um filme com ele – dei de ombros e peguei uma torrada.

— Ok, mas depois não diga que não avisamos – Alice ergueu as sobrancelhas.

— De qualquer forma, precisamos achar o look perfeito para a sua noite, Lily – vi os olhos de Holly brilharem ao dizer aquilo e eu rolei os olhos sorrindo.

Depois do café, nós tiramos a mesa. Eu e Holly lavamos a louça enquanto Tonks e Alice guardavam. A conversa nunca parava, assuntos surgiam um atrás do outro e isso era o mais legal nisso tudo.

Quando deram umas três horas, tomei um banho novamente e vesti meu roupão, era a hora do show. As meninas com certeza me fariam de modelo e eu teria que provar ao menos uns dez conjuntos de roupas antes de escolher um específico. Ao chegar no quarto, senti meus sentidos de perfeccionista atacarem mais uma vez. O meu guarda-roupa inteiro estava praticamente espalhado pelo quarto, cada amiga era responsável pela montagem de no mínimo três looks que lhe agradavam mais.

— Comece pelo meu, tome – Holly deu um vestido com um acessório legal e um salto. Eu me vesti e apareci para elas.

— Formal demais – Alice disse e eu concordei com a cabeça – Experimenta esse – ela me ofereceu um vestido longo e diferente com uma sandália baixa.

— Não... Esse aí tá parecendo que você tá indo para uma festa de verão – Tonks criticou e nós rimos – pega esse aqui – ela me ofereceu uma camiseta larga e uma calça jeans rasgada nos joelhos e um tênis Allstar.

— Tá a réplica de uma adolescente rebelde – Holly comentou e Tonks a fuzilou com o olhar.

— Eu não me visto como uma adolescente rebelde, vocês que são adultas demais – defendeu-se.

— Certo, mas Lily é uma mulher de respeito, vai ser uma pediatra renomada, precisa agir como tal. Essa aqui vai servir, acredite – Holly me deu um cabide na qual se via uma camisa branca lisa e uma saia preta sexy que vinha até em cima do joelho, um salto não muito alto.

— Wow! Desse jeito você faz até o cara da bilheteria cair durinho pra trás! – Tonks brincou – Boa, Holly!

— Eu sei que eu sou demais – ela se gabou e nós rimos.

Depois de pronta eu decidi mandar uma mensagem para Severo para dizer que ele já poderia vir me buscar. Peguei o meu celular em cima da cômoda do me quarto e comecei a digitar:

“Oi Severo! Já estou pronta, você já pode...

Quando ia terminando de digitar a mensagem, me deparei com o som da campainha soando pelo apartamento, olhei a hora e já era um pouco tarde, meia hora depois do combinado. Ele claramente sabia que mulheres se demoram horas para se arrumarem para um encontro, se é que aquilo poderia ser chamado de um. Olhei para minhas amigas rapidamente e elas sorriram se despedindo de mim e fecharam a porta do meu quarto, me dando total privacidade. Fui até a porta e ajeitei meu cabelo uma última vez antes de abri-la. Snape estava num tipo esportivo que se resumia em uma camisa gola polo lisa e uma calça escura, seu perfume era ótimo. Ele pareceu um pouco chocado ao me ver e confesso que também ficaria, fui uma completa trouxa de ter me vestido dessa forma, não estávamos indo à um encontro, só íamos assistir um filme, ponto.

— Uau...

— Eu sei, eu sou uma idiota e...

— Não, você está muito bonita – ele sorriu simpático e eu corei levemente.

— Obrigada.

— Vamos? – afirmei com a cabeça e fechei a porta atrás de mim.

Desci as escadas com a ajuda de Snape, já que eu tinha sérios riscos em descê-la sozinha em cima de saltos, a porcaria do elevador ainda estava quebrada. Caminhamos até o lado de fora do hotel e vi que ele tinha vindo de moto.

Opa, opa, opa. Como eu ia subir numa moto sendo que eu tava de saia. Lily Evans, temos um problema.

— Essa moto é sua? – indiquei a motocicleta encostada na guia.

— Não é grande coisa, mas...

— Não, não é isso. É que – senti meu rosto esquentar – eu estou de saia e... Sabe como é.

— Ah sim, bem não tem problema, nós podemos pegar um ônibus, depois eu venho buscar a minha moto.

— Por mim tudo bem – sorri convidativa e saímos andando ao som dos ruídos dos meus saltos, mais constrangimento impossível.

— Ansiosa para amanhã? – disse ele quebrando o silêncio enquanto esperávamos o ônibus no ponto.

— Com certeza. Você não faz ideia do quanto eu esperei por esse momento – senti meus olhos brilharem ao dizer aquilo.

 – Eu imagino. Também estou ansioso para amanhã.

— É? Por quê?

— Surpresa... – ele sorriu e eu rolei os olhos fazendo o mesmo.

O ônibus não tardou a chegar, me demorei uns instantes antes de entrar, afinal, só encontrávamos um ônibus vermelho de dois andares em Londres, eu ainda estava me habituando a esse fato. Sentamos-nos no andar de baixo mesmo, já que o de cima já estava lotado e depois de alguns minutos conversamos, descemos na frente do shopping, faltava só uma meia hora pro filme começar, então compramos o ingresso na máquina de cartão de crédito e fomos direto para a fila da pipoca, que estava um pouco grande.

— Dois refrigerantes médios e uma pipoca grande, por favor – pedi à moça atrás do balcão.

— Por que a gente não pede esse combo? Ainda ganha o balde personalizado – ele sorriu como uma criança de cinco anos quando ganha sua primeira caixa de feijõezinhos de todos os sabores, neguei com a cabeça.

— Ah Severo, esse balde não muda nada, só serve pra sair mais caro – disse por fim e ele concordou um pouco decepcionado por não conseguir o brinde, eu ri.

Pegamos a nossa bandeja com as coisas e fomos para a nossa sessão. Me surpreendi quando vi uma carreira de garotos na última fila de cadeiras do cinema, eram os marotos. Acenei para eles de maneira simpática e me sentei com Snape. Sorte que o líder do grupo não estava presente, Potter me dava nos nervos, menos um pra me preocupar.

— Não acredito que eles estão aqui – Severo fechou a cara.

— Severo, estamos aqui para nos divertir, não vamos deixar que os meninos mexam com você de novo, certo? – ele assentiu e começou a comer a pipoca.

— Se começar a comer a pipoca agora, não vai sobrar nada pra hora do filme – dei um leve tapa nele.

— Se acabar eu comrro outra – ele disse de boca cheia e eu ri.

— Pontas! Aqui! – a voz de Sirius correu pela sala, prendi a respiração fechando os olhos.

Foi então que eu me condenei por ter uma boa excessivamente grande, ou melhor, mente. Bem, você entendeu. Não deveria nem ter passado pela minha cabeça em agradecer pela ausência de Potter, já que ele era o cara congelado na entrada da sessão e me olhava com a cara espantada. O fuzilei com o olhar como se dissesse “se-você-pensar-em-fazer-alguma-coisa-a-respeito-você-vai-se-ver-comigo”, e ele parecendo entender o meu propósito, desviou o olhar e subiu as escadas acima. Revirei os olhos, senti Snape estremecer de raiva na cadeira ao lado.

— Relaxa, ele não vai fazer nada – tranquilizei-o.

Os trailers começaram e um de terror, em especial estava me afetando seriamente, até porque eu tenho problemas com coisas de terror, sou uma pessoa muito medrosa com filmes de terror, sinceramente não vejo necessidade de alguém querer se divertir com um gênero que só faz te trazer medo. Snape percebeu a minha aflição e passou um braço por trás das minhas costas.

— Lily, você está bem? – ele passou a mão pelo meu braço.

— Eu to bem, só não gosto dessas coisas de terror, sabe? – sorri e quando ergui meu olhar para ele, ele estava me encarando fixamente.

Alice estava certa, Severo sempre gostara de mim e agora ele se aproximava de encontro aos meus lábios, eu os comprimi por um momento, mas depois deixei que ele me beijasse. Não era uma sensação que ele estava acostumado a sentir muitas vezes, e nós dois sabíamos que se tratava de apenas um beijo, nada além disso. O clima depois disso ficou um pouco constrangedor, o filme se passava e as nossas mãos se esbarravam por acidente dentro do balde de pipoca, eu não podia estragar tudo, não podia estragar a amizade que eu tinha com ele, portanto, se ele insinuasse mais alguma coisa eu iria recusar.

Ao término do filme, vi um vulto descer as escadas de maneira rápida e deixar a sala de cinema, pelas minhas conclusões se tratava do Potter. Ótimo, assim ele não nos traria mais confusão. Me levantei arrumando a saia em meu corpo e Snape e eu saímos do cinema. Pegamos o ônibus na volta e eu decidi quebrar o silêncio.

— Severo... Você sabe que...somos...só amigos, não sabe? – disse com insegurança e fitei-o, ele suspirou.

— Sei, Lily. Não se preocupe, não vou te obrigar a fazer nada que não queira – ele nem se deu o trabalho de me olhar. Excelente, tinha magoado o meu melhor amigo.

— Não fique chateado, sabe que eu gosto muito de você, mas só como amiga.

Foi então que o remorso me atingiu na mesma hora, eu não gostava de ter que falar esses tipos de coisa, mas era inevitável quando se tinha um melhor amigo que era apaixonado por você. Suspirei tornando a me calar e descemos no ponto ao lado da cabine telefônica que era no mesmo quarteirão de onde eu morava. Caminhei ao lado de meu amigo e ele se despediu de mim com um sorriso fraco e montou na sua moto indo embora.

Tirei meus saltos e subi as escadas até o sétimo andar, estava prestes a entrar em casa quando escutei uma linda melodia vinda do apartamento no fim do corredor. Franzi o cenho e segui a melodia, a pessoa devia estar tão distraída que fizera questão de deixar a porta aberta quando entrou. Era um apartamento muito bem organizado e a melodia só embelezava mais ainda, a voz começou a cantar a música e eu fechei os olhos, eu era totalmente movida pela música. Caminhei com pesar até o interior da casa, não me importava no momento se eu estava invadindo a casa de alguém ou nada do tipo, tudo o que eu queria era ver com os meus próprios olhos o tamanho talento da pessoa que estava proporcionando isso aos meus ouvidos.

Quando percebi que a melodia tinha cessado, abri meus olhos e vi um James surpreso com seu violão nos braços sentado em sua escrivaninha. Apesar de boquiaberto, ele ainda tinha traços de irritação em sua face. Congelei, o que eu diria a ele sobre o que eu estava fazendo aqui?

— L...Lily? O que você está fazendo aqui? – ele perguntou ainda imóvel me encarando como se nunca me tivesse visto na vida.

— E...Eu, nada, nada. Eu estava voltando para casa e eu vi que a porta do seu apartamento estava aberta e eu escutei você tocando e... – suspirei – Eu já vou indo – me virei e fiz menção de voltar a andar, quando senti uma mão me puxar pelo braço.

Potter tinha me puxado e agora estávamos cara a cara. Por que eu tinha feito uma coisa dessas? Ah que ódio de mim mesma!

— Por que você estava saindo com Ranhoso? – ele disse com frieza ainda me encarando com seriedade e eu retribuí o olhar com desprezo.

— Primeiro, o nome dele é Severo Snape. Segundo, ele é meu amigo e terceiro, pelo que eu sei até agora eu não namoro com ninguém e eu posso sair com quem eu bem entender, ao contrário de você. Então se me der licença... – fiz ele me largar e me virei de novo.

— Depois de tudo o que ele fez pra você!? – ele se irritou e eu ri sarcasticamente.

— Depois de tudo o que você fez pra ele, você quis dizer.

— Não fuja do assunto. Ranhoso é apaixonado por você, Lily, será que você não enxerga?

— É claro que eu enxergo. Sei disso melhor que ninguém, mas não é por causa disso que eu vou deixar de sair ou falar com ele, ele é meu melhor amigo.

— Seu melhor amigo? – ele riu com ironia – Conta outra Lily. Você não vê que é tudo encenação? Ele só quer se aproximar de você e ganhando a sua amizade é o primeiro passo dele – ele se aproximou e a irritação em seus olhos era impressionante e até um pouco contagiosa.

— E quem é você para dizer uma coisa dessas? Não era você que há alguns anos fazia a mesma coisa? Você não tem direito de falar de Snape, nem de me privar a nada, Potter! Não temos nada e nem nunca vamos ter. Então vê se para de ser imbecil e cuida da sua vida! – explodi e saí do seu apartamento batendo a porta.

Que maravilha! Como se não bastasse a minha burrice em entrar no apartamento do cara mais chato da face dessa Terra, eu tinha que aguentar ele me pedindo satisfações. Pelo amor de Merlin!

Adentrei em casa e minhas amigas, que pareciam estar jogando uma partida de Snap Explosivo ­– um jogo de cartas que aprendemos a jogar no colegial, que se resumia basicamente em um jogo de baralho original, mas quem pegasse o coringa estaria fora do jogo, algo desse tipo – correram para cima de mim com um sorriso enorme no rosto, na qual eu não fiz questão nenhuma em retribuir, saí andando direto para o meu quarto e me joguei na cama fitando o teto.

— Lily! O que aconteceu? – minhas três amigas disseram em uníssono.

— Ele tentou te beijar, não foi? – Alice comentou e as três se sentaram na beirada da cama.

— Não é isso... Quer dizer, nós nos beijamos, mas não é o motivo para... – fui interrompida.

— O quê? – as três disseram mais uma vez em uníssono.

— É, você estava certa, Ali. Ele queria mais do que só sair comigo. Eu deixei ele me beijar, não sei o que deu em mim. Só deixei que ele pudesse ter essa oportunidade. Sei lá – suspirei e me deitei de lado olhando o vazio.

— Mas não é só por causa disso que você tá assim. Lilian, eu te conheço. Desembucha – Holly se agachou em minha frente ocupando meu campo de visão e eu não tive escolha a não ser encará-la.

— Potter... – as três arregalaram os olhos.

Sentei-me e contei toda a história desde quando estávamos no cinema até a parte em que eu cometi o terrível erro de entrar no apartamento dele.

— Lily Evans! Você é louca! – exclamou Holly – Não brinque com fogo a não ser que queira se queimar!

— Eu sei, eu sei. Foi idiotice ter invadido o apartamento dele assim, mas é que eu não resisti, eu amo música e... – suspirei – não resisti.

— De qualquer maneira acho que essa namorada do James não tá com nada. Nenhum homem compromissado reage assim a não ser que esteja prestes a chifrar a namorada – Tonks disse enquanto olhava as unhas recém-pintadas.

— Dora! – a repreendi.

— É verdade, ué – ela deu de ombros como se não tivesse dizendo nada demais.

— James não está apaixonado por mim. Mesmo se estivesse não mudaria nada. Continuaria odiando-o da mesma forma – me encostei na cabeceira da cama e cruzei os meus braços.

— Ótimo, por que você não toca pra nós? Tenho que ir já já, tenho que estudar para o meu teste de administração e pans – Holly disse apressada e eu suspirei em concordância.

Tirei a bolsa do meu violoncelo e todos os meus aparelhos legais de baixo da cama e me sentei à minha escrivaninha. Tirei o meu instrumento sagrado de dentro e o posicionei entre as minhas pernas, apoiando o braço no meu ombro direito e comecei a deslizar o arco pelas cordas enquanto fechei os olhos. O som da música escolhida caiu perfeitamente, a cada nota alcançada, eu usava o meu aparelho do pedal para gravá-los e prosseguir com outras notas. As meninas reconheceram a música de imediato e começaram a cantá-la.

Like the legend of the phoenix
Our ends were begginning
What keeps the planet spinning
The force of the beginning

We've come too far
To give up who we are
So let's raise the bar
And our cups to the stars
She's up all night 'til the sun
I'm up all night to get some
She's up all night for good fun
I'm up all night to get lucky
We're up all night 'til the sun
We're up all night to get some
We're up all night for good fun
We're up all night to get lucky

We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky

The present has no ribbon
Your gift keeps on giving
What is this I'm feeling?
If you want to leave, I'm ready
Ah, ah

We've come too far
To give up who we are
So let's raise the bar
And our cups to the stars
She's up all night 'til the sun
I'm up all night to get some
She's up all night for good fun
I'm up all night to get lucky
We're up all night 'til the sun
We're up all night to get some
We're up all night for good fun
We're up all night to get lucky

We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky

We've come too far
To give up who we are
So let's raise the bar
And our cups to the stars
She's up all night 'til the sun
I'm up all night to get some
She's up all night for good fun
I'm up all night to get lucky
We're up all night 'til the sun
We're up all night to get some
We're up all night for good fun
We're up all night to get lucky

We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky
We're up all night to get lucky.

(Representação da Lily tocando: https://www.youtube.com/watch?v=tM9bFD8pq28).

Ao final da música, abri meus olhos e sorri para elas que começaram a me aplaudir enquanto soltavam risinhos de alegria.

— Caramba, Lily! Juro que se eu não te conhecesse eu diria que é uma violoncelista profissional – Alice disse com um sorriso meigo.

— Ah, não exagera, eu só tenho a necessidade de tocar do meu jeito e sai assim – senti minhas bochechas corarem.

— Para com isso, Lils. Você sabe que é incrível tocando – Tonks sorriu.

— Obrigada pelo elogio – sorri mais uma vez.

— Bem, Lily, agora eu tenho mesmo que ir – Holly se levantou e veio até mim me abraçando (depois de colocar o violoncelo de lado, é claro) – qualquer coisa é só me ligar.

— Ok, pode deixar – a abracei de volta e me despedi das demais que também disseram que iriam embora.

— Boa sorte amanhã! – as três disseram do lado de fora do meu apartamento e saíram sorrindo.

— Obrigada! – sorri e entrei em casa mais uma vez.

Olhe só quem estava sozinha agora? Eu! Agora podia estudar até que eu achasse que já era o suficiente para dormir ao menos oito horas de sono. Peguei alguns livros e me sentei no chão estudando um assunto de cada livro.

Acordei na manhã seguinte sentindo o sol tomar parte do meu rosto, abri os olhos e percebi que tinha dormido no tapete. Ok, eu posso ter passado um pouco do horário de estudo e... 06:03. Meu coração parou por breves milésimos de segundo. Já eram seis horas e eu tinha de chegar no hospital seis e meia. Corri para o banheiro, tomei um banho e vesti uma roupa confortável. Levei uma bolsa com alguns livros, minha carteira, celular e uma maçã, para o caso de eu encontrar um tempo livre e me distrair um pouco e deixei meu apartamento.

O hospital ficava a apenas uns cinco ou seis quarteirões dali, mas eu definitivamente não podia ir andando, eu estava super atrasada e isso contava muito para um primeiro dia de trabalho. Desci as escadas rapidamente e dei de cara com a Sra.Figg, a senhora do térreo. Droga, agora não!

— Bom dia, menina! – ela sorriu ostentando a sua dentadura tão velha quanto ela.

— Bom dia, Sra.Figg. Posso passar na sua casa mais tarde para aquele chá que eu estava te devendo? É que eu estou com muita pressa agora. Preciso chegar cedo no meu primeiro dia de trabalho – disse sorrindo um pouco constrangida, mas a velhinha assentiu.

— Tudo bem, o chá com biscoitos pode esperar até a noite – ela sorriu simpática mais uma vez e eu saí correndo.

— Obrigada! – corri olhando para trás e quando me virei... PAM.

Dei de cara com uma pessoa e derrubei o meu café inteiro nela.

— Ah droga! Me desculpa mesmo! – olhei para a camisa da mulher, que agora estava toda encharcada.

— Ah, não... Essa roupa era de marca, garota! – a voz da mulher soou familiar e eu ergui meu olhar para notar Izzy, a namorada de James ali em minha frente.

— Eu... Eu sinto muito! – balbuciei e tirei minha carteira de dentro da bolsa dando a ela uma nota de cem libras – Tome, espero que isso cubra o estrago. Eu preciso mesmo que ir, e me desculpa mais uma vez! – saí correndo e estendi a mão para o táxi, que parou na mesma hora e recebeu uma Lilian totalmente chocada e desastrada no seu interior – Para o London Plainsboro Hospital ­– disse ofegante e o motorista assentiu – Rápido!

A minha vida têm sido tão estranha ultimamente... Primeiro, eu acabo reencontrando Potter e morando coincidentemente no mesmo prédio e andar que eu, depois Snape me beija e depois acabo esbarrando na namorada do cara mais chato que já conheci. Estava tudo uma bagunça. Eu realmente espero que esses comportamentos anormais não reflitam no meu dia de hoje. A minha vida pode estar uma droga todos os dias, mas eu orava a Merlin para que só hoje fosse diferente.

O táxi parou em frente ao hospital e eu desci rapidamente, olhei no meu relógio de pulso e vi que já eram seis e trinta e seis. Meus sentidos estavam falhando, eu realmente odiava ser perfeccionista. Cheguei à recepção e perguntei onde ficava o vestiário dos internos e peguei a chave do meu armário. Corri até o mesmo e vi que todos ainda se vestiam.

— Obrigada, Merlin! – murmurei para mim mesma e fui até o meu armário.

 Destranquei o meu armário e coloquei tudo dentro. Vesti o meu avental e peguei o meu bipe que estava junto com o resto das coisas.

— Primeiro dia? – uma mulher falou enquanto eu ajeitava a gola do meu avental.

— É... – sorri – e você?

— Também – ela sorriu de canto – Vou me formar em cirurgia.

— E eu em pediatria – disse animada – Hm, me desculpe. Sou Evans, Lilian Evans – estendi minha mão direita e ela me cumprimentou.

— Sou Meadowes, Dorcas Meadowes – ela sorriu largo e ia abrindo a boca para dizer mais alguma coisa quando uma voz mandona nos interrompeu.

— Bom dia, internos. Sejam todos bem-vindos ao London Plainsboro Hospital. Sou Minerva McGonagall, a residente chefe. Quero todos me seguindo. Já! – uma mulher que aparentava uns sessenta anos gritou com uma voz ríspida.

Todos os internos que estavam no vestiário – apesar de um pouco assustados com o tom seco que a senhora utilizara para pronunciar aquelas palavras – a seguiram prontamente como se a vida deles dependessem disso, e eu era claramente uma dessas pessoas que acreditava na teoria. Depois de chegarmos à área central do térreo, onde antes eu pedi uma informação para a recepcionista, paramos em frente à mulher, comecei a escutar tudo o que ela falava como se fosse um dever meu de aprender tudo para um teste.

— Como qualquer outro hospital ou instituição, aqui temos regras. Regras que impreterivelmente devem ser seguidas – ela correu os olhos para todos nós como se expressasse “experimente-não-seguir-as-regras-para-ver-o-que-acontece” e continuou – Primeira regra: Vocês estão em período de treinamento e nunca devem tomar decisões antes de consultar um superior – na hora em que ela se pronunciou, apareceram mais três médicos. – Esse é Malcolm, neurocirurgião. Ariana, cardiologista e esse é Alvo Dumbledore, chefe de cirugia e diretor do hospital – os doutores apenas acenaram com a cabeça e pegaram uma ficha cada um, sendo que o diretor apenas ficou a observar a cena. Dumbledore era tão ancião quanto McGonagall, e pelo que vi eles pareciam formar um casal.

— Quer que eu prossiga daqui, Minerva? – o velho murmurou numa voz cansada.

— Não, não será preciso, diretor – ela quis parecer profissional e ele deu de ombros.

— De qualquer maneira... Sejam todos bem-vindos – o senhor se pronunciou e se retirou logo em seguida. Nós agradecemos em uníssono.

            Minerva voltou a andar pelo hospital e ao notar que ela não fora seguida, se virou nos lançando um olhar sufocante.

            – Segunda regra: Se eu der um passo, façam o mesmo, a não ser que eu peça para se dispersarem – todos passaram a acompanhar a velha.

            – Ui, a coroa é bravinha – um rapaz do grupo caçoou ao pé do ouvido de seu colega.

            – Terceira regra: Eu vejo, ouço e sei de tudo o que acontece nesse hospital, portanto, se não me respeitar, Sr. Maxwell, vai ser dispensado do programa – a velha disse em voz alta sem nem ao menos se virar. O rapaz que antes cochichava, agora estava em choque.

            – C...como ela sabe o meu nome? – ele gaguejou e os demais do grupo riram.

            – Essa é a sessão de cirurgia, onde vocês serão selecionados a cada semana para participar da operação, de acordo com o desempenho durante a semana – chegamos a uma área com diversas portas que davam para salas de cirurgias e galerias para assistir as mesmas – que será avaliado de acordo com o sucesso de vocês para com os pacientes na emergência.

            Então quer dizer que se eu fosse bem eu teria a chance de assistir uma cirurgia... Caramba! Isso é demais. Vamos lá, Lily!

            Todos ficaram animados com a ideia e começaram a murmurar coisa do tipo de quem já planeja tudo o que está prestes a fazer. Eu, por outro lado, não tinha nenhum plano formado, tudo o que eu estava confiando no momento era o meu conhecimento, e ele apenas. Precisava sair perfeita em tudo, assim como eram minhas notas da escola, se bem que isso não se parece muito com o colégio, mas é bom nomeá-lo assim, talvez as coisas fiquem menos assustadoras do que estão sendo agora.

            Após ouvirmos todas as instruções da doutora McGonagall, fomos para a clínica. Peguei uma ficha que continha um caso de um garoto, sentia dor de cabeça, falta de apetite e algumas manchas arroxeadas na pele. Caminhei até o quarto 934 e me surpreendi com a cena que presenciei. Tratava-se de um garotinho de apenas nove anos – como havia lido na ficha mais cedo – tinha olhos castanhos e cabelos que lhe caíam até testa, tinha um olhar inconfundível e segurava a mão da mãe com firmeza que estava com a expressão decididamente preocupada no rosto. Eu conhecia esse garoto. Era aquele que eu tinha visto na madrugada da sexta para o sábado atravessando a faixa de pedestres com a mãe, quando eu estava no carro de James indo para casa.

            – Hm, bem... Bom dia – respirei fundo tentando me acalmar – Sou a doutora Evans e vou assumir o seu caso a partir daqui, senhor... – abri a ficha para relembrar o nome do pequeno paciente – Lancaster – abri um sorriso para a criança que retribuiu parecendo portar tamanha inocência que mal saberia dizer o porquê de estar sentado em uma maca de hospital.

            – Me chame de Harry, só Harry – ele sorriu mostrando os dentes, o que me fez apaixonar na mesma hora. Eu era totalmente derretida por crianças, e se tinha alguma coisa que me fazia sentir de maneira totalmente inovadora era a sensação de ver uma criança sorrir sem mesmo ter um motivo para fazê-lo.

            – Tudo bem, Harry. Já que somos amigos você pode me chamar de Lily, se preferir... –sorri e ergui meu olhar para a figura de uma mãe totalmente pálida.

            – Lily é bem mais legal – ele murmurou e abaixou a cabeça começando a brincar com os próprios dedos da mão.

            – Olá, senhora Lancaster. É um prazer estar aqui para ajudar, o que tem acontecido com o Harry nos últimos dias? – me aproximei da mãe do garoto com uma expressão um pouco mais séria.

            – Doutora, o meu filho tem estado com muita dor de cabeça e falta de apetite, eu faço de tudo e ele não come – ela disse passando a mão pela cabeça.

            – Tudo bem, não deve ser nada grave. Vamos pedir alguns exames para saber os níveis de vitamina dele, provavelmente se trata de uma anemia, até porque se ele não está comendo, elas não são absorvidas – a mãe apenas assentiu com a cabeça e eu, depois de informar minha superior, a doutora Ariana, colhi algumas amostras de sangue e me encaminhei para a área de análise.

            Eu estava tão ansiosa... Lidar com o meu primeiro paciente, uma criança, que era justamente o que eu queria. Senti uma pontada boa dentro de mim, minhas expectativas estavam altas em relação a esse trabalho.

            Ao chegar na ala de análise, avistei um homem de costas, que aliás era o único na sala, que estava observando uma amostra em especial no microscópio.

            – Com licença... Eu tenho umas amostra de sangue de uma criança e... – arregalo os olhos ao ver que quem se vira era Snape – S...Severo? O que faz aqui? – o rapaz me encarou com uma expressão não tão simpática quanto costumava fazer toda vez que me via, mas ele sorriu.

            – Eu trabalho aqui – ele ergueu as sobrancelhas ao notar que eu não conseguira dizer nada a respeito – Surpresa...! – se o objetivo dele era mostrar ânimo, acredito que ele não o atingiu. Talvez ele só estivesse chateado com a noite de ontem, eu não tinha facilitado nada pro lado dele.

            – Bem, uau! Você podia ter dito antes, evitaria o choque vindo da minha parte – sorri quebrando o clima tenso.

            – É. Mas achei que uma surpresa seria mais legal... – ele olhou para os frascos com sangue – seu paciente?

            – Sim, não é o máximo? – animei-me e entreguei-lhe os potinhos – o resultado não é de urgência, provavelmente é só uma anemia – disse dando de ombros.

            – Ah, certo – ele pegou e colocou o frasco em um suporte que eu não tinha muito conhecimento do que era por não pertencer àquela área.

            – Bem, eu já vou indo. Me avise quando o resultado sair, sim? – ele afirmou com a cabeça e eu me retirei.

            Eu certamente tinha que resolver isso. Não podia passar mais nenhum mísero dia com esse clima chato com Snape, mas como fazê-lo sem deixar que ele saia magoado? Era tudo complicado demais e eu nem sabia o que fazer, mas as coisas dariam certo. Tinham de dar.

            Retornei ao quarto 934 e vi que a mãe se levantara agoniada.

            – Não precisa se preocupar, vocês podem ir para casa. Não é de urgência, apenas vou receitar um remédio para estimular o apetite dele e tudo certo – tirei um bloco de notas do bolso do meu avental e escrevi um remédio que eu sabia de cabeça que era ótimo para a falta de apetite, já que Petúnia tomava quando era criança – como o exame não é de um caso grave, demora cerca de três dias para sair o resultado. Quinta-feira já pode vir aqui para vermos o que faremos com esse mocinho aqui – entreguei o papelzinho na mão da mulher e me virei para Harry, me abaixando para olhá-lo, abri um sorriso e ergui a mão – Foi um enorme prazer conhecê-lo, Harry.

            – Também gostei de conhecer você, Lily – ele retribuiu o meu aperto de mão e deu uma risada.

            O que esse menino estava fazendo nesse hospital, meu Merlin? Estava tão bem quanto o ânimo da minha mãe, sempre sorrindo, uma alegria que chegava a ser contagiosa. Essa mulher deveria ser preocupada demais da conta, porque era uma coisa muito sem cabimento trazer uma criança saudável dessa para um hospital, onde o risco de um ser frágil como Harry adquirir uma doença proveniente do local.

            Atendi mais uns dez pacientes e voltei para casa no final do dia. Até que eu estava bem para um primeiro dia. Peguei o ônibus de volta para casa e depois de tomar um maravilhoso banho e me deitei, eram nove horas, mas eu já estava sonolenta, obviamente pelo cansaço que o meu corpo estava assumindo no momento. Quando estava prestes a cair no sono, ouvi o barulho do meu celular vibrando em cima do criado mudo. Bufei e estiquei meu braço para alcançar o aparelho, deslizei o dedo pela tela atendendo a chamada sem ao menos ver quem era.

            – Alô? – disse com a voz um pouco falha por passar um bom tempo ser usar a minha voz.

            – Filha! Caramba, você disse que iria nos telefonar... – ouvi a voz desesperada de mamãe do outro lado da linha e arregalei meus olhos levantando o meu tronco da cama ainda segurando o celular sobre a orelha.

            – Mãe! Ah, droga. Eu estive tão distraída com tudo o que está acontecendo que me esqueci completamente... Me desculpe! Eu prometo que vou ligar. Hoje foi o meu primeiro dia no hospital e-

            – Verdade! E como foi? Foi muito difícil? Atendeu muitos pacientes? – minha mãe me interrompeu, mostrando estar de longe muito ansiosa com o fato de eu estar trabalhando no que eu sempre quis.

            – Calma, mãe... Foi tudo ótimo – falei com toda a tranquilidade do mundo e começo a contar todos os detalhes desde o dia da mudança até o dia de hoje, omitindo algumas partes como o beijo que tivera com Snape.

            – O quê?! James mora no mesmo andar do que você? Esse garoto te ama, Lily.

            – Mãe, ele tem namorada... – disse rolando os olhos – E mesmo se ele não tivesse eu nunca seria capaz de gostar dele, nunca fui.

            – Mas que desperdício... – minha mãe suspirou desapontada e eu revirei os olhos mais uma vez.

            – Mãe, eu preciso desligar. Amanhã cedo já devo estar no hospital – disse enquanto mexia nas minhas cobertas.

            – Ah, claro, claro! Tudo bem, filha. Boa sorte amanhã, eu estou muito orgulhosa, ouviu? – pela voz dela ela chorava. Era impressionante como minha mãe chorava fácil.

            – Obrigada, mãe. Eu te amo.

            – Eu também te amo, Lily – ela disse e eu sorri, desliguei a chamada e me deitei.

            O restante da semana passou da mesma forma. Todos os dias acordando cedo, não cheguei nenhuma vez atrasada – graças a Merlin – o que só melhorou a minha pontuação entre os internos.

            Na quinta-feira, Harry e sua mãe retornaram ao hospital e eu lhes informei os resultados do exame de sangue. O garoto estava perfeitamente bem, a única coisa era que os níveis de vitamina estavam instáveis e a produção de hemoglobina estava desregulada, mas nada que não pudesse ser resolvido com rapidez, alguns remédios básicos e Harry voltaria ao normal, gozando de plena saúde.

            Tudo estava indo otimamente bem no hospital, tanto que os nossos superiores acharam que seria razoável não trabalharmos no fim de semana (sei que isso provavelmente parece inacreditável, mas sim, é verídico), o que me fez ficar totalmente satisfeita e ir trabalhar na segunda-feira de manhã muito mais disposta.

            Atendi uns três pacientes antes de ouvir o apitar do meu bipe dentro do bolso do meu jaleco, era Minerva, estava me chamando para comparecer à recepção, provavelmente para selecionar quem seria o primeiro interno a presenciar uma cirurgia de perto. Eu tinha me dedicado o suficiente para receber esse posto, e estava preparada para assumi-lo.

            – Estou nervosa – Dorcas disse ajeitando a gola do casaco enquanto caminhávamos para o local onde fomos chamadas.

            – Eu também, você não imagina o quanto... – fechei minhas mãos que suavam frio e tentei respirar o mais fundo possível, por sentir uma ansiedade que chegava a arder no peito.

           Ao chegarmos à recepção, o doutor e doutora McGonagall estavam a nossa espera. Havia descoberto que Malcolm, o neurocirurgião era irmão da residente chefe. Minerva já estava vestida para a cirurgia que a chefia aparentemente era de seu irmão.

           – Viemos observando o trabalho de todos os internos essa semana – a Dra. McGonagall começou – e percebemos que uns se destacaram mais. Entretanto, somente um de vocês poderá comparecer à cirurgia, enquanto o restante assistirá da galeria – sua voz cessou. O que eu pensei ter sido um soluço momentâneo era, na verdade a transferência da palavra para seu irmão.

          – Primeiramente, quero parabenizar a todos pelo desempenho eficiente que os senhores e senhoras vêm apresentando ao passar da semana. Hoje minha equipe irá realizar uma neurocirurgia em uma mulher idosa, que tem um tumor no lobo frontal, é bastante delicado, pois é necessário muita precisão para não só alcançar o tumor, mas ressecá-lo por inteiro – o doutor fez uma pausa para dar uma curiada na ficha em suas mãos e voltou a nos encarar – hoje quem irá para a minha sala de cirurgia é a senhorita Meadowes – Dorcas me abraçou aos gritinhos e eu murchei.

          Eu tinha estudado tanto para esse momento que nem as minhas amigas me aguentavam mais, eu era uma decoreba de primeira e sabia qualquer coisa de trás para frente. O que Dorcas fez de diferente que eu não tenha feito? Minha autoestima caiu do penhasco, mas eu tive de sorrir. Dorcas era uma ótima pessoa, não só profissionalmente, mas também como colega, e eu tinha que admitir, por mais difícil que seja, ela merecera. Ela se juntou aos dois doutores enquanto a cardiologista apenas nos direcionou até a galeria e eu, junto com os demais internos, me sentei e passei a observar aquela sala na qual eu desejara entrar por tanto tempo.

          Tinha pensado tanto que mal me dera conta de que às quatro horas de cirurgia já findavam. Despi-me de meu jaleco e finalmente voltei para casa, totalmente decepcionada comigo mesma. Notei que a placa que antes informava que o elevador estava fora de funcionamento não estava lá, então a única coisa que fiz foi apertar o botão e aguardar, adentrei e fiquei a me observar no espelho que havia no pequeno cubículo. Ainda estava totalmente chocada com o fato de não ter sido escolhida. Talvez possuir confiança demais seria caso de abalo no final, excelente lição para mim.

          Estava a um passo de sair do elevador, quando ouço uma voz familiar, até demais, mas ela não era nenhum pouco amigável, conversava com uma voz feminina.

          – ...você não tem nada haver com aquela garota, por que não para de pensar nela por um segundo? Pensei que me amasse! – a voz feminina que eu reconheci como Izzy soara com uma mistura de ódio e decepção.

          – Não estou pensando nela o tempo todo, pare de exagero Izzy.

          – Exagero?! Você só tem estado aéreo nesses últimos dias, James. Nem tem tido tempo para passar com a sua namorada, fica só enfurnado nesse seu quarto idiota tocando músicas que falam sobre olhos verdes e pensa que eu não sei o que isso significa?

          – Izzy... -

          – Eu pensei que me amasse, droga! – a mulher o interrompeu.

         – Me desculpe Izzy, mas amor não é um sentimento que se adquire em um mês de namoro – ouvi a voz monótona de James ecoar pelo corredor.

            Como eu tinha demorado demais a deixar o elevador, as portas haviam se fechado e para que ninguém soubesse que eu tinha estado ali, apertei o botão para ir de volta ao térreo.

            Então quer dizer que o Potter tem andado distraído e eu sou o motivo para isso? Há, me engana que eu gosto. Ele mesmo disse para mim que não sentia mais nada por mim e que não podia ficar mais esperando por mim. Por que ele mudaria de ideia do dia pra noite?

            Ao chegar ao piso térreo, saio imediatamente e dou de cara com a senhorinha simpática que residia no piso conseguinte. Ela me encarou por alguns segundos, como se sua vista a impedisse de me identificar prontamente e só depois abriu o seu sorriso amarelo, literalmente falando.

            – Lilian... Como você está, querida? Quer entrar para tomar um chá? – convidou a Sra. Figg.

            – Olá senhora Figg. Olha, estou aceitando um chá agora. Será que podemos ir logo? Explico melhor quando estivermos do lado de dentro – ela afirmou com a cabeça e deu espaço para que eu entrasse, fechou a porta logo depois que entramos.

            O apartamento, apesar de pequeno, assim como o meu, era extremamente organizado e muito bem decorado. As paredes e o piso assumiam tons distintos na cor da madeira e a parede era repleta de quadros com fruteiras e outras com paisagens e animais.

            – Venha querida. Sente-se – ela disse de maneira dócil depois que se sentou à uma poltrona, que tinha um braço forrado com um tecido de tricô.

            Sentei-me no sofá em sua frente e me sirvo do chá que a velhinha me oferece, pelo cheiro era de erva-doce. Peguei dois biscoitos e me aconcheguei melhor cruzando as pernas.

            – Então, Lilian? O que aconteceu? Você parece agitada... – disse a senhora Figg enquanto tecia um suéter com seu par de agulhas de tricô.

            – É complicado... São muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo – beberiquei o meu chá.

            Meus olhos correram pelas paredes da sala e pararam ao avistar um quadro em especial, se tratava de uma pintura de um lugar deserto, com a presença de nada mais nada menos que inúmeras pedras pelo ambiente e os itens que roubavam a cena consistiam num cervo e uma corça se acariciando. Fiquei observando a pintura com atenção, era tão bela... Meu animal preferido era o cervo e ver aquele animal tão bem representado naquela pintura me deixava muito impressionada.

            – Ganhei do meu velho no aniversário do nosso quadragésimo aniversário de casamento. Muito bonito, não é? – a senhora disse despojando de um sorriso muito verdadeiro e simples, o que me fez sorrir junto.

            – É linda... – voltei a encarar o quadro, abobalhada – seu marido tem um ótimo gosto – bebi mais um gole de chá e mordisquei um biscoito de gengibre, que estava mais duro do que as rochas da pintura provavelmente estariam.

            – É, ele tinha sim – ela murmurou, foi então que eu percebi que o senhor já não estava mais entre nós, me senti uma completa idiota.

            – Ah, eu...eu sinto muito – senti algumas migalhas de biscoitos prenderem em minha garganta e comecei a tossir.

            – Tudo bem, querida... Você quer mais uma xícara de chá? Parece estar precisando – ela ofereceu gentilmente e eu aceitei, fazendo aquelas migalhas intrusas finalmente deixarem as minhas vias.

            Ficamos mais ou menos uns vinte e cinco minutos conversando – sobre os quadros ou a habilidade da velhinha de tricotar, além de eu contar um pouco sobre a minha carreira no hospital e a minha paixão por cervos e por música – e eu achei que já tinha ficado tempo o suficiente para que o casal já não estivesse no corredor.

            – Bem, eu acho que já vou indo. Obrigada pelo chá, estava ótimo – sorri e a abracei, sentindo o perfume delicioso que era aquele típico de idosas, lembrava muito o cheiro da minha avó, o que me fez ficar com saudade instantaneamente.

            – Não precisa agradecer pequena Evans... Pode vir aqui quando quiser para tomar um chá, você é com certeza uma ótima companhia.

            Deixei o apartamento da senhora Figg e peguei o elevador para o sétimo andar. Então eu descobri que o dia de hoje estava com todas as qualidades para ser o pior de todos, porque quando as portas do elevador se abriram eu vi que havia um Potter muito desestruturado sentado em frente à minha porta, suas costas estavam encostadas na madeira da mesma e seus braços se apoiavam em seus próprios joelhos, parecia devastado. Aproximei-me e parei em sua frente, ele ergueu o seu rosto e eu pude notar aquela incompreensão no seu olhar, aqueles olhos que eu nunca pude decifrar, a não ser distinguir se ele estava ou não dizendo a verdade.

            – Potter... – umedeci os lábios pronta para prosseguir com minhas palavras, mas ele se precipitou.

            – Eu terminei o meu não namoro com Izzy – disse rapidamente.

            – Sabe que isso não muda nada, não sabe? – fiz uma pausa – Não muda nada entre nós. – Ele me encarou com um olhar perdido e se levantou me fitando com intensidade.

            – Está namorando Ranhoso, não está? – de repente o olhar perdido se transformou em ódio. Tomei a frente dele e me pus a abrir a porta.

            – Não é do seu interesse com quem eu estou ou namorando, Potter – disse girando a chave na fechadura da porta com violência.

            – Se não fosse do meu interesse não estaria te perguntando agora mesmo. Estou falando sério, Lily – ele disse com firmeza.

            – O que você tem contra Severo? Os tempos de escola já estão para trás, Potter. Assim como os tempos que você era apaixonado por mim. Então, se me der licença, eu tive um dia exaustivo e que tem tudo para ser um dos piores que já tive desde que me mudei.

            – O quê? Por quê? – fiquei em silêncio e senti sua mão vir até o meu rosto, seu dedo indicador me fez erguer o olhar para ele.

            Senti minhas pernas bambearem. Os olhos deles... Aqueles olhos azuis que sempre foram tão indecifráveis agora me encaravam como se não tivessem algo de melhor para fazer. Que diabos James Potter estava fazendo? Ele tinha ficado louco, é a única justificativa.

            – Fale comigo, Lily – ele sussurrou como se implorasse para que eu realizasse o seu desejo.

            Pude sentir o seu hálito sobre a minha pele, ele estava claramente fora de si, só podia estar. Fixei meus olhos nele como um gesto inevitável e engoli em seco sem dizer nenhuma palavra, uma pontada de dor atingira o meu peito, não aquela pontada que havia sentido mais cedo no hospital, agora se tratava de uma pontada de quem acabara de descobrir a fraqueza de alguém, o sentimento de pena e pesar diante de uma situação ruim misturada com a ideia de não poder fazer nada para mudar isso, ou pelo menos não conseguir fazer nada para reverter o fato.

            – Boa noite, Potter – foi tudo o que eu consegui dizer antes de bater a porta e escorregar meu corpo sobre a porta até alcançar o chão e descansar o meu olhar sobre um ponto fixo qualquer da sala sentindo meu rosto umedecer com algumas lágrimas perdidas que escorriam sobre ele, eram muitas emoções acumuladas de uma só vez. Como eu havia pensado, o dia de hoje teve de tudo para ser considerado o pior dia, sem exceções.


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Notas finais do capítulo

E esse final em? Hehehe. Lily tá na bad, meu povo, assim como eu, vida tá triste pra todos nós kkkk. Enfim, o que vocês acharam? Se preparem que próximo capítulo é em cima do ponto de vista do James, em! E eu já vou me desculpando precipitadamente, eu vou começar a fazer cursinho e as coisas vão ficar corridas pra mim, então se eu não postar capítulo sábado que vem, já sabem! Obrigada por lerem :)



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