Depois daquela noite, Marinette começou a olhar para toda a gente de uma nova perspetiva. Depois de Cat Noir ter revelado que ele conhecia-a e ela conhecia-o a ele.

Começou a reparar nos pequenos detalhes. Se alguém olhava para ela de maneira estranha, se comportava-se de maneira estranha quando ela estava por perto.

Olhando para trás, Marinette arrependia-se de não ter feito outras perguntas, como se eles falavam, ou já tinham falado. Ela não falava com muitos rapazes, por isso não devia ser muito difícil de descobrir quem era. Mas era porque nenhum dos rapazes que conhecia podia ser o Cat Noir. Gostava de perguntar a Jin diretamente quem ele era mas, depois de lhe dizer que não queria saber, não achava perguntar-lhe. Aliás, depois da intervenção daquela noite, Marinette tinha quase a certeza que ele também não queria que ela soubesse, por alguma razão que ela também não sabia se queria descobrir.

Finalmente, perguntou-se se queria mesmo descobrir quem ele era. Só tinha estado um pouco aborrecida porque ele sabia quem ela era, mas nada tinha mudado e, se ele não queria abordá-la na vida real, ela também não via razão para o fazer. Ia limitar a dizer-lhe para nunca tocar no assunto novamente.

Podiam ter de ficar afastados por algum tempo mas, se era o necessário, ela aguentaria…não ter o seu melhor amigo ao seu lado.

Ela pensou sobre isso. Sobre como ele não a via como uma simples amiga. Isso também significava que ele não a via dessa maneira quando estava sem o fato.

Inconscientemente, quando entrou na escola, naquela manhã, Marinette olhou em volta mas, que soubesse, ninguém gostava dela daquela maneira.

Suspirou mas, quando viu Adrien a aproximar-se, endireitou-se e sorriu. Jin juntou-se logo a eles. Nos últimos dias, ele juntava-se a eles, sempre que estavam só os dois.

— O Jin não vos deixa estar sozinhos. – dissera Alya, um dia, confirmando as suspeitas de Marinette – O que é que se passou?

Ela encolheu os ombros. E era verdade. Não fazia a mínima ideia. Jin andava sempre atrás dela mas, ultimamente tinha piorado. Talvez tivesse medo que o Cat Noir se aproximasse dela para desvendar a sua verdadeira identidade.

Enquanto a professora encerrava a lição, Marinette suspirou outra vez, recebendo inconscientemente o papel que Adrien lhe deu, se, ninguém ver. A principio pensou que era uma folha que a professora tinha dado a Adrien para ele passar para trás mas, quando viu Adrien a olhar para trás e a pôr o indicador sobre os lábios, corou.

Olhou de lado para Alya para se certificar que ela não tinha visto nada e abriu o papel onde Adrien lhe pedia para saírem depois das aulas acabarem.

Marinette sorriu e anuiu com a cabeça em direção a Adrien, que ainda estava a olhar para ela. Tinha andado tão absorvida no assunto da identidade do Cat Noir que tinha-se esquecido completamente de que era de Adrien que gostava.

Sentia-se bem quando estava com ele. Quase tão descontraída como quando estava com o Cat Noir. Pelo menos, até ele decidir tentar revelar quem era. Afinal, para que é que ele queria fazer isso? Marinette iria continuar a gostar de Adrien. Ele só se ia magoar.

Só se ele fosse o Adrien, pensou Marinette, rindo internalmente.

Estava tão concentrada a pensar no Cat Noir que, quando deu por si, já estava ao lado de Adrien, a caminho de casa. Inconscientemente, olhou para a mão de Adrien e sentiu uma pontada no peito quando viu o anel no seu dedo.

Como é que nunca tinha reparado no anel? Era no mesmo dedo em que o Cat Noir usava o seu anel? Já não sabia de nada.

Quase em pânico, olhou em frente e viu Adrien a sorrir para ela. Não, era impossível. Ela estava a pensar de mais.

— O que é que se passa? – perguntou Adrien – Estás-te a sentir bem?

— Sim. – respondeu Marinette – Só me tinha esquecido de que tinhas esse anel. Estava a pensar em que anuncio é que o tinha visto pela primeira vez.

Ah, pensou Adrien, então era isso. Ela estava a pensar se o anel era igual ao do Cat Noir. Talvez mais uma ajudinha e ela se apercebesse que os dois eram a mesma pessoa.

Ele olhou para o anel e depois para ela. – Queres vê-lo mais de perto?

Quando ele começou a tirar o anel lentamente, tal como tinha feito no outro dia, viu-a a começar a entrar em pânico e perguntou-se se estava a ser demasiado cruel. Bem, já não podia voltar atrás.

— Não! – gritou Marinette, chamando a atenção das pessoas que iam a passar na rua e fazendo Adrien sorrir – Não o tires! Não o podes tirar!

— Porquê? – perguntou Adrien, calmamente.

— Eu não quero saber! – Marinette levantou os olhos do anel e viu que era Adrien que estava à sua frente.

— O quê? – perguntou Adrien – O que é que não queres saber, Marinette?

— Nada. – murmurou Marinette, continuando a andar.

Adrien franziu as sobrancelhas e decidiu que tinha de ser ele a acabar com aquilo de uma vez e teria de ser antes de Jin os conseguir apanhar e se intrometer outra vez. Iria acabar o que tinha começado na outra noite e, finalmente, poderia começar a cortejá-la como bem entendesse. Sorriu para si mesmo ao pensar nisso. Tinha a certeza que isso nunca aconteceria naquela vida.

Enquanto esperava pelo Gorilla o vir buscar, passou a tarde com Marinette, com a informação que Jin não poderia ir ali tão cedo. Não estava a passar tempo suficiente com a mãe, por isso, essa decidira que ele devia lanchar com ela todos os dias. Adrien esperava que fosse o suficiente para ele ter tempo para fazer o que tinha planeado.

Quando ouviu o Gorilla a buzinar, sorriu. Estava na altura. Mas, quando chegaram à porta, Adrien viu Jin a aproximar-se pelo canto do olho e decidiu que uma conversa sentida e comprida teria de esperar.

— Bem, então vou indo. – disse Adrien, sorrindo, tal como o Cat Noir lhe costumava sorrir. Pegou-lhe na mão e levou-a aos lábios. Quando olhou para cima, ela estava completamente branca – Tem um bom fim-de-semana, M’lady.

Depois de dizer isso, virou costas imediatamente e entrou no carro antes que ela tivesse tempo de dizer alguma coisa. Aquilo chegava, por enquanto. Tinha que lhe dar tempo para processar a nova informação.

Ao ver Jin a falar com ela, sorriu.

Tenta impedir-me agora, pensou Adrien.

…

Marinette passou o sábado na cama. Uma vez que a mãe tinha uma ideia do que tinha acontecido, disse ao marido para a deixar em paz e culpou as hormonas que chegavam com a adolescência.

O marido não falou mais nisso e deixou a filha descansar, com medo daquele tópico.

Tikki deu-lhe forças, mas não podias fazer muito mais do que isso.

— Tu sabias? – Marinette olhou para o kwami, que anuiu com a cabeça – Claro que sabias. Eu é que não quis saber. Pensava que era melhor assim.

— Talvez seja. – disse Tikki – Tu tens as tuas convicções e ele tem as dele. Isso não quer dizer que as tuas estejam erradas e, automaticamente, as dele estejam certas. Tens de ter mais confiança em ti mesma!

Marinette sorriu um pouco e passou o indicador pela cabeça do seu kwami. – Obrigada, Tikki. Eu posso sempre contar contigo para me ajudares.

— Vou estar sempre contigo. – Tikki sorriu também.

Marinette decidiu pôr aquele assunto de lado e voltar à sua rotina normal. Não queria preocupar o pais, mais do que tinha. E isso, na sua opinião, já era demasiado.

Assim, no dia seguinte, passou o tempo todo com a mãe e com o pai. Ajudou-os na pastelaria, jogou com o pai e teve conversas…um pouco estranhas…com a mãe. Sobre a adolescência, o amor e os deveres que devia continuar a cumprir, mesmo quando estivesse a passar por uma fase mais difícil da sua vida.

Marinette pensou que isso também se podia aplicar à sua vida dupla e não devia deixar que o que estava a acontecer naquele momento afetasse os seus deveres como Ladybug. Tinha quase a certeza que ele também faria a mesma coisa.

Só tinha de raciocinar, pensou ela. Não podia pensar em todos os momentos em que o Adrien tinha-a cortejado com o fato de Cat Noir. Todos os contactos físicos…o beijo!

Ela levou as mãos aos lábios quando já estava sozinha no quarto, pronta para dormir. Ela tinha beijado Adrien! E ele nem se quer se lembrava disso!

— Não podes pensar nisso, Marinette. – aconselhou Tikki, percebendo o que ela estava a pensar.

E, mais uma vez, a conversa que teve com o seu kwami deixou-a dormir descansada.

Tikki olhou para a dona e sorriu. Só esperava que, o que Adrien tinha feito, não estragasse tudo.