Ela sabia há bastante tempo que o Cat Noir gostava dela. Dela, não. Da Ladybug. Ela sabia mas, mesmo sabendo, nunca esperara ouvir tão diretamente aquilo que ele lhe tinha dito.

Depois dessa noite, Marinette não conseguia olhar para Adrien da mesma maneira sem se lembrar das palavras proferidas…

Apesar de dizer a si mesma vezes e vezes que “naquele dia” não ia pensar mais nisso, já se tinham passado semanas e esse dia ainda não tinha chegado.

Adrien sabia o que ela estava a pensar sempre que ela tentava olhar para ele normalmente mas, no fim, tinha de desviar o olhar. E, claro, Jin também reparou que alguma coisa não estava bem. Foi por isso que abordou Adrien.

— O que é que se passa? – perguntou Jin – Ela descobriu que tu és o Cat Noir?

— Calado! – sussurrou Adrien, uma vez que Marinette ainda estava na sala, mesmo atrás deles.

Por momentos, pensou em como seria se (e quando) ela descobrisse que ele era o Cat Noir e arrepiou-se só de imaginar. Mas, por muito má que pudesse ser a reação dela, Adrien preferia lidar com isso, do que permanecer um segredo.

Aliás, uma vez que já estavam naquela fase, Adrien achava que talvez fosse a altura de revelar a sua identidade. Afinal, não podia piorar…

Era uma questão de decidir se seria ele a dizer-lhe que era o Cat Noir ou a ser o Cat Noir a revelar o rapaz por baixo da máscara. Qual seria a melhor escolha para evitar que Marinette desmaiasse nos seus braços?

Ao aperceber-se de que estava a sorrir, repreendeu-se a si mesmo, mentalmente.

— Está alguém em casa? – perguntou Jin, vendo Adrien a piscar os olhos, como se se tivesse esquecido completamente que ele estava ali – O que é que aconteceu entre ti e a minha noiva?

— A tua quê!? – gritou Adrien, chamando a atenção da turma inteira.

— Noiva. – repetiu Jin, naturalmente – Para dizer a verdade, só falta convencer a mãe dela. Por alguma razão, ela acha que a Marinette já está destinada a outra pessoa.

— E o pai dela? – perguntou Adrien, imediatamente – E ela?

— O pai dela? – Jin sorriu, quase maleficamente – Não custou muito a convencê-lo de que a Marinette seria feliz comigo. Pelo menos, mais feliz do que contigo. Ele não parece gostar muito de ti. – Jin encolheu os ombros – Quanto à Marinette, ela vai aprender a amar-me com o tempo.

— Tu… - Adrien olhou para Jin com desprezo – Tu não amas da Marinette.

— Nem um pouco. – confirmou Jin, olhando para Marinette de lado – Quem poderia amar uma rapariga como ela?

— Tu só queres a Ladybug. – Adriend reprimiu toda a raiva que sentia a subir no seu peito.

— Não me podes julgar. – avisou Jin – Porque tu és igual a mim.

Adrien levantou-se subitamente, chamando a atenção da turma toda, novamente mas, em vez de gritar, desviou-se de Jin e saiu da sala de aula, decidido a faltar ao resto das aulas.

Instintivamente, Marinette levantou-se para ir atrás dele, mas lembrou-se da realidade em que estava, de que ele não era a pessoa com quem queria falar, por isso, sentou-se e, mais uma vez, decidiu que aquele seria o último dia em que pensaria naquilo.

…

Sabina serviu o chá a Adrien e sentou-se em frente dele.

Sabia que ela estava a faltar às aulas mas, pela cara dele, mesmo se estivesse lá, não estaria a ouvir nada.

— É verdade? – perguntou Adrien, fazendo Sabina erguer uma sobrancelha – Que o Jin quer-se casar com a Marinette…

— Não é só verdade, como o meu marido está a pensar seriamente em dar o seu consentimento. – disse Sabina, confirmando as suspeitas de Adrien – Mas o Jin deve ter dramatizado a história.

— Ele disse que o pai da Marinette já tinha dado o seu consentimento. – Adrien decidiu não dizer que ele já a chamava de noiva.

— A Marinette tem andado com as cabeças nas nuvens…mais do que é normal. – acrescentou Sabina – Não tens ideia do que tenha acontecido?

Adrien abanou a cabeça. Não fazia ideia do que dizer à mãe de Marinette. Nunca tinha sido muito bom a mentir.

Sabina franziu as sobrancelhas, achando que eles ainda eram demasiado jovens para estarem a passar por aquilo tudo.

— Adrien, tu não sabes mentir, pois não? – perguntou Sabina, vendo-o corar um pouco – Eu acredito que as pessoas não deviam viver com mentiras. A minha menina…ela parece estar a viver com algumas mentiras nas costas.

Adrien olhou para ela e foi a vez dele de franzir as sobrancelhas. Era como se ela soubesse…mas não podia ser.

— A minha Marinette nunca gostou de mentiras nem segredos. – revelou Sabina – Se tens o poder de lhe tirares, nem que seja um pouco do fardo que ela carrega, peço que o faças. Consegues fazer isso?

Adrien ficou em silêncio durante alguns segundos, mas acabou por anuir. – Eu vou dar o meu melhor.

Sabina sorriu e ofereceu-lhe algumas bolachas para acompanhar o chá. – Não te preocupes com o Jin. Eu trato desse pequeno problema.

Adrien sorriu, finalmente.

…

Adrien decidiu que seria melhor se fosse o Cat Noir a revelar a sua personalidade do que ele a revelar que era um herói que Marinette sempre acreditara ser impossível ser ele.

Quando uma pessoa akumatizada atacou Paris, ele teve que suspirar fundo antes de se transformar e ir para a cena.

Não houve muitas palavras trocadas entre eles, mas, de alguma maneira, Jin percebeu o que Adrien queria fazer.

Talvez estivesse mais nervoso do que achava. Sim, pensou Adrien quando ela olhou para ele com as sobrancelhas franzidas. Conseguia-se ver claramente que ele estava extremamente nervoso.

— O que é que se passa? – perguntou ela, preocupada – Estás bem, Cat Noir?

— Provavelmente só está cansado. – disse Jin, antes que Adrien tivesse tempo de dizer alguma coisa – Tem havido muitas pessoas akumatizadas a atacar Paris, ultimamente.

— Sim. – concordou Marinette. Mas ela conhecia-o melhor do que ninguém, e não achava que era só cansaço. Tinha a certeza de que não era só isso – Mesmo assim…

O colar de Jin começou a piscar, fazendo Marinette parar de falar.

— Devemos ir. – disse Jin, nervosamente.

Ela anuiu com a cabeça, concordando com Jin. Jin sorriu em direção a Adrien e segui-a depois de ela lançar o ioió. Adrien ficou para trás, parado no mesmo sítio durante alguns segundos. Se calhar não devia mostrar a sua verdadeira identidade. Se calhar ela seria mesmo mais feliz com Jin. Se assim fosse, talvez fosse mesmo melhor entregar-lhe o anel…

— Os teus sentidos já não são tão apurados, huh?

Ao ouvir a voz familiar, Adrien levantou a cabeça, virou-se e sorriu quando a viu atrás de si.

— Ladybug.

…

Para que Jin não os pudesse encontrar tão facilmente, ela decidiu afastar-se mais um pouco do local onde se tinham separado. Claro que, se quisesse, aquela raposa encontrar-lhos-ia rapidamente, por isso, ele decidiu fazer aquilo o mais rápido possível.

— Por alguma razão, ele parece não querer que fale contigo. – disse Marinette, referindo-se a Jin – Mas eu fiquei preocupada contigo. Não pareces bem.

Adrien sorriu mas também sentiu lágrimas no olhos. Ela tinha posto o constrangimento de lado só porque “achava” que ele não estava bem. Jin não sabia que tipo de rapariga ela era. Não havia uma rapariga como ela. E ele não queria que mais ninguém soubesse disso.

Estava a ser egoísta, sabia disso. mas só daquela vez…

— Estás bem? – perguntou mais uma vez, Marinette, ao ver lágrimas a encherem os olhos dele – Cat Noir? Sabes que podes contar comigo, para tudo o que precisares…

Quando o viu levar uma mão ao anel, ela entrou em pânico e perdeu a linha de pensamentos.

— O que é que estás a fazer!? – gritou ela, virando a cabeça para o lado quando o viu a tirar o anel – O que é que estás a fazer!? Tu sabes que…

— Sim, eu sei.

Ao ouvir passos a dirigirem-se para si, ela tapou a cara com as mãos e estremeceu quando ele parou mesmo em frente a ela.

— Olhas para mim. – pediu Adrien, mas ela nem sequer se mexeu – Por favor, olha para mim, Marinette.

Ao ouvir o seu nome, ela endireitou-se e deixou cair as mãos, mas não se virou na sua direção.

— Como é que sabes o meu nome? – perguntou ela, sem emoção na voz, quase como se sentisse traída.

— Porque te conheço. – respondeu ele – E tu conheces-me a mim, Marinette.

Vagarosamente, ela virou a cabeça na sua direção mas, quando estava prestes a ver quem ele era, uma mão cobriu-lhe os olhos.

Jin, que tinha praticamente voado até ali, olhou para Adrien – O que é que estás a fazer?