Como Ser um Príncipe - Interativa escrita por Mila


Capítulo 4
Terno e gravata


Notas iniciais do capítulo

Oiee, flores da Irlanda! (Nossa que especiais)
Tudo bem?
Obrigada a todas que participaram e já me enviaram as fichas. (Ainda tem 10 vagas então chamem as amiguinhas).

Notinhas extras:
• Fui na Bienal. Muito feliz, muito legal. Comprei "Perdido em Marte" do Andy Weir (♥), e "Fios de Prata - Reconstruindo Sandman" do Raphael Draccon (♥). Lendo o primeiro no momento.
• Minha amiga ganhou uma coroa de papelão na Bienal, mas ela a deixou em cima do caixa quando foi comprar um livro. O homem veio correndo atrás dela "Moça, a sua coroa! A sua coroa". Momento mágico, nunca viveremos nada tão lindo assim em nossa vida. Só faltou fazer uma reverência. Então esse capítulo é dedicado a Princesa Sarah, que perde a coroa, mas não a classe.



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Dia 3

O alfaiate alisou a barra da calça e enfiou mais um alfinete na dobra que havia feito. Era difícil manter a calma e a precisão com a confusão ao seu redor.

O príncipe Liam mantinha-se em pé na plataforma enquanto meia dúzia de funcionários giravam ao seu redor e ele tinha dificuldade em acompanhar tudo. Era a sua primeira prova do traje que usaria para a recepção das selecionadas que seria na próxima semana.

—Qual combina mais? A azul-celeste ou a azul-esverdeada? – Indagou uma mulher, aproximando duas gravatas de seu rosto.

—William. – Bradou outro funcionário, em tom imponente que fez o príncipe olhar para ele, assustado. – É um belo nome. Muito sonoro. Digno de realeza. Além disso, é maior que Liam. Podemos alterar isso, pregar que Liam é o diminutivo de William.

—Quer mudar meu nome? – O jovem se inclinou inconscientemente e o costureiro que media a largura de seu tronco perdeu a medida.

—É como vender um livro. – O homem disse, rabiscando coisas numa prancheta. – A capa é que vende primeiro.

Liam apertou os olhos, tentando entender o raciocínio do seu produtor – ele sequer lembrava do nome dele.

—Não há algum ditado que diz que... Não devemos julgar um livro pela capa? - O príncipe tentou lembrar.

O produtor o olhou de cima a baixa com o nariz franzido.

—Ainda bem que não, né, criança? Porque se não, eu ein!

O príncipe achou que deveria julgar aquilo como uma ofensa. Antes que algum dos dois pudesse dizer qualquer coisa, a mulher com as gravatas voltou a falar.

—Acho que a azul-esverdeada é a melhor escolha! Combina com seus olhos.

—Meus olhos são castanhos. – Observou Liam, sentindo-se sufocado.

—Então será a celeste.    

Sentindo que o mundo não mais fazia sentido, o príncipe abriu espaço e se afastou de todos. Desceu da plataforma e saiu do quarto com as agulhas ainda enfiadas no terno e o a camiseta aberta, cheia de fios soltos da costura, sob protestos dos funcionários.

Antes de sair, ele parou à porte e disse, atrapalhado:

—Vocês podem querer ter um livro diferente, com uma capa mais bonita. Mas vão ter que se contentar com o que têm.

Foi embora pensando que aquela deveria ser a frase mais sem sentido já dita por um príncipe da Nova Irlanda. Pelo menos nisso ele era o primeiro.

       ♕♕♕

O Conde Douglas caiu sentado no sofá como se pesasse uma tonelada. Sua esposa se aproximou dele, e sorriu ao vê-lo tão cansado.

—Difícil? – Perguntou. Apenas uma palavra, mas cheia de entonações inusitadas.

Ele observou a Condessa Maire como se aquela mulher tivesse vindo de um outro planeta e possuía um espírito que ele ainda tentava entender.

Quando Liam ainda era uma criança, Maire sofreu um acidente de carro e perdeu quase totalmente a audição. A família permaneceu ao seu lado em todos os momentos, mas ela tinha uma força de vontade e empenho própria que quase dispensava ajuda. Insistiu em aprender linguagens de sinais e fazer terapia toda semana, o que permitiu que ela continuasse exercitando a atenção aos poucos sons que conseguia ouvir e que continuasse se comunicando, ao menos minimamente, com a sua voz.

O conde não sabia de onde vinha tanta força. A Condessa Maire era dona de uma alegria e positividade imensa e teimosa ao extremo não havia quem a dissuadisse de suas ideias.

Douglas tocou o rosto dela com a mão.

—Você existe mesmo? – Ele questionou.

Ela franziu as sobrancelhas, tentando entender, mas logo ele repetiu com gestos, e fez um coração no final.

Maire revirou os olhos e assoprou a franja para longe do rosto. Cutucou o peito do marido e ergueu os ombros.

Fale de você, ela pedia.

Douglas suspirou outra vez ao lembrar-se do seu dia.

—É bem diferente de casa. – Ele disse e fez os sinais necessários.

Ela lhe lançou um olhar solidário, de quem concorda e em seguida lhe perguntou se tinha visto o filho, pois sentia falta dele.

—Não o vejo desde o café da manhã.

—É o príncipe. Agora. — Ela completou a frase com outros gestos.

—Tem razão. – Ele apoiou a explicação sugerida por Maire, tentando evitar outro suspiro pesado. Com a apresentação de seu filho como Príncipe Herdeiro de Nova Irlanda, eles o viam menos do que as vezes que ele desaparecia pelos campos de Wicklow Hills. O próprio Conde agora tinha outras obrigações e funções, que nunca desejou ter em sua vida. 

De qualquer forma, ele ainda precisava ficar atento às notícias.

Reclinou-se mais no sofá e abriu o jornal que estava em seu colo, mas ele foi logo retirado de suas mãos pelo olhar furioso da esposa.

Ela balançou o dedo para ele e cutucou-o novamente no coração. O dia de Douglas já fora pesado demais para ele se preocupar com as notícias do jornal também.

Maire continuou olhando de cara feia para ele, mas então o conde logo ergueu as mãos, finalmente rendido. Ela sempre vencia.

♕♕♕

Trombaram um com o outro. Quando andavam pensando apenas em si mesmos.

—Desculpe. – Disse Liam. Ajudou Lady Sienna a se equilibrar, e achou uma brecha para fazer uma piada com a jovem que ainda não tinha sido devidamente apresentado. – Quem diria, o novo herdeiro e a antiga herdeira que renunciou.

Não foi a melhor piada e ele percebeu isso logo depois que a disse.

A lady se esquivou do toque dele e arrumou o próprio cabelo de volta ao lugar, profundamente irritada.

—Quem você pensa que é para falar essas coisas? Sinto informar, mas você é o Príncipe Herdeiro e não o maldito bobo da corte!

Ele achou engraçado. Ergueu os braços para tentar acalmá-la e se desculpou apressadamente.

—Calma. O meu dia também está sendo bem ruim.

—É claro! – Ela exclamou. -  Olhe para as suas roupas, sem contar com o fiasco de sua aula de equitação ontem! Um caipira que tenta cavalgar como um príncipe... Só deve ter mulas em sua fazenda! – Ela reclamou, cheia de ironia e desajeitada com a situação que fugiu de seu controle.

Liam sentiu-se insultado, então.

Ela mal o conhecia e já o taxava com tamanho desprezo e repulsa. Se ela estava tendo um dia ruim, ele também, ora. Talvez ainda, mil vezes pior que o dela, já que ela renunciara o trono e deixara todas essas obrigações para ele.

Ignorando toda a classe que lhe fora ensinada quando chegou ao Palácio, e todo o respeito que aprendeu durante toda a sua formação como indivíduo, ele respondeu, fazendo uma reverência:

—O fazendeiro caipira que sabe reconhecer uma vaca quando vê uma.

A boca de Lady Sienna se abriu num perfeito “o”, ela apontou para a cara dele, mas não soube o que dizer.

—Muuuuuu! – Fez o príncipe, dando-lhe adeus.

Sienna deu meia volta e saiu pisando duro, furiosa.

Ele suspirou e virou-se para continuar seu caminho, quando viu uma mulher de cara feia.

—É assim que pretende agir com suas selecionadas? – Ela disse e se aproximou dele.

—Eu... Eu tive um dia ruim. – Liam tentou se explicar, sentindo-se pressionado pela mulher que não conhecia.

—Ela também pode ter tido um dia horrível! – Respondeu com uma voz cheia de entonação e energia. – O pai dela faleceu há menos de um mês. É necessário ter um pouco de consideração pela situação.

O príncipe olhou pelo lugar que Lady Sienna Hibernia saíra.

—Ela parecia bem para mim. Disse que eu era o bobo da corte.

—Uma mulher pensa mil coisas por segundo. Enquanto ela te xinga, está preocupada com as outras pessoas, revisando as últimas instruções que recebeu, analisando a sua fisionomia e lidando com os próprios sentimentos!

—Uma mulher é capaz de sentir tudo isso ao mesmo tempo? – Liam não conseguiu manter a pergunta no fundo de sua mente.

—Consegue até mais! – Ela divertiu-se com a reação do príncipe. – Mal posso esperar pela chegada das Selecionadas! Serão apenas quinze, mas valerão por trinta.

Liam realmente não conseguia sentir essa mesma positividade que a mulher transbordava.

Ele então se lembrou que não perguntara seu nome.

—Eu sou Caitlin Dublin. – Ela sorriu e fez uma reverência. – Produtora, agente, assistente e organizadora das meninas da Seleção. Assessora, essa é a palavra mais específica. É a minha função vos alertar, Vossa Alteza, de qualquer briga que aconteça entre elas e até mesmo se a cor da sua gravata estará combinando com o vestido de alguma menina, caso o senhor especificamente não queira que isso aconteça. Sabe como a mídia pega pesado com detalhes.

O príncipe ainda estava surpreso pela figura carismática que era aquela mulher, anos mais velha que ele.

Caitlin se inclinou e pegou uma linha da camisa dele entre o indicador e o polegar. Ela apertou as sobrancelhas.

—Não é meu dever lhe informar o que deve usar ou não, nem como será visto pela mídia, mas permita-me dizer, Alteza, que esse traje não deve ser visto em público. Sob hipótese alguma.

Liam riu, saindo do transe.

—Por favor, senhorita Dublin, continue me informando desses detalhes.

 -Oh! – Ela ficou novamente surpresa e um pouco ruborizada. Mas se recuperou rapidamente. – Se é assim, sua calça está cheia de alfinetes, Alteza. E o mínimo derramamento de sangue que o senhor possa provocar se acabar se espetando com um deles será um escândalo aos olhos de Mirela Fitz-Gerald.

—Eu odeio essa jornalista.

—Uma bruxa! – Concordou Caitlin enfaticamente. – Agora venha. Vamos procurar esse costureiro que salvará toda a pátria.       


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Queria postar esse para vocês terem um pouco mais de Liam e um pouquinho da Sienna (eu estava louca para vocês verem essa cena). Ah, e claro, para apresentar a Caitlin e a Maire. Digam o que acharam delas!!
Próximo capítulo não tenho finalizado ainda, então pode demorar um pouquinho. E os próximos podem demorar ainda mais para aparecer se eu não tiver mais selecionadas inscritas, então paciência.

A árvore genealógica e a hierarquia nobiliárquica (cada nome difícil) ainda são um pouco confusas de entender. As coisas vão aparecendo aos poucos e logo vão ficar mais claras. Qualquer dúvida podem perguntar. Ainda assim, há outros detalhes de "regras da realeza" que eu não posso dizer, porque seria spoiler, e iram aparecer lá pelo capítulo 12 por aí... Então é, desculpa, mas keep calm.

Espero que tenham gostado do capítulo.
Beijos! Até mais!
P.S. Ninguém aí quer criar uma loirinha de olhos verdes cara-da-irlanda?
P.S.S. Lembro de ter lido em algum lugar que quando você fala Lady junto do nome tem que dizer o nome inteiro, mas isso me estressou e vai ficar do jeito mais simples mesmo.
P.S.S.S. (é o último S, prometo). O nome "Mirela" e todas as suas variações é oficialmente o nome mais comum da Nova Irlanda.