Como Ser um Príncipe - Interativa escrita por Mila


Capítulo 22
Ser aquela garota por um mês - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaaaa tudo bem com vocês? Saudades demais!

Recebi um comentário no capítulo anterior que perguntava/sugeria uma aparição de Ed Sheeran na história hahaha. Totalmente compreensível, todos queríamos ele em nossas vidas. Maaaaas como Liam provavelmente teria toda a atenção das selecionadas ROUBADA (hehehe, sonhando aqui), Ed não vai estar na fanfic.
Mas esse não é o motivo principal, claro. O motivo é que: Eu já usei o sobrenome dele nessa história.
Verdade mesmo. O sobrenome já foi mencionado em um dos capítulos anteriores. Quem será esse Sheeran?
Acho que vocês deixaram um detalhe passar...


Enfim, temos um novo capítulo.
Espero que gostem! ♥



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Dia 26 

Veronika ergueu as mãos, como quem pede um tempo, e soltou uma risada cínica. 

—Vocês estão me dizendo que eu não beijei o príncipe... E sim esse cara. — Ela virou-se na direção de Shawn e o olhou de cima a baixo sem pudor. - Quem é você mesmo? O assistente da assistente? 

Caitlin Dublin respirou fundo, tentou encontrar paciência o suficiente para lidar com a situação. Apertou o topo do nariz e fechou os olhos, pensando. Ela não tinha culpa de nada, era o fato que insistia em repetir para si mesma: As coisas saíram fora de controle e não era sua culpa. Veronika não hesitara em revelar seu próprio segredo na frente de Shawn e Shawn, por sua vez, não pensara duas vezes antes de declarar-se como o outro culpado do "crime". Definitivamente, não era sua culpa 

Ela era extremamente impulsiva e ele, inocente.  

—Está bem, chega. - Caitlin exigiu, tirando a mão do rosto e colocando-a na cintura. Virou-se, primeiro, para Veronika. - A verdade é essa: A senhorita enganou-se e cometeu um erro. Você pode acreditar no que quiser, mas sugiro que não leve esse assunto para o príncipe se sua intenção é por a verdade à prova. - Ela balançou a cabeça para os lados e apertou os lábios. - Ele não vai gostar de saber que é você a selecionada misteriosa.  

Veronika ficou alguns minutos apenas encarando a assessora, a espera de que ela entregasse alguma sutil expressão que mostrasse que tudo aquilo era uma brincadeira. Mas ela empalideceu ao perceber que não era.  

Virou-se na direção de Shawn e se perguntou como pudera confundir o príncipe com... aquele funcionário.  

Tudo bem, ambos tinham cabelos castanhos e olhos da mesma cor, falou detalhes de sua vida que ela podia associar facilmente com a do príncipe. Mas ao observá-lo com mais atenção despertou uma antiga lembrança das vezes que encontrara o Príncipe Liam após o baile e teve a sensação de que "ele parecia mais alto na outra noite", considerando também que ela usara saltos... Liam era muito mais baixo do que ela pensava.  

Instantaneamente corada de vergonha e raiva, a senhorita Égan apontou o dedo para Shawn, que se retesou ligeiramente, como se a ira da jovem pudesse atingi-lo a distância.  

—E quanto a ele? - Gritou, exigindo explicações de Caitlin. - Como ele pôde ter errado e por que diabos ele estava usando uma máscara?  

A mais velha pressionou seus lábios um no outro mais uma vez, cautelosa. Olhou de soslaio para Shawn, seu constante motivo de inúmeras suspeitas e lembrou-se que o "deslize" dele na noite do baile era algo que a aborrecia muito; algo que ela sabia ter um pouco de culpa ao decidir-se por esconder a verdade de Liam.  

—Como responsável por orientar o sr. Keyes, decidi dar-lhe mais uma chance de me provar sua lealdade ao trabalho e à monarquia. - Ela virou-se com um olhar incisivo para seu assistente que engoliu em seco. Ele definitivamente se lembrava do ultimato. - Entregar-lhe seria também entregar a senhorita.  

Veronika passou as mãos pela raiz do cabelo, puxando-os quando sentiu-se dentro de uma confusão de problemas os quais não imaginara que tivesse se enroscado.  

—Eu investi no príncipe! Eu seduzi o príncipe! Ela sibilou, tentando se concentrar. - Deve haver algum jeito de consertarmos isso, de ele ser punido! A culpa é dele! 

Shawn Keyes que até então permanecera quieto e na maior parte do tempo, assustado e confuso, enrijeceu os músculos da face numa questão de segundos. Com uma expressão mais determinada e enraivecida, ele foi capaz de manter o tom da voz calmo e respeitável quando se defendeu:

—Não sou o único culpado dessa história. Você não está numa posição melhor que a minha nesse momento; ninguém acreditaria que confundiu o assistente com o príncipe. - Ele observou com seriedade. - Até mesmo Caitlin teve dificuldade em acreditar. 

Caitlin desviou o olhar rapidamente quando o olhar de Veronika voou em sua direção. Não respondeu, mas deixou sua intenção no ar.  

A jovem ficou desesperada, dividida entre inúmeros e distintos sentimentos que não permitiam um raciocínio linear. 

—Deve haver algum jeito! - Insistiu, em pânico. - Dizer que estava alcoolizada, que fui enganada... 

—Veronika. - Caitlin a interrompeu com a voz firme. Aproximou-se e tocou o ombro da jovem. - O melhor a se fazer nessa situação é não fazer nada. Na melhor das hipóteses... - Ela alternou o olhar entre os dois presentes. - isso nunca aconteceu. 

Shawn abaixou a cabeça e suspirou, sentindo-se cansado e ainda incerto quanto a todos os sentimentos que a lembrança daquele beijo ainda o trazia, agora somadas as conflitantes descobertas e decisões dos últimos minutos.  

Com o corpo todo tremendo, Veronika Égan ergueu novamente o indicador para um último momento de ousadia e coragem da noite e mirou-o em Shawn outra vez.  

—É melhor que esse erro não resulte na minha eliminação. 

Sem dizer mais nada, saiu do Salão das Selecionadas, dessa vez, mais silenciosamente do que quando entrou.  

Restando apenas Caitlin, Shawn e um desconfortável silêncio que ocupou todo o imenso cômodo, ambos perceberam o quanto estava cansados. Era tarde da noite e ainda assim, muito cedo para problemas como aquele.  

A assessora se virou para seu auxiliar, massageando novamente o topo do nariz.  

—Você sabe que eu ainda estou brava com você por causa dessa bagunça. - Ela o lembrou, deixando a mão cair ao lado do corpo. Shawn a olhou com verdadeiro medo nos olhos, ele não queria ser demitido, gostava e precisava do emprego; e, acima de tudo, de fato sentia muito pelo que tinha feito. - E você está certo, não posso deixá-lo ocioso. Tenho uma tarefa para você.  

Shawn se empertigou, extremamente atento e disposto.  

Caitlin o olhou durante mais um segundo e depois instruiu: 

—Quero que você investigue e encontre todos os detalhes sobre as selecionadas que você puder encontrar. O processo seletivo foi precário devido à Seleção não pertencer a nossa cultura e principalmente devido a troca de dinastias, que corria o risco de não atrair muitas interessadas... - Ela o olhou com determinação. - Quero que você descubra os minusciosos detalhes e quero que entregue tudo o que encontrar nas minhas mãos até a Semana da Paz. 

O jovem empalideceu. 

—M-Mas isso será daqui quase um mês! 

—Exatamente. - Respondeu e, já deixando o Salão das Selecionadas em direção a sua cama – aquilo que ela mais queria no momento - , murmurou sonolenta: - Preciso mantê-lo ocupado.  

Ou minha porta não irá sobreviver a mais borrachas catapultadas... e eu não sobreviverei a mais um de seus desastrosos "deslizes".  

♕ ♕ ♕ 

Dia 27 

Despertou com um suspiro profundo, ao perceber que a movimentação da limusine acabara. Deveria ser umas sete da manhã. Lady Sienna ajeitou-se no banco de couro do veículo e ao olhar pela janela viu o prédio da delegacia de Wicklow Hills do outro lado da rua – havia chegado. Empertigou-se, pronta para sair do carro, e sentiu o pescoço doer. Seu rosto ganhou gradativamente um tom avermelhado quando percebeu que a dor muscular era resultado do modo desajeitado que adormeceu.  

Com os olhos arregalados ao perceber sua situação desleixada, ela virou-se para Álan, sentado no banco a sua frente, virado em sua direção, e falou o mais convincente que pode: 

—Eu não estava dormindo.  

A grande ideia de Álan Seamair para favorecer a popularidade da lady fora uma visita à atualmente instável Wicklow Hills. E o mais inusitado é que ela concordara prontamente. 

Ele tirou o olhar da janela e focou nela com um sorriso discreto nos lábios. 

—Não. É claro que não. - Disse despreocupadamente, sem sinais de irnonia na voz... sem contestá-la. 

Sienna se arrumou de novo, ainda desconfortável.  

Logo um guarda local abriu a porta da limusine, livrando-a de seu constrangimento, e a lady saiu num pulo. Álan desceu vagarosamente em seguida, com passos tranquilos. Ela o olhou de canto de olho, ainda esperando que ele fosse provocá-la por ter dormido e chegou a fechar mais o casaco ao redor do corpo, para se proteger do frio e das possíveis provocações. Mas o primogênito dos Seamair parou ao seu lado e fitou o prédio da delegacia, como se ela nem estivesse ali.  

Puxou a carta do rei – aquela que ele deveria entregar ao delegado da cidade - de bolso interno do paletó e segurou-a em suas mãos, para se certificar que ela estava de fato ali.  

Sienna formulou, naquele momento, uma provocação para Álan - importunando-o que ela duvidava que o monarca havia de fato lhe incumbido de uma tarefa. Mas ao ver que ele não estava a importunando, a própria ideia perdeu as forças. Se não havia uma guerra, ela não deveria começar uma.  

Depois de um tempo ele lhe informou: 

—Irei deixar a carta com o delegado e logo em seguida iremos para a prefeitura, onde você irá fazer o seu discurso. Depois preciso buscar... 

Iremos? — Ela repetiu sem pensar, surpresa. - Você vai também? 

Álan então a olhou. As sobrancelhas ligeiramente apertadas demonstravam uma expressão curiosa, como se ele não entendesse o motivo da surpresa.  

—Sim. Eu que te convidei para Wicklow Hills, portanto, sua segurança é minha responsabilidade. 

Sienna não soube o que dizer. Uma parte dela sustentava um sentimento de suspeita, como se aquele cavalheirismo modesto de Álan Seamair fosse... Perfeito demais. Mas não havia câmeras os filmando para gravar seus bons modos, nem pessoas importantes para assistir; não havia um benefício sequer para ele ter esse comportamento: Ser educado era completamente involuntário.  

Nada era ensaiado ou dramatizado. Era despreocupadamente sincero. E isso surpreendeu a sobrinha do rei ainda mais - não era assim que as coisas aconteciam na monarquia; as pessoas eram superficiais, as falas demasiadamente elaboradas e todos os gestos medidos e controlados. Comparando o cenário com o qual já estava acostuma com essa nova perspectiva, indagou-se o quanto de seu passado era de fato sincero e verdadeiro.  

Ela deu uma risada seca e cínica com o pensamento que surgiu em sua mente: Considerando o caráter ambicioso do Príncipe Caleb em relação ao noivado deles, era evidente que o casamento arranjado nunca ultrapassou a maquiada marca de... casamento arranjado 

Álan a olhou como quem pergunta se aquela risada foi direcionada a ele.  

—Por mim tudo bem. - Ela respondeu com um sorriso finalmente divertido e o acompanhou até a delegacia sem contestar.  

♕ ♕ ♕ 

Com passos apressados, Caitlin chamou atenção quando caminhou pelos corredores às oito da manhã. Os guardas que vigiavam os dormitórios das Selecionadas arrumaram suas posturas, tentando afastar a expressão de fadiga e parecerem mais dispostos e dedicados. Mas a assessora os ignorou, caminhou com seus saltos baixos, porém barulhentos, pelo carpete do corredor que definitivamente não abafava seus passos.  

Aos poucos, as criadas e as próprias selecionadas foram atraídas pela movimentação incomum do lado de fora de seus quartos. As funcionárias abriram as portas hesitantemente e espiaram lá fora, mas algumas meninas também se empertigaram, independente se corriam perigo ou não, para ver o motivo do barulho.  

Brianna olhou por sobre o ombro da criada no instante em que Caitlin passou determinada pela porta de seu quarto, rumando para um dos últimos quartos do Ala Norte-Oeste.  

A criada fechou a porta assustada. E olhou para a jovem com uma expressão nervosa.  

—O oficial Carlay me contou que o príncipe visitou a Ala das Selecionadas ontem no início da noite. - Ela sussurrou.  

Brianna deu um passo para trás e refletiu as palavras da mulher. Não demorou muito para seu instinto lhe apontar a resposta: 

—Alguma menina foi eliminada?  

Ela abaixou o olhar, envergonhada. E naquele mesmo fio de voz, sugeriu: 

—O Príncipe Liam costuma enviar cartas aos dormitórios das selecionadas quando ele quer convidá-las para um encontro...  

A jovem soltou o ar e voltou-se para sentar-se na ponta da cama. Era uma eliminação, ela tinha certeza e Caitlin Dublin acabara de ser informada a respeit. Brianna não conseguia parar e imaginar quem seria a garota no fim do corredor que iria embora do Palácio.  

É, então a rotina seria diferente aquele dia.  

 

No Salão das Selecionadas, Veronika e Moreena esperavam sem saber ao certo o por quê. Elas já estavam acordadas desde cedo e foram instruídas a aguardar pelo café da manhã, que, decorrente de alguns "imprevistos", seria adiado.  

Quem fazia companhia às duas era Shawn Keyes.  

Assim, a ausência de Caitlin e a mudança na rotina sugeria que algo havia acontecido. E elas sabiam que aquilo significava uma eliminação... Todas as garotas já previam que isso aconteceria em breve.  

Moreena massageou as têmporas e se afastou, em direção a academia, dizendo que precisava se movimentar ou voltaria a dormir.  

Sobrando apenas os dois na grande sala principal, Veronika andou de um lado para o outro sobre o tapete, querendo gritar e dar ordens ao sr. Keyes, mas se reprimindo para evitar falar com ele – Ainda estava brava com as confusões de ontem.  

Shawn permanecia em pé, parado a porta com os braços cruzados. Como se esperasse que Veronika pudesse sair correndo dali a qualquer momento e tomar alguma atitude drástica. Ele precisava colaborar mais com Caitlin, ela estava constantemente insatisfeita com seu trabalho e Shawn precisava manter seu emprego.  

Porém não demorou muito para a jovem não conseguir mais manter a raiva dentro de si e não culpar ninguém.  

—Você sabe o que isso significa, não sabe? - Soltou, não olhando para ele e ainda andando de um lado para o outro do tapete, já decorando seus padrões. Seu peito inflou e desinflou, ficando seu ar rapidamente, perdendo o fôlego. Irritada com sua própria inquietação virou-se subitamente para Shawn e apontou um dedo para sua cara: - Alguém foi eliminada. E o que eu estou fazendo aqui nessa espécie de prisão domiciliar? O que?! 

Ele não respondeu. Franziu as sobrancelhas, ainda incomodado com as revelações da noite passada, mas também sem saber como reagir a explosão da srta. Égan.  

E então Veronika mal percebeu quando começou a chorar. Ela odiava chorar em público, ao menos que fosse uma situação em que precisasse ser mais dramática para conseguir o que queria. Mas desta vez, ela tentou segurar o choro, manter aquela confusão de sentimentos conflitantes dentro dela e permanecer de queixo erguido, porém não conseguiu impedir as lágrimas de escorrerem pelo seu rosto e de os soluços sacudirem seu corpo.  

Queria ser destaque na Seleção, temia ser apenas mais uma. E ela definitivamente não queria ser a eliminada.  

Ela tentou falar, se explicar, colocar a culpa nele novamente, mas ela não conseguiu forma uma palavra coerente e teve raiva de si mesma por isso.  

Shawn observou aquilo como se a garota fosse explodir. Nunca fora muito bom em lidar com pessoas chorando - principalmente mulheres. Mas algo no choro da jovem realmente o assustou, era como se tudo estivesse perdido e a culpada era ela.  

—Por que está se cobrando tanto? - Ele sussurrou, inconformado, desfazendo os braços cruzados. -  Tem alguém te forçando a prosseguir com a Seleção? 

Veronika escondeu o rosto atrás de suas mãos, enquanto não podia esconder-se por completo. Ela sacudiu a cabeça para os lados. 

—Estou... Estou fazendo isso por mim. - Soluçou, sem olhar para Shawn. 

Ele a olhou, sem entender como alguém poderia se cobrar tanto quanto a algo. E de certa forma também sentiu-se culpado, pois sabia que ele era parte contribuinte para a confusão e inúmeras dúvidas que a importunavam naquele momento.  

Sabia que não deveria ter beijado uma das selecionadas na noite do Baile de Máscaras.  

Ainda assim, não soube mais o que dizer. Gaguejou, olhando para os lados como se fosse aparecer alguma ajuda.  

Em seu modo desengonçado, tomou uma decisão. Aproximou-se com seus braços compridos e enlaçou Veronika, a puxando para um abraço mal encaixado – ela ainda estava com as mãos no rosto, e seus braços dobrados ficaram entre os dois.  

Ela se retesou, entendendo o gesto de afeto como içar uma bandeira branca, declarando sua derrota. Fechou as mãos em punhos sobre o peito de Shawn e o empurrou para longe. O jovem, entretanto era mais forte do que ela, o suficiente para segurá-la com ainda mais força. 

Afagou seus cabelos castanhos cacheados, tentando acalmá-la.  

—Está tudo bem. - Foi o que disse, por falta de palavras melhores. - Eu não mordo. Nem beijo. - Completou imediatamente e logo entendendo que não fora a melhor das piadas.  

Em meio a um soluço, Veronika deu uma risada e o empurrou para longe mais uma vez. Mas logo o choro a controlou novamente e ela permaneceu ali, soluçando até se acalmar e sentindo seus cabelos serem afagados por alguém que, em seu ponto de vista, tinha certa culpa por fazê-la chorar; porém era aquele que estava fornecendo-lhe a coisa mais importante que poderia receber naquele momento: Paciência.  

♕ ♕ ♕ 

Sentada em sua cama macia e arrumada, Honor Coamhánach ergueu a cabeça e tirou as mãos do rosto quando viu, por entre lágrimas, Caitlin Dublin entrar em seu quarto.  

Ela era, afinal, a próxima selecionada a deixar a competição. 

—Querida. - Cailtin sussurrou com doçura. Tomou as mãos da jovem e a ergueu, puxando-a para um abraço. 

Honor soluçou e se agarrou a Cailtin com suas mãos trêmulas como se pudesse se agarrar a própria Seleção. 

Sentia-se ligeiramente culpada pelo acontecido, como era de seu feitio. Mas ela chorava não por remorso, porém por ter que partir. Nunca imaginara que sentiria saudade do Palácio Real e todos os seus moradores... Dessa sutil sensação de segurança e estabilidade que há muito tempo não sentia. 

E agora... Ela simplesmente não sabia o que aconteceria a seguir. 

—Tomei a liberdade de conversar com sua família. - Caitlin sussurrou como se pudesse ler a mente da jovem. - Eles estarão te esperando quando chegar em Sligo.  

Honor se afastou, cessando seus soluços e limpando as lágrimas na manga do casaco. Olhou para Caitlin com nervosismo, sem entender.  

—O que... Como assim? Eu não vejo minha família há... 

—Eu sei, querida. Sei que você recebeu uma carta deles poucos dias atrás. Eles te localizaram quando seu nome ganhou gama com a Seleção. - Explicou com extrema ternura. Ao ver a expressão da jovem permanecer receosa,deu de ombros e brincou: - Sou a responsável pela Seleção, sei de tudo que acontece com ela. - Esboçou um sorriso e em seguida tomou as mãos da jovem outra vez. - Você não pode fugir dos problemas para sempre, assim nunca conseguirá seguir em frente. Você não fez nada de errado, Honor! Deve parar de se ver como culpada, você é uma garota linda e capaz de muitas coisas: Olhe onde chegou! - Ela apertou as mãos da menina quando viu novas lágrimas teimando em encher seus olhos. - E sua família te ama muito! Quem ama nunca verá os outros como um erro. Você precisa dar uma chance a eles... uma chance a você.  

Houve um minuto de silêncio em que nenhuma das duas disse nada.  

Então Honor puxou Caitlin para um abraço apertado quando suas lágrimas ameaçaram a cair. Não conseguia encontrar palavras para agradecer a assessora e amiga por todo o esforço e extrema vontade que depositou na Seleção, mas principalmente nas selecionadas. Ela era, sem sombra de dúvida, o que ela mais se alegrava de ter conhecido por meio da competição... e a pessoa que ela mais sentiria falta.  

Se afastaram após longos minutos e a própria senhorita Dublin tentava esconder as lágrimas. Ela sorriu e Honor retribuiu o gesto.  

—Está pronta? - Perguntou após um suspiro.  

—Sim. - Respondeu com uma certeza que nunca tivera antes.  

Sim, ela estava pronta para encarar a vida. 

♕ ♕ ♕ 

Ele não acendeu a luz do cômodo antes de se atirar na poltrona. Estava apenas cansado e preferiu ficar no escuro. O assento, infelizmente, mostrou-se desconfortável. Deslizou e se ajeitou da melhor maneira que pode, mas nada adiantou. 

Liam soltou um pesado suspiro.  

—Você se arrepende da eliminação? - Ronan, seu guarda, se aproximou hesitante, mas permaneceu a alguns metros do príncipe. Pensou em sentar-se na outra poltrona, mas se deteve. Não era ousado o suficiente para romper seus próprios padrões de educação e conduta.  

O jovem ergueu os olhos pesados para o novo amigo.  

—Não é a melhor das sensações. - Confessou após refletir por um tempo. Esfregou a mão pelo queixo. - Sei que é minha obrigação e que tenho pouco tempo... Que devo fazer escolhas... Mas é apenas difícil.— Suspirou.  

—Não esperaria menos da Seleção. - Ronan brincou, tentando um tom mais descontraído.  

—Eu sei. Apenas... - Sua voz sumiu, incerto se deveria mesmo falar o que sentia. Então escorregou mais na poltrona, cansado de ter que lidar com tanta coisa e guardá-las para si. - Tenho medo de ter errado.  

Ronan sentiu a garganta seca, sem saber o que dizer em resposta. Nunca fora um bom conselheiro, em sua opinião, e não esperava que "tornar-se guarda do Herdeiro" implicava em questões desse tipo, mais intimistas e sentimentais, como simplesmente ser amigo do príncipe.  

Conhecer Liam implicou em outros assuntos que o levaram a repensar alguns de seus conceitos, como a sua impressão quanto a nova dinastia que assumia o trono de Nova Irlanda.  

Porém, naquele momento, o que o motivou a responder fora apenas uma questão de amizade.  

Ronan sentou-se na outra poltrona, tentando relaxar a postura mesmo que a modéstia e a seriedade fossem intrínsecos ao seu caráter. Relaxar a postura era como tentar derrubar algumas fortalezas que o protegiam.  

—Você acredita em Destino? - Perguntou então, descansando os antebraços sobre os joelhos. - Minha mãe costuma dizer sempre que "as coisas acontecem quando devem acontecer" para mim e minhas irmãs. Às vezes me incomodo com a ideia, mas em outras... - Ele deu de ombros, humildemente. - Ele me traz uma sensação de segurança.  

—Que no final tudo dará certo. - Liam completou e assentiu em seguida.  

Respirou fundo pensando a respeito. Imaginava que tinha complicações demais para serem deixadas aos cuidados do Destino. Como príncipe, ele não tinha certeza qual força seria mais incisiva em sua vida: A magia de Nova Irlanda ou as exigências da monarquia.  

Preferia pensar que Ronan estava certa, de que o final prometia mais conforto e estabilidade. Mas a sua expressão fechou-se novamente, séria, ao compreende que precisava tomar certas atitudes. Que o mundo não era preto e branco, como dizia sua tia Ághata.  

Ainda confuso, ele comentou: 

—Sabe, li num lugar que o cérebro humano fica mais a vontade em escolher entre poucas opções do que muitas. - Ele coçou a nuca e se esticou, cansado. Depois completou: - Porque muitas pressupõem que você tenha que abrir mão de várias oportunidades que poderiam ter te beneficiado, e então possibilita a sensação de arrependimento. 

Ronan se remexeu, subitamente incomodado. 

—O que você quer dizer com isso? 

—Ronan,  mantenha isso entre nós. - Liam Éire disse sério, sombriamente convicto do que iria falar. Da promessa que iria fazer. - Até o final da Semana da Paz, eu terei formado a minha Elite.  

♕ ♕ ♕ 

As vagas descrições "situação complicada", "agitação social" e "inconstância generalizada" não faziam jus a real instabilidade de Wicklow Hills e região. Era um completo caos.  

Como havia adormecido grande parte da viagem, Lady Sienna não pode notar as inúmeras pichações, banners e cartazes de reinvindicações que agora pulsavam estridentes onde quer que se olhasse. Algumas ruas tiveram que ser interditadas pelas autoridades locais, impedindo o acesso da população à área rural. O número de homens e mulheres fardados nas ruas era incontável e frequentemente eles precisavam intervir nos conflitos – grandes bolhas da sociedade efervescente que alcançava a superfície para logo estourar em poderosas erupções.  

A lady, parada na calçada ao lado de Álan Seamair e próxima à limusine, observou um homem de trajes casuais subir ao palco em frente a prefeitura onde ela iria fazer seu discurso. Ele se apoderou do microfone para denunciar as atividades "questionáveis" de seu novo vizinho – a realocação das moradias importunava os cidadãos em diferentes níveis emocionais.  

—Se este homem não é um dos rebeldes que querem roubar tudo o que é nosso... Ele com certeza colabora com a causa deles! E esse cretino... - Sua voz se elevou alguns tons, mas sua frase foi suprimida pelo estrondo seco de um tiro.  

As pessoas gritaram e se encolheram. Sienna e Álan se encolheram involuntariamente, a mão dele agarrou o cotovelo dela, puxando-a para perto do chão. No instante seguinte todos se dispersaram em pânico, correndo para direções opostas, procurando pelos familiares... 

Ninguém pareceu ter sido atingido; atiraram para cima. Mas foi o suficiente para a situação ficar ainda mais caótica. 

Meia dúzia de pessoas contornaram Sienna e Álan e eles rapidamente tiveram que se levantar. Nenhuma dessas pessoas percebeu quem eles eram – o instinto de sobrevivência gritava mais alto que qualquer valor moral e hierarquia política. Ainda assim, ficarem em pé não foi o bastante para não serem atingidos: Um homem magro e alto trombou com eles, em meio a euforia.  

Sienna perdeu o equilíbrio e quase caiu para trás. Álan segurou o homem pelos ombros para firmá-lo e pará-lo no lugar.  

—Ei. Cuidado por onde anda. - Falou num tom educado, como se eles fossem velhos conhecidos e franziu a testa ao observar o pânico em seu rosto.  

O homem o olhou com uma expressão assustada e não quis ficar mais um segundo ali: Voltou a correr enlouquecido. O mais velho dos irmãos Seamair tentou segurá-lo, mas acabou apenas rasgando um pedaço de tecido da jaqueta do homem.  

—Já chega! - Reclamou Sienna ao ter que se esquivar outra vez do homem apressado.  

Álan voltou-se a ela, subitamente nervoso.  

—O que... O que você irá fazer? 

Mas Sienna já se afastara, decidida, em direção ao palco de madeira.  

Ela subiu os três degraus marchando sobre seus saltos caros. Parou em frente ao homem que até então continuara falando sobre as possíveis conspirações de seu vizinho, que esse tiro, inclusive, fora orquestrado por ele. Ela estendeu a mão, impaciente pelo microfone. Ele arregalou os olhos claros e esqueceu-se completamente de toda a sua fúria contra o vizinho. Entregou-lhe o microfone imediatamente e saiu tropeçando nos próprios pés.  

Ela encaixou o microfone no suporte e o arrumou para que ficasse coerente a sua altura – alguns centímetros mais baixo.  

Antes mesmo que ela pudesse falar, grande parte das pessoas já haviam se calado, surpresas.  

—Wicklow Hills, boa tarde! - Ela disse em alto e bom som. Os demais que continuavam falando enfim se silenciaram e os grupos de arruaceiros também se acalmaram, todos hipnotizados diante a presença e o poder que Lady Sienna emanava. Ela se apresentou, mesmo que não fosse necessário, e continuou: - É com enorme tristeza que observo o cotidiano dessa cidade. E é com extrema vergonha que me posto diante de vocês após observar tamanho caos. - Ela fez uma pausa, satisfeita com a atenção que recebia. - Wicklow Hills e toda a província passa por um período de crise, organizada por grupos rebeldes com propósitos ainda desconhecidos. Porém, o que me envergonha nessa atual condição local é a segregação dos próprios habitantes! 

O silêncio pareceu ainda mais intenso quando Sienna encarou os presentes com intensidade.  

—Nova Irlanda é um reino que sobreviveu à Grande Guerra, enquanto nosso próprio vizinho caiu ao nosso lado! Nossas províncias se uniram parea somar forças e foi assim que continuamos vivos e prósperos... - Por intuição, ela olhou de relance para Álan e o viu totalmente absorto em seu discurso. Ainda olhando para ele, Sienna completou: - Quando permanecemos unidos.  

Conferindo se a atenção dos moradores ainda estava nela, Sienna manteve o tom forte em sua voz.  

—Então devemos continuar cooperando uns com os outros, continuar dispostos a encontrar a melhor solução para o momento. Toda a pequena ação é uma grande colaboração. - Ela acenou com a cabeça, como um comandante que passa novas ordens ao seu exército. - Os líderes da cidade já foram informados de novos procedimentos que serão aplicados imediatamente. Novos recursos e equipes chegarão em breve. E enquanto o problema não for solucionado, cabe a vocês denunciarem toda e qualquer atividade suspeita, buscarem intervenções possíveis... e manterem a paciência. Situações como esta exigem o melhor que há em nós para continuarmos lutando.  

Sienna olhou novamente para os rostos que a encaravam. Sabia que suas palavras surtiram efeito, apenas esperava que fosse tão prolongado quanto precisasse.  

Ela saiu, sem esperar por aplausos ou quaisquer outras manifestações. Ela sequer soube se elas vieram ou não. Entrou na limusine ainda enfurecida e registrou a presença de Álan logo atrás de si.  

Ele sentou-se a sua frente com uma expressão claramente admirada. Sienna costumava manter a postura séria e compenetrada diante de olhares como do Seamair, mas involuntariamente ela corou. Ajeitou-se melhor, incomodada, e tentou mudar de assunto: 

—O que vocês está segurando? 

Álan então desviou o olhar, também ligeiramente envergonhado. Olhou para o que tinha em mãos - o pequeno retalho que rasgara da roupa do homem apressado.  

Desdobrou o tecido e o observou.  

E seu rosto perdeu a cor assim que reconheceu a estampa. 

—Álan? - Sienna se inclinou em sua direção, com um tom preocupado na voz.  

—Não são rebeldes. Os invasores das fazendas... são de fato invasores.  

Ela franziu a testa e pediu para que ele lhe entregasse o retalho. Seu rosto assumiu uma expressão semelhante a dele ao observar por poucos segundos a estampa: Uma estrela de seis pontas com uma mão direita estendida em seu interior 

—Nosso vizinho derrotado ainda mantém algum nível de resistência. - Ele observou com a voz mais baixa e grave. 

Sienna ergueu o olhar assustado para Álan e sussurrou, sem a mesma força vocal de antes: 

Irlanda do Norte está viva! 


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Notas finais do capítulo

E lá estou eu novamente jogando mais informações para deixar todo mundo confuso e ansioso e depois ter trabalho de juntas as pontas. Mas asseguro algo a vocês: Está tuuuuuuuudo conectado.
Formem suas teorias de conspirações porque minha criatividade alcance esse nível. Hahahaha

Espero que tenham gostado e que estejam gostando.
Preparados para a Semana da Paz e a passagem de tempo megablaster? Se não estiverem, preparem-se; vamos conhecer mais sobre os outros países e quanto as pessoas desse Palácio.
Obs: Ansiosos para conhecerem Caleb? Preciso confessar algo aqui e agora: Estou AMANDOOOOO escrever ele. Espero que eu não me apaixono demais (não me seduza príncipe!), eu ainda preciso ter ALGUMA autoridade sobre você.

Vocês tem alguma sugestão ou vontade que algo aconteça nessa Semana da Paz? Jogos, brincadeiras, intrigas, decorações de cenários...? Aceito sugestões, quero que tudo seja muito "mágico". Hahaha

Obrigada mais uma vez pelo carinho de vocês, leitores!!
Embora não esteja respondendo os comentarios, saiba que leio todos e, assim como fiz nas notas iniciais, respondo eles de uma maneira mais "geral" quando posto um capítulo novo!
Beijoooooos! Até a Semana da Paz! ♥


P.S. Acompanhem meu polyvore (mila-dy.polyvore.com) pois aos poucos vou construindo e postando imagens dos "convidados reais" ;D

P.S.S. Liam explicou como ocorrerá as próximas eliminações: "Em massa". Haverá apenas uma nessa passagem de tempo, que eu já comentei antes, e as próximas acontecerão... bem, todas juntas, no final da Semana da Paz, para formar a nossa Elite.
Sem mais spoilers xP

Link Sienna: https://www.polyvore.com/lady_sienna/set?id=226541049
Link Honor:



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