Bdtp escrita por Moonpierre


Capítulo 2
Miguel Smith




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14 de Abril, antes de Setembro

—Beba um pouco mais! - aquela maluca insistia.

Ela já pediu para eu beber duas vezes. É uma mulher bonita, mas não tenho o desejo de leva-la para a cama.

—Eu preciso comprar um novo tênis, o tamanho do meu pé é 47 - o homem fala dando um sorriso malicioso para a minha amiga Aisha, apesar das palavras serem calmamente pronunciadas.

O bar está particularmente sem ninguém hoje.

Me amaldiçoo por ter vindo. Meus amigos machões (que zoam o fato de eu ser virgem) anunciaram que iriam nos dar cervejas gratuitas se fossemos com eles, mas ao chegar aqui, percebo que nos enganaram: só encontramos esses dois pervertidos que já sabiam nossos nomes.

—Quer mais bebida? - a mulher, cujo nome é Cintia, pergunta novamente, colocando uma mão na minha coxa.

Eu não gosto quando tocam na minha perna (principalmente estranhos).

—Meu namorado não quer beber mais! - Aisha grita, pressentindo meu desespero.

Quase sussurro um "obrigado".

—Ele é seu namorado, querida? - ela questiona, e minha amiga assente.

—Vocês são muito vanillas - o cara, que se chama Sérgio, diz. Está com um ar de decepção.

—Não querem sexo a 3? Ou a 4? - Cintia indaga - vocês não sabem o que estão perdendo sendo caretas.

—Não somos caretas - Aisha diz, meio que ofendida.

—Ah é? E o que vocês fazem na cama? - a mulher nos interroga.

—Spankings, bondage, essas coisas - Aisha já está se levantando e me puxando.

—Já experimentaram figging? - Cintia fica curiosa.

—Chuva de ouro? - Sérgio semicerra os olhos, como que nos avaliando.

—Não gosto de gengibre ou urina - minha amiga replica.

—Ok, se vocês não querem transar com a gente.... até entendemos. Só que ainda assim vamos receber? - Cintia continua.

—Receber? - pergunto - o que?

—Seus amigos foram até os "Dependentes de amor e sexo anônimos" (DASA) e nos pagaram 400 reais para fazermos sexo bom com vocês - Sérgio sorri - uma pena que não querem.

Eu sabia. É sempre assim. Meus amigos querem que eu transe de qualquer jeito. "Seja normal" - eles comentam - "pelo menos uma vez".

Não preciso nem dizer que eu e Aisha saímos correndo daquele lugar podre.

E desde então, finjo que ela é minha namorada, é bom quando te deixam em paz, sabe? Mesmo assim me sinto mal quando meus amigos perguntam, de um modo nada discreto, se eu já "comi" a Aisha (olha esse termo ridículo, "comer"...) e eu respondo sim.

De certa forma é bom tê-la ao meu lado, e minha amiga sabe sobre essa questão, até me ajudou a criar uma história meio Romeu & Julieta: nossos pais se "odeiam" por causa de uma "disputa ao cargo de gerência que deu em briga", e eles "nos proíbem de namorar", entretanto "nós dois somos muito apaixonados".

Mas não sei porque as pessoas de hoje em dia se preocupam tanto se você é virgem ou não é. Não podemos ser virgens aos 20, mas se tivermos transado aos 16 somos imorais e não temos consciência das consequências. Mundo louco? É sim.

Jefferson e Luís - que resolveram pregar uma peça em mim naquele dia 14 - ficaram me enchendo somente depois de uma namorada minha se assumir lésbica e se declarar para a Charlotte.

Eles falaram: "você não faz sexo, lógico que ela iria te trocar".

Disseram: "você não tem pegada", "você é frouxo", "virjão", "trouxa", "idiota".

Muitas coisas.

Eu estou cansado.

1 de agosto

Charlotte está suspirando, olhando para o céu, deitada na grama, sozinha.

—O que anda acontecendo com você? - me espanto - anda apaixonada?

O rosto dela vira um pimentão.

—Não - ela se entristece - nada.

Começo a rir:

—Apaixonada por Aisha? - provoco.

—Não! - me encara de um modo assustado - ela é sua namorada.

—Minha namorada? - analiso o rosto dela - você está zoando?

—Jefferson me contou. Você até "comeu" ela - Charlotte me fuzila com o olhar - parabéns por perder sua virgindade - e diz essa última parte de um jeito sarcástico e amargo.

Meu estômago começa a se enjoar, acho que porque sou alguém que tenho repulsa a sexo - acho nojento todos aqueles fluídos, germes e invasão ao espaço pessoal de outro ser humano.

—Não - admito.

—Não? Mas ela gosta de você... se vocês namoram deviam transar. É comum.

"É comum", "é normal", essas são algumas das variações que já ouvi na minha vida.

Chuva de granizo é algo comum e normal, apesar de não acontecer muito.

—Você não entendeu, eu não namoro a Aisha, eu acho até que ela gosta de você... - continuo, quem sabe assim ela entende.

—Aisha é hetero - ela me olha séria.

—Quando Aisha te contou a sexualidade dela? - indago, interessado.

—Eu percebo. Não preciso que ela me conte. Meu gaydar nunca falhou. Ela gosta de você. - Charlotte fala tudo isso depressa.

—Você podia ao menos perguntar, não é mesmo? Aliás, eu vi vocês duas beijando na balada... também estava lá.

—Estamos fingindo que nunca fizemos isso - Charlotte admite.

—Bem, pelo menos aceite meu conselho e pergunte em vez de "acreditar" em algo antes de ter provas o suficiente - reviro os olhos.

—Por que vocês fingiram que estavam namorando? - ela me indaga abruptamente.

Conto toda a história e caímos na risada.

Não é tão difícil perceber que as duas estão apaixonadas, contudo, para elas isso (ainda) é muito complicado...

E se você quer saber, eu não acho que Charlotte irá confrontar Aisha.

 

 

 

 

 

 

 

 


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