Jane escrita por CherryBlue


Capítulo 7
Capítulo VI - Bitter Taste


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como vão vocês?
Bom, tenho que desculpar pelo atraso de uma semana inteirinha (mas esse final de bimestre, o que foi isso? D:). Estava tudo tão, tão bagunçado que eu não tive muito tempo pra preparar algo realmente bom, mas dei o meu melhor. Espero que possam me perdoar :c

Aliás, bem vinda Queehkyu! Espero que eu veja você por aqui sempre, viu? ♥

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/705602/chapter/7

Quando o anjo havia desaparecido do seu campo de visão, a morena respirou aliviada, porém, seu alivio não durou muito tempo. Sentiu uma dor angustiante na cabeça e notou seus cabelos sendo puxados para cima, fazendo-a encarar à força a face inexpressiva do deus, e quando tentou gritar, novamente sua voz havia desaparecido. Seria alguma força especial dele? Cerrou os olhos com a dor aguda que sentia no couro cabeludo e também no pescoço, por conta do baque repentino. Sentiu vontade de chorar novamente, e de xingar aquele homem até a quarta geração. O que se passava na mente daquele psicopata, afinal?

Ele a observava com a expressão de dor e, a não ser que ela estivesse começando a enlouquecer, pode jurar que viu prazer em seus olhos. Aquilo era ótimo: estava sendo vítima de um deus sádico! Observou com os olhos entreabertos quando o outro amenizou minimamente uma ruga na testa, e puxou seus cabelos com ainda mais força, fazendo com que sentisse vontade de gritar, mesmo que inutilmente. Qual era o real significado daquilo?

— Eu vou avisar uma vez, e espero que fique claro. – A morena abriu totalmente os olhos, o encarando com expressão de pavor, fato que pareceu agradá-lo. – Se algo ruim acontecer ao Castiel por sua culpa, eu vaporizo você e tudo que te é importante, entendeu?

Jane desfez a expressão de dor e pavor e fez-se incrédula. O que ela poderia fazer de ruim à um anjo, afinal de contas? Ela quem deveria temer todos os que estavam ali e não o contrário, até por que não era ela quem estava quase arrancando os cabelos de alguém. Fechou os olhos calmamente ao notar que sua voz ainda não saia. Que droga de deus covarde era aquele?

— Você é um idiota. – Arregalou os orbes ao notar que havia encontrado sua voz perdida em, no que para ela foi possivelmente o pior momento. Quando pode observar o rosto de Luke, um arrependimento absoluto tomou conta de si. Os olhos dele estavam cintilantes em um tom de verde claro quase cegante, o que a fez semicerrar os olhos, mas não estava mais com o mesmo medo de antes. Na verdade, sentia-se muito zangada. – Você é louco? Olhe para a minha situação, eu não poderia fazer nada contra nenhum de vocês!  E olha que eu quero muito! – Aos poucos a expressão do moreno foi se contorcendo como se segurasse o riso, o que a fez ferver por dentro. – Eu, eu não sei o que você tem contra mim... – Fechou os olhos com força agora, por conta dor que ainda sentia por ele não soltar seus cabelos. – Me solte!

E ele o fez, jogando a cabeça de Jane contra o estofado com força, fazendo-a soltar um baixo gemido. Viu-o sorrir de canto cinicamente, demonstrando que aquilo era prazeroso para si, e não se conteve em olhá-lo furiosamente. Como ele podia ser assim? Nunca haviam nem sequer conversado direito. Entretanto, seus pensamentos se nublaram quando ele ergueu a cabeça e olhou-a de cima com seu indiscutível ar de superioridade. Jane começou a imaginar se todos os deuses eram assim, tão... Rudes. Talvez ela estivesse sendo mal-acostumada com a bondade de Castiel.

— Isto foi um aviso, e... – Luke apoiou uma das mãos no apoio lateral da poltrona em que ela estava, inclinando-se até ficar com o rosto quase colado ao dela. Sua expressão era fria e indiferente, demonstrando seriedade, o que a fez voltar a sentir o frio da barriga e o pavor que tivera esquecido por alguns instantes. – Pense duas vezes antes de desrespeitar-me. Eu não sigo a Igreja como Castiel, então não hesitarei em acabar com você. – Agora ela o encarava de olhos arregalados e sentia a respiração descompassada. Viu-o voltar a endireitar-se com sua costumeira feição apática.

Luke caminhou lentamente até sentar-se em uma das poltronas que estavam atrás das de Jane e Castiel, provavelmente com a intenção de poder sempre ficar de olho em ambos. A morena sentia-se desnorteada e sua respiração possivelmente era ouvida à distância. Colocou a mão no peito, sentindo seu batimento acelerado. Por que aquilo era tão familiar? Mas outras dúvidas invadiram a sua mente, e a mais profunda era: como ela, logo ela, poderia fazer algum tipo de mal à Castiel? É claro que não sabia nem tinha presenciado muitos de seus poderes, mas ele podia fazê-la desmaiar com um toque; ela não tinha força para desmaiar alguém nem mesmo com uma marreta. E tinha também o fato de Castiel ser indubitavelmente gentil e adorável, ela não teria coragem nem sequer de levantar a voz para com ele. Tal coisa era totalmente diferente do que acontecia com Luke: ela sentia vontade de arrancar cada fio daquele cabelo magnífico. Arranhar cada pedaço daquele rosto... Daquele corpo...

Ah, meu Deus”, pensou. Não poderia estar sentindo algo assim por aquela pessoa horrível.

Horrível, porém... Muito bem cuidado. Sim, bem cuidado.

Estava enlouquecendo. Talvez ele tivesse cutucado seus sentimentos mais obscuros em apenas alguns segundos de conversa nada civilizada, por sinal.

O desejo?

Talvez.

Ela era a Luxúria, por fim. Talvez, e só talvez, sentir desejo fosse algo que não pudesse controlar quando nem por quem sentir. Será que seu pecado virava contra ela? Castiel nunca tinha dito aquilo... E também ela não sentia desejo por Castiel. Nem por Hermes, nem por Katherine. Talvez fosse por que Luke tinha algo... Diferente. Talvez, também, ela tivesse um dom de atração muito maior do que imaginava, mesmo não conseguindo reconhecer o quão forte aquilo era nela. Será que o deus também sentia...? Não, com certeza não.

Havia iniciado um monologo consigo mesma sem perceber. Riu daquilo. Existiam tantos “talvez”...

Mas ela se lembrou que havia outras coisas para se preocupar, e nem sequer havia entendido com perfeição o que seria o Ragnarok – o que estava acontecendo com seus pensamentos? Tão confusos! – e imaginava que saber deveria ser crucial.

“Bem cuidado, mas ridículo. Arrogante”.

Respirou fundo. Não iria, por mais que tentasse, conseguir tirar aqueles olhos verdes de seus pensamentos por um longo período de tempo. O Ragnarok poderia esperar que Castiel voltasse para fazê-la sentir-se segura para conversar novamente com alguém.

“Será que Loki não soube dar educação pra ele?”

Já começava a desistir de ter uma linha de pensamento que fizesse sentido.

Definitivamente, aliás, não entendia o ódio de Luke, e não entendia por que não o odiava com a mesma intensidade. Sim, o odiava também, claro! Mas estava ocupada demais tentando entender o motivo de ficar tão sem chão quando estava próxima à ele. Pensou um pouco mais, e concluiu que ele deveria fazer isso com qualquer uma, afinal, ele era um deus e além disso, era um cara cheio de mistérios – sem contar sua beleza violentamente destrutível. Mulheres amam mistérios, e ela não era diferente. Mas, estranhamente, se sentia atraída por ele desde o primeiro instante que o vira – como era difícil admitir isso, mesmo para si mesma. Seu corpo se arrepiava ao ouvir sua voz, e a sensação era tão familiar que poderia jurar que já havia ouvido aquele timbre sussurrar palavras obscenas em seu ouvido.

Exaltou-se ao notar no tipo de coisas que estava pensando. O que estava acontecendo? Como podia pensar nisso com o homem que até alguns minutos estava quase arrancando seu cérebro? Suspirou. Não era algo que ela estava conseguindo evitar. Não era culpa dela que esse tipo de coisa vagasse em sua mente como lembranças perdidas. Por um momento até pensou estar apaixonada, mas livrou-se desses pensamentos instantaneamente. Poderia até atrair-se por ele, mas era apenas isto.

Foi quando teve uma ideia. Não custava nada tentar.

— Então... – Ela começou a falar, dirigindo-se ao moreno, sabendo que ele estava prestando atenção em cada reação dela. – Luke. Você se recuperou rápido, parecia um zumbi quando entrou aqui. – Sua voz era brincalhona, e pode notar um longo suspiro vindo do outro. Mordeu os lábios, talvez ele não quisesse conversar. Talvez?— Você me machucou, sabia? – Falou por fim, massageando a cabeça ainda dolorida.

O outro não respondeu. Parecia egoísta demais para aceitar conversar, e Jane arrependeu-se de ter tentado dar uma chance de ele pedir desculpas por ter sido tão rude. Lembrou-se de Castiel citando que ele podia ser a personificação divina do Orgulho, e riu baixo. Seria cômico se ele fosse. Passou um tempo pensando no motivo do ruivo estar demorando, tentando tirar o foco de seus pensamentos do deus.

— Eu faria pior. – Respondeu após longos minutos, fazendo com que a garota se enrijecesse na poltrona ao ouvir sua voz rouca e fria. Não, não esperava que ele respondesse, nem que respondesse algo assim.   

Jane mordeu os lábios, respirando fundo e tomando cuidado com as palavras que dizia.

— Hey, Luke... – Sua voz era baixa e temerosa, mas por outro lado sentia uma vontade quase incontrolável de conversar com o garoto que estava sentado atrás de si. E também sentia necessidade em compartilhar seus pensamentos com alguém. Mesmo que o alguém em questão fosse... Bom, fosse quem era. – Por que você acha que eu faria mal ao Castiel? – Perguntou com a cabeça baixa, e sua voz parecia embriagada pela estranha vergonha.

Como era tola!

— Por que a paixão destrói qualquer ser. – Respondeu firmemente, com o tom de voz rouquiçado e demonstrando que não queria prolongar aquele assunto.

E conseguiu. Jane levantou-se o encarando incredulamente – olhar que era típico dela– exigindo respostas. Infelizmente, para ela, ele colou os orbes esverdeados nos seus azuis, fazendo seu sangue borbulhar. Aquilo era tão familiar que chegava a irritar. Aquele rosto quadrado, aquele cabelo negro, aquela pele pálida... Viu-o encará-la severamente por mais algum tempo, parecendo que o simples fato de ela estar olhando-o era um insulto. Bufou de ódio enquanto voltava a se recostar na poltrona.

Jane estava confusa e perdida demais em seus pensamentos para perceber o arrepio que correu em sua espinha quando cogitou a possibilidade de ele estar com aqueles penetrantes olhos verdes vidrados atrás de si, e se limitou a pensar no que Luke estava querendo dizer com aquilo. Queria perguntar, porém a frieza que ele transparecia nos olhos esmeraldinos era como uma barreira contra qualquer palavra que jogasse, como se simplesmente fosse ordenada a se calar. E quando estava em silêncio, sua inércia se tornava um campo de força, uma grandeza palpável. Era como se sua força gravitacional ganhasse valores absurdos. Entretanto, ela reconhecia muito bem que não poderia compará-lo com a gravidade.

A gravidade é fraca. Delicada. Frágil.

E Luke? Oras, totalmente o contrário. Naquele momento, ela era a garotinha frágil, a gravidade, enquanto ele era o Universo.

Balançou a cabeça a fim de espantar tais pensamentos, notando que pensara nele sem nem ao menos perceber, como uma criança curiosa pensa em um brinquedo divertido, e se esquecia de seus problemas iniciais, e no seu caso, principais. “A paixão destrói”. Será que havia a remota, longínqua, distante possibilidade de Castiel ter dentro de si uma mera quantidade de afeto que fosse reservado a ela? Sobressaltou-se só de imaginar. Era só uma humana, e ele era um anjo. Suspirou fundo ao repensar em seus pensamentos e concluir que ela poderia ser muita coisa naquele instante, mas não era humana. Não uma humana normal.

E quanto à Luke, no que ele pensava? Talvez achasse graça por imaginar que ela estivesse pensando nele, sim, era uma hipótese plausível. Ou ele poderia estar irritado por imaginar que ela estava pensando em Castiel. Ou talvez, e era uma questão hipotética muito possível, ele estava dentro de sua mente naquele momento vendo todos esses questionamentos. Veria como ela pensava sobre ela mesma. Veria, com aqueles olhos, como ela ainda imaginava que tudo era um sonho e que a qualquer momento acordaria. Praguejou consigo mesma: estava ficando maluca? Era natural que o deus não confiasse nela.

Ambos foram tirados de suas próprias mentes quando puderam observar a imagem de Castiel saindo da cabine do Piloto, com uma expressão não muito agradável, mas até então não muito ruim, o que se agravou ao olhar para Luke e vê-lo com sua típica expressão cínica e indiferente, com um sorriso de canto que comprovava seu debochamento.  Caminhou lentamente enquanto provavelmente imaginava no que os dois poderiam ter conversado., e parecia estranhamente curioso com algo que Jane não pode identificar o que era – ele olhava para os lados como se quisesse ver algo invisível.

Quando enfim chegou a seu lugar, pode observar a expressão dos dois que o encaravam sem se preocupar em disfarçar – ou não conseguindo. Jane o olhava com um olhar perdido, curiosa e confusa como sempre. Viu-o rolar os olhos para Luke deixando a cabeça meio inclinada e acabou o imitando, e pode notar que o rosto do deus havia uma feição que era de um cafajeste profissional, de alguém que aprontou a noite toda e voltara aos braços da esposa por que sabe que ela não sabe viver sozinha. Era assim que conseguia descrevê-lo algumas vezes.

— Ele não me chamou. – Disse o ruivo com o tom de voz rouco, demonstrando o quão descontente estava. E realmente parecia estar. Jane imaginou que o pensamento de deixa-la sozinha ali com um deus nórdico psicótico e doentio, com distúrbios de emoções e que fazia sabe-se-lá-quantas-loucuras-incontestáveis-porém-muito-interessantes, não o agradasse nem um pouco, e pode cogitar bem os motivos.

— Jura? – Respondeu Luke cinicamente enquanto jogava a cabeça para trás, se fazendo de entediado e desentendido. Sentiu algumas pontadas agudas no estômago quando olhou para ele, vendo alguns de seus machucados ainda expostos. Pode jurar vê-lo fazer uma careta depois de olhar para as costelas..  – Devo ter delirado.

— Aposto que sim. – Castiel dizia entre dentes e parecia ao máximo tentar permanecer em harmonia com o ambiente, entretanto, o ambiente não estava nem um pouco em harmonia. Jane podia notar a tensão no corpo ele sempre que ouvia algo que saísse da boca do deus, e sentiu temor de que os dois começassem uma briga física e não mental, como estava parecendo. Respirou fundo o olhando, observando que ele sempre desviava os olhos para ela também.  – Deixando isso de lado, teve algo bom nisso. Vamos decolar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vocês já devem estar cansados de essa autorinha aqui pedir comentários, mas fazer o que, né?
Bom, digam-me a opinião de vocês! Favoritem se acharem merecedor, recomendem, deixo todo o meu trabalho e reconhecimento nas mãos de vocês, tão fabulosos leitores ♥

Espero ver vocês no próximo (até vocês, fantasminhas) ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jane" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.