Jane escrita por CherryBlue


Capítulo 2
Capítulo I - Stay


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥
Quero começar agradecendo os comentários. Como vocês devem imaginar, nos sentimos muito inseguras quando vamos publicar uma história, e são os comentários de vocês que nos animam. Mas sem mais delongas...

Leiam sempre em um lugar claro! Uma boa leitura pra vocês e até o próximo, eu espero ♥



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— O quê? Como eu não posso entrar? São malditos dois minutos! – Gritava uma garota de cabelos negros do lado de fora de um enorme portão. Bateu os pés, incrédula por não poder entrar na escola pelo motivo de ter se atrasado apenas alguns minutos, e nem era culpa dela afinal. Repentinamente, em sua casa, do qual morava sozinha, luzes começaram a piscar, a água do banho ficara fria e teve de sair às pressas. Não fazia ideia do que tivera acontecido, já que suas contas só venceriam daí uma semana.

— Garota, regras são regras, a menos que você seja algo do governo. – Disse um homem forte, negro e alto por detrás de uma cabine de vidro enquanto lia uma HQ de anti-herói. Sabia que a garota não havia se atrasado propositalmente, afinal nunca a tinha visto faze-lo, custaria tanto deixa-la entrar? – Abrir exceção para um faria eu ter que abrir para vários, e uma exceção se tornaria uma lei.

Ela suspirou e olhou para cima. Teria de esperar o sinal da segunda aula bater para enfim tentar entrar de novo, e ainda faltavam aproximadamente uma hora. E o que faria enquanto isso? Observou o céu limpo e azul, porém com a brisa fria que batia em sua pele pálida, a brisa da manhã de outono.

Seus cabelos negros esvoaçaram enquanto sorria sem ânimo para o guarda. Ele não era uma pessoa má, só estava fazendo seu trabalho, no fim das contas. Sabia que assim que o sinal ressoasse ele a deixaria entrar normalmente.

Deu meia volta e começou a caminhar pelo jardim da entrada da escola, com uma enorme bolsa do Darth Vader pesando em suas costas. Ao longe avistou uma lamborghini de um azul profundo, e ao seu lado um Camaro branco e brilhante. Seus olhos grandes e azuis se arregalaram ainda mais ao ver automóveis tão incríveis. De quem seriam? Nenhum professor, nem aluno, muito menos funcionário teria condição de ter um carro daqueles, e sua curiosidade só aumentou ao ver a raridade em dose dupla.

Riu de si mesma e da sua inocência. Provavelmente algum aluno rico estava passando pela escola para entender como os plebeus se comportavam, ou era namorado de alguma garota popular – que seu colégio tinha aos baldes.

Um pouco distante dali havia alguns bancos de mármore, debaixo de uma grande árvore de frente para a rua. Mais uma vez suspirou sentindo o vento tão gostoso da manhã, e começou a caminhar em passos vagarosos em direção à onde ficaria sentada por um longo tempo.

Sacou seus fones na mochila antes de chegar, percebendo que ali havia uma criatura muito peculiar e desconhecida. Nunca o tinha visto antes pelas redondezas, e se sentiu um tanto interessada. Ele tinha cabelos ruivos, olhos azuis como o céu – um pouco mais claro que os dela própria – e sua expressão carregava um olhar perdido, como se estivesse admirado com o asfalto. Sorriu internamente enquanto sentia-se nervosa: não era nada boa em conviver com as pessoas, e isso incluía ficar perto delas. Ainda mais se a pessoa em questão fosse um rapaz atraente – e que cabelo maravilhoso!

Sentou-se ao lado do ruivo, recebendo um olhar de curiosidade vindo deste. Colocou os fones ignorando a vergonha acarretada pelos olhares nada discretos do rapaz, que parecia querer puxar assunto, mas não sabia começar. Por fim, ele apenas voltou a admirar a paisagem calma. Sorriu mais uma vez: será que era tão desinteressante assim?

Ficou um tempo viajando pela letra da música, até que foi surpreendida por ela parar de tocar, dando lugar a um zumbido irritante. Apressadamente tirou os fones e pegou o celular a fim de saber o que tivera acontecido, mas quando o fez, viu que não havia nada de errado. Fez uma expressão de confusão e murmurou um “droga...”.

— Olá. – Disse o rapaz se virando para ela. – Você estuda nesta instituição? – Perguntou com uma voz grave e confiante. Sentiu-se admirada enquanto ele a encarava de maneira interrogativa, curiosa, como se estivesse observando um animal exótico.

— S-Sim, e você? – Respondeu sem jeito. Sentiu suas bochechas queimarem, não era muito acostumada a falar com garotos que não fossem os nerds gordos viciados em Star Wars da sua sala. E é claro, seu ex-namorado capitão de um time de baseball.

— Eu? – O garoto ficou pensativo e olhou para o céu, com os olhos semicerrados. – Bom, eu deveria estar lá dentro. Mas borboletas são tão interessantes, tão gentis, bem mais que o homem que fica naquela... Naquele... Lugar transparente, sabe.  Não me deixou entrar. – Ele a encarou, e pareceu notar a expressão confusa que estava em sua face, por que sorriu amigavelmente. – Oh, não, eu não tenho mais idade para estudar faz tempo. – Um grande ponto de interrogação cresceu em seu cérebro; ele não parecia ter mais que dezesseis ou dezessete anos. Resolveu ignorar.

— Você é novo por aqui, não? Digo... Na cidade em si, você parece aqueles turistas que ficam impressionados com as grandes arvores que nós vemos os cachorros mijarem todo dia. – Riu, mas notou que o ruivo não pareceu se divertir. Ele ficou sério enquanto olhava uma árvore, com a cabeça levemente inclinada, parecendo analisá-la. Por fim, olhou-a nos olhos novamente.

— Você sabia que eles urinam para marcar território?

Jane não aguentou e acabou gargalhando do comentário sério do ruivo, que a olhou intrigado. Ele seria maluco ou só estava tentando puxar assunto? Riu mais um pouco. Ele parecia tão sério quando falava, que até chegava a parecer que aquilo era mesmo uma coisa interessante e extremamente importante. Não se conteve e riu um pouco mais, colocando a mão esquerda sobre o rosto.

Já ele não dizia nada, apenas a observava com o mesmo olhar curioso de antes. Quando se recompôs, notou que o garoto parecia totalmente confuso do motivo de ela rir, e constou: no mínimo, o ruivo possuía algum tipo de demência. pobrezinho.

Mas onde estava com a cabeça? Um rapaz tão bonito tentando puxar assunto a todo custo, e ela rindo da cara de bobo dele? Que absurdo, era mesmo muito desajeitada – provavelmente esse seria o motivo de estar com longos dezesseis anos e só ter namorado uma vez. Olhou-o um pouco mais atentamente, vendo que esse fazia o mesmo, e parecia observar sua alma. Nele havia uma expressão serena e inocente, encantadora e ao mesmo tempo intimidadora.

— Então... – Desviou o olhar tentando disfarçar seu rubor. – Meu nome é Jane, e o seu? – Perguntou rapidamente quase tropeçando em suas próprias palavras.

— Eu sou Castiel, é um prazer, Jane. – Agora sua voz havia ganhado um tom sério que a fez vacilar e entreabrir os lábios. Sentiu-se um pouco trêmula e uma sensação nada boa tomou conta do seu estomago, como se fosse um aviso de algo ruim estar próximo de acontecer.

Engoliu em seco. Que besteira! Ficaria assim somente por um garoto parecer um pouco mais rígido com ela? Já estava tão acostumada com isso que se sentiu uma tola. Provavelmente ele teria ficado irritado por ela ter rido descaradamente dele, não podia negar que fora indelicada.

— Você veio pra cá sozinho? – Juntou as mãos ao colo, não fazia ideia do motivo pelo qual sentia um desejo repentino de sair correndo o máximo que suas pernas aguentassem, mas não o faria. Não, não fazia sentido, que tolisse.

— Infelizmente não. – O ruivo voltou a encarar a rua por um instante, e o clima sombrio pareceu se dissipar enquanto seus olhares não se encontravam. – Tive que vir acompanhado de um ser um tanto mesquinho para cá. – Uma curiosidade apossou-se do corpo da morena que agora prestava bastante atenção no que ele dizia, observando a expressão de falta de paciência que ele fizera para com a pessoa que chamou de “mesquinho”. Então ele não era o único? Isso explicava os dois carros. Queria que ele continuasse a falar, mas parecia que o ar era muito mais interessante de ser estudado, para ele. Resolveu não falar mais nada, e suspirou.

Soltou o ar dos pulmões com força, a fim de chamar a atenção dele. Porém, diferente do que esperava, ele não a olhou, apenas continuou observando a rua tão quieta e estranhamente interessante. Riu, não entendia o motivo de tão repentinamente querer ser notada por um garoto. Sentiu-se idiota, uma vadia como aquelas líderes de torcida que odiava. Pegou o fone novamente, que estava jogado de lado no banco. Olhou para o céu que agora havia ganhado um aspecto nublado e a brisa antes fresca ficara gélida e quase cortante. Estremeceu novamente e sentiu a mesma vontade de correr, se esconder, de fugir.

Engoliu em seco, sentindo um olhar penetrante sobre si. Ele não estava mais olhando para a rua.

Fitou o garoto que antes se mantinha alheio e agora a encarava firmemente.  Sentiu o ar preso na garganta ao ver os olhos fixos nos seus e não soube o que fazer. Viu-o estender-lhe o indicador lentamente enquanto sua feição continuava calma e sem expressões significativas, até tocar levemente o topo de sua testa. Respirou fundo e involuntariamente cerrou os olhos.

Ω

Quando voltou a abri-los, sobressaltou-se ao constar que não estavam mais no banco de mármore de frente para a rua, e sim em quarto claro com cheiro doce. Sua expressão ficou surpresa, olhou para todos os lados e tentou se levantar, mas suas mãos estavam presas por correntes de aço à uma cama em que estava sentada, ainda de frente para Castiel.

— Desculpa, você não viria por vontade própria.  – Falou ele naturalmente enquanto seu olhar azul intenso vagava por todo o quarto, e novamente paravam na menina aterrorizada. – Jane.

— O-O que?! P-Por que...  – Não conseguia silabar. O pavor tomou conta da expressão tão amigável e inocente dela, que agora se contorcia numa mistura de horror, desespero e confusão. – O-O que é isso?! – Gritou enquanto puxava as mãos e os braços com força com o intuito de se soltar, mas de nada adiantava.

— Não faça tanta força, pode se machucar. – Disse o ruivo com um aspecto preocupado e logo em seguida se levantou, caminhando até uma grande janela por onde entrava toda a iluminação exagerada do ambiente. – Você sabia que ossos, tanto de animais quanto de seres humanos, são considerados uma das coisas mais fascinantes e impressionantes que existem? – A voz que antes era tida como boba e docemente inocente pela garota, agora lhe causava receio, medo, e ele pareceu perceber. Respirou fundo e a olhou sorrindo amigavelmente, possivelmente na tentativa de passar-lhe tranquilidade e conforto, porém ela só ficou ainda mais tensa. O que estava fazendo ali? Como? Viu-o voltar à sua expressão serena e observou a janela entreaberta. – Ele está demorando. – Comentou sem paciência.

— Ele? – Disse a morena receosa, arregalando os olhos. Ele quem?, pensou entrementes. Seu corpo enrijeceu ao notar que um vulto frio passara por suas costas, sentiu a respiração pesar e fechou os olhos pronta para gritar, porém sua voz não saiu.

Por um momento sua vida se congelou. Pensou em rezar, chorar, mas não conseguia simplesmente raciocinar em nada. O que estava acontecendo, afinal? Quem ou o que era aquele que estava a sua frente? Tudo parecia um sonho maluco, mas com todas as sensações angustiantes sendo sentidas com um realismo fatal. Um sonho lúcido... Nunca tivera um. Ou já? Não se lembrava. Tentou gritar, pedir socorro, mas algo havia tirado a voz de si. Abriu os olhos apavorada. Seu olhar pousou na silhueta nova que havia presente no quarto e seu medo apenas se duplicou.

— Não ouse fazer escândalo. – A voz grave e impetuosa parecia cortar-lhe a alma enquanto sabia que se dirigia a ela, mesmo que não a olhasse. – Castiel, é ela? – Perguntou indiferente.

A garota ousou encará-lo. Era alto, pálido, com cabelos negros que chegavam aos ombros, charmosamente desarrumados. Seu rosto era másculo e amedrontador, porém com traços angulosos e delicados, uma combinação perfeita. Mas seus olhos... Eram indescritíveis. Verdes, frios, angustiantes, insensíveis, apáticos. Se assemelhavam a uma esmeralda, um gramado perfeitamente aparado, uma floresta densa e fácil de se perder. Hipnotizou-se de tal forma que não pode contar o tempo em que ficou o admirando, estática. Só voltou a si quando ouviu a voz do ruivo, que até então se mantinha em silêncio, totalmente torpe em relação ao que acontecia a seu redor.

— Sim, sim, é Jane. – Castiel a fitou com o mesmo olhar intrigado de antes. – Ela tem uma risada exagerada, por coisas totalmente sem graça.  – Disse ele lentamente se voltando ao moreno.

A expressão de Jane passou de desespero à confusão. Ficou sem jeito com o comentário, e por algum motivo abaixou a cabeça dando um sorriso ao se lembrar de quando o encontrou no banco de mármore. Ele pareceu uma criança descobrindo o mundo. Agora descobrira que provavelmente era um monstro ou um alienígena.

— Hm. – Respondeu o outro simplesmente, e a encarou mais uma vez sem lhe direcionar mais uma palavra sequer. Em um movimento que ela não pode seguir com os olhos, sentiu novamente o vento frio passar por suas costas e quando notou, ele tinha desaparecido completamente do lugar.

Sentiu-se maluca. Só podia estar sonhando. E era um sonho maluco, totalmente maluco. Talvez fossem as ervas medicinais que sua tia a mandava e praticamente a obrigava a tomar. Respirou fundo tentando colocar sua cabeça em ordem e pensar que tudo aquilo era somente uma brincadeira, e sua respiração vacilou ao notar que Castiel a olhava.

— Ele sempre deixa as partes mais complicadas para mim, ele é muito chato. De verdade. – O ruivo comentou, e ela somente o analisava. – Me desculpe por isso, não me odeie. Juro que não era minha intenção te assustar. – Suas palavras pareciam tão verdadeiras que por um segundo sentiu pena, embora quisesse correr dali o mais rápido que pudesse.

— Mas me assustou, e eu desculpo você com a condição de me explicar o que está acontecendo, que tal? – A morena quase soluçava, e algumas lágrimas caíram pelo seu rosto. Talvez se fosse gentil ele tivesse piedade dela, seja lá o que planejasse fazer. Nunca tinha ficado tão em pânico como estava naquele momento, e o medo das “partes complicadas” fez seu corpo tremular.

Surpreendeu-se quando ele começou a se aproximar vagarosamente parecendo não querer assustá-la ainda mais, de maneira muito delicada. Quando estava relativamente próximo, o suficiente para tocá-la, estendeu novamente o dedo indicador tocando-lhe a testa, fazendo-a cerrar os olhos com força, e em seguida amenizar a expressão. Havia a feito dormir.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Qualquer erro, avisem, por favor. E não se esqueçam de deixar sua opinião: aqui ela importa muito!

Até o próximo, pessoal ♥



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