Não me acorde agora. escrita por Warden Dresden


Capítulo 1
Não me tire de meus devaneios.


Notas iniciais do capítulo

Bem, é meu primeiro yaoi original e tenho de agradecer as pessoinhas do Panelinha da Limonada que me inspiraram indiretamente a escrever essa coisinha.
Espero que gostem!



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Se você for louco como eu, venha.

Louco. Louco. Louco. Repetia mentalmente Jayme até a exaustão, nada fazia tanto sentido agora, na verdade, tudo era um mero borrão sem direção ou qualquer nexo, era apenas fumaça de cigarro no vento e a euforia de um mais um copo de um uísque qualquer. Então ria, gargalhava por ver quão na merda estava, tudo por um garoto maldito que gostava ainda mais de cigarros – melhor se fossem de maconha – e bebida do que ele mesmo.

Oh sim, estava completamente, estupidamente e ridiculamente apaixonado por Luke. Os fios negros que caíam desgrenhados por cima dos olhos castanhos, os hematomas que acompanhavam as noites onde saíam para beber e o corpo tóxico eram ímãs de sua atenção e, de forma tão trágica quanto clichê, ele nem sabia dos efeitos que causava em Jayme, não fazia ideia de que era a nicotina do menino de família grande, antiga e rica para caralho.

Mas ficaram amigos, era uma tarde de 29 de janeiro de 1973 e os dois pareciam muito iguais: olheiras fundas, um cigarro entre os lábios cortados pelo frio e a sensação de que o mundo estava fazendo merda – isso era gritado nas palavras ditas de modo exausto e revoltado, oh sim, meninos idênticos apenas existindo em um universo tão estúpido quanto eles mesmos.

Os dois estavam afundando – fosse Jayme com sua família que se preocupava cada vez mais com sua falta de objetivo ou Luke com sua mãe desequilibrada pelas mortes de seus filhos mais velhos e sua irmã quase tão largada no mundo quanto ele – e afundando. Nem sequer tentavam nadar para cima, mas, ainda assim, encontravam forças para nadar mais fundo, apenas para poder alcançar quem estivesse mais destroçado. E seguiam daquela forma, cigarros deixados pela metade porque esqueciam de fuma-los, afinal, estavam conversando e o outro parecia ser milhares de vezes mais interessante.

O primeiro beijo foi compartilhado por curiosidade; os lábios de Luke teriam gosto de cigarro e vodca? Jayme seria tão arrogante e maníaco por controle quanto parecia ser? Esses pobres garotos acabaram descobrindo mais um vício e logo não havia mais como explicar, contudo, não se importavam muito com isso. Eram Jayme e Luke, inconsequentes demais para tal ato.

— Que merda nós fizemos? – Jayme parecia a ponto de ter um ataque.

—Nos beijamos. – Luke parecia calmo, seu amigo invejava isso.

— Isso nunca aconteceu, certo? – Proferiu Jayme tentando não soar tão desesperado.

— Teremos essa conversa quando transarmos. – E Luke terminou aquela conversa.

A primeira transa estava enevoada na mente de ambos, o motivo? Estavam bêbados e Jayme queria esquecer a namorada vadia que havia terminado com ele no dia anterior, ela dizia que não iria namora-lo sabendo que tudo que queria era ficar com aquele filho da puta. Luke não sabia se gargalhava ou agradecia, todavia, podia finalmente descobrir como seu querido amigo ficava quando não tinha o controle. E era uma cena que queria repetir diversas e diversas vezes, mais um vício.

As pessoas os encaravam com desprezo ao vê-los dividindo o mesmo cigarro, mal sabiam elas que, quando possível, estavam transando em um motel qualquer ou nos apartamentos minúsculos. Não volte agora, dizia um deles e o outro perguntava o motivo, seu cubículo fica longe e você está drogado, completava sorridente, agora, quem falava isso? Dependia de onde estavam, era só uma desculpa e, mesmo antes de terminarem a garrafa que abriram, já se beijavam desejando que o mundo sumisse por alguns minutos.

Revolucionavam eles mesmos todos os dias. Faziam com que se perdessem por entre um dia nublado, camadas de cobertores e um vinho barato comprado em uma padaria e bebido do gargalo. E pensar que tudo havia começado com um pedido inusitado e respostas que poderiam ou não ser rudes no meio de uma estação imunda e vazia de metrô em um dia gelado demais para ser considerado normal mesmo naquele lugarzinho do extremo Norte.

— Eu sou Luke, pode me dar um cigarro?

— Jayme. É bom ver que alguém está tão na merda quanto eu.

— Digo o mesmo, mas e aí, vai dar logo isso ou não?

— Espero que aprecie meu hálito de álcool, porque esse é o último.

Eram assim, párias sociais que não mediam as palavras, escórias das próprias famílias, afinal, os irmãos de Jayme eram as pessoas mais perfeitas que existiam – ou não, mas esse segredo ele guardava, eles nunca disseram para onde ele ia quase todas as noites, era uma troca justa – e a irmã de Luke era a única que permanecia com a mãe amargurada, contudo, estavam bem sendo o que eram, no sentido mais supérfluo que a palavra bem possa ter.

Estamos revolucionando a nós mesmos, pensou Jayme com certa diversão, e eu estou apaixonado por Luke, isso até pode se tornar um romance barato. Terminou seu cigarro e abriu a porta de seu apartamento, talvez dormisse um pouco e depois saísse para beber algo que não fosse cerveja com gosto de gasolina, nem iria prometer parar e começar a faculdade no semestre seguinte, já desistira daquilo, não podia fazer, não enquanto ele estivesse o esperando em um bar de esquina. Não faça promessas, era o que Luke dizia e Jayme só podia pensar em quanto aquilo era verdade.


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Notas finais do capítulo

Eu peço que deixem alguns comentários, isso me alegra demais.
Me avisem sobre algum erro ortográfico ou coisas do gênero para que eu corrija, não tenham medo de criticar, mas não precisa chegar na voadora com os dois pés.
Abraços,
Bastarda de Ned Stark.