Sempre fora fraco para qualquer tipo de droga, facilmente suscetível a vícios por menores e mais tolos que estes fossem, autocontrole era algo que sempre lhe fugia em momentos assim. Apenas um gole de álcool, uma tragada em qualquer droga lícita ou ilícita e até mesmo uma xicara de café já era o suficiente para que ficasse zonzo e perdesse o controle de si mesmo ao mesmo tempo em que um novo vício era adicionado a sua já enorme lista.

Tal fraqueza fora descoberta desde cedo nas festas que havia começado a frequentar em sua adolescência conturbada. Durante a noite, virava copos e mais copos cheios de bebidas alcoólicas misturadas, tragava um cigarro atrás do outro, tudo isso sendo oferecido por pessoas que sequer conhecia. Na manhã seguinte, acordaria com uma enorme enxaqueca, em algum lugar desconhecido e se tivesse sorte ainda estaria com as roupas do corpo.

Depois de se meter em algumas situações que acabaram se tornando mais complicadas do que pudesse prever passou a abster-se ao máximo possível de ter contato com tais substâncias. Mas já havia se tornado a sua sina, estar sob o forte cheiro de alguma dessas drogas havia se tornado o suficiente para lhe deixar inquieto e tirar-lhe dos eixos, as recaídas ainda eram muito frequentes e costumava isolar-se para que fosse o único a presenciar seu estado deplorável enquanto se entorpecia de uma substância qualquer.

No entanto apenas precisou que um novo e mais forte vício surgisse para que todos os outros acabassem se eliminando pro si só... Esse vício surgiu, seu trabalho se tornou um vício. Ocupava-se tanto com informações recebidas e passadas adiante que sequer tinha tempo para pensar em outro tipo de droga que não fosse a cafeína para manter-se acordado noites a fio em função daquela tarefa.

Para complementar seu vício no trabalho, também descobriu em si outro vício, um que já possuía há mais tempo, no entanto nunca havia o encarado como tal... Vício em humanos e suas reações, havia se tornado fissurado em observá-los, em tê-los na palma de suas mãos, em brincar com suas existências. Acreditava a principio ser apenas amor, bom e de fato era, mas também estava viciado nesse sentimento.

Atribuiu-se o vício pelo controle, queria dominar a todos, ter todos se curvando aos seus pés e o reconhecendo como seu verdadeiro Deus. E conseguiria isso se não fosse por aquela certa criatura não humana que não permitia ser prevista, não permitia ser dominada por ele, não permitia que Izaya brincasse com a sua existência. Tinha asco daquela existência, mas ainda o buscava sempre que podia, sempre com táticas novas para tenta-lo fazer ruir, mas nunca conseguia, retornava para o seu apartamento frustrado internamente, mas ainda assim sempre pronto para bolar um novo método de abordagem.

E antes que sequer pudesse notar, aquela criatura também havia se tornado o seu mais novo vício. O vício que o fez largar todos os anteriores, que tornava o seu trabalho desleixado, que havia substituído o café na tarefa de lhe deixar animado, que o fazia ignorar seu amor pelos humanos e seu desejo de dominar qualquer outra coisa que não fosse a sua existência. Ele odiou aquele vício tanto quanto odiou aquela criatura, mas quanto mais odiava mais preso estava naquela teia, quanto mais odiava, mais queria odiar e mais preso naquela teia queria estar.

Dentro de uma viela qualquer, aquela havia sido mais uma de suas falhas tentativas de tentar encontrar o modo de controla-lo, mas que dessa vez acabou resultado no seu reencontro com um antigo vício seu que lhe era reapresentado de forma nova e bastante curiosa. Cigarros foram sua grande queda na adolescência, aquilo que mais o fez mal e que o deixou a beira de overdoses e internações devido a mistura que eventualmente fazia com outros tipos de drogas. Jurou a si mesmo que jamais sucumbiria a nicotina novamente.

No entanto, nos lábios de certo monstro, ela parecia ser bem menos inofensiva.