Einar, o Terror Violeta escrita por KennyTTH


Capítulo 1
Prólogo




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O convés estava escuro e balançando, era a terceira tempestade do dia, com as rações quase no fim, devido a longa viagem, a tripulação parecia cansada e desesperançosa.

— Vamos, vistam logo seus uniformes! Estamos quase chegando. - disse o capitão do navio, enquanto escancarava a porta do convés. - Deixem de moleza, se algum de vocês não estiver pronto quando chegarmos, não sairá deste navio! - E com passos largos e apressados voltou a cuidar de seus afazeres.

— Finalmente, não estava mais aguentando essa maldita viagem - comentou uma voz ao lado, virando o rosto Einar notou, tratava-se de um dos tripulantes que mais causou alvoroço durante a trajetória. Uma hora reclamava do conforto, noutra da quantidade de ração diária recebida. Seu nome era Wilem... ou seria Wylam?

— Ei, está animado, Einar? - perguntou Lynn, com brilho no olhar e um largo sorriso. Apesar de a ter conhecido durante a viagem, já estava afeiçoado a seu jeito, e para não desanimá-la, odiaria fazer isso, respondeu, da melhor maneira que pôde:

— Você sabe que sim.

— Ora, vamos, a viagem está sendo difícil, mas valerá a pena quando chegarmos!

— É, você tem razão…

E um longo silêncio persistiu entre ambos pelo resto da viagem, apesar do convés ter ficado barulhento com as conversas e murmúrios dos demais tripulantes. Foram desajeitadamente colocando o uniforme de aprendiz, devido ao balanço, muito vezes precisaram se apoiar na parede do convés.

Quando chegaram ao seu destino, foram ao deck principal e depararam com os marinheiros organizando uma fila, encaminhando os novos aprendizes na direção de uma figura feminina, provavelmente alguém para dar as boas vindas e receber os recém-chegados. Entre bocejos e resmungos, aguardaram, aproveitando o fato de finalmente estarem em terra firme para se alongarem.

— Olá, meu nome é Sprakki, e sou a encarregada de dar a você as instruções gerais antes de se acomodar no castelo. - Ela parecia aborrecida e apressada, talvez pela quantidade de pessoas as quais prestou informações, talvez pelo fato de Einar estar distraído quando chegou sua vez. - Muito bem, você está devidamente uniformizado, vê aquela ponte a leste? - Continuou. - Lá está o castelo, será sua casa nos próximos dias, além de seu novo campo de treinamento. Aproveite essa oportunidade. Além disso, devo alertá-lo, você passará a conviver com várias pessoas, de culturas e costumes diversos, não toleramos comportamentos prejudiciais ao convívio dentro do castelo. Podemos prosseguir ou você tem alguma pergunta?

— Podemos prosseguir.

— Ótimo, estarei esperando você e os demais do outro lado da ponte.

Enquanto dirigia-se ao castelo, com os demais, não pôde deixar de notar a vista incrível proporcionada por aquela região, combinada com a imagem imponente do castelo, era de tirar o folego. Difícil pensar naquele lugar como sua segunda casa, como queria Sprakki. Sempre viveu viajando de um lugar a outro, junto ao grupo de mercenários que o adotou. Não conseguiu encontrar, nem em suas memórias mais distantes, a lembrança de um lar diferente de um amontoado de tendas, terra batida e rústicas fogueiras cercadas de pedras para evitar um incêndio no acampamento.

Alguns metros adiante, depois de ter atravessado a ponte, não encontrou Sprakki em lugar algum. Os outros aprendizes também estavam olhando em volta, impacientes. Resolveu perguntar aos guardas posicionados em frente aos portões, a alguns metros de distância.

— Com licen…

— Para dentro do castelo, novato! - Disse o guarda, sem esperar pelo resto da fala. E com a mesma velocidade da resposta, o guarda mostrou uma enorme carranca. Era melhor não discutir, aquela não era uma disputa da qual sairia vitorioso, sendo assim acenou para os demais e foram todos para dentro do castelo.

— Ótimo, devem estar todos aqui. - Disse Sprakki, em pé, no final do corredor.

— Pensei que ia nos esperar do outro lado da ponte! - Resmungou algum dos aprendizes presentes.

— Eu estava cuidando de alguns preparativos, mas, se chegaram até aqui, ficar cinco minutos longe da minha presença não os matará, ou estou enganada? - Não esperou por qualquer tipo de resposta e continuou - Vocês serão encaminhados ao centro de treinamento, onde aprenderão o básico sobre combates e as futuras guildas, às quais poderão se juntar. Mas antes de tudo, mostrarei a vocês o alojamento.

Enquanto caminhavam, seguindo Sprakki, todos ficaram atordoados com a beleza do castelo. Quadros dos mais variados, estantes abarrotadas de livros, e armaduras reluzindo à luz das velas dos candelabros, decoravam seu interior.

Algumas portas se passaram e, por fim, Sprakki abriu uma à sua direita, dando visão a um grande alojamento, suficientemente grande para cem pessoas. Ela deu sinal para entrarem e assim fizeram. Enquanto escolhiam seus lugares e colocavam suas bagagens perto das camas, ela avisou:

— Certo. Descansem, pois dentro de duas horas o instrutor Brade estará no salão principal para dar inicio ao treinamento de vocês. Para quem tem fome, dentro de quinze minutos as criadas trarão comida. Se quiserem podem se lavar também, basta pedirem, elas indicarão o caminho e levarão um balde de água quente.

Deixando o local, Sprakki se afastou, seus passos foram ecoando pelo corredor, o som foi gradativamente diminuindo até sumir por completo.

Olhando ao redor, o local parecia ainda maior quando entraram. O fato de não terem ocupado nem metade das camas disponíveis somado com teto abobadado, tornava o ambiente ainda mais amplo. Desviou o olhar para sua amiga e notou seus olhos levemente marejados, suas mãos apertavam com força o colchão sobre o qual estava sentada, clareando os nós dos dedos.

— Pensei que estaria mais empolgada, Lynn. O que há com você? - perguntou Einar, levantando uma de suas sobrancelhas. Após um breve momento ela respondeu, engasgando-se nas palavras:

— Bom... eu estava pensando... Claro, esse lugar é fantástico, mas...

— Desembucha de uma vez. – disse Einar em tom brincalhão para afastar aquela melancolia. Lynn continuou, dessa vez um pouco mais animada:

— Você sabe. No final do treinamento, devemos escolher a guilda à qual iremos nos juntar, isso significa que vamos nos separar...

— Hmmm... Não veja como algo permanente, é apenas temporário. Quando terminarmos nosso treinamento e integrarmos uma das guildas, poderemos nos rever. - disse em tom paternal e reconfortante - A não ser...

— A não ser o quê? - Perguntou, numa mistura de preocupação e desconfiança.

— A não ser que nossas futuras guildas tenham algum tipo de desentendimento. – completou com um sorriso jocoso e sua mão direita bagunçou o cabelo de Lynn.

Afastando a mão de Einar e com um indicio de sorriso no rosto disse - É, você tem razão, estou sendo dramática. - Parou por alguns segundos, olhando para o teto e continuou, com olhar pensativo. - Pensando bem... Você ainda não me contou sobre seus sonhos, suas pretensões... sempre que eu tento falar sobre isso você muda de assunto. - Disse olhando carrancuda para ele.

— Não me entenda mal, Lynn. Eu admirava você falando sobre suas ambições e sonhos, o desejo de provar aos outros que o fato de você ser uma mulher não a limita, mas... não tenho nenhuma ambição como essa, nenhum sonho nobre ou coisa parecida. Nem mesmo eu sei o motivo de estar aqui, e como não tinha mais nada a acrescentar nesse tipo de assunto, falava sobre outra coisa qualquer.

Olhando ao redor, para nenhum ponto em específico, continuou - Desde pequeno aprendi a empunhar uma espada, era lutar ou morrer. Um acampamento mercenário sempre pode ser atacado e, além disso, quem não contribuía para o sucesso do grupo, não tinha direito a desfrutar seus pertences, incluindo a comida. Não estou reclamando, veja bem, sempre foi assim. O mais perto que eu chegava perto de um lugar como esse aqui, era quando me enviavam para informar a algum ricaço a respeito a tarefa cumprida. Então, depois de algum tempo vivendo com eles, juntei zenys o suficiente para comprar uma passagem para essa ilha e me inscrever no programa de treinamento de aprendizes. Se eu fosse tentar explicar o motivo de estar aqui...

Parou por um momento e seguiu dizendo. - Bem, a oportunidade para mudar de vida de fato me atraiu. Contudo... não foi apenas isso... conseguir algo melhor do que lutar por algumas migalhas, empunhar minha espada por algo que faça sentido... Só não sei o que é ainda. Talvez seja isso... ou talvez eu apenas esteja buscando respostas para perguntas que ainda não sei que existem...

Antes de Lynn ter oportunidade para dizer mais alguma coisa, as criadas entraram com bandejas cheias de coxas de peco-peco grelhadas, purê de cenoura, suco de maçã e outras especiarias, o cheiro da comida quente e fresca se espalhou pelo ambiente. Colocaram tudo na mesa, localizada no centro do alojamento, atenderam os pedidos por baldes de água quente, indicaram o caminho até os banheiros e disseram não saber onde Sprakki se metera ou se iria com eles até o instrutor Brade.

Entre o som de conversas, risadas e de talheres raspando a superfície dos pratos, aguardaram, até que, horas depois, Sprakki reapareceu com uma cara mal humorada perguntando:

— Por quê não estão no salão principal? Estão atrasados! Venham, venham rápido.

O grupo foi andando rápido pelo castelo. Após atravessar corredores e descer algumas escadarias, chegaram ao salão principal. Era retangular, com algumas estantes espalhadas e alguns candelabros no teto, sem falar nas longas mesas perto da parede do fundo. Parecia a parte mais simples do castelo, mas não carecia de beleza. As pedras da parede foram perfeitamente entalhadas, os candelabros eram de ouro puro e os livros eram dos mais raros e caros. Perto da mesa central do salão havia um homem de cabelos longos, equipado com uma armadura de placas de aço, uma capa roxa e, em seu peito, havia uma cinta branca extremamente larga, cobrindo quase todo seu tórax, ela prendia, em suas costas, uma espada colossal. Como um homem poderia empunhar aquilo?

Ao se aproximarem, o homem disse, sem cerimônias:

— Ótimo. Todos presentes. Eu sou o Instrutor Brade. - falava pausadamente enquanto jogava uma moeda para o alto e a apanhava, repetidas vezes. - Em primeiro lugar, vou falar sobre a experiência que cada um carrega dentro de si. Quando realizamos qualquer tipo de atividade, como caçar ou duelar, aprendemos muito sobre aquele assunto. Aprendemos com nossos acertos e, principalmente, com nossos erros. - Olhava em volta, de forma autoritária, verificando se estavam todos prestando atenção em suas palavras. - Com esse novo conhecimento vamos aprimorando a nós mesmos e nos tornando melhores naquilo que fazemos.

Existia uma certa tensão no ar, e todos tinham ciência dela. Após Brade terminar de falar, um silêncio persistiu por um breve momento, e então ele suspirou e disse:

— Eu vou falar rudemente. Não consigo me acostumar com o fato de ser delicado, entendem? - disse carrancudo - Não me olhem assim. Deixem-me continuar. O segundo assunto é sobre seus itens e equipamentos. Peguem esses aqui. - E distribuiu entre os presentes poções, mantos, novos calçados, cintas e túnicas, até mesmo um capacete feito de casca de ovo, que alguns pensaram ser algum tipo de brincadeira e não usaram. - Esses equipamentos… - e continuou falando e explicando, enquanto Einar se distraia. Achou tudo aquilo muito básico, muito elementar. Quem não sabia usar uma poção ou vestir um manto? Quem não sabia a serventia de tais objetos? De repente alguém o chacoalhou pelo ombro e disse:

— Ei, Einar, vamos?

Olhando ao redor, percebeu a ausência da voz de Brade, ele havia terminado de falar, e todos os outros aprendizes se dirigiam a outro lugar, voltando-se para Lynn respondeu:

— Vamos? Para onde?

— Ver Jinha, o instrutor... vai nos ensinar os primeiros socorros... - Disse pausadamente enquanto levantava as sobrancelhas. - Você não estava prestando atenção? Francamente... Essa será nossa atividade por hoje. Venha.

Então o dia se seguiu, com horas de suturação, limpeza de cortes superficiais e outras técnicas. No final da aula, dirigiram-se para o alojamento e se prepararam para dormir. Einar, apesar de tudo, estava pensando se fizera a escolha certa ao se tornar aprendiz. Talvez aquilo tudo fosse apenas uma grande enrolação para arrecadar fundos ao reino ou ele teria apenas superestimado o lugar, afinal, não aprendeu nada de novo naquele dia. Com esses pensamentos em mente, mergulhou em um sono profundo.


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