Terceirão escrita por Deimos Ass


Capítulo 1
Vai terceirão!


Notas iniciais do capítulo

Fica aqui o alívio cômico pros coitados que vão zerar a tabela. Boa sorte aí gentes.

Notas para os leitores de Portugal: decidi fazer um pequeno glossário falando como funciona o sistema de educação aqui no Brasil pra quem não conhece o/

Crianças muito pequenas não podem ir à escola. As crianças começam a estudar a partir dos seis anos, entrando no primeiro ano do ensino fundamental.
Primeiro ano >> Nono ano - Ensino fundamental
Primeiro colegial - Primeiro ano do ensino médio, antepenúltimo ano antes da faculdade
Segundo colegial - Penúltimo ano antes da faculdade
Terceiro colegial - Último ano antes da faculdade, o ano da formatura. É chamado também de "terceirão".


Boa leitura ♥



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 — O momento que vocês acabaram de vivenciar é uma passagem única na vida de vocês. E este ano foi maravilhoso, vocês são uma classe muito carismática e bem-humorada. — a Diretora Gabriela falava no microfone, olhando com carinho para todos os alunos do terceiro colegial no palco, todos já tinham seus diplomas em mãos. Seus olhos estavam marejados e a voz estava embargada. Precisava olhar para a plateia, mas não conseguia parar de olhar para a classe. — Meus parabéns a todos os formandos de 2016 do Colégio Marechal Jânio Limão. Espero que o futuro de vocês seja luminoso, e aproveitem muito bem esta noite.

Nisso, todos os alunos jogaram seus capelos para cima e o auditório inteiro vibrou. Gritos e aplausos para todos os lados, as pessoas se abraçavam e choravam, berravam os nomes dos colegas. De um momento para o outro, todo o auditório começou a cantar em coro “vai terceirão”, e isso se estendeu por longos momentos de felicidade.

Hugo estava muito animado com a festa e com seus alunos, ele havia subido no palco junto com os outros professores para abraçá-los e comemorar com eles. O professor de Biologia II do ensino médio, o mais querido pela turma.

Ele estava ansioso para apresentar seu marido e sua filha para seus alunos. E eles estavam com uma expectativa muito grande. Hugo falava dos dois o tempo todo. A turma tinha até um truque se quisessem fazê-lo gastar tempo na aula. Bastava perguntar do Noah ou da Lana. O professor era completamente apaixonado pelos dois.

 Depois da cerimônia, ainda haveria uma festa com tema natalino. Todos os alunos da escola estariam lá, inclusive as criancinhas pequenas, colegas da Lana.

Estava sendo uma festa muito grande para Hugo. Ele se divertia como não se divertia há muito. Era o fim de seu primeiro ano ensinando na Jânio Limão. O primeiro de muitos, assim esperava. Interagiu muito com todos os seus alunos, e fez muita festa com os do terceirão.

Percebeu também que Lana se divertia muito. Ela brincava com as outras crianças de pega-pega pelo salão de festas, e hora ou outra roubava docinhos da mesa de comida.

Mas parece que Noah não estava aproveitando muito bem a noite…

Depois de chegar à escola e entrar no auditório, os dois tiveram uma discussão feia com uma professora que dizia que eles eram uma vergonha para a família tradicional brasileira, uma tal de Priscila. Dizia que tinha pena da “pobre Lana” que era submetida a esse tipo de humilhação pública. A pequenininha não entendeu, mas teve consciência de que ela gritou e foi grossa com seus pais.

Após um longo momento de irritação, Noah só queria voltar para casa e assistir Netflix. Não sabia como conseguiria aguentar mais uma noite inteira no meio daquela música alta e adolescentes completamente loucos.

 — Meu bem, que cara é essa? — Hugo perguntou docemente para Noah. Ele fez questão de interromper o consagrado ato de dançar Mamonas Assassinas com os formandos apenas para dar atenção ao seu marido.

Noah olhou nos olhos de Hugo. Os olhos escuros e intensos que eram tão carinhosos com ele. Ele soltou um longo suspiro e disse num tom exausto:

 — Não acho que vou sobreviver muito tempo aqui.

E Hugo riu. Não era a reação que Noah esperava. Estou falando sério, desgraçado, ele pensou irritado, vendo o marido rir e levar aquilo na esportiva. Ele queria realmente voltar para casa.

 — Então vamos te apresentar para o pessoal do terceirão e depois disso vamos pra casa, okay? — lhe roubou um beijinho de esquimó, o que já conseguiu arrancar um sorriso meigo daquela expressão tão entediada. Era aquele sorriso que Hugo queria ver naquela celebração.

E do que seria apenas uma apresentação, desenvolveu-se toda uma conversa animada e divertida. Noah se soltou, contou histórias e riu com eles. Como se a confusão de antes nunca tivesse existido. Talvez um pouco de incentivo e um beijinho de esquimó roubado tivesse ajudado a superar, afinal.

Era quase como quando se conheceram no colegial, na festa de aniversário do Noah. Quando os dois beberam pela primeira vez. O primeiro beijo teve um gosto doce, e o segundo já teve gosto de caipirinha.

Poderiam passar a noite toda ali. Ouvindo dos alunos do terceirão sobre como eles eram fofos juntos, e conversando sobre diversos assuntos interessantes. Trocando olhares apaixonados que os faziam parecer mais um casal de adolescentes, e dançando Mamonas Assassinas. Poderiam passar a noite toda ali.

Mas um pequeno fenômeno os fez ter que voltar mais cedo para casa.

 — Papai! Papai! — Lana se aproximou correndo e puxou Hugo pela calça.

A menininha quase chorava. Segurava uma guirlanda em mãos. Era uma das guirlandas artesanais que os alunos do segundo colegial fizeram. Bem delicada e romântica, era feita com algodões de unha e guizos de natal.

 — O que houve, docinho? — se ajoelhou em frente a ela e perguntou preocupado. Mais uma vez interrompeu as celebrações para dar atenção à outra pessoa que amava muito.

 — Caíram dois sininhos. — ela fez um bico, mostrando na outra mão os guizos que despencaram da guirlanda.

 — Que pena, meu amor… Vamos colar em casa, okay? — Noah acariciou gentilmente os cabelos da filha. — Como eles caíram, Lana? — ele perguntou curioso. Afinal, parecia que tinham sido muito caprichosos, os guizos deveriam estar no mínimo bem presos à guirlanda.

A resposta então veio. E Lana respondeu com a inocência de um anjinho, ainda chorosa e magoada com o enfeite estragado.

 — Caiu quando que eu joguei no pé da prô Priscila.


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