Enquanto Rin dormia profundamente não podia deixar de admirar seus traços elegantes, difícil imaginar que ela era uma garota do campo. Ela lhe lembrava uma princesa, não fosse seu gênio terrível, Rin era indomável e voluntariosa se colocava algo na cabeça não sossegava enquanto não conseguia e Deus, como ele era determinada.

Foi difícil convencê-la a ficar junto à velha Kaede na aldeia dos humanos, mal ela podia imaginar o quanto foi difícil para ele próprio, na verdade, nem mesmo Seshoumaru admitia isso. Tocou seu rosto e viu suas sobrancelhas de salgueiro se contraírem, suas temperaturas eram diferentes Rin era tão quente ao toque. Seshoumaru se sobressaltou quando, ainda de olhos fechados, a menina moveu sua própria mão e a pousou sobre a mão do youkai, soltou um suspiro breve e um vago sorriso pousava nos lábios.

Seshoumaru não conhecia ninguém tão ousado como Rin, ela abriu os olhos e olhou diretamente para ele e, como que guiada por uma voz invisível, se arrastou para mais perto dele andando sob as mãos e joelhos. Parou há centímetros de seu rosto, ele podia sentir sua respiração, ela continuou a se aproximar seu rosto tocou o dele e ela alcançou seu ouvido, seus lábios pousaram sobre o lóbulo e pressionavam contra o local, ora suspirando, ora beijando, abria os lábios e explorava a lateral de sua cabeça, suas mãos se enterravam sobre os longos cabelos prateados. Seshoumaru continuava paralisado de surpresa e atônito com os olhos selvagens da menina, nunca havia visto nada igual, Rin parecia uma feiticeira e somente com o olhar o hipnotizava.

Rin sentou-se sobre suas pernas de forma a ficar de frente para o youkai, depois de tanto tempo se controlando e medindo suas ações, principalmente perto da menina, o youkai que foi criado para ser um príncipe, um líder, que ouviu de sua mãe que nunca deveria ser fraco ou ceder a qualquer um, muito menos a um humano – a desgraça que levou seu pai à sua humilhante morte – ali estava ele, entregue nas mãos daquela pequena feiticeira e naquele momento Seshoumaru pertencia à Rin e ela sabia.

Rin tomou seus braços e o colocou ao redor de sua própria cintura, fechando-os como um círculo. Se inclinou e lhe deu um beijo leve de início que se intensificou mais e mais até que sem perceber, como um animal faminto Seshoumaru pressionava suas garras tão forte sobre os braços da menina que sentiu seu fôlego expirando sobre sua boca, de repente a soltou sobressaltado.

— Rin?

A menina estava com os olhos semicerrados perdidos, seu corpo estava amolecido e então Seshoumaru entrou em pânico, era fácil esquecer que Rin era tão frágil, mas então ela sussurrou

— Não pare..

O youkai parecia ter ganho vida novamente, era isso que Rin representava para ele a pequena chama que o fazia se sentir inteiro e vivo. Era o que o impulsionava a ir, mas também a sempre voltar, mas não queria mais ir pra longe, agora sabia, seu lugar era ao lado dela. Rin foi feita e esculpida perfeitamente para ele, era corajosa e ousada, bela e generosa, era tudo que ele jamais seria, tudo que ele jamais teve.

Por um breve momento, tão rápido que ela não poderia notar Seshoumaru a puxou para si e a abraçou tão forte que pensou que poderia tê-la quebrado de verdade e ela se entregava como se já soubesse que tudo aquilo iria acontecer, como se já soubesse tudo que iria acontecer no mundo, como se a vida lhe soprasse segredos, essa bruxinha. Seshoumaru a soltou e se levantou.

— Vamos Rin!

Seshoumaru a olhou de cima e Rin estava rindo e chorando ao mesmo tempo, dava gargalhadas enquanto o fluxo de lágrimas caía sem descanso. Então a menina correu e se jogou sobre o seu pescoço, ficando a centímetro do chão. Seshoumaru ficou desconcertado por um segundo, mas por dentro seu coração parecia ter batido pela primeira vez.

Os dois montaram sobre A-Um e saíram voando pelo céu estrelado.

As cigarras cantavam naquela noite quente de verão e as flores se curvavam sob o vento da noite. As moscas pousavam sob o lago fazendo círculos crescentes sobre a água e a lua ao fundo era esquecida quando um demônio e um anjo mergulhavam no véu negro da noite, envolvendo tudo com amor e redenção.