Rowan conhecia aquele castelo com a palma da mão, afinal crescera ali dentro, acompanhando até mesmo as historias das pessoas que viviam ali.

Algumas tropas foram direcionadas pelas passagens secretas, pra Rowan era óbvio que eles estavam lá dentro, tranquilamente atacavam pelos portais entre os dois mundos e voltavam, não existia hora melhor que a noite, na calada, muitas pessoas marchavam desajeitadas pelas ruas da cidade.

Cal levara as pessoas pelas passagens secretas, eles tinham estabelecido um sinal para que Rowan soubesse quando poderia irromper pelo castelo, ele pedira discretamente pra que Cal deixasse seu pai e seu irmão vivos, separadamente.

James estava ao seu lado observando, em silêncio, o castelo era tão alto que suas torres escondiam o céu de sua visão, nos olhos do menino um vislumbre de luz do luar pairou, a lua estava bem antes do topo do céu, por trás de suas cabeças, ela refletia para que pudessem ver o caminho.

Quando os portões do castelo começaram a se abrir, Rowan temeu por alguns segundos, antes de ver Cal saindo pela porta, ele e mais uns homens empurraram a porta ate estar aberta o suficiente para passarem.

O jovem príncipe começou a galopar em direção ao castelo e os outros o seguiram, ele desceu do cavalo assim que passara da porta, tinha ordenado para todos que não derramassem sangue, somente se eles atacassem para matar, Rowan falou que cada um merecia uma redenção, ele torcia para que todos se rendessem.

Ele ordenou as pessoas por dentro do local, enquanto ele seguia ate o salão principal, seguido de James e Cal, quando escutaram gritos vindo da esquerda, os soldados estavam acordados agora, e prontos para lutar.

— Você vai para lá – Rowan ordenou para Cal apontando para o lugar de onde saiam os gritos estridentes.

Ele encarou James e o moreno apenas assentiu entendendo o recado, todos estavam se espalhando, James foi a frente de Rowan, abrindo a porta.

Um grito feminino se fez ouvido de outro lado, Rowan fitou as paredes alertado, dessa vez não sabia de onde o som veio, eles estavam depois do pátio. Rowan se virou novamente e prendeu a respiração quando percebeu a cena, James tinha uma faca pressionada contra seu pescoço, segurada pelo irmão que o imobilizava, Rowan lançou um olhar afiado para o irmão.

— Demorou muito, maninho – O príncipe mais velho exclamou debochado, ele tinha preso as duas mãos do Potter para que não pegasse na própria arma, Rowan sabia que ele era forte o suficiente para aquilo – Vamos, entre!

Ele soava saudoso e aquilo era mais assustador ainda, no fundo do salão, escorado na mesa de negócios, o Rei repousava seus olhos sobre os filhos, observando atentamente, ele não tinha expressão em seu rosto, mas havia algo doentio em seu olhar.

A faca no pescoço do moreno era daquela pedra que ele já vira antes, sabia que ela poderia ser fatal.

Rowan respirou com dificuldade, fazendo questão de deixar a porta aberta atrás de si.

Estavam só os quatro na sala

— Vamos resolver isso logo de uma vez – A voz de Robert se fez tediosa, ele afrouxou a mão dos braços de James e puxou a espada do mesmo a jogando no chão, a certa distância.

James praguejou irritado.

— O que você quer? – Rowan respondeu ríspido

O Rei respirou fundo, como se precisasse de paciência para ter aquela conversa.

— Você tem direito a escolha hoje irmãozinho – O irmão falou em puro deboche – Você pode acabar com essa rebeliãozinha ou matamos o seu salvador aqui.

Como eles sabiam disso? Rowan franziu o cenho, como eles podiam saber que James havia sido escolhido.

— Eu achei que fosse mais difícil te matar – Robert sussurrou para o moreno, James revirou os olhos e ergueu as mãos agressivamente tentando se soltar, mas parou imediatamente assim que sentiu a pedra gelada no pescoço.

Rowan encarou James profundamente.

— Em poucos minutos eles cairão, Rowan, está tudo bem – James falou entredentes.

Rowan deixou os ombros caírem, ele não podia deixar o menino morrer, ele não iria, ele ia poupar todas as vidas que conseguisse.

— Rowan... – James insistiu – Não deixe que eles voltem pra isso, eles são um povo livre, o seu povo livre...

— São o seu também – Rowan cortou rapidamente

— Vão se beijar agora? – O homem zombou entediado.

O Rei saiu de perto da mesa e caminhou vagarosamente ate a espada de James que estava no chão, os outros três observavam enquanto o homem se agachava para pegar na espada, porém assim que tentou o contato, encostando apenas uma mão, a espada queimou a sua mão, ele recuou com a mão vermelha e ardendo.

Henrique se levantou, seus olhos em fúria, como se alguém tivesse o xingado e batido em seu rosto, não tinha nada mais que ele odiava e sentia repulsa do que a magia, aquilo o fez cuspir no chão, mostrando seu desgosto, em fúria ele puxou a própria espada do coldre e caminhou a passos pesados até o Potter.

O Rei, que era maior e mais rechonchudo que James, o puxou pela gola, sem pestanejar um segundo se quer, James arregalou os olhos quando sentiu a pedra fria invadir sua pele, começando a entrar na sua pele, bem no centro de sua barriga.

Antes que alguém pudesse fazer ou dizer qualquer coisa um grito agudo foi escutado da porta, Rowan virou assustado quando sentiu o vento forte bater em suas costas, ele tampou os olhos com o choque da tamanha ventania, algo muito estranho começou a acontecer.

Como um furacão nascido da fúria o vento chicoteava nas paredes, impressionantemente esquentando e se transformando em chamas, um tornado de fogo, ele nunca vira nada do tipo.

Rowan se agachou para se segurar no chão, o Rei largou James no chão com a roupa já coberta de sangue e correu para segurar em sua mesa.

Outro grito foi escutado da porta, a mesa em que o Rei escorara saíra voando pelos ares, a força do vento era tão forte que as paredes tremiam e o teto estava prestes a ceder, as chamas passavam a centímetros de distancia de Robert e ele observava apavorado.

James comprimiu os olhos observando tudo ao redor, ele estava bem no olho do tornado, a calmaria ali enquanto o som alto irrompia, até que o som não se comprimira somente as paredes, ele viu o teto ser arrancado pela força do vento e ser jogado longe, agradeceu por não existirem mais andares acima, as paredes foram arrancadas revelando outros cômodos e o pátio, as estruturas voavam pelo ar e aquilo ficava ainda mais veloz, ele não sabia como os outros estavam se segurando, mas podia jurar que vira algo sair voando pelos céus, como um corpo.

O Potter colocou a mão na barriga, tentando inutilmente estancar o sangue, era aquela pedra que o ferira, se não saísse logo dali ele morreria, mas duvidou muito que sairia vivo de toda essa situação.

Ele inclinou a cabeça em direção onde anteriormente era a porta, para ver uma cena surreal.

Com os cabelos em chamas e os olhos também, os braços abertos e erguida sobre o sopro veloz , flutuando no ar como um anjo na coluna de ar flamejante, inabalável, estava uma Rose furiosa.

Em poucos segundos, o barulho começou a cessar, os ventos começaram a dissipar, o salão voltava a ficar visível.

Rose desceu ate o chão vagarosamente, caindo ajoelhada, sua respiração pesada era perceptível, ela estava exausta.

Rowan olhou perplexo para a menina.

— Rose, você... – As palavras sumiram na sua boca quando ele escutou um barulho estranho, como se algo partisse ao meio.

O jovem príncipe olhou para além das paredes, acima do salão, uma das torres do castelo estava rachando, pendendo para o lado, em sua direção. Rowan prendeu a respiração e arregalou os olhos, o Rei seguiu o olhar do filho, do outro canto da sala, o homem saiu correndo pelo salão abalado, empurrando Rose para o lado para sair dali, ela observou irritada.

A menina logo deixou os pensamentos focarem no menino sangrando no chão, ela não podia se erguer para sair correndo por si só, ela começou a se arrastar em direção ao moreno.

— A torre vai cair aqui em cima – Rowan alertou se aproximando do menino também.

James ergueu os olhos, ele estava pálido e tinha perdido muito sangue.

— Nós vamos te tirar daqui – Rose murmurou colocando as mãos em seus ombros nervosamente.

James segurou os braços da menina em um aperto fraco.

— Não adianta, Rose – Ele sussurrou, sua voz era extremamente baixa – Não existe uma forma de curar isso.

Rose parou por um momento, ela tinha a expressão assustada, logo as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, ela encarou Rowan, como se pedisse ajuda, o príncipe estava tão nervoso quanto a mesma, ele olhou para os lados procurando respostas, quando sua visão parou no fim do corredor, ele arregalou os olhos, tivera uma ideia.

— Existe uma forma – Ele exclamou

— Qual seria? – Ela perguntou já alertada

— No seu mundo não existe magia – Rowan sibilou voltando os olhos para ela.

Rose entendeu o recado.

— Você acha que consegue andar? – Ela olhou exasperada para o moreno.

James respirava com dificuldade, ele assentiu fazendo uma careta, assim que afirmou, Rowan se agachou para ajudar o mesmo a levantar, Rose fez o mesmo, o corpo dele era pesado, os dois relutaram em arrastar ele para fora do salão.

Eles haviam esquecido do detalhe da torre desabando ao lado, quando a mesma começou a desprender da base, Rowan apertou o passo.

— É logo ali – Ele disse entre dentes.

Um grande estalo se fez presente, a torre caia sobre o salão, pesadamente, afundando e ecoando um estrondo absurdo, eles estavam perto da porta, por muito pouco não conseguiram sair, os três foram engolidos pelos destroços.