Rowan observou a meia luz o seu quarto, ele sabia que todos tinham razão, estavam tão ativos e ali estava ele vendo os dias passarem.

Ele saiu de seus pensamentos ao ouvir a batida singela na porta, ele já sabia, estava na hora, querendo ou não ele estava esperando.

— Pode entrar – O príncipe exclamou sentando em uma cadeira mas no canto do quarto, ele havia arrastado ate ali.

A luz do sol não alcançava aquele lado do quarto, ele estava ao lado de uma vela, Lucy quase se assustou ao entrar no quarto e ver aquilo, ele parecia um fantasma ali encolhido.

A menina trazia na mão uma bolsa, a navalha reluziu quando ela puxou de dentro da bolsa, uma pequena toalha, sem muitas delongas ela deixou a bolsa em cima da cômoda e foi ate o banheiro, Rowan a fitava cautelosamente, ela voltou do banheiro com um copo de água.

— No meu mundo isso é muito mais fácil – Ela comentou sorrindo levemente

Rowan permaneceu calado, parecia estar nervoso e acanhado.

Lucy começou pelo cabelo, tirou de dentro do bolso do avental uma tesoura, ela acabara de sair da cozinha, ainda estava com o rosto marcado pelo vapor, o cabelo preso, a roupa manchada de algum molho.

Os tufos de cabelo caiam pelos ombros do menino, ele nem se quer se movia, sua cabeça rondava naquele momento vagarosamente, sua displicência caindo do seu corpo em forma de cabelo. Rowan não sentia mais o pesar sobre os ombros, porém o cabelo ainda cobria suas orelhas, como anteriormente, ela fora ate rápida naquilo.

— Tudo certo aqui – Ela falou satisfeita, voltando para a cômoda e pegando outras coisas.

Lucy colocou uma toalha no colo do rapaz, passando por cima dos ombros e dando a volta no pescoço, ela puxou a navalha e Rowan ergueu as sobrancelhas.

— Você já fez isso antes? – Ele perguntou temeroso

— Pra tudo tem uma primeira vez – Ela murmurou e riu em seguida da careta do menino – Claro que sim, eu tenho uma família enorme.

Ele respirou aliviado, ela passou alguma coisa em seu rosto, como um gel, ele não sabia o que era, em toda sua vida, ele sempre tivera alguém para fazer as coisas por ele mesmo, tirar a barba, cortar o cabelo, escolher as roupas, preparar o banho, enquanto aos olhos de Lucy aquilo só o tornara mais mimado, coisa que ele não era, para ele aquilo era normal.

Ele sentia a lâmina fria passar pelo queixo, pelas bochecha e pelo pescoço, ela definitivamente estava tirando tudo, com uma toalha molhada ela retirava o excesso e continuava o processo sucessivamente.

Lucy estava perto, concentrada naquilo, notara que ela respirava fundo as vezes e soltava o ar devagar, provavelmente para não cortar seu rosto.

— É isso – Ela terminara passando a toalha em todo seu rosto agora, tirando todo o pelo ali, puxou a toalha do seu colo com calma para não derrubar no chão e levou tudo a sua bolsa.

A menina voltou com uma escova nas mãos, ele não ousou dizer se quer uma palavra enquanto ela escovava seu cabelo, ela fazia aquilo gentilmente.

— Agora você está parecendo um príncipe – Ela sorriu satisfeita ao ver o resultado.

Foi ate a bolsa saltitante, guardou a escova e pegou a bolsa, pronta para ir embora, ela caminhou ate o menino que continuava sentado imóvel, esperando algum agradecimento, Rowan a encarou e antes que ela pudesse pensar duas vezes, ele segurou seu braço, ela corou imediatamente com o toque.

— Fique – Ele sussurrou olhando profundamente em seus olhos.

A Weasley engoliu em seco, permitindo que o jovem a puxasse para perto, foi tudo muito rápido do momento em que ela sentava em seu colo e deixara a sua bolsa cair no chão, a queda foi abafada pela toalha ali dentro.

Sob a luz da vela os dois se fitaram, prendendo a respiração, Rowan levou a mão ate seu rosto colocando uma mecha atrás de sua orelha, Lucy morria de vergonha por dentro e por fora, ela colocara as mãos nos ombros do menino.

O jovem príncipe apenas inclinou a cabeça selando seus lábios, em um beijo doce, duradouro e singelo, nenhum dos dois ousara recuar ou abrir os olhos por alguns segundos.

O beijo apenas foi quebrado pelo próprio Rowan, ele arregalou os olhos aparentando ter tido uma ideia brilhante.

— Case comigo – Ele sussurrou fitando seus olhos e envolvendo o corpo da menina.

Lucy arregalou os olhos rapidamente chocada, ela esperou alguns segundos para ter certeza que tinha escutado aquilo mesmo, ou até mesmo para que ele dissesse que era brincadeira e estava tirando com a cara dela.

— O que? – Ela perguntou perplexa

— Case comigo – Rowan repetiu, seus olhos brilhavam incrivelmente.

Era loucura, ela pensara, era loucura, eles se conheciam a poucos dias, era uma loucura, mas claro que para ele não haveria um namoro longo ou algo do tipo, Rowan era um príncipe, precisava reconhecer isso.

Existiam milhões de problemas nisso, Rowan era de Hirena, ele governava aquele local, ela vinha de outro mundo totalmente diferente, não se achava capaz para governar um país inteiro, não conseguira nem organizar sua própria vida, não se achava suficiente para o príncipe.

— Rowan, você é da realeza e...

— Não importa – Ele interrompeu segurando com as duas mãos o rosto dela – Eu quero que seja minha.

A afirmação fez seu coração bater feito louco dentro do peito, seu cérebro estava a mil, ela sentia um furacão varrer seu ventre, aquilo seria muita loucura...

— Eu não tenho modos para governar – Ela murmurou deixando transparecer a tristeza no rosto

— E você acha que eu tenho? – Ele riu levemente – Nós faremos isso juntos.

Ela olhou nos olhos do menino, ela queria aquilo, ela queria muito ficar com ele, mas casar parecia ter um peso enorme.

Antes que Lucy pudesse responder alguém bateu na porta com urgência, fazendo a levantar rapidamente do colo do rapaz e passar as mãos nervosamente no avental. Rowan franziu o cenho desviando a visão para a porta.

— Entre – Ele falou alto o suficiente para que a pessoa do outro lado da porta conseguisse escutar.

Quem irrompeu pela porta foi uma Aurora ofegante, ela encarou os dois e automaticamente corou.

— Eu interrompi alguma coisa? – Ela perguntou envergonhada

— Não – Lucy respondeu, um déjà vu lhe ocorreu de alguns dias atrás...

Aurora adentrou o quarto e parou em frente a menina.

— Eles estão atacando o seu mundo.

[...]

Dominique estava perplexa, nervosa em frente a televisão enquanto comprimia seus dedos, Lily com o notebook no colo acompanhava pelas redes sociais o que estava acontecendo.

— Mais alguma novidade? – Hermione perguntou entrando na sala seguida de Gina e Kyla, elas traziam xícaras de chá.

Estavam todas atentas, a confusão continuava acontecendo, desde a Nova Zelândia até a América, tudo começara em Londres, depois Estados Unidos, Japão, Holanda, Austrália, França, Uruguai, Itália, Brasil, Canadá...

Atingiam todos os lugares, como algo que era planejado por terroristas a anos, Lily procurava na internet algo que pudesse anteceder os eventos, dizendo para onde iriam dessa vez, mas nada era muito fácil com o caos.

Ajuda e suprimentos eram enviados para os países que haviam sofrido mais com a explosão, como na Austrália onde um arranha-céu caira na cabeça de varias pessoas e as mesmas ainda estavam soterradas.

— É literalmente um ataque surpresa a todo o globo – Lily comentou concentrada.

Dominique sabia que a ONU provavelmente estava correndo para resolver aquilo, mas ela sentia algo familiar em tudo isso, como se conhecesse algo que fosse capaz de fazer aquilo.

Dominique cutucou Lily com o cotovelo que lhe olhou alertada, Dominique simulou um “Hirena" mudo, apenas movendo os lábios, Lily franziu o cenho.

— Não pode ser – Lily sussurrou voltando os olhos para o notebook, ela sabia que aquilo podia ser arte de Hirena.

A ruiva temeu ainda mais.

Antes que pudesse formular qualquer coisa o celular da ruiva tocou, Dominique a olhou alertada, erguendo uma sobrancelha. Lily observou o numero desconhecido e franziu o cenho levando o celular ao ouvido.

— Alô?

— Você é Lilian Potter? – Uma voz feminina se fez ouvida do outro lado da linha, uma voz desconhecida

— Sou eu, sim – Lily murmurou confusa

— Tem um moço aqui que me pediu para te ligar, para vir ate aqui buscar ele, ele está muito fraco e não quis ir ate o hospital – A voz da mulher perdurou por alguns segundos – Ele disse que é seu irmão.

Lily arregalou os olhos e olhou alarmada para Dominique.

[...]

Era uma bagunça, pessoas cochichando entre si e correndo pelos corredores do castelo, o sol estava indo embora e a lua tomando seu lugar no céu, mas eles permaneciam acordados.

Alguém esbarrou no ombro de Rose enquanto ela descia as escadas, não tivera tempo de falar com a pessoa, a mesma subiu em disparada, todos transpareciam o nervosismo.

A menina segurou com firmeza no arco, temendo o que viria pela frente, eles falavam sobre isso para todos os lados, indo e vindo, trazendo e levando armas nas mãos.

Ela chegou ate a ponte, a multidão era ainda mais confusa ali, eles se empurravam e caminhavam em frente, Rose se esgueirou pelo meio deles para chegar na frente, onde um Rowan devidamente vestido como Príncipe e com os olhos imparciais gritava para a multidão, James e Cal estavam ao seu lado, ambos atentos aos comandos de Rowan.

Eles se dividiam em tropas, parecendo que sabiam exatamente como fazer aquilo, como guerreiros treinando a anos por aquilo, determinados e ao mesmo tempo nervosos.

Rose avistou Lucy e Alvo mais ao canto, Lucy tinha os braços cruzados, dedilhando os dedos nervosamente pelo braço, Alvo se juntara a uma das tropas, em um uniforme, ela estranhou aquilo, caminhou ate Lucy, a prima assim que a viu a puxou para o seu lado, enlaçando seus braços.

— Rowan está os preparando para guerrear – Lucy murmurou nervosa

A ruiva segurou na mão da prima, querendo a acalmar.

— Vai dar tudo certo – Rose respondeu baixinho, ela queria acreditar naquilo também.

Ela ergueu os olhos ate encontrar os de James, ela fez menção de sibilar alguma coisa, porém o menino sorriu de canto, ele estava nervoso também. Antes que Rose pudesse ir em direção ao garoto, os mais novos “soldados" começaram a marchar, ela perdeu o seu olhar na multidão.

Rowan ia a frente deles em cima de um cavalo, Rose imaginou que os outros também fariam o mesmo, ela se virou para a prima e segurou o rosto dela com as duas mãos, a encarando.

— Fique atrás de todos eles, se algo acontecer conosco, corra, dê um jeito de se esconder – Rose falou com a voz firme, Lucy assentia – Não tente dar uma de heroína, por favor, nós sabemos que é assim que heróis morrem.

Lucy assentiu e se apressou a ir para a linha de trás.

A jovem ruiva se adiantou começando a andar junto da multidão, ela precisava alcançar a frente, onde estava Alvo, mesmo sabendo que seu lugar era com os arqueiros, na linha de trás, ela não deu ouvidos a sua razão.

Cedo demais, chegara a hora de lutar.