Furacão Loiro escrita por Abelhinha


Capítulo 3
Vingança é o melhor remédio.


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos a Anabella Salvatore, Olicity forever, Whoisabel, Danubiazul e Suh Souza pelos comentários. Suas lindas ♥. POV da Fel para ver o outro lado da moeda.



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— Oliver Queen é visto mais uma noite indo a uma balada em Star City...

Desliguei a TV assim que ouvi o seu nome. Eu não precisava daquilo, só queria ter uma noite de paz. Hoje fazia 4 anos que Cait se fora. A saudade que eu sinto dela é aterrorizante. Suga tudo o que há em meu peito e transforma em dor. Deus, por quê? Eu nunca me canso de repetir essa pergunta porque não faz sentido. Caitlin era o melhor ser humano na face da terra.

Escorrego me pela parede e permito que as lágrimas venham. Meu peito começa a convulsionar e a doer, inflar de dor. Cara, dói. E não há remédio para isso. Eu não posso ressuscitá-la. Nunca poderei. Isso dói. Eu havia sofrido muitos tipos de coisas em minha vida, mas aquilo era pior. Mil vezes pior.

Caitlin foi a garota que surgiu do nada e me confortou enquanto eu chorava pelo abandono do meu pai. Ela me deitava em seu colo e fazia cafuné em me cabelo. Fez isso durante uma semana sem me conhecer ou fazer nenhum pergunta. E quando eu contei tudo a ela, foi por livre e espontânea vontade, porque eu me senti segura com ela. Ela só ficou ali fazendo carinho no meu cabelo e assentido, me olhando com aqueles lindos olhos castanhos. Eu amei eles quase que instantaneamente. Continha tanta bondade ali. E depois de contar a ela, eu me senti leve. As lágrimas pararam. Tinha a dor ainda, mas eu sabia que ficaria bem. Cait estava comigo.

Depois nós nos tornamos carne e unha. Alma gêmeas. Eu fazia tudo com Caitlin e vice-versa. Nossas mães também viraram amigas por causa de nós duas. Não tem um momento da minha infância e adolescência em que ela não estivesse lá. Nós aprendemos a andar de bicicleta juntas, aprendemos a nos maquiar juntas, aprendemos sobre sexo juntas. A parte escrita, claro. Nós tomavámos banho juntas com a maior tranquilidade. Nós nunca dormimos uma sem a outra em nossa adolescência. Nunca. Nenhuma noite.

Na minha primeira vez, eu não consegui pegar no sono ao lado de Cooper. Simplesmente senti que ali não era o meu lugar. E eu sabia para onde ir. Quando abri a porta do quarto Cait me olhava. E eu vi dentro daqueles lindos olhos que ela sentia a mesma coisa que eu. Cooper era meu namorado, mas Cait...era Cait. Houve um tempo em que nós duas questionamos nossa sexualidade. Porque nós duas nos amávamos demais. Mas percebemos que era fraternal. Ela era minha alma gêmea, parte de mim porque éramos irmãs. Laços sanguíneos era nada comparado a ligação que tínhamos uma pela outra.

 Eu sofri junto com Cait quando o primeiro amor dela morreu. Ronnie era um cara legal, e às vezes eu acho que essa merda toda não teria acontecido se ele estivesse sobrevivido ao acidente de carro que sofreu. O destino é uma merda. Eu quase morri junto com ela quando o seu pai também se fora, dois anos depois. Cait ficou mal por meses, nós ficamos mal por meses porque a dor dela era a minha dor também. Acho que foi ela que me ensinou o conceito de empatia. Tudo o que ela sentia, eu sentia junto. Não tinha como não sentir. Cait fazia parte de mim.

 

A nossa primeira bebedeira foi juntas, obviamente. Nós havíamos conseguido nosso primeiro emprego como atendentes em um pub e foi o momento mais louco de nossas vidas. Havíamos feito uma promessa de pular peladas no mar se conseguissemos. E cumprimos a promessa para logo depois sermos presas. Nós gargalhamos daquilo na delegacia o tempo todo. Nem a cara de horrorizadas de nossas mães conseguiram estragar aquilo. Nada conseguiu.

Cait me doou seu ombro para chorar e depois me entupiu de chocolate e maratona de Friends quando Cooper me traiu. Ela disse que meio que já esperava aquilo por ele ser um babaca e que ia chutar o rabo branco dele. Eu meio que ergui a cabeça nesse momento e a olhei impressionada. Caitlin nunca se rebelava. Contra nada. Pra quê? Ela dizia. Sou alérgica a sentimentos ruins.

E quando finalmente realizaríamos nosso sonho de trabalhar no Star Labs, Cait o conheceu. Eu queria que esse dia nunca tivesse existido. Eu queria poder voltar no momento mesmo sabendo que ia cagar todo o resto. Eu só queria a minha menina de volta.

Fomos ao Verdant comemorar e ele veio até mim. Ele me passou uma cantada barata e eu só revirei os olhos. Ele estava bêbado, um porre. Então ela apareceu e ele fez o mesmo com ela. Cait achou adorável. A D O R Á V E L. Por que não, Lis? Uma noite de loucura. Ela disse. Agora eu só queria ter dito não. Queria ter resistido aqueles olhos. Mas eu não consegui. Nunca havia conseguido antes. E ela foi com ele.

Foi a primeira noite que eu dormi sem ela em quase 20 anos.

No outro dia Cait me contou que eles só conversaram. Eu não ia perder minha virgindade assim, Lis. Ela disse. E eu ri. Noite de loucura, hein, Snow? Mas ela só revirou os olhos. Disse que ele era até divertido e que ficou todo confuso no dia seguinte. Ele ligou para ela mais tarde e a chamou para sair. Ela foi. Essas noites e saídas se tornaram constantes até que o improvável veio.

Cait estava apaixonada por ele.

Não era como o Ronnie. Era mais profundo e intenso. E eu não tinha um bom pressentimento sobre isso, mas o que eu poderia fazer além de ficar ao lado dela? Ela fez isso por mim a vida toda. Eu a ajudei, mesmo tentando alertá-la do quão babaca ele era. Ela não me ouviu. Eles transaram 6 meses depois. Cait descreveu como a melhor noite da vida dela e eu meio que fiquei com ciúmes.

1 mês depois, ela estava grávida. Isso é tão clichê. Mas foi assim que aconteceu. E eu sabia que ia dar merda. Eu sabia.

Então, houve o fatídico dia.

Cait e eu estávamos indo a Verdant contar para o babaca sobre a gravidez. Eles se viram durante esse tempo, mas ela não teve coragem para contar. Eu preciso de você, Lis. Ela disse. E eu não iria decepcioná-la.

— Tirar a virgindade de alguém é uma coisa poderosa, amor. Mas o sexo em si foi chatinho. Ela era muito inexperiente. E olha que eu gosto disso, embora eu prefiro o selvagem com você - Nós paramos. Era ele. P U T A M E R D A. Eu ia matar esse cara. Mas Cait me parou. Não. Ela fez, sem falar. Eu respirei fundo. - Mas ela é uma boa moça, puritana. Vai dar pro gasto. Vou fingir essa baboseira de apaixonado e vou apresentá-la aos meus pais. Vai servir, e eu continuarei a receber meu dinheiro. Depois eu peço ela em casamento e a idiota vai aceitar. Herdo a QC e fecha tudo. Matei a charada.

Cait sai do esconderijo e o encara. Ele arregala os olhos, mas não há um pingo de arrependimento ali. Ele estava ciente de tudo o que dissera.

— Isso é...verdade? - Eu me desespero porque nunca ouviu sua voz tão...quebrada. E então ela joga a bomba: - Eu estou grávida.

Ele cai na gargalhada.

— Bem, o problema é seu - Dou um passo a frente e ele me encara. - Que foi, morena? Não posso fazer nada se ela foi burra a esse ponto. Posso te dar grana pra tirar. Puxa, isso estragou o plano. Espero arrumar outra puritana pra enganar.

A cabine toda cai na gargalhada. Sim. Cabine toda. Havia dezenas de pessoas naquele lugar. Dezenas. Todas ouviram a conversa anterior e a atual. E a única coisa que me impediu de matá-lo é o fato de Caitlin sair correndo porta a fora.

Eu corri atrás e corri muito. Cait era maratonista e eu era uma nerd. Tive que fazer um esforço do cão para conseguir chegar até ela e impedi-la de se jogar da ponte.

Depois desse dia, Cait...sumiu. Quero dizer, ela continuava lá comigo, sobrevivendo dias após dia. Mas a minha menina doce, alegre e linda simplesmente desapareceu. Não importava que eu tivesse salvado ela de ferrar o corpo porque a alma dela estava toda quebrada.

Por culpa dele.

Na primeira e única vez que saíra de casa, uma pessoa reconheceu Cait daquele maldito dia e começou a jogar piadinhas. "Que trouxa, foi usada e jogada fora". Ela voltou para casa na mesma hora e eu corri pro meu computador para hackear toda a conta do ser que dissera aquelas palavras e o enchi de dívidas. Ponto pra mim.

Mas isso não chegou a me confortar porque minha melhor amiga estava morrendo. Eu nunca vou entender aquela dor, mas eu sentia também. Nós paramos de assistir TV, rádio eu só acessava o computador quando era estritamente necessário. O nome Queen virou um tabu, um fantasma. Nunca era pronunciado, mas estava sempre ali. E eu o odiava com todas as minhas forças.

Cait resolvera ter o bebê e eu a convenci de ir fazer uma ultrassom. Ela aceitou, embora tivesse sido bem relutante no início. Nós nos "disfarçamos" e fomos. Quando chegamos lá, Caitlin fez os procedimentos e deitou na maca. Eu peguei sua mão e nós ficamos nos encarando. E eu soube naquele pequeno momento que fora eu que tinha a sustentando durante todo esse 3 meses em que ela vegetou. Mas quando a doutora ligou a máquina e um barulho de coração batendo reverberou pela sala, Cait tinha algo para segurar-se.

Ela tinha Connor.

Eu lembro de como o rosto dela se iluminou quando se deu conta do que estava ouvido. Do sorriso que se abriu em nossos lábios. Nossas lágrimas. Nosso abraço reconfortante. Nossos gritos.

Minha melhor amiga estava de volta.

E eu estava certa. Ela voltou. Decidiu se dedicar única e inteiramente a Connor. Nós compramos todo o seu enxoval, seu bercinho. Montamos uma área só para ele brincar em nosso apartamento. Fizemos todos os testes e ultrassons necessárias. Nos divertíamos comprando fraldas. Eu havia presenteado Cait com sua primeira mamadeira. Nós fizemos até um chá de bebê com alguns poucos amigos que tínhamos.

Tudo isso ainda continua intocado em meu apartamento. Eu nunca ousei tocar.

Mas então, a bolsa de Caitlin estoura. Foi o pior dia da minha vida.

Nós corremos pro hospital, mas antes de chegar lá nós o vemos. E ele nos vê também. Pior que isso, nos reconhece.

— Olha se não a virgem Caitlin. Você não arrancou esse monstrinho, hein? - Os olhos de Cait se arregalam e lágrimas vem a tona - Sabe, você estragou meus planos, mas ainda podemos nos divertir juntos, o que acha? Estou carente e embora você seja um lixo, é a única coisa que tenho agora...Então, aceita?

E eu explodo. Pego uma garrafa de vidro e quebro no braço do Queen. E se não fosse pelo arquejar da minha melhor amiga, eu o teria matado naquele momento. Corro com Cait pelos corredores e ela é atendida de imediato pelos médicos.

Ela olha para mim com os olhos cheios de lágrima e diz que me ama movendo os lábios.

Foi a última vez que a vi. O maldito Queen a tinha quebrado novamente. E eu fiquei ali impotente, triste e sozinha pela primeira vez desde os meus 7 anos. Eu não pude fazer nada enquanto a menina que me consolou, que me confortou e que foi o meu porto seguro durante tantos anos morria. Eu nunca pude ver como seria meu sobrinho. Eu fiquei ali, sem nada.

A pessoa que eu sou hoje foi construída durante anos e anos. Tudo que vivemos na infância e na adolescência completa nosso quebra-cabeça de adulto. Caitlin sempre esteve lá. A Felicity que eu sou hoje é graças ao Cait. Ela não me permitiu cair, ela me incentivou nos meus objetivos. É tão injusto ela não estar aqui. Eu sequer consegui mudar de Star City para trabalhar no Star Labs. Eu não conseguiria. Aquele fora um sonho meu e de Cait. Se ela não está aqui, o sonho também não está.

Tudo o que tenho hoje são nossas fotografias, nossas coleções, nossos objetos e ela em minha memória. Há dias em que o ar torna-se impuro. Parece injusto respirar em um mundo em que não existe Caitlin Snow. Mas é assim que as coisas são. Nos piores momentos sem ela, eu recorro a lembranças. Dos seus olhos bondosos e gentis, do seu sorriso doce, das nossas brincadeiras, dos nossos momentos. Mesmo que só exista na minha cabeça é reconfortante.

Nunca vai acabar, ela sempre vai estar aqui. E eu agradeço a Deus todos os dias por ter me permitido viver o que vivi ao lado de Caitlin Snow. Se eu tivesse que escolher entre uma vida feliz sem ela ou ter que suportar essa dor por causa dela, eu escolheria passar por isso tudo novamente. Sem pensar duas vezes.

Sempre valeu a pena ter Caitlin Snow em minha vida.

A morte dela me cerca e eu me dou conta, não pela primeira vez, de que nunca vou ouvir a voz dela. Nunca mais verei aqueles olhos que me deram força ao longo dos anos. Nunca mais vou ter alguém como Cait em minha vida. Então, as lágrimas vem com mais força ainda. Ela se foi. E eu choro porque sinto falta dela. Choro porque a vida é uma desgraça injusta. Choro porque a quero de volta e nunca vou ter.

E é por isso que eu o odeio. Eu odeio Oliver Queen com todo o meu ser. Odeio o fato de ele ser um mesquinho. Um riquinho babaca egocêntrico. O odeio.

Então eu paro de chorar e me lembro do meu lembro. Eu vou honrar Cait.

Vou me vingar.

Eu me candidatei a ser sua secretária para fazer da sua vida um inferno. Eu vou tirar tudo o que ele mais preza, ou seja, sua regalias, seu dinheiro e suas festas. Assim como ele tirou tudo de mim. Quero que ele sofra tanto quanto eu senti. Chegarei a ele como um lobo na pele de ovelha.

Oliver Queen vai ser apresentado ao próprio capeta.

Ele que me aguarde.


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