Ele sabia que não havia sido totalmente sincero com ela. Quando ele pediu para que ela permanecesse em sua casa por causa de Mae, ele não foi totalmente verdadeiro. Para ser sincero consigo mesmo, Grissom não queria que Sara permanecesse ali apenas pela menina. Ele queria que a perita e sua subordinada ficasse ali na casa dele por causa dele. Gostava tanto da presença dela, de estar junto dela, de conversar com ela, gostava também da amizade dela... Se não houvesse a maldita regra do laboratório tudo seria mais fácil... Mas havia! Seu lado racional lhe alertou. Portanto se valeria daquela desculpa nada inocente para poder permanecer próximo a ela.

— O que me diz Sara? Fica comigo? – ele indagou chamando-lhe a atenção.

 — Eu não sei – ela respondeu confusa.

 Sara realmente não sabia o que responder. Ela queria ficar, mas também sabia que não podia permanecer ali. Queria permanecer ali, porém não somente por aquela razão. Ela sem dúvida alguma já havia se afeiçoado à menina. Já amava aquela garotinha como se fosse sua filha. Não desejava que a menina passasse pelo mesmo que ela – passando por inúmeros lares adotivos até que uma família a adotou e a amou – quando era apenas uma criança de oito anos. Por outro lado, queria que sua permanência ali fosse porque ele precisasse dela, pelo seu desejo de que ela fosse sua companheira por toda a vida. Mera ilusão.

 — Vamos Sara! Você é minha amiga, fique e me ajude! – ele suplicou.

 — Tudo bem, eu fico! – ela rendeu-se.

 Grissom não pôde reprimir sua alegria. Cobriu a pequena diferença que os separava e a abraçou forte como se quisesse gravar em sua pele a essência dela.

 — Onde dormirei? – ela indagou curiosa.

 Era errado ele desejar que ela dormisse em seu quarto, em sua cama? Era! Não podia fazer essa proposta a ela. Proporia que ela dormisse no quarto agora ocupado por Mae, já que havia uma cama de solteiro.

— Você pode dormir no quarto junto com Mae, assim ela saberá que tem alguém com ela no quarto.

 — De acordo.

Ele organizou a cama, trocando os lençóis. Tudo estava pronto para que ela pudesse descansar.

— Tudo pronto! Você já pode se deitar e descansar – ele garantiu.

Ela deitou-se e pouco tempo depois já dormia um sono profundo. Algumas horas depois, ela acordou, lançou o olhar para o berço da menina e verificou que ela ainda dormia. Não passava das dez. Grissom já havia levantado e feito o café da manhã para os dois. O cheiro do café impregnava a residência.

 — Bom dia! – ele saudou-a com um sorriso.

 — Bom dia! – ela respondeu.

 — Dormiu bem? – ele questionou.

 — Perfeitamente – ela disse.

 — Tome café da manhã, temos café, suco, frutas, pão, geleia, leite, chá... – como não sabia o que você gostava, preferi colocar de tudo um pouco.

 — Está tudo perfeito – ela garantiu.

 Eles fizeram a refeição em silencio. Ambos pensavam que não seria nada difícil se aquela se tornasse uma rotina para eles. Mas como não podiam ter tudo o que desejavam, resignaram-se a ter somente o que a vida lhes presenteava.

  — Já é hora de ligar para a babá indicada por Cath – ele mencionou.

  Discou os números que estavam no papel que Catherine lhe entregou. Esperou o toque, até que a pessoa do outro lado da linha atendeu.

  — Lima.

  — Que bom que a senhorita atendeu. Meu nome é Gilbert Grissom, sou entomologista e supervisor do turno noturno do Laboratório do Departamento de Criminalística de Las Vegas e preciso dos seus serviços. A senhorita estaria disponível para uma entrevista hoje à tarde, às 15h00min?

 — Claro, senhor Grissom. É só me passar o endereço e estarei aí no horário marcado – ela respondeu.

 Ele passou o endereço a ela e desligou a chamada.