Estava escuro e o silêncio reinava absoluto. Tudo exatamente do jeito que ele gostava e prezava. A calmaria de sua casa o informava de como sua vida realmente era. Ele era um homem solitário. Era um homem solteiro por opção. A bem da verdade aquilo era mentira, pois era casado com seu trabalho.  Vivia para ele.

O som do despertador o acordou completamente. Era hora de se levantar, se arrumar e ir para o trabalho. Abriu os olhos, porém ainda permaneceu um pouco mais deitado na cama, pensando em sua vida. Fazia um frio gostoso que o convidava a ficar ali por mais alguns instantes. Trabalhava como supervisor do turno noturno do Departamento de Criminalística de Las Vegas e  amava seu trabalho. Era formado em Biologia e especializado em Entomologia Forense.

No auge de seus trinta e cinco anos, seus amigos se perguntavam por que ele ainda não havia constituído família. Era um homem bonito. Tinha encantadores olhos azuis, seu cabelo era louro escuro entremeado com alguns fios brancos, era alto e tinha um porte elegante, e o óculos de leitura que usava dava-lhe muito mais charme. Se ainda era solteiro era por pura opção. Era bem mais fácil continuar assim. Seguindo a vida da forma que levava, não tinha ninguém para ligar, para dar satisfações e dizer onde estava, ou mesmo alguém para ir com ele onde quer que fosse, não havia uma pessoa para reclamar dos pratos sujos ou reclamar do volume alto – gostava de ouvir música ainda que fosse clássica -, também não havia alguém para fingir que não amava. Ou melhor, havia, porém era melhor não comentar por enquanto. Ali não havia um ser que lhe dissesse quando devia parar, por outro lado também não havia quem pudesse acordar de seu lado – não lhe agradava a ideia de sexo casual -, ninguém para contar as novidades, ninguém para fechar as cortinas ou brigar de vez em quando. Toda noite no mesmo lugar ele abria os olhos e deixava o dia entrar para ninguém.

Também era considerado pelos seus colegas de trabalho como um homem de coração de gelo, sem sentimentos, alguém que não demonstrava piedade ou carinho. Mal sabiam eles que por trás de todo homem de coração aparentemente duro se esconde alguém carente de amor e de afeto, desejoso por um dia obtê-los. Ele era um desses homens.

Todo dia era a mesma coisa. Ele ia para o trabalho e depois voltava para casa, para a solidão de seu lar vazio. Tinha tudo o que um homem de sua idade poderia sonhar: um excelente emprego, um elegante teto onde morar, um carro moderno, era reconhecido em sua área de trabalho. Porém ainda assim, mesmo tendo tudo, ele intimamente sentia que lhe faltava algo, entretanto não sabia o que era.

Levantou-se da cama e dirigiu-se para o banheiro. Abriu a torneira do chuveiro e entrou debaixo d’água. Ensaboou-se e lavou o cabelo e depois retirou toda a espuma com a água morna que lhe caía sobre o corpo. Seguiu para o quarto, abriu o guarda roupa, escolheu uma roupa confortável – uma calça jeans, uma camiseta preta e uma camisa listrada por cima, além dos tênis – penteou o cabelo, pegou a chave de seu carro e partiu em direção ao seu local de trabalho.

Enquanto seguia para o laboratório, Gilbert Grissom não fazia ideia do quanto sua vida estava prestes a mudar.

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Um pouco afastada dali, escondida entre os arbustos da praça que ficava em frente a casa de Grissom, uma mulher o observava atentamente sair de sua casa.

— É ele! – ela disse consigo e saiu dali, fechando seu casaco e abraçando o corpo, uma maneira que encontrou para aquecer-se. Uma lágrima brotou de seus olhos.