Com tudo resolvido, Catherine foi até a sala de seu amigo Russell. Ficou sabendo que ele ia sair e Sara ia ficar no comando.

— Oi. Está de saída?

Ela tinha entrado no momento em que ele tinha colocado plaqueta de Julie na caixa, dizendo que pra onde ele fosse, sua Julies iria.

— Ah, estou. Eu não gosto de despedidas. Bolo, festa, hip-hurra...

— Bom…- ela suspirou. — Eu também não gosto de despedidas, então, eu pensei em colocar meu nome na vaga de diretor.- sorriu e Russell ficou surpreso. — Claro, se a Sara não aceitar.

Sua amiga estava a um passo de subir na carreira. Estava muito orgulhosa dela.

— Fala sério?

— É, está na hora de voltar pra casa. Vegas está no meu sangue. E tem a minha filha Lindsey.- sorriu. — E também… muito do que meu pai deixou está aqui. Sem contar as duas menininhas que não tem mais ninguém.

Ela estava falando das filhas de Romina, uma das vítimas do homem bomba. Catherine que deu a notícia da morte da mãe pras meninas, e soube por elas mesmas que não tinha mais ninguém pra cuidar delas. Como sua filha já era adulta, e as meninas eram filhas de uma funcionária de seu cassino, Catherine não quis que elas se perdessem no sistema, e pensou em adotá-las.

Continuou:

— Todos os motivos pra voltar. Casa!- ele sorriu e assentiu. — E você está indo pro leste, não é?

— É. Apareceu uma oportunidade, nunca é tarde para começar um novo capítulo. É o que dizem.

— Legal.- ela olhou em volta. — Ah… posso ajudá-lo a levar alguma coisa?

— Ah, não, na verdade não precisa… Tudo o que eu tenho na cabeça… e no coração… está aqui nessa caixa.- suspirou.

Catherine sorriu com um misto de felicidade e pesar. Era bom ele mudar. A morte de Julie ainda pesava.

~ ♥ ~

— Você conseguiu, Sara!- disse Ecklie extremamente feliz. — Resolveu o caso, passou no teste, mereceu a vaga. O cargo é seu.

— Obrigada.- Sara abriu um lindo sorriso.

Esse era um passo enorme em sua carreira e em sua vida. Estava pronta pra recomeçar.

— A imprensa nos espera.- sorriu e a conduziu até a recepção onde vários “paparazzi” estavam lá para fotografar a nova diretora do Laboratório de Criminalística de Las Vegas.

Sara tinha vestido sua melhor roupa social, toda preta, estava pura elegância.

Vários e vários flashes estavam direcionados a Sara que estava com o distintivo na mão. E ela sorria graciosamente e mega contente.

— Ok. Ok. Mais uma, mais uma.- Ecklie não dispensava uma câmera.

Ficou ao lado de Sara, apertaram as mãos, ambos riram e fizeram “pose”.

Gil chegou à recepção na mesma hora, e ao ver Sara lá, ficou todo orgulhoso. Sua abelhinha havia conseguido aquele cargo e estava muito feliz por ela. Ela merecia muito aquela posição e todo sucesso do mundo. Ela nasceu pra ter uma carreira brilhante e torcia pra que desse certo.

— Ótimo, ótimo. Obrigado pessoal.

Os fotógrafos cessaram os flash’s e Sara olhou pro lado. Ao ver Grissom ficou um pouco sem graça. Virou-se para Ecklie que lhe parabenizou mais uma vez.

— Obrigada, Conrad.- apertaram as mãos novamente.

— Converso com você mais tarde.

Sara se virou e foi até Grissom que batia palmas pra ela. Ela riu e agradeceu.

— Obrigada. Eu nunca pensei que veria esse dia chegar. Mas com D.B. saindo...

— Você merece.- ele também sorriu. — Vegas tem sorte em ter você.

— E os oceanos tem sorte em ter você.- ele sorriu agradecido. — É irônico, não é?- ele fez menção que ela continuasse. — Fui sempre a única que quis sair de Vegas, e você que pensava que nunca sairia.

Quem diria, não é? O mundo dá voltas.

— É…

“É agora Gil. Fala com ela! Desembucha!”.

— Bem…- ela esperou, mas ele nada disse. — Então…

E mais uma vez ele travou. Tinha aprendido a lidar um pouco com isso os anos que esteve ao lado dela. Sara o ajudou a se abrir aos poucos. Mas ficou tanto tempo longe que a coragem e leve facilidade de dizer o que sentia sumiram.

Queria pedir perdão, queria dizer que errou e se arrependia amargamente. Dizer que sentia falta dela, que a amava intensamente. Que sentia orgulho dela, e que sabia que não merecia outra chance. Queria dizer que mesmo se ela não lhe perdoasse, ele continuaria sendo louco por ela, apaixonado por ela, que esses dias trabalhando ao lado dela foram seus melhores nos últimos três anos.

Queria dizer que a vida dele não tinha sentido nenhum sem ela e que a promessa que fez em seu casamento jamais se quebraria: ele sempre iria amá-la. Com todas as forças.

Mas ele disse? Não. Nem um terço disso. Nada.

Sara já sabia que isso ia acontecer. Sabia que ele tinha tentado lhe pedir perdão várias vezes durante a investigação. Sempre que a olhava nos olhos sem ter Heather na cabeça, ele pedia perdão. Sempre que deixava ela despejar sua raiva nele sem dizer uma palavra sequer pra retrucar, ele pedia perdão.

Sabia que não conseguiria perdoá-lo tão fácil assim, como num passe de mágica, ainda estava machucada. Mas também tinha certeza que se ele dissesse que a amava e que sentia falta dela, que estava arrependido do que fez, ela não resistiria e cairia em seus braços.

Porém era nítido que ele não conseguiria dizer o que quer que fosse, então tratou logo de deixar bem claro que estava decidida. E o fato de aceitar o cargo era a prova disso.

“Pode ir embora

Deixe as lembranças que restaram de nós dois

Que a qualquer hora vai se arrepender

E a saudade vem depois

Não adianta, segue seu caminho sem lembrar

Que um dia eu fui o amor da sua vida” — Bruno e Marrone

— Eu espero que encontre o que está procurando.- ele a olhou sem reação. — Tchau Gil.

Dito isso ela saiu e foi para sua nova sala dar a notícia para seu amigo em San Diego.

E a Alemanha vence o Brasil com 7 a 1 numa despedida de partir o coração!

“Sem chance, Gil, ela está decidida e esqueceu você. Mas a culpa é sua, então conforme-se e vá embora.”— disse sua consciência.

“Bom dia

Meus pensamentos sobre te deixar estão de volta

Eu pensei que deveria saber

E talvez ações poderosas ou sentimentos poderosos

Vão me impedir de partir

Eu estou lavando as minhas mãos

Por que você fez isso?

Eu não consegui dormir

Eu sabia que você tinha ido embora

Nosso amor é tudo o que eu estava atrás

Mas você não pôde me dar

Então estou seguindo em frente” ― Norah Jones

— Maninha?- o texano atendeu o telefone.

— Adivinha só quem é a nova diretora do laboratório?

— Mentiraa!- ele gritou. — É sério?

— Sim!- ela sorriu. — Me candidatei pra vaga e acabei de receber o distintivo. Conrad está com a imprensa. Você não vai acreditar em tudo o que aconteceu nos últimos dias.

— Então me conta tudo. Estou doido pra saber, e muito orgulhoso.

— Grissom voltou.

— O que??

Sara contou tudo para Nick, inclusive sobre a despedida que acabou de ter com ele.

— Tinha que ver a cara dele agora. Por mais raiva que eu sinta, deu dó. Ele queria falar, Nick.

— Ele não conseguiu dizer NADA sobre o divórcio durante a investigação inteira??

— Acho que nem poderia, eu dei patada nele o tempo todo. Não que ele não merecesse, mas… eu queria que ele tivesse dito alguma coisa.

— Olha, você foi forte em dar as costas ao amor que sente por ele. Sei o quanto deve ter doído.

— Doeria mais se eu soubesse que ele está arrependido. Mas o que eu não paro de pensar é que… fiz a mesma coisa que ele anos atrás, antes de ficarmos juntos.

— O que?

— Abri mão do amor, pela carreira.

“Mas olhe pra você, uma verdadeira sobrevivente

Cheia de vida e levando adiante

Essa é a sua vida

Você parece ter isso tudo

Você alcançou o topo

Eles quiseram que você caísse

É muito triste, esse mundo pode ser tão mau

Mas seja mais forte que todas as dores no coração

Quando eles a colocarem pra baixo

Você sabe que você foi a vencedora

E que você ganhou a coroa

É como andar através do fogo

Determinada a vencer

Você estava vencendo as batalhas da vida

De novo e de novo” — Michael Jackson

~ ♥ ~

Gil decidiu ir atrás de Heather e acompanhar seu depoimento. Quando ela terminou de assinar os papéis, o policial saiu e os deixou sozinhos.

— É isso aí. Terminamos.- ela sorriu. — Obrigado pelo depoimento. A promotoria pode pedir para testemunhar, mas isso é somente com você.

— Claro. Se for ajudar.- ela sorriu novamente.

Heather ia preparando as coisas pra ir embora quando Grissom a interrompeu.

— Heather...- se sentou na frente dela. Ela o olhou. — Antes de voltar ao meu barco, eu queria te agradecer.

— Me agradecer pelo quê?

Ele quase travou, meio sem jeito. Típico dele. Mas o incrível é que para Heather ele conseguia dizer o que sentia, já para Sara não. Ele travava, perdia os sentidos, suas pernas bambeavam, e ele ficava tímido. Com Heather não, com ela era mais fácil se abrir.

— Quando a conheci eu... eu tinha um muro em volta do meu coração. Havia perdido minha crença na humanidade.- sorriu. — A única verdade que eu conhecia era a ciência empírica. Eu apenas queria te agradecer por... abrir meu coração.

Heather sorriu e balançou a cabeça dizendo um “de nada” silencioso.

— Através de você eu aprendi a amar alguém.- disse por fim.

— Sara?!- ela perguntou sorrindo de lado. Sabia mais do que ninguém o quanto ele a amava.

Ele concordou com um lindo sorriso de lado, lembrando-se do rosto dela. Sua Sara, ou não mais.

— Ela restaurou minha fé no ser humano.

Heather sorriu ao ouvir isso. Ele ainda era um homem apaixonado, sem dúvida.

— Além disso, ela me ajudou com as minhas palavras cruzadas.- ambos sorriram com essa frase. — Ela foi a minha melhor amiga…- ele ficou com o olhar um pouco perdido. — Vou sentir falta dela... pelo resto da minha vida.- suspirou com pesar e sorriu triste para Heather.

A terapeuta o olhou com dó. Ele ainda amava Sara com todas as forças e não conseguia dizer isso para ela. Era trágico.

— Não conseguiu dizer a ela, não é?- ele balançou a cabeça negativamente, ainda com pesar. — Sabe por que consegue dizer o que sente por ela para mim e não para ela?- ele fez menção que ela continuasse, sem responder. — Porque a ama. E esse simples fato é a razão. Ao olhar no olhos dela as palavras somem, assim como a coragem de dizê-las.

— Tem razão. Eu a amo muito. Sara me faz perder os sentidos, sinto... minhas pernas tremerem quando chego perto dela.

Heather sorriu novamente ao ouvir isso. Sara também ia gostar de ouvir.

— Imaginei. Por que não tenta de novo? Fala que está arrependido.

— Ela...- disse com dor no coração. — Ela está decidida, Heather.- suspirou. — Não mereço o perdão dela. Eu acabei com nosso casamento, não... não mantive contato depois pra... saber como ela estava. Machuquei ela.- abaixou a cabeça ao dizer. — Eu vou amá-la pra sempre, só quero que ela seja feliz.

O coração de Heather se partiu por ver seu grande amigo sofrendo por amor. Por mais que não se desse bem com Sara, tinha que dar razão a ela. Seu amigo fez burrada, mas... ele queria consertá-la. Por que não dar uma chance? Sara mesma havia lhe dito que o amava e que temia por ele. Seja como fosse, não iria interferir. Sara já não gostava dela, se meter em sua vida seria pior. Mas continuaria do lado de Grissom onde quer que ele estivesse.

— Sendo assim ... Eu sinto muito, Gil.

— Eu também.- lamentou.

— Vem cá me dar um abraço.- levantou-se e o abraçou quando ele já estava de pé.

— Obrigado pelo apoio de sempre.

— Obrigada pela confiança.- sorriu.

— Te levo pra casa.- disse ele ao desfazer o abraço.

— Tudo bem.

Eles só não sabiam que a câmera do depoimento de Heather ainda estava gravando enquanto eles conversavam, e que Lindsey assistia tudo do outro lado do vidro.

~ ♥ ~

Quando terminou a ligação com Nick, Sara foi até o locker trocar de roupa para falar com sua velha/nova equipe. Tinha pedido pra eles esperarem em sua sala enquanto ela buscava os casos do turno.

Assim que chegou, sorriu ao vê-los.

— Bom, aqui estamos.- eles também sorriram. — Em primeiro lugar, Henry e Hodges, tirem a roupa do laboratório. Vocês foram promovidos e eu estou mandando vocês ao campo sozinhos. Henry, seu 425, busca de veículo.- entregou-lhe um papel com as informações do caso. — Hodges, assalto residencial.- também lhe entregou um papel.

Ambos comemoraram e e tentaram dar um high five, mas um foi de mão aberta e um de mão fechada e acabou sendo um toque desleixado. Morgan riu com isso.

— Greg, você tem um 419 atrás da Odyssey Records, e Morgan tem um 418, atropelamento e fuga. Seus casos são meio quarteirão um do outro.- com isso, Sara deu um sinal para Greg com o olhar, do tipo: coloquei vocês dois perto, tome uma atitude logo!

Dirigiu-se à sua mesa, sentou na cadeira e observou aqueles dois. Como torcia para que ficassem juntos!

— E aí… quer ir junto comigo?- e fez um gesto de “vamo de moto”, basicamente, e sorriu.

Morgan riu e assentiu.

— Claro!

Como ele continuou olhando pra ela, Morgan sorriu toda sem jeito e saiu da sala, ia esperar ele lá fora. Tinha ficado tímida com Sara os observando, não que quando estavam sozinhos ela também não ficasse.

Depois de Morgan sair, Greg olhou para Sara com um sorriso, meio que agradeceu com um aceno e também se retirou.

Sara sorriu ao vê-lo se afastar. Pelo menos algum relacionamento ali tinha que dar certo.

Ia preencher alguns papéis até que Lindsey entrou na sala.

— Hey Sara!- chegou em frente à sua mesa. — A recepção pediu para eu lhe entregar isso.- entregou um envelope amarelo a ela. — É a fita de vídeo do interrogatório final da Lady Heather antes do Grissom liberá-la.

— Ah, ótimo!- lhe deu um sorriso amarelo. — Obrigada, Lindsey.- agradeceu mesmo sem gostar do que recebeu e nem deu importância ao envelope, o colocou de lado e voltou sua atenção aos papéis.

Lindsey, percebendo que Sara não deu a mínima para o que lhe entregou, resolveu sair, mas talvez fosse melhor “alertá-la” sobre o que assistiu. Inclusive, foi justamente por isso que resolveu levar pra ela. Sara com certeza ficaria curiosa e assistiria mesmo contra a vontade. Tinha certeza que gostaria do final, assim como ela gostou. Virou-se para a morena novamente.

— Eu... assisti o interrogatório inteiro.- Sara sorriu e assentiu. — Aprendi muito. Especialmente no final.

Sara franziu o cenho esperando que ela explicasse o que aquilo queria dizer, mas Lindsey nada disse a respeito, apenas: — Você deveria assistir.- sorriu e saiu da sala.

Sara olhou para o pacote, o pegou meio hesitantemente, e o fitou verificando dos dois lados. Estava em dúvida se assistia ou não. Lindsey a deixou curiosa. Tudo bem que ela aprendeu muito vendo o interrogatório, mas por que ela aprendeu mais com o final dele? Precisava matar esta curiosidade.

Foi até o áudio e vídeo, colocou a fita e foi até o final.

Grissom agradeceu o depoimento, Sara revirou os olhos. Quando viu que ela se preparava pra sair e ele a interrompeu, foi que começou a prestar mais atenção. Ele a agradeceu e quando ela perguntou o porquê, Sara temeu a resposta, mas mesmo assim quis saber.

Por um momento Sara pensou que ele estava se declarando para aquela megera, até que ouviu a próxima frase. “Através de você eu aprendi a amar alguém.” Sara viu Heather sorrir e falar seu nome. Ela o viu balançando a cabeça positivamente, mas não pôde ver sua expressão, pois a câmera estava mais direcionada à Heather. Sara colocou a mão no peito esperando por mais falas dele.

Quando o ouviu dizer que havia restaurado sua fé no ser humano, sentiu os olhos arderem, mas riu com a menção as palavras cruzadas. Sentia tanta falta daqueles momentos. Sentiu o coração doer quando ouviu que tinha sido sua melhor amiga e que ele sentiria falta dela pro resto da vida. Não conseguiu evitar que uma lágrima caísse.

Quando terminou de assistir não sabia o que fazer, como reagir. Estava de coração partido pela dor nas palavras dele. Que a amava, que se arrependia, que não merecia seu perdão. Acabara de ouvir Grissom declarando seu amor por ela para a terapeuta. E ao ver que Heather o encorajou a falar com ela novamente, não sabia mais o que pensar daquela megera.

Sara estava decidida a esquecê-lo e seguir em frente como estava fazendo nos últimos anos, mas depois desse caso, depois dessa declaração… Ouvir da boca dele que ele ainda a amava e sempre amaria... O que fazer? Iria com ele e deixaria o cargo que acabou de conseguir, que queria e merecia, ou o deixaria ir sabendo que ambos não conseguiriam viver depois desse reencontro? Que dúvida! Mas teria que pensar rápido, pois ele já havia voltado a seu barco para partir.

“Eu vou amá-la pra sempre, só quero que ela seja feliz.”

Pensou, guardou a fita e correu até a sala de Ecklie.

“Não vou desistir de nós

Mesmo que os céus fiquem furiosos

Estou te dando todo meu amor

Ainda estou melhorando

E quando você precisar do seu espaço para navegar um pouco

Estarei aqui esperando pacientemente para ver o que você vai encontrar

Porque até as estrelas, elas queimam

Algumas até caem sobre a Terra

Temos muito a aprender, Deus sabe que merecemos

Não, não vou desistir

Nossas diferenças fazem muito para nos ensinar

Como usar as ferramentas e os dons que temos

Sim, temos muita coisa em jogo” ― Jason Mraz

To Be Continued…