Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 2
Virgínia




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— Mãe…

— Oi?

— Com ou sem batom?

Olhando para o lado com cuidado enquanto dirigia, a minha mãe tentou analisar.

— Depende da mensagem que você pretende passar.

— Hum… A de… Mulher forte?

— Tá me perguntando?

— Não. - ajeitei minha postura no banco do passageiro e repeti com a entonação certa – A de mulher forte.

— Você, então, não deveria decidir sozinha? – ela perguntou achando graça.

Odeio quando ela faz parecer que tá tirando sarro comigo.

— Mãe, por favor.

— Ah, num sei. - ela olhou de novo – Como você achar melhor.

Pensando melhor, sempre zoei essas meninas que tão com a cara cheia de reboco às 7 horas da manhã, então seria no mínimo incoerente chamar tanta atenção assim.

— Drooooga! – minha mãe resmungou dando um tapa no volante – Olha só esse trânsito! Qual é!

Nada de demais. É bom que eu ganho tempo pra pensar, pois essa não tem sido a minha atividade favorita nessas últimas férias? Pois é. E foi pensando que cheguei à conclusão de que um ano é pouco tempo, mas acredito que seja suficiente para o que eu pretendo.

Sabe, as pessoas têm uma visão bastante estereotipada dos adolescentes. Acham que somos dramáticos, inconsequentes e que só damos importância pra coisas supérfluas. Geralmente quem coloca a gente nesse papel de bobo são adultos, que se acham melhores que nós só porque têm uns anos a mais. Mal eles sabem que se agimos dessa forma, é porque eles nos dão carta branca pra que sejamos assim na maior parte do tempo e sem culpa, afinal de contas, “somos adolescentes”. É uma pena que a maioria dos meus colegas de idade comprem esse produto de nós mesmos, o que transforma essa visão negativa num ciclo eterno, de os adultos chamando a nós de “aborrescentes” e os adolescentes agindo de forma aborrecida, o que só parece comprovar essa teoria.

Claro que não é regra o papel de adulto idiota, que amontoa todos os adolescentes num bolo de pessoas incapazes; minha mãe, por exemplo, acredita muito em mim e em todos os jovens… E não poderia ser diferente, poderia? Ela é professora de muitos desses jovens na universidade. Ela precisa acreditar na nossa geração! E é por acreditar em nós que ela me encara como o seu principal projeto e eu procuro não deixar a desejar enquanto projeto da minha mãe.

A verdade é que eu, modéstia à parte, sou um caso especial como adolescente. Ou virei um, como preferir. Que me desculpem os sensíveis de plantão, mas não me envergonho da minha grandeza. Faço questão de fugir à regra, não sou obrigada a cumprir com o papel social da “típica adolescente”. Não mais.

Se temos um bom motivo para estarmos na Terra, eu sei muito bem qual é o meu e não deixarei que ninguém me impeça de ser grande.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham se identificado com alguma das personagens e siga adiante com a leitura. Comentem se possível, beijos e até mais.



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