Dolores escrita por Marília Bordonaba


Capítulo 13
Dolores




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A Dani tava bem bronzeada, bem bonita e radiante. Morro de inveja da sua cor de pele, porque eu simplesmente não posso ficar 15 minutos no Sol, que já fico toda vermelha. 20 minutos então? Eu descasco inteira! É uma droga. Quem me dera achar uma droga ter inveja apenas disso. 

— E como foi lá na praia?

— Foi meio chato, na real. - ela disse desdenhosa – Meus pais ficaram em cima o tempo inteiro, num dava nem pra dar rolêzinho com a minha prima, sabe?

Esse tipo de fala da Dani ou de qualquer pessoa sempre me dá um pouco de raiva. Com meus pais em cima ou não, eu adoraria desdenhar de uma viagem à praia, mas eu mesma nunca nem vi o mar.

— O importante é que eu to de volta e mega ansiosa pra saber como é assistir aula com você na mesma turma. - ela parecia verdadeiramente empolgada – Vai, me conta: como foi essa semana?

— Chata, como sempre. Aquele povo parece que não amadurece nunca!

— Que povo? A Virgínia?

— Não, os amiguinhos dela. A Virgínia agora deu pra bancar a superior e me ignorar, acredita?

— Pelo que eu me lembro, essa não é a primeira vez.

— Pois é, ela vive tendo esses surtos pacíficos. Logo, logo ela cansa e volta pior, você vai ver. 

A Dani ergueu as sobrancelhas. Acho que ela não é muito acostumada com esse tipo de maldade entre as pessoas; ela vivia contando que a sua turma era super unida e que se dava muito bem.

— Mas nesse ano tudo vai ser diferente pra você, porque finalmente estamos juntas. Depois de todo esse tempo em turmas diferentes…

— Sim! – e apertamos nossas mãos, com sorrisos de orelha a orelha.

Eu já perdi a conta de quantas vezes fomos à sala da diretora Luíza pra pedir que ou a Dani viesse pra minha turma ou que eu fosse pra turma dela, mas ela dizia que as turmas estavam lotadas e isso seria impossível – mas aposto que se a Virgínia pedisse, ela acataria na hora. Independente de qualquer coisa, acho que a diretora não mentiu sobre a lotação das salas, porque esse ano só foi possível colocar a Dani na nossa turma devido ao esvaziamento sinistro que a escola sofreu por conta do aumento da mensalidade.

— E falando na nossa turma, por que você não fala do nosso coleguinha favorito? – a Dani perguntou com um olhar cheio de malícia.

— Que coleguinha? – me fiz de desentendida.

— O Lucca, ué!

— O que tem ele? – sorri envergonhada.

— Você me contou por mensagem que ele falou com você a semana inteira. Você acha que você e ele…?

Eu sabia como ela terminaria a frase, então já a respondi:

— Não sei, mas eu quero.

— Cara, eu super acho que vocês ainda vão ficar juntos pra valer.

— Eu não sei se isso vai acontecer, mas bem que eu mereço né?

— Orra! E como. São o que? Quatro anos de espera?

— Três. - corrigi.

— Olha só isso! É claro que merece ficar com ele! Eu, no seu lugar, já teria desencanado há muito tempo, mas você ocupou e resistiu.

Ocupei e resisti, mas eu sei bem o porquê da minha insistência. Não é como que se eu tivesse um mundo caindo aos meus pés. Eu sei das minhas limitações e é sempre um problema tentar explicar isso, porque nunca entendem muito bem aonde eu quero chegar – e por "entendem", me refiro à Dani, que é a única pessoa com quem converso. Só que mesmo sendo mal compreendida, eu continuava tentando me explicar:

— Por muito tempo eu pensei que nunca mais beijaria na vida. Eu cheguei mesmo a pensar que eu era uma asquerosa, que ninguém olharia pra mim de verdade. - eu disse cabisbaixa, com medo de deixar escapar uma emoção além da que eu realmente tava sentindo; eu tava falando isso na boa.

— Agora você tá vendo que não tem nada a ver. Você não tem nada de asquerosa e um dos meninos mais legais da escola tá totalmente na sua.

Por mais que a Dani ainda não estivesse atenta aos meus verdadeiros temores, ela sempre foi muito boa nisso de me acalmar. Ela sempre conseguiu me deixar em paz, dizendo e fazendo a coisa certa, por mais que eu nunca vá conseguir ser a mesma pessoa pra ela. Ela nunca esperou nada em troca e é o que mais me deixa confortável na nossa amizade, porque eu não tenho nada a oferecer pra ela além da minha presença. Ela merece todo o mérito pela nossa parceria. 


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