As Sete Ameaças escrita por Leh


Capítulo 6
Parte I: Os Sete – A irmandade de Zaki e Paul 2




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— Eu sempre quis me transformar em um dragão! – exclamou Yuki alegre.

— Não fique feliz! Ele vai nos matar! – gritou Ana.

Esse era, de fato, uma questão que Zaki sempre quis resposta: se o menino era cego, como podia se transformar em animais que nunca tinha visto? Por esse motivo, ele disse:

— Vai, Yuki!

Mesmo sabendo que, dos quatro, ele era o que mais tinha chances de vencer o dragão.

— Eu estou com medo, irmãozão.

Zaki Leeu trincou os dentes com raiva.

— Não sou seu irmão!

E quando se virou novamente para a cena, notou que não via mais Yuki. Será que ele tinha sido devorado pelo dragão?

Ana estava paralisada, olhando para as chamas à sua frente. Ela provavelmente sabia que nem sua força bruta seria capaz de vencer as chamas de um dragão.

Então, do outro lado do fogo, um dragão exatamente igual ao primeiro cresceu e rugiu. Esse segundo monstro recuou alguns passos adentrando o círculo de fogo, defendendo os que estavam ali dentro.

— É Yuki? – perguntou Zaki impressionado.

— É! – respondeu Ana um pouco mais alegre.

— Como ele fez isso?

A garota correu para perto dos outros dois com os olhos fixos no segundo dragão.

— Ele atravessou a coluna de fogo para tocar o dragão.

Questão um, respondida: o garoto cego tocava os animais que nunca vira para se transformar neles. Questão dois e mais importante: como eles sairiam dali?

Zaki precisava pensar em algo e rápido, mas pensar nunca fora seu forte. O garoto era instintivo e impulsivo, ele agia e depois raciocinava. Talvez por isso, aos seus sete anos, tivesse tantas cicatrizes quanto um adulto guerreiro.

Enquanto isso, o primeiro dragão atacou o segundo, que tentava revidar com o máximo de destreza que conseguia, mas ele claramente não estava acostumado à forma do animal e não parecia muito bem-sucedido na tarefa de ferir o outro.

Logo os dragões começaram a rugir de dor e a soltar fogo para ferir o outro, mas nenhuma das rajadas parecia realmente atingir ninguém, elas simplesmente colocavam mais fogo na floresta, criando uma fumaça negra que se arrastava pelo céu e abafava o interior do círculo de fogo.

— Você precisa parar isso – falou Ana para Zaki enquanto tossia por causa da fumaça – Eles vão se matar e não vamos conseguir sair daqui!

— Por que eu?

— Por que a sua ameaça é de fogo, seu jumento.

Leeu então começou a ouvir a tosse fina de Paul e, por mais que insistisse que detestava o pequeno, seu instinto protetor falou mais alto e ele tirou a camisa, entregando para o mais novo.

— Coloca isso na boca para respirar, assim você não vai sugar tanta fumaça.

— E você, irmãozão?

— Não sou seu irmão, e vou ficar bem. Coloca logo isso.

Com a certeza de que iria atrasar o envenenamento de Paul pela fumaça, Zaki juntou mais chamas em suas mãos e deu um tiro certeiro no dragão que parecia estar vencendo a luta, acreditando que fosse o primeiro dragão.

O monstro deu um rugido e diminuiu de tamanho até se transformar em Yuki.

— Seu idiota! – gritou Ana correndo para onde o amigo estava – Olha só o que você fez!

O colega cego agora tinha uma queimadura relativamente feia e pequena no ombro. Zaki agradeceu internamente o couro grosso do dragão e seu tamanho exagerado.

— Desculpa, Yuki.

— Está tudo bem – disse ele ofegante e engolindo gordas golfadas de ar e fumaça, que logo o fez tossir.

Zaki tinha plena consciência que tinham de sair dali depressa ou iriam estar em uma situação muito grave.

Ele encarou o dragão, que rugiu triunfante e começou a soltar lufadas de fogo, alimentando mais o enclausuramento deles. Olhou para Paul, que parecia normal, apenas um pouco mais sujo que o normal, e ficou aliviado.

Mas Ana e Yuki não estavam nada bem. Yuki continuou tossindo desesperado e embora seu nariz tivesse parado de sangrar, o rosto do garoto estava vermelho e seu ombro cheio de bolhas. Ele tinha chegado ao seu limite.

Já Ana, estava respirando aquele ar há muito tempo e não era resistente como Zaki nem tinha a proteção de Paul, logo começou a titubear, até cair no chão desacordada. O amigo ferido começou a chamar seu nome a balança-la.

Zaki olhou para o menor deles, que estava apavorado, ainda com o pano no rosto. Então uma luz brilhou na mente de Leeu e ele finalmente tinha um plano. Simples, mas tinha que funcionar.

— Escuta, pirralho, eu vou distrair o dragão e você tirar aqueles dois dali.

— Como?

— Você esqueceu qual a sua ameaça?

— Mas eu não sei usá-la!

— Paul olha ao seu redor! Estamos encurralados e não vamos ter a mínima esperança sem você! Leve eles dois daqui.

— Mas irmãozão, eu não consigo!

— Consegue sim! Você é nossa única esperança de sair daqui! Vai!

Talvez fosse o fato de que, pela primeira vez Zaki não tivesse dito “eu não sou seu irmão” ou o fato de que o ídolo do pequeno Paul acreditava nele, de um jeito ou de outro, o peito do pequeno Maus se inflou e ele acenou, cheio de coragem.

Zaki Leeu se virou para o dragão e lançou outra bola em chamas, atingindo o peito do monstro em cheio e fazendo-o rugir de dor.

Ele olhou de soslaio e viu que Yuki também tinha desmaiado e Paul estava segurando o punho dos dois colegas e tentando se concentrar, mas ele ainda encarava o dragão atônito.

O mais velho sabia que tinha que afastar o monstro de perto do outro para que ele tivesse a mínima chance de sair daquele transe. Então ele correu para fora do círculo de fogo e lançou mais e mais bolas de chamas no dragão, chamando a atenção do outro.

— Vem me pegar, sua grande bola de carne!

O animal rugiu, raivoso, e começou a seguir Zaki.

Enfim, os efeitos da fumaça começaram a atingir o garoto que iniciou uma crise de tosse. Quanto mais corria para tirar o dragão de perto de Paul, mais ofegante ficava, mais respirava e mais tossia. Logo não tinha mais forças para continuar correndo e simplesmente parou.

A visão começou a ficar embaçada, mas sustentou sua consciência firmemente enquanto lançava suas chamas para o monstro e desviava de seus ataques.

Então seu peito começou a doer como se estivesse sendo queimado e ele caiu de joelhos, apenas esperando que Paul já tivesse conseguido sair da floresta com Yuki e Ana.

Ele ouviu o vento sibilar antes de ver a pata gigantesca atingi-lo na lateral direita e lança-lo.

Zaki se espatifou em uma árvore e sentiu todo o seu lado doer. Tinha certeza que tinha quebrado alguma coisa.

Viu a pata gigantesca acima dele e sabia que ia ser esmagado, então fechou os olhos e esperou a morte.

Sentiu um grande puxão e teve a sensação de ser empurrado a uma velocidade enorme. Não teve coragem de abrir os olhos para saber se estava no céu ou no inferno. Mas escutou um choro de criança insistente ao longe que dizia:

— Irmãozão! Irmãozão, acorda!

E fez um último esforço para abrir os olhos e segurar o ombro magrelo de Paul e dizer:

— Bom trabalho, irmãozinho.

Então tudo ficou escuro.

 


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Notas finais do capítulo

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