As Sete Ameaças escrita por Leh
Notas iniciais do capítulo
Vocês odeiam o Zoro? Tem certeza?
No instante que Nina viu a quantidade de soldados, sabia que nem todos iriam sair ilesos. Olhou ao redor com um pouco de urgência e finalmente viu o homem que procurava: Zoro.
O rei usava uma armadura negra e tinha uma expressão séria. Ele a olhava nos olhos como se visse apenas Nina naquele mar de pessoas. Então ele gritou e todos os seus soldados começaram a avançar. Contudo Zoro não entrou na guerra com eles, voltou para seu castelo e atravessou a porta. Nina tinha que segui-lo.
Largou a arma no chão por que sabia que não tinha tempo para mirar e recarregar, então apenas começou a andar em frente. Soldados brandiam suas espadas para ela, mas bastava uma ordem e eles começavam a lutar entre si. Então o caminho estava livre para andar e foi o que fez.
Subiu com tranquilidade as escadas e adentrou o castelo. Era simples por dentro, apenas alguns tapetes nas paredes com desenhos de espadas e escadas. Tantas escadas que algumas pareciam não levar a lugar algum, e realmente não levavam.
Nina correu pela primeira escadaria que tinha na frente e deu com uma parede, voltou o caminho e correu por um corredor que levou a mais degraus e uma porta que quando aberta mostrava nada mais que uma parede de tijolos. E assim se seguiu por tanto tempo que Nina gritou de frustração. Talvez Yuki conseguiria andar por ali e usar sua ecolocalização de morcego, mas ela não conseguia entender a lógica daquele lugar.
Então, como um relance, viu um vulto à sua direita e correu em sua direção. Entrou em um salão espaçoso com mais tapetes e um grande trono no fundo e era para onde Zoro estava indo neste momento.
Nina rapidamente pensou que só podia ser uma armadilha, ele a tinha atraído até ali para que pudesse matá-la ou estupra-la. Contudo ela ainda podia contar com sua ameaça. Só abrir a boca e já poderia acabar com o rei.
Mas mesmo com Zoro calado e passivo, ela não conseguia ataca-lo. Ela o olhava e abria a boca, mas nada saía, nem um único som. Uma lágrima de frustração desceu por sua bochecha.
O homem finalmente virou-se e se sentou no trono negro. A coroa não estava na cabeça e os cabelos castanhos caíam sobre seus olhos cansados. Seu rosto que sempre contava com uma pele impecável e sóbria estava com uma barba rala e olheiras.
— Noites sem dormir, majestade? – ironizou Nina.
Ele riu e acomodou-se melhor.
— Desde que Jaroisk morreu, Nina. Kilo e Hommer são homens intuitivos e gananciosos. Não pensaram direito antes de fazer o que fizeram. Inclusive, exatamente como vocês estão fazendo agora.
O rei pegou uma taça de metal que estava em uma pequena mesa ao lado do trono e bebericou.
— O que quer dizer com isso?
— Nina, vocês invadiram Gapo com dezoito pessoas? – ele deu uma risada, mas não tinha humor em seus olhos – Por favor, se eu não fosse tão compassivo vocês estariam liquidados em minutos.
— Compassivo? Tem mais que dez vezes mais pessoas ali.
— Isso é Gapo, Nina. É a capital da nação mais militarizada, você não esperava que houvessem apenas duzentos soldados, não é mesmo? Eu evacuei a cidade alguns dias atrás.
— Mas... aquelas pessoas que morreram nos terremotos...
— Alguns cidadãos não tinham para onde ir e preferiram ficar, assim como esses soldados – ele deu mais um gole em seu cálice e sorriu – Por mais que eu tenha feito muitas coisas ruins nessa vida, ainda existem pessoas fiéis a mim.
Nina bufou.
— Difícil imaginar.
— Houve um tempo Nina, em que eu arranjei inimigos por todo o reino, pessoas poderosas. Depois de derrota-los consegui um apoio muito grande do povo.
— Você não tem sangue real – lembrou Nina.
— Não – confirmou bebendo mais um gole e tossindo no processo – Eu tenho sangue de camponês.
Ela continuou calada, esperando que ele falasse. Por algum estranho motivo queria saber mais sobre Zoro e as paredes isolavam o som da batalha abaixo, fazendo os dois esquecerem da guerra que estava sendo travada.
— Há exatos vinte e dois anos, o antigo rei, Tut, descobriu uma espécie de... profecia que dizia que pessoas com poderes incríveis o tirariam do poder, então ele decretou a morte à todas as Ameaças de Gapazium.
— Os Anos Negros.
— Exatamente. Muito sangue inocente foi derramado, muitas crianças, principalmente. Eu morava em uma pequena vila na extremidade de Gapazium com minha mulher e minha filha. Um dia os soldados vieram e reconheceram uma ameaça em minha menina. Eu os matei e fugimos. Passamos muito tempo fugindo do rastro dos soldados até eu me irritar. Ouvi falar de Ivo Jaroisk, em uma vila por perto e mandei minha mulher com minha filha para lá.
— Para treinar com Ivo?
— Pensei que fosse mais seguro se elas ficassem no lar de um dos maiores treinadores de Ameaças e mais importantes soldados de Gapazium. Com a certeza de que estavam seguras, me direcionei para Gapo, onde encontrei o rei e o desafiei. Tut era um homem muito vaidoso, mas um péssimo guerreiro. Não precisei de muito para vencê-lo. Contudo, como eu disse existiam pessoas muito poderosas que estavam interessadas no trono e vieram para Gapo em busca dele.
— Você os venceu também.
— Sim – falou dando mais um gole – Grandes nobres e ambiciosos que com toda a certeza dariam continuidade ao projeto de Tut, e eu não podia deixar que isso acontecesse. Depois que mais ninguém queria me desafiar, o povo insistiu que eu ficasse e eu o fiz.
— E trouxe sua família?
— Não. Eu julguei perigoso demais. Em vez disso fiquei sozinho e garanti que ninguém incomodasse Ivo e seus pupilos em demasia.
— Sua filha...
— Ela tinha se juntado a eles, sim.
Nina secou uma lágrima com as costas da mão, mas não queria que Zoro parasse. Nem se importava se era mentira, só queria ouvir o que ele queria dizer.
— Você nos atacou.
— Houve uma conferência entre os reis. Kilo queria matar todos e Hommer nunca tem opinião suficiente para decidir, normalmente escolhe o que mais o convencer. Eu não podia ignorar vocês e fingir que não poderiam nos fazer mal em um futuro, mas consegui convencê-los a apagar suas memórias e lhes isolar.
— Você veio pessoalmente me enviar à uma casa de damas – protestou Nina com mais lágrimas nos olhos quando se lembrou do pesadelo que vivera.
— Kilo exigiu que um de vocês fosse enviado para o coliseu e outro para uma casa de damas, isso o fazia rir. Eu sabia que você tinha uma ameaça que conseguiria lhe esconder e ao mesmo tempo lhe proteger. E que você era inteligente o suficiente para não revela-la.
— Sophie não iria aguentar e Ana seria descoberta pela força demasiada – supôs ela entendendo a escolha de Zoro.
— Exato.
— Então tudo o que você fez... por todo esse tempo...
— Foi proteger vocês. Era tudo o que eu queria.
— E agora?
Ele riu e entornou o resto do cálice, tendo uma crise de tosse no processo.
— Agora – falou ele com voz rouca – Eu passo meu trono à minha herdeira – ele levantou-se com dificuldade e tirou a coroa negra da cabeça, colocando-a no encosto do trono. Ele então olhou Nina nos olhos e sorriu, as bochechas molhadas.
Ela não se conteve, correu, atravessando o salão e abraçou-o com força. O rei retribuiu sem abraço, passando a mão por seus cabelos e molhando-os.
— Não quero o trono – falou Nina com a voz embargada.
— Isso não é mais uma opção – declarou ele se afastando.
Zoro passou a mão pelo rosto da mulher, acariciando suas bochechas com o dedão e plantou um beijo no topo de sua cabeça.
— Lembre-se, Luzarium e Paladium não serão tão fáceis. Não cometa o mesmo erro, Nina. Pensem bastante e façam uma estratégia antes de invadir.
Ela apenas assentiu.
— Boa garota. Em breve nos veremos novamente.
Zoro deu mais um beijo no topo da cabeça de Nina e caminhou decidido até a janela. Quando ela percebeu o que faria, era tarde demais.
— Não!
Mas Zoro já tinha pulado e tudo o que ela pôde ouvir foi seu impacto no chão e logo depois um silêncio sepulcral.
Sua respiração descompassou, seu peito deu uma pontada forte e ela começou a suar. Então o salão girou e Nina desabou.
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Ainda odeiam o Zoro?