As Sete Ameaças escrita por Leh


Capítulo 56
Parte IV: Sangue e Água – A morte de Zoro.


Notas iniciais do capítulo

Vocês odeiam o Zoro? Tem certeza?



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No instante que Nina viu a quantidade de soldados, sabia que nem todos iriam sair ilesos. Olhou ao redor com um pouco de urgência e finalmente viu o homem que procurava: Zoro.

O rei usava uma armadura negra e tinha uma expressão séria. Ele a olhava nos olhos como se visse apenas Nina naquele mar de pessoas. Então ele gritou e todos os seus soldados começaram a avançar. Contudo Zoro não entrou na guerra com eles, voltou para seu castelo e atravessou a porta. Nina tinha que segui-lo.

Largou a arma no chão por que sabia que não tinha tempo para mirar e recarregar, então apenas começou a andar em frente. Soldados brandiam suas espadas para ela, mas bastava uma ordem e eles começavam a lutar entre si. Então o caminho estava livre para andar e foi o que fez.

Subiu com tranquilidade as escadas e adentrou o castelo. Era simples por dentro, apenas alguns tapetes nas paredes com desenhos de espadas e escadas. Tantas escadas que algumas pareciam não levar a lugar algum, e realmente não levavam.

Nina correu pela primeira escadaria que tinha na frente e deu com uma parede, voltou o caminho e correu por um corredor que levou a mais degraus e uma porta que quando aberta mostrava nada mais que uma parede de tijolos. E assim se seguiu por tanto tempo que Nina gritou de frustração. Talvez Yuki conseguiria andar por ali e usar sua ecolocalização de morcego, mas ela não conseguia entender a lógica daquele lugar.

Então, como um relance, viu um vulto à sua direita e correu em sua direção. Entrou em um salão espaçoso com mais tapetes e um grande trono no fundo e era para onde Zoro estava indo neste momento.

Nina rapidamente pensou que só podia ser uma armadilha, ele a tinha atraído até ali para que pudesse matá-la ou estupra-la. Contudo ela ainda podia contar com sua ameaça. Só abrir a boca e já poderia acabar com o rei.

Mas mesmo com Zoro calado e passivo, ela não conseguia ataca-lo. Ela o olhava e abria a boca, mas nada saía, nem um único som. Uma lágrima de frustração desceu por sua bochecha.

O homem finalmente virou-se e se sentou no trono negro. A coroa não estava na cabeça e os cabelos castanhos caíam sobre seus olhos cansados. Seu rosto que sempre contava com uma pele impecável e sóbria estava com uma barba rala e olheiras.

— Noites sem dormir, majestade? – ironizou Nina.

Ele riu e acomodou-se melhor.

— Desde que Jaroisk morreu, Nina. Kilo e Hommer são homens intuitivos e gananciosos. Não pensaram direito antes de fazer o que fizeram. Inclusive, exatamente como vocês estão fazendo agora.

O rei pegou uma taça de metal que estava em uma pequena mesa ao lado do trono e bebericou.

— O que quer dizer com isso?

— Nina, vocês invadiram Gapo com dezoito pessoas? – ele deu uma risada, mas não tinha humor em seus olhos – Por favor, se eu não fosse tão compassivo vocês estariam liquidados em minutos.

— Compassivo? Tem mais que dez vezes mais pessoas ali.

— Isso é Gapo, Nina. É a capital da nação mais militarizada, você não esperava que houvessem apenas duzentos soldados, não é mesmo? Eu evacuei a cidade alguns dias atrás.

— Mas... aquelas pessoas que morreram nos terremotos...

— Alguns cidadãos não tinham para onde ir e preferiram ficar, assim como esses soldados – ele deu mais um gole em seu cálice e sorriu – Por mais que eu tenha feito muitas coisas ruins nessa vida, ainda existem pessoas fiéis a mim.

Nina bufou.

— Difícil imaginar.

— Houve um tempo Nina, em que eu arranjei inimigos por todo o reino, pessoas poderosas. Depois de derrota-los consegui um apoio muito grande do povo.

— Você não tem sangue real – lembrou Nina.

— Não – confirmou bebendo mais um gole e tossindo no processo – Eu tenho sangue de camponês.

Ela continuou calada, esperando que ele falasse. Por algum estranho motivo queria saber mais sobre Zoro e as paredes isolavam o som da batalha abaixo, fazendo os dois esquecerem da guerra que estava sendo travada.

— Há exatos vinte e dois anos, o antigo rei, Tut, descobriu uma espécie de... profecia que dizia que pessoas com poderes incríveis o tirariam do poder, então ele decretou a morte à todas as Ameaças de Gapazium.

— Os Anos Negros.

— Exatamente. Muito sangue inocente foi derramado, muitas crianças, principalmente. Eu morava em uma pequena vila na extremidade de Gapazium com minha mulher e minha filha. Um dia os soldados vieram e reconheceram uma ameaça em minha menina. Eu os matei e fugimos. Passamos muito tempo fugindo do rastro dos soldados até eu me irritar. Ouvi falar de Ivo Jaroisk, em uma vila por perto e mandei minha mulher com minha filha para lá.

— Para treinar com Ivo?

— Pensei que fosse mais seguro se elas ficassem no lar de um dos maiores treinadores de Ameaças e mais importantes soldados de Gapazium. Com a certeza de que estavam seguras, me direcionei para Gapo, onde encontrei o rei e o desafiei. Tut era um homem muito vaidoso, mas um péssimo guerreiro. Não precisei de muito para vencê-lo. Contudo, como eu disse existiam pessoas muito poderosas que estavam interessadas no trono e vieram para Gapo em busca dele.

— Você os venceu também.

— Sim – falou dando mais um gole – Grandes nobres e ambiciosos que com toda a certeza dariam continuidade ao projeto de Tut, e eu não podia deixar que isso acontecesse. Depois que mais ninguém queria me desafiar, o povo insistiu que eu ficasse e eu o fiz.

— E trouxe sua família?

— Não. Eu julguei perigoso demais. Em vez disso fiquei sozinho e garanti que ninguém incomodasse Ivo e seus pupilos em demasia.

— Sua filha...

— Ela tinha se juntado a eles, sim.

Nina secou uma lágrima com as costas da mão, mas não queria que Zoro parasse. Nem se importava se era mentira, só queria ouvir o que ele queria dizer.

— Você nos atacou.

— Houve uma conferência entre os reis. Kilo queria matar todos e Hommer nunca tem opinião suficiente para decidir, normalmente escolhe o que mais o convencer. Eu não podia ignorar vocês e fingir que não poderiam nos fazer mal em um futuro, mas consegui convencê-los a apagar suas memórias e lhes isolar.

— Você veio pessoalmente me enviar à uma casa de damas – protestou Nina com mais lágrimas nos olhos quando se lembrou do pesadelo que vivera.

— Kilo exigiu que um de vocês fosse enviado para o coliseu e outro para uma casa de damas, isso o fazia rir. Eu sabia que você tinha uma ameaça que conseguiria lhe esconder e ao mesmo tempo lhe proteger. E que você era inteligente o suficiente para não revela-la.

— Sophie não iria aguentar e Ana seria descoberta pela força demasiada – supôs ela entendendo a escolha de Zoro.

— Exato.

— Então tudo o que você fez... por todo esse tempo...

— Foi proteger vocês. Era tudo o que eu queria.

— E agora?

Ele riu e entornou o resto do cálice, tendo uma crise de tosse no processo.

— Agora – falou ele com voz rouca – Eu passo meu trono à minha herdeira – ele levantou-se com dificuldade e tirou a coroa negra da cabeça, colocando-a no encosto do trono. Ele então olhou Nina nos olhos e sorriu, as bochechas molhadas.

Ela não se conteve, correu, atravessando o salão e abraçou-o com força. O rei retribuiu sem abraço, passando a mão por seus cabelos e molhando-os.

— Não quero o trono – falou Nina com a voz embargada.

— Isso não é mais uma opção – declarou ele se afastando.

Zoro passou a mão pelo rosto da mulher, acariciando suas bochechas com o dedão e plantou um beijo no topo de sua cabeça.

— Lembre-se, Luzarium e Paladium não serão tão fáceis. Não cometa o mesmo erro, Nina. Pensem bastante e façam uma estratégia antes de invadir.

Ela apenas assentiu.

— Boa garota. Em breve nos veremos novamente.

Zoro deu mais um beijo no topo da cabeça de Nina e caminhou decidido até a janela. Quando ela percebeu o que faria, era tarde demais.

— Não!

Mas Zoro já tinha pulado e tudo o que ela pôde ouvir foi seu impacto no chão e logo depois um silêncio sepulcral.

Sua respiração descompassou, seu peito deu uma pontada forte e ela começou a suar. Então o salão girou e Nina desabou.


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Notas finais do capítulo

Ainda odeiam o Zoro?