As Sete Ameaças escrita por Leh


Capítulo 54
Parte IV: Sangue e Água – Enterro do Mestre.




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Era uma noite muito normal em uma das vilas satélites. As chamavam assim pois rodeavam a capital de Gapazium. Essa vila em específico era perto da vila em que os Sete tinham sido criados e treinados.  Aquela mesma vila estava mais agitada desde que, há dois dias, um pequeno contingente de soldados chegou trazendo uma perna de ninguém mais ninguém menos que Ivo Jaroisk.

Os soldados, um de cada exército, ainda estavam ali, mas não pareciam ter a esperança de que qualquer coisa emocionante fosse acontecer.

Era muito comum pessoas passarem pela vila para reabastecer para viagens, por isso não se importaram com a estranha que passou decidida pelo centro da vila. Ali encontrou a perna, branca e um pouco azulada. Agiu muito rapidamente, sacou a espada e atravessou dois soldados antes do terceiro perceber que estava sendo atacado. A batalha dos dois não durou nem um minuto antes que o soldado perdesse a cabeça e a invasora fez questão de retirar a cabeça dos outros dois também, para só depois pegar a perna que estava ali, ignorando os olhares assustados.

Então, Riley Eagle saiu da vila calmamente, com o caminho aberto para si como se fosse alguém importante. E ela era, sabia que sim. Ninguém conseguiria acabar com três soldados tão rapidamente como ela fizera e sem nenhuma ameaça.

Ela andou por algum tempo, respirando pesadamente pelo peso da perna até que finalmente chegou onde Paul a esperava, com uma mão arroxeada.

— Deixe-me levar isso para você – falou ele pegando a perna e colocando-a nas costas.

— Como você saiu tão rápido?

Ele deu um sorriso traquina.

— Eu apareci, peguei a perna e fui embora em dez segundos. Ninguém notou.

Riley sentiu-se estúpida por não ter pensado nisso. Paul conseguia pegar coisas discretamente sem derramar uma única gota de suor. Ela sorriu e beijou-lhe a bochecha.

— Vamos voltar para a vila.

E em um puxão incômodo e menos de um segundo estava no centro da vila, onde todos os esperavam.

Foram os primeiros a chegar. Quon e Ibraim pegaram a mão e a perna e a carregaram até o centro da vila onde estava a cabeça de Ivo.

— Vou pegar os outros – falou Paul.

— Deixe que eu vá com você.

Ele assentiu e segurou sua mão. Então o puxão se fez sentir novamente e de repente eles estavam na entrada de uma vila tão pequena que dava para ver Zaki ali no meio. Ele parecia ter acabado de chegar e os soldados estavam em frente a ele. Então três colunas de fogo subiram do chão até o céu, encobrindo os soldados, e eles transformaram-se em cinzas, deixando apenas um círculo negro para cada um no chão. Zaki pegou o pé que estava em cima de uma mesa e foi até Paul com a maior calma do mundo.

— Obrigado por vir – falou quando alcançou os dois.

— Não há de quê, irmãozão.

Então o puxão veio novamente e estavam no centro da vila. Era impressionante que, quanto mais viajava com Paul, mais se acostumava com o incomodo e menor ele ficava.

— Estamos indo pegar os outros – falou Riley para Zaki, que assentiu antes que eles fossem embora novamente.

De repente estavam no centro de outra vila, em que tudo estava revirado de cabeça para baixo. Clyde estava abaixando para pegar um peito cabeludo.

— Este parece pesado – comentou Paul – Quer ajuda?

— Não – cortou o outro pegando o tronco com um pouco de dificuldade e chegou perto para que Paul o pegasse e o levasse de carona na viagem.

Deixaram então Clyde com os outros e foram até onde Nina estava. A encontraram nas margens da vila.

— Você está com medo? – perguntou Riley.

— Não há nada ali e quase fui pega pelos soldados.

— Pode ser que Sophie, Ana e Yuki estejam com problemas – falou Paul pegando a mão de Nina com pressa – Vamos logo.

Encontraram Yuki sobre ruínas de uma vila em chamas, procurando algo nos destroços.

— O que houve aqui? – perguntou Riley correndo para onde o outro estava.

— Os soldados vieram para cima de mim e eu destruí a vila, mas enterrei o braço de Ivo.

— Vou pegar Ana para ajudar – falou Paul desaparecendo. Riley imediatamente subiu o monte de destroços em que Yuki estava para ajudá-lo. Ela não entendia como ele conseguia levantar aquelas pedras pesadas, mesmo que com muito esforço. Ela mesma não aguentava as levantar nem um centímetro.

— Deixe isso Riley – falou ele pagando gentilmente a mão dela – São pesadas demais para você.

— Mas quero tirar o braço de mestre Ivo dali.

— Anya irá tirar.

Riley então lembrou-se da pergunta que sempre quis fazer para Yukiko.

— Por que você a chama de Anya?

Ele sorriu carinhosamente.

— Por que gosto de ser o único a chama-la assim.

Riley sorriu com o pensamento. Cada um demonstrava o carinho pelo outro de maneira diferente. Yuki mostrava nas pequenas coisas.

Paul chegou com Ana, que carregava uma perna no ombro como quem carrega uma mochila. Ela deu um assobio, impressionada com a destruição da vila.

— Onde está ele? – perguntou colocando a perna no chão e escalando os destroços para onde estavam os outros dois.

— Em algum lugar aqui embaixo.

— Certo.

Com Ananya ali foi fácil tirar tudo. Ela pegava as pedras como se fossem cascalhos e as atirava do outro lado da pequena vila. Em segundos já estavam vendo o braço de Ivo, amassado e dilacerado, mas inteiro.

— Pronto – falou ela puxando o braço.

— Obrigado Anya.

Ela o olhou e corou, sorrindo.

— Vamos? – perguntou Paul ficando bem mais sério de repente, com a eminência do que estava por vir.

— Sim – concordou Riley.

Ana pegou a perna e a mão de Yuki, que segurava o braço, Riley e Paul se deram as mãos e ele encostou em Ana. E então estavam no centro da vila dos Sete, onde os outros estavam reunidos no centro, montando os restos de Ivo em uma cova.

— Vou pegar Sophie agora – falou Paul soltando Riley – Volto rápido.

Riley se aproximou dos outros, ajudando a formar o grande círculo que estava ao redor da cova. As lágrimas a assaltaram novamente. Sentia tanta falta do mestre. Ontem mesmo ele tinha dito que ia apenas procurar pelos outros e cumprir a promessa que fizera a Potter Lobus.

Paul retornou com Sophie no mesmo instante que Quon tinha acabado de “montar” Ivo.

Eles terminaram o círculo e Paul segurou a mão de Riley, ela não conseguia conter as lágrimas.

Quon e Ibraim iam jogando terra devagar, enquanto os outros faziam suas preces para que Ivo Jaroisk estivesse bem. Enfim todo o buraco foi coberto.

E assim, Ivo Jaroisk pôde, finalmente, descansar em paz.


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