As Sete Ameaças escrita por Leh
Tinham montado acampamento pela noite, mas Clyde não conseguia dormir. Disse que ficaria acordado, alerta, porém Imad garantiu que ficaria acordado, Eagle precisava dormir e estar pronto caso tivessem uma batalha no meio da noite. Saulo propôs-se a ficar em alerta com o outro e assim ficou acordado.
Todos dormiram, Clyde demorou mais que os outros a relaxar, mas também pegou no sono e logo até mesmo os cavalos roncavam.
Imad e Saulo estavam em pé, cada um em uma extremidade do pequeno acampamento, alertas. Os grilos gritavam em algum lugar por perto e uma coruja piou, mas os dois mantiveram silêncio. Até Saulo não aguentar mais.
— Você sumiu.
— Eu estava no exército.
— Eu também, mas isso não me impediu de enviar sinal de vida.
— Você não estava infiltrado, ninguém podia saber minha identidade. Eu precisava ser Sam Loyid.
— Você acha que não tomei esse cuidado?
— Eu precisava ser Sam Loyid, o soldado sem passado.
— Todo mundo tem passado, até mesmo Sam Loyid deveria ter um.
— Não com um soldado do Exército de Libertação.
— Você me irrita.
— Você também me irrita. Quase comprometeu minha missão.
— Você comprometeu a própria missão. Seu pai não vai ficar nada feliz ao saber que você saiu do posto.
— Eu estava guiando Clyde.
— Eu poderia fazer isso, nós iríamos encontra-lo, se você tivesse enviado uma maldita carta.
— Você nem ao menos sabia que Ananya era uma integrante dos Sete.
— Você também não sabia sobre Clyde.
— Ele não usava a ameaça dele, diferentemente de Ananya.
— Você está novamente tentando me convencer o quão inútil e patético eu sou.
Imad suspirou pesadamente.
— Não é nada disso, Saulo.
— É sim. Você sempre faz isso como se eu fosse uma mulher.
— Você age como uma mulher.
— Mas eu não sou. Tenho provas que sou bem homem.
Sophie remexeu-se e abriu ligeiramente os olhos.
— Está tudo bem? – perguntou, a voz rouca de sono.
— Sim – respondeu Saulo tranquilamente – Sinto muito, volte a dormir.
Ela, porém, sorriu e sentou-se, bocejando.
— Vocês parecem um casal discutindo.
— Não somos um casal – apressou-se Saulo.
— Quê? – falou Imad.
— Como assim “quê?”
— Nós somos um casal.
Saulo riu, primeiro alto, depois controlou-se e gargalhou silenciosamente.
— Você sumiu – argumentou – Por três anos. Três malditos anos, sem nem ao menos uma carta. Sabe o que eu passei nesses três longos anos?
— Sei sim. Você falou sobre cada sentimento seu em todas as suas cartas.
Saulo travou.
— Você disse que não as recebia.
— Não disse isso, só disse que não respondia.
Sophie piscou.
— Vocês falam rápido demais. Deixe-me ver se entendi. Os dois tinham um relacionamento, mas, quando Imad foi para o exército disfarçado, ele cortou o relacionamento e agora que vocês se reencontraram, ele quer voltar, mas você reluta, é isso?
— Você leu todas as minhas cartas? – perguntou Saulo ignorando Sophie completamente.
— Sim, eu lia. Tinha muita vontade de responder, mas você sabe que meu pai não aprovaria.
— Desde quando você liga para o que seu pai diz? Nós começamos um relacionamento sem o consentimento dele!
Imad deu de ombros.
— Acho que depois que ele desapareceu, deixa-lo orgulhoso, pelo menos seu espírito, tornou-se uma missão secreta para mim.
Saulo sorriu.
— Isso é lindo, mas ainda assim, você me ignorou completamente.
— Não era o que eu queria. Eu juro.
— Mesmo?
— Mesmo. Me perdoa?
O outro deu de ombros.
— Se você parar de dizer que eu pareço uma mulher, sim.
— Impossível, você é uma mulher em um corpo masculino.
— Idiota.
— Você também é.
Sophie então deitou ao som daquela discursão acalorada sobre quem era mais idiota. Ela sorria, sabendo que eles, no fundo, não se importavam com isso.
—x-x-x-x-x-
Acordaram ao amanhecer. Comeram um pouco dos mantimentos que tinham na sacola de Clyde, que acabaram naquele mesmo momento com o aumento de pessoas.
— Precisamos comprar mantimentos.
— Não – disse Saulo – Estamos perto da vila.
— Não estamos, não.
— Sim, nós estamos.
— Não.
— Parem com isso – falou Imad para os dois – Clyde, Saulo é o nosso geógrafo, ele entende de espaço geográfico.
Clyde olhou para o outro, desconfiado.
— Quantos anos você tem?
— Minha idade não é relevante quanto ao meu conhecimento. Chegaremos à vila no final da tarde.
— Você quer que passemos o dia inteiro sem comer? – falou Pamela assustada.
— Tenho certeza que Nat...
— Ananya.
— Ananya aguentaria. Imad, Clyde e Logan também.
— E eu e Sophie?
— A única aglomeração populacional perto daqui – continuou – É em alguns metros, mas é uma vila militar de Paladium, não podemos nos arriscar.
— Você está falando de Trépadus – falou Clyde – Estamos perto de Trépadus?
— Relativamente perto. Diria que em algumas horas de cavalgada seria suficiente para chegarmos lá.
— Impossível.
— Clyde, nós cavalgamos quase a noite inteira. Demos o máximo dos cavalos. Cavalos não andam a vinte quilômetros por hora, eles são rápidos.
— Se o que você estiver dizendo estiver certo...
— Está certo.
— Então estamos bem perto da vila.
— Estamos.
— Então vamos testar essa teoria.
— Não é uma teoria.
— Vamos cavalgar!
Saulo revirou os olhos e montou no cavalo malhado atrás de Imad, enquanto os outros também montavam e davam partida.
Cavalgaram durante o dia inteiro, com Pamela reclamando e gemendo de fome, mas acompanhando mesmo assim.
No final da tarde, quando todos estavam realmente com fome, o terreno deu um declive súbito e eles encontraram o rio Eradis, que separava os três reinos.
Do outro lado do rio, bem abaixo de onde estavam, uma clareira mostrava a vila dos Sete, cercada por soldados e completamente vazia se não pelos militares. Um pouco ao longe, um aglomerado de rochas que pareciam medianamente organizadas e um terreno batido onde havia uma fogueira e uma gaiola aparentemente vazia.
— Bem... – começou Saulo um pouco chocado com a quantidade de soldados ali – Como eu disse, no final da tarde.
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