As Sete Ameaças escrita por Leh
Não dava para saber quanto tempo ficaram abraçados. Clyde e Sophie não eram só grandes amigos desde quando nasceram como também eram quase como irmãos. Os dois não se soltavam, com medo que o outro percebesse o quão envergonhados estavam.
Sophie sabia que todos queriam que Clyde se casasse com Nina. Os dois mais velhos, os primeiros pupilos de Ivo, os dois mais bonitos e mais decididos. Ouvira até falar que eles já estavam começando a se misturar. Mas isso fora doze anos atrás.
O primeiro a se afastar foi Clyde.
— Precisamos voltar para a Vila.
— Mas e se mestre Ivo não estiver mais lá?
— Então vamos atrás dos outros.
Clyde tinha quase certeza de que ela iria se encolher, acovardada, como sempre fazia em situações assim. Mas Sophie estava cansada de se esconder.
— Sim, vamos. Mas tenho que levar Pamela conosco.
— Pamela? Por que?
— Por que esse tempo todo ela e sua família me protegeram. Depois que descobrirem que recuperamos nossas memórias, irão atrás de nós. E quando não conseguirem nos pegar, irão atrás deles.
Clyde encarou a amiga e sorriu.
— Sophie Hibou, você mudou.
Ela retribuiu o sorriso.
— Se por isso você diz que não sou mais a garotinha acovardada então sim, eu mudei.
Então eles ficaram apenas se olhando, suas respirações formando pequenas fumaças afrente de seus rostos. Clyde então, movido por uma espécie de magnetismo, começou a se aproximar.
— General McLash – gritou Logan do outro lado da tenda – O Marechal Laroy está lhe convocando para uma reunião em sua tenda.
Clyde então se afasta, começando a respirar mais forte e levanta.
— Estou a caminho – então se abaixa novamente e segura a mão se Sophie – Eu tenho que ir para não levantar suspeitas. Você também terá de fingir que nada aconteceu. À noite, me encontre com sua amiga nos estábulos.
— Certo.
Então ele beijou sua mão e sorriu.
— Estou muito feliz em ver você de novo, Sophie.
— Igualmente.
Saindo da tenda, Clyde encontrou Logan e Sam, os dois amigos inseparáveis que o idolatravam.
— Aproveitando a vida, general? – falou Logan, o mais afoito.
— Não é de seu interesse. Venham.
Os três seguiram pelo acampamento montado em areia cheio de soldados armados passando entre tendas e treinando sua luta.
Entraram na maior tenda, com as cores do reino de Paladium: azul e dourado. No meio estava uma mesa cheio de bonecos espalhados mostrando as táticas e posições atuais dos exércitos. Marechal Laroy estava lá, mas não mexia na estratégia que tinham feito no dia anterior, olhava um pedaço de papel em sua mão. O papel tinha a cor vermelha, mostrando que era uma carta oficial de alta urgência. O coração de Clyde começou a bater mais forte, ameaçando sair pela boca se não a mantivesse fechada.
Marechal Laroy não dispensou Logan ou Sam, pediu que os dois se afastassem um pouco e se aproximou do general.
— Leia.
O outro pegou a carta e leu. Era exatamente o que imaginava. Falava que algumas pessoas extremamente perigosas estavam fugindo de suas posições supervisionadas. Clyde preferiu se fazer de desentendido.
— Devemos ir atrás destes prisioneiros?
— Essa carta não lhe diz nada?
— Diz que alguns prisioneiros fugiram, não entendo por que me chamou para lê-la.
— Eu o chamei general, para ter certeza de onde vem sua lealdade.
— Ao reino de Paladium senhor. Como sempre foi.
— E qual o seu nome?
Clyde fez o possível para não hesitar, como alguém com dois nomes faria.
— Kyle McLash, senhor. Não entendo onde esta conversa vai parar.
Marechal Laroy parou em frente ao outro e estreitou os olhos, encarando-o.
Clyde manteve sua respiração equilibrada, seu rosto impassível e seus olhos sem emoção. Sustentou o olhar do superior por pelo menos um minuto, até ele se virar e pegar a carta novamente.
— Você já ouviu falar nas Sete Ameaças Prodígio, Kyle?
— Não, senhor.
— Não? – intrometeu-se Sam – Como não?
— Sim, general. Como não?
Clyde desejou mais que tudo que Sam, que era o soldado mais calado e recatado, tivesse ficado daquele modo.
— Não sei senhor. Nunca me falaram sobre tal coisa.
— Por que não?
— Não faço ideia.
— Soldado Loyid, por favor, explique para o desentendido general McLash quem são as Sete Ameaças Prodígio.
— Foram os sete pupilos do lendário guerreiro Ivo Jaroisk. Eles eram Ameaças muito fortes. Mas sumiram sem deixar rastros anos atrás – explicou Sam – Doze anos se bem me recordo.
— Sim – confirmou Laroy – Doze anos. O que mais aconteceu há doze anos, general?
Clyde franziu o cenho, tentando o seu melhor fazer-se de desentendido.
— O que está tentando insinuar, marechal?
— Você conhece Clyde Eagle?
— Não é de meu conhecimento.
A mão do marechal voou e atingiu o rosto de Clyde. O homem o estava provocando, mas ele iria reagir como Kyle.
— Como ousa mentir para mim? – gritou o marechal.
— Como ousa me bater? Eu sou o seu mais importante treinador e estrategista. Me chamas hoje para esse interrogatório sem sentido e me agride? Onde você quer chegar marechal Laroy?
Embora qualquer outro tivesse achado aquilo uma insolência contra um superior, o marechal estava acostumado e pareceu satisfeito como a reação.
— Estou satisfeito. Pode ir.
— Não. Quero saber imediatamente o que está se passando.
— Apenas um alarme falso, agora vá.
Clyde estreitou os olhos e fez algo que Kyle nunca faria: virou-se e foi embora, sabendo que precisava sair dali o mais rápido possível.
—x-x-x-x-x-x-
Estava agitado, andando de um lado para o outro, tão nervoso que a fumaça que saía de sua boca não tinha tempo de se dissipar.
O dia se passara com pessoas olhando para ele, como se estivessem vigiando-o. Até mesmo Logan e Sam não desgrudavam os olhos dele.
Teve de fechar sua tenda com o mais forte nó que conseguira e sair por um buraco do outro lado tendo o cuidado de enterrar de novo depois. Deu a volta o mais discretamente possível pelo acampamento, vestindo um manto negro e levando mais dois na mão.
Tinha acabado de celar dois cavalos e apenas esperava Sophie e Pamela.
Elas apareceram em seu campo de visão correndo e olhando constantemente para trás.
— Está aqui há muito tempo? – perguntou Sophie ao chegar.
— Sim – sussurrou ele – Fale baixo e vista isso.
— O que aconteceu? – perguntou Pamela assustada.
— Você explicou para ela?
— Sim. Inclusive que foi chamado pelo marechal.
— Aparentemente os outros também fugiram. Mandaram uma carta vermelha para o marechal avisando que eu também podia ir, fui interrogado. Estão me vigiando, por isso precisamos ser os mais discretos possível.
— Certo.
— Venham, vou ajuda-las a montar.
Quando tinha acabado de colocar as duas em um único cavalo, tirou os dois da baia e trotaram silenciosamente até o lado de fora. Estava pronto para subir no outro cavalo.
— Já vai general? – perguntou Logan.
Clyde se virou e viu não só o homem que falara, como também Sam. Os dois usavam capas preta e o olhavam, segurando mais dois cavalos.
— O que estão fazendo aqui?
— Vamos com você.
— Não vão, não. É muito perigoso e não precisamos de um grupo maior ainda.
— Você não entende, Kyle. Eu preciso conhecer as Sete Ameaças Prodígio – alegou Sam – Eu sou uma Ameaça!
— Depois da conversa que ouvimos hoje, nós sabemos que você vai se encontrar com eles.
— Vocês é quem não entendem. Quando descobrirem que eu fugi, toda essa legião vai atrás de mim.
— Vamos lutar! – falou Sam com mais certeza do que ele já tinha tido antes – Minha ameaça é forte!
— Clyde – falou Sophie – Clyde, temos que ir! As pessoas estão saindo das tendas...
— Clyde? – falou Sam confuso.
Eagle suspirou e concordou.
— Certo, mas montem logo. Temos que ir agora!
Os três montaram em seus cavalos e começaram a se distanciar.
— Atrás deles! – ouviu o marechal gritar.
Então uma chuva de flechas atingiu o chão onde eles tinham acabado de pisar.
— Eles vão nos seguir – gritou Sophie – Andem mais próximos para meu escudo funcionar!
Clyde diminuiu o ritmo um pouco.
— Vou atrasá-los!
Então fez o cavalo dar a volta.
— Faz muito tempo que não faço isso... espero que ainda funcione.
Então lançou seu poderoso vento cortante, que saiu arrasando tudo pela frente, sem perder o poder. Destruiu completamente o acampamento como uma foice gigantesca.
Clyde sorriu voltando para onde os outros estavam. Sophie sorria, Logan e Pamela estavam boquiabertos e Sam parecia ter visto a coisa mais linda do mundo.
— Vamos, isso não vai segurá-los por muito tempo.
— Para onde? – perguntou Sophie – Eles vão direto para a Vila.
O outro olhou para o nada, pensando.
— Onde é um lugar que apenas nós iríamos?
Sophie pensou um pouco.
— Vale das Pedras.
— Então vamos para o Vale das Pedras.
E então partiram pela noite, ouvindo o distante som de cascos de cavalo começando uma perseguição.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E então, agora quero saber: qual o personagem preferido de vocês?