As Sete Ameaças escrita por Leh


Capítulo 25
Parte II: O Reencontro – O Exército de Libertação.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Como hoje é feriado, eu resolvi postar um capítulo a mais! :D
Feliz dia da independência!



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O sol tinha nascido há algum tempo, talvez duas ou três horas. Mas fazia muito mais que isso que os trabalhadores foram acordados a chicotadas para voltar ao trabalho.

Natasha Kamenev era uma dessas pessoas. Ela era uma mulher de estatura mediana com músculos bem pronunciados, cabelos longos e ruivos e olhos verdes. Ela, como todos os trabalhadores, usava roupas cinza e esfarrapadas e algemas nos pulsos.

Caminharam, todos, de cabeça baixa e colunas curvadas até onde estavam as pedras e começaram a puxá-las, outros foram para os andaimes para puxar os blocos para criar os muros.

O castelo estava quase pronto. Seu telhado ainda precisava ser feito e o interior limpo, mas ele era uma construção gigantesca de pedra. Seis andares, cinquenta quartos, cinco salas de trono, dez salas de tesouro, duas arenas de batalha, cinco cozinhas, um calabouço e dez salas de tortura.

O próprio rei Hommer já tinha ido ali para ver, arrancando vivas e glórias de seus servos.

Natasha sabia que o rei não tinha vindo para ver a obra nem para ouvir todas as dores de seus escravos, mas para mostrar suas novas roupas pomposas e joias brilhantes. As pessoas ali eram cegas de devoção ao rei, pensavam que ele se importava com elas e que lhes dera um trabalho, o que já era mais do que poderiam pedir.

Que nobre se importa com escravos?

Passou a tarde inteira puxando as pedras, como deveria fazer. Como todos os dias acontecia, pessoas caíam ao seu redor, famintas, fracas, exaustas. Como poderiam amar um rei que fazia aquilo com eles?

Viu, na visão periférica, um pequeno brilho na floresta. Correu para ver o que era, encontrando Saulo entre as árvores com o espelho voltado para o sol.

Saulo Pinheiro era um soldado de Exército da Libertação. Um homem grande e magro de cabelos negros e olhos castanhos, com pele caramelo e sorriso desafiador.

Saulo e Natasha se conheceram naquela mesma floresta alguns anos atrás, quando ela tentou fugir pela primeira vez. Foi capturada novamente e levada para o campo novamente, onde foi duramente punida, mas já tinha conhecido o novo amigo e aderido à sua doida ideia de libertação. Para quê aquela guerra sem sentido que já durava décadas? Estava na hora de tirar aqueles reis briguentos e ambiciosos do caminho! Essa era a ideia do Exército de Libertação e Natasha concordava com aquilo mais do que ninguém.

— Você conseguiu? – perguntou Saulo.

— Sim – respondeu a menina entregando um dos chicotes dos carcereiros para o amigo. Não tinha sido fácil conseguir, mas ela podia ser bem discreta quando queria – E você, conseguiu o que eu pedi?

Saulo perdeu o sorriso e suspirou.

— Pensei que estivesse brincando.

— Eu estou falando sério, por que nunca leva minhas memórias a sério?

Ela estava falando da única memória de sua vida passada que tinha: Yukiko Chô. Apenas um nome sem face, sem voz, sem nada além do sentimento bom que ela sentia ao repeti-lo. Ela sabia que essa pessoa tinha sido importante para ela, mas quando? Por quê? Como? E por que não lembrava dele? Por que não lembrava de nada além desse nome?

Ela sempre pedia para Saulo procurar por ele, talvez Yukiko Chô pudesse lhe dizer quem ela era, por que ela só lembrava dele e por que estava ali. Tantas perguntas que ela precisava de respostas...

Contudo, era como se Yukiko Chô fosse um fantasma ou mesmo nem existisse. Saulo nunca achou nada sobre ele e parou de procurar há muito tempo.

Mas Natasha não desistia tão fácil. Ela sabia que Yukiko não era invenção de sua mente confusa. Ela sabia que ele estava lá fora, talvez com outro nome, mas qual?

— Vamos ter que conversar sobre isso de novo?

— Sim. Eu quero respostas, Saulo. Você não entende.

— Me ajude a entender!

— Já fiz o possível para isso. Você nunca vai entender por que nunca teve suas memórias roubadas.

O homem suspirou.

— Natasha, por favor, não vamos brigar de novo. Eu não quero.

— Está bem. Mas tente procurar Yukiko, por favor! Preciso de respostas!

— Eu já procurei em todos os lugares!

— Então procure de...

Mas ela não concluiu a frase. Caiu no chão de joelhos, gritando.

Era raro para ela sentir dor. Natasha era tão forte que nada a machucava, mas aquela dor era algo diferente. Sua cabeça parecia estar derretendo, fervendo e evaporando.

Gritou a plenos pulmões, chamando a atenção dos carcereiros, que correram para trazê-la de volta.

— Natasha! – gritou Saulo preocupado com a amiga.

— Ei, sua preguiçosa! Volte para seu lugar!

— Ei você! Peguem esse homem com a escrava!

E então, sem mais nem menos, ela sabia quem era Yukiko Chô. E só o nome a fez sentir uma dor no peito. Saudade.

Sabia quem era ela mesma, sabia quem eram seus pais, sabia quem era seu mestre e seus amigos. E sabia por que não tinha memória.

Levantou-se, com mais ódio do que jamais sentira na vida. Não deixaria aqueles homens leva-la novamente para aquele campo horrendo. Queria liberdade.

Deu um golpe no homem que pegava Saulo e mais dois no outro que tentava pegá-la. Eles nem tentaram se levantar. Ficaram no chão, talvez mortos, talvez com algumas coisas quebradas.

Ela pegou a mão de Saulo e correu pela floresta.

— Natasha, você está bem? O que houve?

— Ananya.

— O que?

— Ananya.

Ele não estava entendendo, mas continuou correndo com ela, fugindo dos homens que gritavam para que eles parassem.

— Ananya – continuou ela baixinho, como se para gravar na memória – Meu nome é Ananya.


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