As Sete Ameaças escrita por Leh
Notas iniciais do capítulo
Olá! Então, cada capítulo dessa primeira parte será dedicada a um ou dois personagens e sempre dividida para mostrar aos poucos a história de como era a vida deles em treinamento! Espero que gostem desses dois, Yuki e Anya são meus dois preferidos!
— Não Yuki – disse Ivo repreendendo o garotinho que fez o movimento errado – Você nem passou perto! Concentre-se!
— É difícil para mim!
— Você disse o quê?
— Que é difícil.
— Sim. É difícil para todos, mas não é impossível. Use seus sentidos!
Yukiko Chô, era um dos sete aprendizes de Ivo Jaroisk, e talvez o mais difícil de ser ensinado, mas o mestre não se deixava abalar por isso. O garotinho podia ser magrinho, baixinho e mais delicado que os demais, mas era forte e obstinado como qualquer outro.
Ele tentou novamente, mas passou longe do “inimigo”, fazendo Ivo suspirar.
— Yukiko...
— Você não acha Jaroisk rude demais com o pobre garoto Chô? Ele é só uma criancinha...
— Eu acho com certeza, e ainda com sua... deficiência... Ivo precisa aprender que ele não pode fazer tudo que os outros podem... – falaram algumas velhinhas da vila que passavam pelo campo de treinamento, sempre prontas para começar uma fofoca.
Mas Ivo não se importou, na verdade, ele sorriu.
A próxima coisa que aconteceu foi Yuki acertando exatamente onde deveria estar o coração do boneco com tanta força que abriu um buraco nele, espalhando palha por todo o campo.
— Perfeito. Como eu disse: difícil, mas não impossível.
Então o garoto olhou para o mestre sorrindo, como sempre fingindo que não se importava com o que os outros falavam dele.
— Ana! – gritou o mestre.
— Sim! – apareceu uma garotinha loira e com olhos tão azuis quanto o céu, mas robusta como um homem.
— Quero que treine com Yuki. Não maneire na força.
Ela voltou-se para o garotinho de olhos puxados e leitosos e sorriu.
— Não vou pegar leve com você, Chô.
— Que bom – disse ele sorrindo.
Aquele otimismo constante irritava Ananya. Ela era uma criança irritadiça e rude, falava o que quisesse na hora que quisesse e não se importava do que os outros dissessem dela, mesmo quando diziam que ela parecia um homem adulto com voz fina e cabelos longos.
Então ela correu para cima dele, mas ele conseguiu desviar com facilidade. Ela tentou dar um golpe com a direita, a esquerda e chutes, mas o garoto sempre recuava. Ela não entendia como não conseguia atingi-lo. Entenderia se fosse Sophie, que quando ficava com medo não deixava ninguém chegar perto, mas Yuki nem tinha usado sua ameaça ainda e ela não conseguira nem se aproximar.
— Você é muito barulhenta – explicou ele como se lesse a mente dela.
— Você me chamou de quê?
— Barulhenta. Consigo escutar você chegando há metros de distância, em uma batalha não seria diferente.
— Ora seu...
E avançou novamente, mas era como se Chô pudesse prever os movimentos dela. Ele desviava de todos, sem dificuldade.
— Pensei que não fosse pegar leve.
Então Ananya irritou-se e soltou um grito alto enquanto desferia, com toda a sua força, um soco que atingiu o menino bem na boca do estômago fazendo-o voar por um metro inteiro antes de cair e rolar no chão como um saco de batatas.
Todos pararam o que estavam fazendo para olhar a garota ofegante, como se a repreendessem. Ela não se importava, prometera que não iria dar vantagem para Yukiko e foi o que fez.
Ele levantou com dificuldade, cuspiu um pouco de sangue e sorriu.
— Obrigado, Anya. Agora eu vou lhe mostrar o que eu sou capaz.
O garotinho então foi aumentando de tamanho, mudando de cor e de forma, até se transformar em um rinoceronte muito grande.
Os quatro que estavam no campo se afastaram com medo da briga que viria a seguir, uma delas carregando uma criancinha de apenas quatro anos, que não tinha ainda noção do que estava acontecendo.
O rinoceronte bufou e correu em direção de Ananya, que não desviou, mas fixou seus pés no chão como raízes e levantou as mãos para receber o impacto.
Com um barulho estupendo, a garota conseguiu parar o rinoceronte com os próprios braços e fez força para empurrá-lo, mas ele diminuiu até se transformar em uma borboleta, fazendo a garota se desequilibrar e cair.
Então, já no alto, a borboleta mudou de forma novamente e caiu em cima da adversária como um elefante.
Sem um único ruído, Ananya levantou o elefante e o arremessou pelos ares.
Agora como um morcego, Yuki se aproximou da menina e se transformou em garoto novamente.
— É só isso que você é capaz, Yukiko? Pensei que fosse melhor que isso!
— Eu sou!
Então ele se transformou em um leão e soltou um rugido imponente.
— Ei, não use meu animal guia! – gritou Zaki da plateia.
Mas o garoto pareceu nem escutar, começou a rodear Ana, rosnando como um aviso. Ela não temia nada, tinha força o suficiente para derrotar qualquer animal que Yuki tentasse fazê-la brigar.
O leão deu o bote, pulando em cima da adversária, mas ela estava preparada. Apanhou as patas do leão e estava pronta para lança-lo floresta adentro, quando ele se transformou em uma formiga e começou a passear por seu braço.
— Sai daqui! – gritou ela balançando freneticamente seu braço.
Yukiko se transformou em uma cobra e enrolou-se em Ananya.
Ela então pirou, dizia a todos que não temia nada, mas detestava cobras com todas as suas forças.
— Não! – gritou pegando a cobra pelo rabo e tentando desenrolá-la.
Então ele se virou e cravou seus dentinhos afiados na mão da garota.
— Ah! Mestre Ivo! Yukiko me mordeu como cobra! Eu vou morrer envenenada, eu vou morrer envenenada!
O garoto voltou a sua forma original, rindo.
— Era uma Corredora-Azul, não tem veneno.
Ela então olhou para Chô, no seu estado mais frágil até então.
— Não?
— Não.
— Tem certeza?
— Se você morrer envenenada, pode mandar me matar também.
— Seu idiota, você me enganou!
— Enganei não!
— Enganou sim!
— Chega disso – disse Ivo entrando na frente dos dois – Hoje, já sabemos quem venceu essa luta, podemos ter a revanche amanhã.
— Sim! – gritou Ana – E então eu vou quebrar você de um jeito que a única coisa que você vai poder se transformar é em uma barata morta!
— Pode vir!
— Eu disse chega, não disse? E quando eu digo chega, é chega.
— Sim, mestre – disseram todos os sete ao mesmo tempo.
— Ótimo, agora eu...
Mas Ivo não terminou pois, do horizonte, via-se um grupo de homens montados em cavalos, vindo na direção do campo do treinamento. Ao chegarem, os cavalos pararam e um homem vestindo uma armadura desceu, com o ar confiante que apenas príncipes tinham.
— Você é Ivo Jaroisk?
— Sim, sou eu. E quem é você?
— Meu nome é Gunter Kaus, o destruidor de soldados – disse ele olhando para as crianças no campo com um sorriso malicioso – E eu vim aqui para desafiar As Sete Ameaças.
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