—Mike? – Eleven sussurrou.

— Hum?

— Você pode me contar uma história? – ela pediu.

Estava frio e chuvoso, e, com um pouco de insistência, os dois conseguiram ficara no porão, a sós, jogados no sofá enquanto a tempestade não passava.

Ela tinha pavor a trovoadas, e Joyce desistiu de insistir que poderia buscá-la na casa dos Wheeler, se ela quisesse. A mulher compreendeu que apenas Mike seria capaz de fazê-la se acalmar perante o barulho dos trovões.

— Que história você quer? – ele indagou, ajeitando-se melhor no sofá. Ela estava agarrada ao lado dele, com o braço sobre o seu peito. - Algo com princesas, dragões, elfos, essas coisas?

— Sim! – ela sorriu, e mesmo que Mike não tivesse visto, ele adivinhava o sorriso dela despontando.

Fazia seis meses que estavam namorando, e ela estava pensando sobre muitas coisas. Uma delas foi se algum dia teria que mudar de namorado, ao assistir a um filme na TV. Eleven estava empenhada a se socializar mais, e os livros, séries, filmes e revistas estavam tendo um papel crucial nisso. Claro que os meninos já tinham a introduzido no mundo nerd: assistira a todos os Star Wars, lera os principais gibis de heróis, estas coisas. Mas nos filmes, geralmente as pessoas trocavam de par, e ela pensou se teria que perguntar isso para Mike:

— ...então, eles viveram felizes para sempre. – Mike terminou sua história.

— Bonita.- ela murmurou.

— Você tá distraída.

— É que... eu tava vendo uns filmes... Mike, algum dia a gente vai ter que se separar?

O garoto se empertigou no sofá, fazendo com que ela se sentasse também:

— Por que você tá me perguntando isso? – a voz dele saiu confusa.

— Eu não sei, eu só vejo estes filmes e as pessoas sempre trocam de namorado e namorada e eu pensei que... – ela baixou os olhos. – Desculpa.

Mike piscou os olhos, aturdido:

— El, as pessoas só trocam de parceiro quando elas deixam de se amar. Você... – um nó subiu pela garganta dele. – Você pode não me amar para sempre...

A garota baixou os olhos, triste. Como poderia haver um mundo em que ela vivesse e não existisse Mike em sua vida?

— Eu... eu não quero isso, Mike.

— Nem eu. – ele disse, segurando a mão dela e entrelaçando os seus dedos. – Eu prometo que sempre vou amar você.

Eleven o abraçou e sussurrou em seu ouvido:

— Eu também prometo.

[...]

— Eu queria ser como a El, que passa o dia em casa.- tagarelou Dustin, enquanto mordia o lápis ao raciocinar sobre um intrincado problema de física.

— Mas ela estuda, cara.- Will disse, rabiscando distraído o seu caderno. – Ela inclusive vive na biblioteca pegando livros.

— Ela está lá, aliás. – Mike olhou para o relógio. – Que horas ela vai voltar? Você sabe, Will?

— Nossa, mas a garota não pode passar algum instante longe de você? – Lucas indagou, sarcástico.

Mike passou a mão pelo cabelo, sabendo que mesmo que Lucas tenha falado em tom de gozação, ele estava certo. Não podia pressionar a namorada ao ponto de se sentir sufocada. Mike voltou a olhar para o livro, sem emoção. Seus olhos encaravam as equações, mas sua cabeça e seu coração estavam em Eleven. O fato de ela ter questionado sobre a duração do namoro deles o deixara confuso, nervoso.

Enquanto isso, Eleven estava tentando alcançar o volume de A Sociedade do Anel. Ela queria fazer uma surpresa para os garotos e mostrar para eles o quanto estava progredindo, o quanto já estava pronta para debater as mesmas coisas que eles. Na ponta dos pés, tentando simplesmente não usar o poder de sua mente na biblioteca e parecer uma garota como qualquer outra, ela foi surpreendida por uma voz masculina atrás dela:

— Precisa de ajuda?

A garota se virou e viu um menino alto, bonito, sorrindo para ela.

— Ah, eu queria pegar A Sociedade do Anel.

— Eu pego para você. – Sem esforço, ele esticou o braço e pegou o primeiro volume da saga O Senhor dos Anéis. – Boa leitura. Eu adoro este livro.

— Meus amigos e meu namorado também.- ela sorriu.

— Han...meu nome é Tyler O’Neal. E o seu?

— Elev... Elle. Elle Jane Byers.

— É um nome muito bonito. – ele sorriu de novo. – Bem, eu sou o novo ajudante aqui da biblioteca. Qualquer coisa, estarei aqui, srta. Byers.

Ela sorriu, e o garoto se retirou... ela não reparou na forma como ele olhou para ela quando se afastava da biblioteca...

Durante aquela semana, El foi metodicamente ao prédio para estudar e ler o livro que tinha pegado emprestado. Ela gostava do ambiente, do silêncio para se concentrar ( convivendo com quatro garotos barulhentos, ela estava aprendendo a apreciar a paz) e de sentir que estava aprendendo. Ela queria contar muitas coisas a Mike: como ela gostava de Frodo; que agora ela entendia porque ele dizia que ela parecia um elfo; e ela realmente estava se empenhando para entender a complexa geografia da Terra Média.

Tyler não poderia parar de olhar para Eleven. Aquela garota de cabelo curto, ar de mistério, boca rosada. Ele tinha dezesseis anos; ela deveria ter essa idade, ou quinze. Ela disse que tinha um namorado? Talvez sim. Ele precisava perguntar com mais clareza. Ele precisava saber mais daquela menina bela e diferente. Ele tinha acabado de se mudar, não havia muito o que fazer ali, por isso, Elle, como ela se apresentara, estava representando um alento naquela vida monótona de Hawkings.

[...]

Estava frio lá fora e Eleven estava enrolando um cachecol em torno do pescoço rapidamente; passou muito tempo na biblioteca e não esperava o choque térmico. Os livros caíram dos seus braços e ela sentiu alguém chegando atrás dela:

— De novo enrolada com os livros?

— Ah! – ela suspirou. Seus instintos estavam um pouco mais controlados, mas se ela tivesse se assustado mais poderia ter mandado aquele garoto pelos ares.

— Sou o Tyler, lembra?

— Sim. –ela sorriu. – Obrigada por ter apanhado os livros.

— De nada. – ele olhou profundamente para ela. – Elle, não é?

Ela balançou a cabeça; aquele garoto estava próximo dela, olhando-a de um jeito estranho...

— Eu queria saber se... se você queria sair para tomar um milk-shake comigo. Talvez ir ao cinema. Você topa?

Ela ficou com a boca aberta, sem reação. Enquanto seu cérebro processava como reagir, Mike chegou e perguntou, assertivo:

— Eu estou interrompendo alguma coisa? O que você quer com a minha namorada?