Will verificou mais uma vez o sinal do celular, e nada. Culpa do forte temporal que tinha caído naquela tarde. Era seu dia de folga do emprego na farmácia que o ajudava com as despesas da faculdade, então ele tinha ido feliz para o apartamento que dividia com o namorado, decidido a fazer lasanha para o jantar. Ele sabia que Nico adorava, apesar de reclamar que a receita de Will não era nada italiana.

Will se sentou de frente para o jantar pronto na mesa da cozinha, verificando o celular a cada cinco minutos, à espera de Nico. Sabia que era besteira se preocupar, mas não conseguia evitar vendo o tempo passar sem sequer saber onde ele estava. Imaginava Nico sem conseguir chegar em casa, lá fora no frio, onde uma chuva fraca ainda caía.

Com um grunhido, Will baixou a cabeça sobre os braços na mesa. Não soube quanto tempo permaneceu assim até um barulho na porta da frente o fazer saltar do lugar.

Encontrou Nico na entrada, cabelos e roupas gotejantes, tirando os sapatos sem se preocupar em se abaixar para soltar os cadarços. Ao ver Will, desatou a reclamar:

— A porcaria do metrô ficou parado mais de uma hora por causa de uma pane idiota na central. Esta cidade está cada vez mais bagunçada...

— Você está bem? – Will perguntou, levando uma mão até seu rosto.

Nico suspirou.

— É. Pode-se dizer que sim...

Will riu do esforço dele em manter a expressão emburrada e se aproximou mais para um beijo rápido e gelado, sentindo todo o peso do tempo de espera sumir. Quando se afastou, no entanto, percebeu que Nico mantinha uma mão junto a um lado da jaqueta fechada, de um jeito protetor.

— O que...?

Nico abriu com cuidado o zíper da jaqueta e afastou uma das abas, revelando um filhotinho de gato agarrado à camisa preta que usava. Era uma coisinha muito pequena e magricela, tão encharcado quanto Nico.

— Eu o encontrei perto da entrada do metrô, miando muito... – Ele desengatou as minúsculas garras de sua camisa para erguer o filhote, que miou para Will como se confirmasse a história. Era um gato malhado de preto e branco, embora muito do branco estivesse encoberto por uma camada de lama.

Nico e o gato observavam Will, esperando sua reação, que não podia ser outra:

—Awn... Como você é fofo! – Will beijou a bochecha de Nico e, sem se importar com o estado do gato, pegou-o das mãos dele com muita delicadeza.

— Eu não sou fofo – Nico resmungou.

— Vá se secar e trocar de roupa que eu cuido desse bebê – Will foi com o gatinho para a cozinha, onde procurou limpá-lo com um pano umedecido antes de tentar secá-lo.

Ele revirou tudo atrás de algo que achasse que o bichinho pudesse comer. Encontrou uma lata de sardinha no armário. Não era exatamente apropriado, mas o pobre animal não se importou, devorou tudo em poucos instantes e levantou o rosto querendo mais.

— Por enquanto é só, mas vamos conseguir coisa muito melhor pra você logo, logo. Não se preocupe. – Will o pegou no colo. - Minha amiga Lou Ellen diz que a gata dela adora biscoitos de salmão. Eu vou comprar destes pra você... E também uma cama-castelo que eu vi na vitrine do pet-shop outro dia. Você vai adorar.

Will levantou os olhos e viu que Nico estava parado na porta da cozinha, já com roupas secas e uma toalha na cabeça. Ele baixou os olhos, parecendo sem jeito por ter sido pego observando, mas se aproximou, juntando-se a Will nos carinhos ao gato.

— Ele está ronronando – Will disse, sorridente.

— Como vamos chamá-lo? – Nico perguntou, também com um sorriso.

— Hmm... Ele tem essas manchas negras ao redor dos olhos que fazem lembrar um panda... Ele poderia ser nosso pequeno Panda.

Nico bufou, mas sem parar de sorrir ou de coçar as orelhas do bichano.

— É um péssimo nome.

— Não é, não. – Will levantou o gato, deixando os olhos amarelo-escuros na altura dos seus. Um miado, depois outro. Will se voltou para Nico: - Panda diz que adorou o nome e adorou seus novos pais.