Alvo e Scorpius ficaram andando em círculos. Os rapazes estavam aflitos, não sabiam a quantas ia o plano de Órion e temiam que ele encontrasse a pedra ou envolvesse algum estudante em problemas. Até que Alvo se decidiu.

— Já sei! Vamos nos infiltrar no grupinho dele!

— Como?

— Você vai entrar pro grupo.

— Mas ele me odeia! E pode desconfiar de alguma coisa.

— Não vai ter erro! Ele é doido pra ter você nessa gangue aí, porque você é sangue puro e Pansy Parkinson vive falando pra ele ser seu amigo. Vamos fazer tudo bem direitinho e contar nosso plano a algumas pessoas de confiança pra nos ajudar caso algo dê errado.

...

No dia seguinte, Alvo e Scorpius marcaram uma reunião na Sala Precisa, chamaram Mateus, Hugo, Louis, e também apareceram James, Fred, Lílian e Roxanne.

— Nossa, quanta gente! – exclamou Scorpius – E quase todos os seus primos da Grifinória!

— É, grifinórios são realmente leais e corajosos! – disse Hugo. Chamei só Louis e Lílian, mas esses outros aí entraram de penetras.

— Eu só vim buscar minha capa que você tomou de mim! – falou James, um pouco irritado.

— Tome a sua capa velha. – respondeu Alvo, entregando a capa de invisibilidade a James – Foi por uma boa causa, logo vocês saberão.

Scorpius perguntou a Hugo:

— Rose não vem?

— Ela anda meio estranha ultimamente, tentei chamá-la, mas ela disse que tinha que estudar. Deve ser os NOMs, papai disse que as pessoas ficam malucas com a proximidade do exame.

Os convidados se sentaram. Scorpius e Alvo discutiam quem deveria falar primeiro, e Alvo tomou a frente.

— Amigos, nossa escola enfrenta uma grave ameaça. Um colega nosso, Órion Black, está armando uma conspiração para ressuscitar Voldemort.

Os ouvintes ficaram assombrados. Lílian deu um gritinho de susto, Fred fez uma cara de bravo e James bufou de raiva.

— Ele descobriu a existência e a possível localização da Pedra da Ressurreição, uma relíquia da morte cheia de magia negra e planeja usá-la para derrotar meu pai, Harry Potter. Black fundou o grupo chamado Realeza de Hogwarts e conseguiu reunir seguidores, não sabemos ao certo quantos são, e por isso chamei vocês para me ajudar a deter esses infelizes.

— Como vocês descobriram essas coisas? – perguntou Roxanne – Quer dizer, o grupo, a pedra e todo o resto?

— Não podemos falar muito, mas antecipo que temos que tomar cuidado com eles. Pode ser que dominem a Magia Negra, o Imperius, o Cruciatus, enfim, essas coisas, e por isso peço que fiquem de olho em Órion Black e em quem anda com ele.

— Minha irmã tá saindo com ele! Se Black quer trazer Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado de volta, então Rose corre perigo!

— Rose é esperta, sabe se cuidar – disse Lílian – Eu estou com medo do papai, e se Voldemort voltar mesmo e matar ele?

— Vocês têm um plano em mente? – perguntou James.

— Eu pensei em colocar Scorpius para ser nosso agente infiltrado. Black já manifestou muitas vezes o desejo de ter Scorpius em sua gangue. Poderíamos encenar uma briga, uma briga feia, e Scorpius poderia fingir que mudou de ideia sobre esse papo de pureza de sangue, aí o Black o colocaria no grupo, Scorpius nos manteria informados a respeito dos passos deles e reuniria provas concretas para derrotá-los.

James fez uma cara de orgulho do irmão.

— Puxa, o moleque é bom! Será que era assim que nossos pais faziam na nossa idade? A Armada de Dumbledore deve ter sido do mesmo jeito, o papai devia ter a idade do Al.

— Só perguntando a ele – disse Fred – Bom plano, Al! Mas temos que ter uma alternativa, caso Malfoy seja descoberto. E como vamos falar com ele depois da briga?

— Eu e Alvo temos espelhos que usamos pra conversar quando estamos afastados.

— Boa, e Alvo contaria pra gente o que você descobriu e aí saberíamos tudo o que eles fazem! – atalhou Mateus.

— Mas tem uma coisa que ninguém falou até agora – interveio Hugo – A Armada de Dumbledore foi traída e a pessoa que entregou nossos pais ficou com cicatrizes pelo resto da vida. E se acontecer o mesmo com Scorpius?

Os amigos ficaram em silêncio, não tinham previsto essa possibilidade.

— Poderíamos tentar fazer uma poção pra deter verrugas – indicou Louis.

— Urucum é bom pra cicatrizações difíceis, qualquer coisa eu mando uma coruja à tia Florentina pedindo isso – completou Mateus.

— Tudo bem, gente. Não se preocupem comigo! Eu vou tomar cuidado pra não ser descoberto. Com sorte, Black não vai ter previsto essa possibilidade, ele parece tão focado em conseguir membros para o grupo que deve ter se esquecido de pensar em traidores.

— É muita confiança! Estou aprendendo a gostar mais de você, Malfoy! É um cara legal – disse Fred, apertando a mão de Scorpius.

— Devíamos dar um nome ao nosso grupo! – afirmou James – Que tal Brigada dos Dragões Negros?

— Brigada não, lembra a Brigada Inquisitorial que perseguia nossos pais – discordou Hugo.

— Armada dos Dragões Negros? – tentou James.

— Armada dos Potter? – falou Lílian.

— Não só tem Potter aqui, Lili! A maioria é Weasley!

— Afe, Hugo, você não gosta de nenhum nome que a gente sugere...

— Armada de Hogwarts? – sugeriu Louis

— Defensores de Hogwarts... – sugeriu Roxanne

— Que tal Levante Sangue-Ruim? – sugeriu Fred – Eles não são a Realeza? Então nada mais justo sermos os sangues-ruins...

— Não, isso pode soar como se estivéssemos aceitando o termo. Sangue-ruim é uma ofensa grave, mamãe vive fazendo campanha contra esse xingamento e também tem...

— Tá, Hugo, se você não gosta de nenhum nome, porque não dá uma sugestão?

— Calma, Lou... Eu tenho umas ideias. Sugiro... O Contra-ataque! – disse Hugo, empolgado. Os outros fizeram caretas estranhas, não gostaram muito da ideia que o ruivinho deu. Mateus se pronunciou:

— Por que não fazemos uma votação? Escrevemos os nomes que mais gostamos num quadro e depois escolhemos o melhor.

Os outros aprovaram a ideia e escreveram num quadro os nomes que mais gostaram. James insistia com Dragões Negros. Lílian quis Armada da Fênix, Roxanne e Louis puseram Defensores da Igualdade, e Scorpius criou o nome mais votado: Patrono Invencível.

...

A falsa briga foi armada para antes do jogo da Grifinória e Lufa-Lufa. Alvo e Scorpius combinaram de brigar porque Alvo tinha decidido torcer pelo time do irmão em vez de ficar estudando na biblioteca.

— Como assim, Scorpius? É MEU IRMÃO, tá? E você não tem o direito de escolher pra quem eu vou torcer!

— Mas os NOMs tão vindo aí! Você deveria se preocupar menos com Quadribol e mais com as notas se quiser mesmo ser um auror!

— Não se mete com a minha vida! – Alvo deu um empurrão em Scorpius, que deu uma queda exagerada e ficou rolando no chão. Alvo saiu andando e sorrindo. Kate Richards foi ver se Alvo estava bem e Scorpius ficou mais uns minutos rolando e gemendo até Órion aparecer.

— Ele te machucou?

— Não, é um fracote – Órion estendeu a mão para puxar Scorpius.

— Deixa o Potter pra lá. Está ocupado?

— Não, agora eu iria estudar mais um pouco na biblioteca, você sabe, os NOMs...

— Os NOMs são só ano que vem, venha comigo, eu quero te mostrar uma coisa.

Scorpius, sabendo o que era, seguiu Black até uma sala nos fundos de Hogwarts, perto das masmorras.

— Conheça o quartel-general da Realeza de Hogwarts!

Órion abriu a porta e lá estavam alguns rostos conhecidos. Além de Gutemberg Nott, Isaac Freymont e Anabelle Avery, estavam também Nathaniel Smith do quarto ano da Lufa-Lufa, duas garotas da Corvinal e Rose Weasley. Os olhos dela se cruzaram com os de Scorpius, e ele rapidamente se sentou ao seu lado.

— Muito bem, gente, nosso clube está aumentando! É bom ver que existem mais estudantes orgulhosos de sua origem pura! Deem boas vindas ao nosso mais novo membro Scorpius Malfoy!

Todos aplaudiram. Órion abriu o livro sobre os Sagrados Vinte e Oito na página 147.

— OK, todos estão acomodados? Em homenagem ao nosso novo membro, vamos ler um pouco sobre a Família Malfoy.

Órion começou a leitura, mas nem todos prestavam atenção. Gutemberg Nott preferia desenhar círculos enquanto pensava em uma lembrança feliz para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, as garotas da Corvinal discutiam se quem era o mais bonito de Hogwarts era Órion Black ou James Potter, e Scorpius, indignado com a presença de Rose na reunião, criou coragem e deu uma dura nela.

— Quem diria... A Ministra da Magia que tanto luta contra o preconceito tem uma filha que defende a supremacia sangue-puro!

— Você não sabe de nada, tá legal?

— O que é que eu não sei? O que eu estou vendo aqui é uma Weasley indo contra os ideais de sua família. Quando o Sr. Weasley souber disso vai ficar muito bravo...

— Escute aqui – Rose puxou Scorpius pelo colarinho e cochichou – Não inclua meu pai nisso, está bem? Está aqui por quê? Foi ele que te mandou aqui ou resolveu virar supremacista?

— Não posso falar muito, apenas que seu pai não tem nada a ver com isso. Para todos os efeitos, eu virei supremacista sangue-puro e vamos parar com a conversa antes que o Black desconfie.

Órion continuou narrando as façanhas dos Malfoy, e Scorpius fingiu interesse. Sabia muita coisa sobre seus antepassados, embora até aquele dia não soubesse que um tataravô seu também chamado Lucius Malfoy tentou a mão da rainha Elizabeth I.

— Até o momento, o mais jovem Malfoy conhecido é Scorpius. Nos últimos tempos, os Malfoys passaram a ter apenas um filho homem, e com a tragédia envolvendo Astória, a mãe do nosso colega, dificilmente Scorpius terá um irmão, a não ser que o Sr. Draco Malfoy realmente se case com sua atual namorada Pansy Parkinson, que por sinal é minha madrinha...

Scorpius tentou disfarçar a irritação. Rose mantinha uma expressão vazia, era impossível decifrar o que ela estaria pensando naquele momento. Órion estava exultante. Fechou o livro e disse:

— Perguntas?

— Eu tenho uma – falou Scorpius, se levantando da cadeira – Por que você fica contando a história dos nossos antepassados?

— Interessante, Malfoy. Muitos de vocês devem ter crescido ouvindo a propaganda pró-mestiça do Ministério da Magia. Essa ideologia tem valorizado os bruxos sem tradição, sem classe e sem nobreza. E dado voz a criaturas repugnantes e inferiores, como os elfos e os duendes. Apesar de termos a filha da Ministra da Magia aqui presente, ela mesma não concorda com o modo que os sangues-puros, que fizeram o mundo mágico ser o que é hoje, são tratados. Gostaria de repetir o seu depoimento da última reunião, Rose?

— Claro! – Rose se levantou e disse – Minha mãe é uma bruxa com muitas qualidades, isso eu não posso negar. Mas também é uma controladora que sufoca qualquer tipo de opinião contrária que possa aparecer. Eu e ela temos um relacionamento difícil, mas mesmo a amando muito, não posso deixar de notar que as renomadas famílias sangue-puro merecem tratamento privilegiado. Não quero, por exemplo, que os duendes tomem nossas joias e caldeirões só porque foram eles que fizeram. Tampouco que os elfos deixem de nos servir e passem a contar nossos segredos e a conspirar contra nós. Eu quero um mundo em que os bruxos se sintam orgulhosos de ser quem são! E vou batalhar por isso até as últimas consequências!

— Lindo! Emocionante! Aplausos para ela, porque ela merece! – falou Órion, puxando uma salva de palmas. Scorpius aplaudia desanimadamente, e ele olhou para Rose, que tinha um brilho maroto no olhar.

— Muito bem! É importante que todos aqui saibam dos valores das famílias nobres, mesmo não sendo exatamente sangue-puro, como é o caso de Rose Weasley e Isaac Freymont, que têm antepassados trouxas. Essas informações serão necessárias para o sucesso da nossa missão.

— E que missão é essa que você tanto fala, Black? – indagou Nathaniel Smith, um garoto de cabelos loiros e ar esnobe.

— Em breve darei novos detalhes. Mas antecipo que se tivermos êxito, traremos de volta a glória das famílias nobres bruxas! Amanhã falaremos sobre a família Longbottom, estão dispensados.

A reunião foi encerrada, e Órion, Scorpius e Rose saíram juntos.

— Gostou da reunião?

— Sim, foi legal saber mais sobre a minha família, minhas origens... Eu já sabia de muita coisa, mas sempre tem algo que nossos pais não contam.

— É, vai se acostumando! Eu tenho que ir, Eastwood marcou um treino pra daqui a pouco, mais tarde a gente se vê!

Órion saiu e Scorpius encarou Rose.

— Muito bem, mocinha. Agora você vai me explicar o que foi aquilo.

Os dois foram até um banheiro feminino desativado, e lá Rose se explicou.

— Já que você tá insistindo tanto, ok, eu falo. Comecei a sair com Black, como amigos, claro, mas percebi que ele tinha umas ideias estranhas.

— Como assim estranhas?

— Depois do que você e Al me contaram, fui tentar descobrir qual era a dele. Puxei o assunto sangue-puro e ele foi se abrindo. Veio com aquela conversa de que o mundo era mais seguro quando os dementadores eram responsáveis por Azkaban, que os trouxas são uns ignorantes preconceituosos e que tudo estaria melhor sem eles. Fingi que simpatizava com aquela baboseira pra ver se ele me revelava mais coisas e ele me contou de uma missão, que ele tem que fazer aqui e que vai trazer glória aos sangues-puros. Aí, pra descobrir o que era, entrei pra esse grupo.

Scorpius suspirou aliviado.

— Nossa, eu quase acreditei que você era mesmo supremacista! Aquela conversa de que sua mãe é controladora foi muito convincente!

— Só pus isso pra dar mais credibilidade. Órion nem percebeu que eu estava mentindo, está ocupado demais planejando a tal missão pra se importar. A maioria ali nem presta atenção no que ele diz. Gutemberg Nott só está lá porque Órion pegou o livro dos Sagrados Vinte e Oito dele emprestado e ainda não devolveu. A Prudence Kelly e a Kristin Summers da Corvinal só vão porque são caidinhas pelo Black. Freymont é um puxa-saco desesperado por atenção, Avery está crente que Black vai pedi-la em namoro só porque ela é puro-sangue. Smith é um babaca e só entrou nesse grupo porque ninguém gosta dele. E você?

— Eu? Entrei mais ou menos pelo mesmo motivo que você, pra descobrir que missão é essa. Mas não estou sozinho nisso, um amigo nosso pode dar maiores detalhes.

Scorpius pegou o espelho do bolso e chamou Alvo.