Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 58
Isso não é felicidade.


Notas iniciais do capítulo

Quem acredita que eu imaginei que hoje fosse terça, porque eu pensava que ontem também era terça? É, também não entendo minha lógica.
Não se já disse isso em outra nota, se já, leia de novo: Troye é maravilhoso. O álbum Blue Neighbourhood é... Fiquei emocionada ao assisti-lo, é tão triste e real.
Happy little pill - https://youtu.be/QEWHF3E9YJQ



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My happy little pill

Take me away, dry my eyes

Bring colour to my skies

(Minha pequena pílula de felicidade

Me leve para longe, seque meus olhos

Traga cores para meus céus)

 

58-Isso não é felicidade. (E surpreendentemente a felicidade não se compra!)

Domingo, 22 de maio

A sala rodou. Julie rodopiou. A garota rodopiou. Quem... Julie não se lembrava mais do sonho – ela nunca se lembrava dos sonhos quando acordava. Ela estava valsando ou correndo? Ela era ela ou outra pessoa? Julie só queria voltar a dormir e sonhar novamente, mesmo que fosse em preto e branco (por que ela tinha esses sonhos doidos em preto e branco?), mas...

—Acordando, Julie, acordando! – gritou sua mãe, batendo na porta. – Bom dia, flor do dia!

—Que horas são? – murmurou Julie, escondendo a cabeça nos travesseiros.

—Hora de você acordar – cantarolou Liz, num tom que dizia "eu abriria as cortinas se tivesse alguma para você ver o por do sol, mas, como não tem, tenho que me contentar com esse lençol!".

—Não é – bocejou Julie, não o soltando. – É hora de eu continuar dormindo.

Liz puxou mais forte, mas quando ficou óbvio que Julie morreria antes de soltá-lo, ela desistiu. Às vezes sua filha tinha uma força impressionante – era impressionante a força da teimosia!

—É sim – insistiu sua mãe. – Eu já esperei ate agora e nada.

—Espere mais um pouco – murmurou Julie, rolando até está no canto da cama, tão longe quanto possível de Liz.

—Você esta dormindo há mais de treze horas! Já é cinco horas da tarde e você precisa acordar!

—Não preciso – retrucou Julie, apertando os olhos com força. – Ainda estou com sono.

—Nós vamos sair.

—Eu não vou.

—Você prometeu.

—Eu não... Eu prometi?

Saindo debaixo da tenda formada pelo lençol, Julie encarou sua mãe. Ela prometeu? Ela não se lembrava... Ah, ela prometeu, lembrou Julie. Ela odiava quando esquecia que prometia algo mais do que o fato de esquecer-se de seus sonhos. Não havia nada de importante em esquecer sonhos, mas promessas? Você queimava no inferno se não as cumprisse.

—E nada de vestir preto – avisou Liz.

—Mas é a minha cor! Define minha áurea nesse momento!

—Redefina-a!

Julie gemeu, escondendo-se novamente entre os lençóis. Por que o som de Liz batendo a porta parecia com o de um juiz martelando e pedindo – ordenando – silêncio no tribunal? Não, parecia com o de uma juíza martelando e sentenciando o resultado de uma audiência realmente difícil.

 

—É hoje, Julie? – gritou Liz, onze minutos depois quando sua filha não desceu as escadas. – Você demora menos de dez minutos para se arrumar, então desça! Não pense que vou te deixar para trás se você não descer em três minutos!

Julie suspirou, olhando para o vestido que escolheu. Ela não achava que estava preparada para enfrentar o namorado da sua mãe, principalmente sem uma representação visual dos seus sentimentos. Preto não era a cor que os definia; branco estava mais perto. Preto era a cor do luto; branco... Para alguns poderiam ser da paz, mas para Julie branco era todas as cores juntas.

Amarelo para alegria – mesmo não sabendo o que achar do “eu quero você” de Ashton, Julie estava feliz.

Roxo para melancolia – ela também estava triste pelo simples “eu quero você”; depois dele, Ashton tinha apenas... ido embora.

Verde para esperança – esperança que ela gostasse ou não gostasse de John? Ou... isso tinha relação com Ashton?

Laranja para ansiedade – ela gostaria ou não gostaria de John?/Algo mudaria entre ela e Ashton?

Azul para serenidade – serena era o adjetivo perfeito para definir Julie Hemmings, estava para ser criado um melhor, ela estava tão serena que surpreenderia a todos pela serenidade, ela estava tão serena que tremia de serenidade.

Rosa para inocência – era a definição... não, não era.

Vermelho para paixão – sem comentários.

E preto para... Preto era apenas por teimosia, Julie tinha certeza. Era de família. Não tinha como ela estar com medo. Do que ela teria medo? Hunf, sem chance.

Enquanto descia as escadas, Julie pensou no quanto isso parecia um poema e ela era péssima em poemas, mas também parecia algo que seu pai cantaria para ela – Andrew sempre cantarolava palavras ao invés de falá-las realmente. E isso era reconfortante, saber que existia algo do seu pai nela.

—Ela está de branco! – gritou Luke, apontando surpreendido para sua irmã. Ele estava se preparando para mais quinze minutos de espera, depois que sua mãe mandasse Julie tirar o longo vestido preto que cobria todas as partes do corpo, mas sua irmã vestia um longo vestido branco.

—Na cultura oriental, branco é a cor de luto – explicou Julie, procurando algo ao olhar ao redor... Ou alguém. (Ashton ajeitou-se no sofá.) Ou Calum. – Não é, Calum?

—Quantas vezes eu tenho que dizer que sou ocidental, Julie? – respondeu Calum, perguntando.

—Mas você tem olhos puxados e cabelos pretos escorridos! – exclamou Julie, sorrindo carinhosamente para ele até ver Ashton. – O que ele está fazendo aqui, mamãe? Pensei que fosse apenas a família!

—O que? – piscou Liz, desviando os olhos do celular, confusa. – Ashton faz parte da família... Ou não? Eu pensei que tudo tivesse ido bem ontem, não está?

Bem, tudo estava bem. Ashton disse que queria ela, como se ela fosse uma mulher da caverna e ele seu senhor, mas tudo bem. Ashton disse que queria ela, como se estivesse respondendo todas as questões sem resposta do universo (quando não estava), mas tudo bem. Ashton disse que queria ela, como se isso fosse a resposta para outra coisa, embora ela não soubesse o que fosse, mas tudo bem.

—Bem, tudo está bem – respondeu Julie, simplesmente.

Liz suspirou. Dramaticidade a esse fim de tarde e começo da noite era o que ela esperava, mas “bem, tudo está bem” não. Sua filha tinha uma aversão a “você está bem?” e qualquer outra frase que possuía “bem” que a surpreendia, ouvi-la dizendo essas palavras sem ser obrigada era surpreendentemente o que Liz não esperava.

—Todos aqui? – perguntou ela, olhando ao redor. – Vamos começar a chamada.

—Por quê? – perguntou Julie. – Vamos para um passeio escolar?

—Em ordem decrescente – completou Liz, para o horror de Ashton.

Ashton odiava chamadas de ordem decrescente que Liz teimava em fazer cada vez que saia e decidia levar todos os amigos dos filhos, porque isso só evidenciava o fato dele ser o mais novo. Para que fazer uma chamada? Eles tinham tantos amigos... Ash tinha quase certeza que Liz só fazia isso porque sabia que ele odiava – ele teria certeza que esse era o caso se fosse Julie. Isso é, se ela não estivesse ignorando-o como agora. Por que Julie o ignorava?

Ashton pensou que depois da vergonha que foi dizer “eu quero você” na presença de Liz, algo fosse mudar, mas... Tudo estava como antes. Não que Ashton esperasse que Julie saltitasse em direção aos seus braços, confessando amor eterno em frente a todos, contudo ele ao menos esperava um oi. Ele merecia um oi, não? Aparentemente não. Nem ele nem mais ninguém, porque Julie foi para cozinha sem mais nem uma palavra.

—Michael? – começou Liz.

—Michael? – repetiu Julie, surpresa ao ouvi-lo dizer presente e vê-lo logo depois na cozinha. – O que você está fazendo aqui?

—É bom te ver também, Julie – disse Mike, passando uma xícara de café.

—É sério – insistiu ela, aceitando a xícara desconfiada. Quem tinha feito?— Quando eu te chamo para fazer algo, você sempre diz que está ocupado, agora se mamãe chama você não está?

—Ciúmes, querida? – sorriu ele.

—Demi? – continuou Liz.

—Demi também? – gritou Julie, surpresa. – Você é uma traidora! Você sempre tem que ficar com a Melanie quando eu quero companhia! Ou estar ocupada sendo líder de torcida! E Ella não gosta de mim na casa dela!

—Nem todo mundo é desocupado que nem você, Julie.

—Calum?

—Nem um comentário para mim? – questionou Calum.

—Você que fez o café? – retorquiu Julie, tomando um gole. – Porque falta açúcar.

—Luke?

—Foi eu que fiz o café – respondeu Luke.

—Falta açúcar.

—É verdade – assentiu Calum.

—Julie?

Hunf, bufou Julie, recusando-se a participar voluntariamente de algo relacionado a John, enfiando uma torrada na boca para poder estar visivelmente inapta a falar.

—Alguém vai responder isso? – questionou Liz. – Alguém que não seja Michael.

—Obrigado – disse ele, gesticulando excessivamente para ela, como se estivesse agradecendo-a por ter percebido.

—Isso não é um elogio, Mike – opinou Julie, mastigando ruidosamente. – Bem, é um elogio, mas não para você. Você é um bad boy, esqueceu? Você não pode ser elogiado por ex-professoras.

—Depende de como você avalia a situação – disse ele. – Eu posso ser um bad boy e ser elogiado por ex-professoras... Hum, isso seria muito sexy.

—Urg! Cale-se – pediu Julie, estremecendo.

—Meu Deus! – reclamou Luke, traumatizado, tendo a mesma reação de sua irmã. – Vamos colocar um limite aqui: mães estão fora de alcance. Fo-ra!

—Bem – refletiu Michael, sentindo um dejá-vu. – Agora ela está, elas estão.

—Cale-se – repetiu Julie.

—Ashton? – chamou Liz, balançando a cabeça enquanto olhava para aquelas crianças. Que educação, que classe, que exemplo. Ela tinha certeza que aquela reunião seria inesquecível.

—Hum?

—Sua vez. – Ash não entendeu. – Você é o mais novo – disse Liz, calmamente, com um sorrisinho irritante. – Você é o ultimo.

—Cale-se, Julie – disse ele, tendo certeza que Liz e Julie eram farinhas do mesmo saco.

—Eu não disse nada – murmurou Julie de boca cheia. – Mas se fosse dizer, eu diria “Alguém está atrasado”. Ou perguntaria “O que esses idiotas estão fazendo aqui?”. Qual você acha melhor?

—“Por que você está me ignorando?” – ofereceu Ashton. – Talvez.

—“O que você quer dizer?” E é uma pergunta pergunta, não uma pergunta resposta – disse Julie, rapidamente.

—Eles vão conversar como se não estivéssemos aqui? – perguntou Luke.

—Exatamente o que eu disse – disse Ash. – E é uma resposta resposta, não uma resposta sugestão de resposta.

—Eu não estou te ignorando – respondeu Julie, confusa. – Eu só não tenho o que te dizer.

—Eles já estão conversando como se não estivéssemos aqui – respondeu Calum ao lado de Luke.

—Você tinha o que dizer a todos!

—Eu tinha o que dizer a todos – concordou Julie. – Menos você.

—Tentasse um oi? – sugeriu Ashton. – “Oi, Ashton, como dormiu? Sonhei com você.” Eu também aceito.

—Eu não te disse oi... – Julie pensou; era verdade, ela não disse. – Eu nunca te disse oi. Então por que eu diria agora? E eu não sonhei com você!

Satisfeita com suas palavras, Julie virou-se para sua mãe, perguntando-a sobre o “alguém está atrasado” e “o que esses idiotas estão fazendo aqui”, sem se preocupar com a resposta de Ashton, porque tinha dito o que queria dizer e não existia mais nada a dizer.

Oi era supervalorizado, na opinião dela. Ninguém entrava na sua vida e dizia oi, assim como não dizia que estava indo embora. Julie tinha o plano tático de não dizer oi para não dizer adeus – Ashton deveria estar feliz por Julie não ter dito um para senti-se obrigada a dizer o outro.

—Julie é um pouco difícil de entender as coisas. – Surpreendentemente, quem tentou tranquilizá-lo foi a pessoa que Ashton menos esperava. Luke. – Ela é inteligente? É, mas também é incrivelmente desligada para ter conversas sãs.

—O que é isso, Luke? – sorriu Ashton. – Será que você está aprovando nosso relacionamento?

—Será que vocês têm um relacionamento? – retrucou Luke. – Porque nem oi Julie...

—Pare de ser mal humorado– disse Calum, pegando a mão de Luke que começava a bater na perna e soltando-a assim que ele parou. E enfiando uma torrada na boca dele assim que abriu a boca para retrucar novamente. – Ele fica mais mal humorado do que a Julie quando está realmente com fome... – explicou Calum, oferecendo torradas a Ashton, que rejeitou. – Embora Luke tenha razão, Julie não sabe de algumas regras de convivência, como dizer oi.

—Não é como se eu estivesse esperando um “oi” – mentiu Ash, tentando sorrir e sentindo que falhou miseravelmente pelo olhar cético de Luke e Calum.

Fechando os olhos, ele afundou no sofá, não conseguindo acreditar na pergunta de Julie sobre porque ela diria algo. Ash queria dizer “porque tudo mudou”, mas... Nada mudou, percebeu ele. Ashton queria que Julie o olhasse diferente, fizesse algo de diferente, agisse diferente, por que do que adiantava ter dito “eu quero você”, se nada mudou, se tudo continuou o mesmo?

 

Quando Julie sentou-se ao seu lado, Ashton pensou se algo não tinha mudado, porque de tantos lugares para sentar, Julie sentou-se justamente ao seu lado. Devia ter alguma razão, não? Julie sempre sentava perto de Luke ou de Calum, sentar ao lado dele devia significar algo, não?

Se bem que não existiam cadeiras ao lado nem de um nem do outro, e as únicas cadeiras vagas ou era ao lado dele ou do namorado de Liz. A escolha devia ser difícil – Ash não sabia se devia senti-se feliz por ela achar mais fácil lidar com ele ou não. Mas aquele não era um momento de Ashton&Julie, era um da família Hemmings e Ash era o apoio moral, assim como Demi e Michael – embora Liz tenha chamado-os de filhos provisórios ao apresentá-lo a John e dito em segredo que era para traumatizá-lo antecipadamente. (Julie e Liz eram farinhas do mesmo saco, sem dúvida.)

De qualquer jeito, Ashton não tinha experiência ou conhecimento suficiente para opinar, ele não se sentia no direito de opinar. Não quando não sabia o que Julie sentia naquele momento, não quando nunca teve um pai presente e uma súbita ausência dele, não quando não perdeu alguém que amava e viu as pessoas seguindo em frente, mas... Ele queria. Ash queria dizer algo. Ash queria dizer algo que fizesse a diferença. Era a sua vez de fazer a diferença.

—Oi – murmurou ele.

—Não comece – pediu Julie, levantando o dedo em aviso, sem olhá-lo.

—Como dormiu?

—Ash... – reclamou ela, apertando o garfo com força enquanto olhava para sua torta de maçã. Nada de quebrar prato, Julie, você não quer lavar depois os não quebrados para pagar os quebrado, só porque não gosta de torta de maçã.— Não quero conversar.

—Sonhei com você – confessou Ashton, ouvindo um murmúrio indecifrável dela que ele traduziu como “continue, querido”. – Nós estávamos no meu quarto...

—Não preciso ouvir o resto – interrompeu Julie, levantando os olhos. – Tenho uma imaginação muito boa para saber como isso termina.

—Eu chamaria de imaginação pervertida.

—Eu te diria “não perguntei”.

—Vai continuar com o mau humor?

—Estou tentando pensar – explicou Julie, com o mínimo de paciência que lhe restava. – E você está atrapalhando.

—Perguntas existenciais?

—Meu Deus, Ashton! Você vai me deixar em paz? Se não vou te furar com esse garfo! – ameaçou Julie, apontando o citado garfo para ele. – Você sabe que eu te furo!

—Graças a Deus, ela reagiu! Bom trabalho, Ashton – parabenizou Liz, aliviada. – Por ela te ouvir, você já ganha alguns pontos no quesito genro.

—Eu ouço o Luke e o Calum! – retrucou Julie. – Quando fazem sentindo. Eu ouço qualquer um que faça sentido.

—Não – disseram todos.

—Eu... Mas que... Estou indignada!

—E estamos falando de realmente ouvir – interrompeu Michael seu chilique. – Você não sabe como tentamos. Você nem ouviu, nem piscou, nem comeu. Parecia que estava embriagada de doces, desligada de tudo.

—Estávamos preocupados – disse Liz. – Você está...

Julie respirou fundo, sabendo que sua mãe queria perguntar se ela estava bem, se tudo estava bem. Era difícil responder aquela pergunta não feita com sinceridade. Ou apenas medo. Ou errado. Ela estava triste por seu pai ter morrido e feliz por está viva; ela estava triste por seu pai ter morrido e feliz por sua mãe ter encontrado alguém; ela estava triste porque seu pai tinha morrido e por ela está viva.

Talvez num universo paralelo, longe dali, nada disso tinha aconteceu, mas nesse universo essa era realidade. E não existia problema em estar triste e feliz, era por isso que ela estava de branco afinal, porque estava tudo e nada ao mesmo tempo.

Coisas ruins aconteciam, coisas ruins aconteciam a qualquer um, mas você não podia deixar isso te abalar, você é quem escolhe o que acontecerá. E Julie... Calum tinha lhe dito isso, Ashton tinha dito isso a Anne sobre ela, agora Julie sentia que era a sua vez de dizer isso, não para sua mãe ou outra pessoa, mas para ela mesma – ela que precisava disso:

—Eu vou ficar bem. Então... – Julie comeu um pedaço da torta em consideração a seu pai que gostava, colocou o prato de lado e cruzou as mãos sobre a mesa. – Quais são as intenções com minha mãe?

—Essa é a minha garota – disse Liz para ninguém em especial, orgulhosa.

Julie estreitou os olhos, mordendo a bochecha com força, mas não com força suficiente para sangrar ou doer, apenas para poder não pensar no que queria, no que sua mãe enxergava em John. Ela mesma não enxergava nada de mais nele – não existia nada de suspeito depois de uma observação completa, por isso Julie não queria pensar de mais.

John sorria excessivamente e seu pai sempre dizia para não confiar nessas pessoas – embora Malia sorrisse excessivamente e fosse a melhor pessoa (depois de Andrew) da face da Terra.

John não sabia de nada além de informações errôneas sobre os filhos da sua namorada, e Julie tinha certeza que sua mãe tinha feito de propósito – sua própria experiência pessoal informou-a a não confiar em pessoas que sabem demais sobre você antes de ao menos falar com você. Mas John não sabia nem quem eles eram, dizendo que preferia adivinhar os nomes de cada um pelo que sabia sobre eles ao invés deles dizerem, o que acabou com Michael sendo Calum, Calum sendo Michael, Luke sendo Luke, Demi sendo Julie e Julie ficando com “Quem diabos é você?”. John tornava difícil não gostar dele, como Julie estava decidida a fazer, quando fazia uma pergunta dessas; foi difícil não sorrir quando ele sorria para ela ao dizer isso.

—O que você faz da vida? Como conheceu a mamãe? – perguntou Julie sem pausa.

—Você vai deixá-lo responder? – questionou Liz.

Julie a olhou com sua melhor expressão entediada, apontou para ela, passou um zíper imaginário sobre seus lábios e jogou a chave sobre os seus ombros – o significado era claro.

—Tem filhos? É casado? Divorciado? Mamãe é a amante?

—Julie! – repreendeu Luke.

Sua mãe revirou os olhos, pensando em acrescentar mais uma semana de castigo por isso, mas ficou calada.

—Mamãe é uma garota crescida – disse Julie, voltando a olhar para John, que parecia estranhamente calmo (era errado desconfiar de uma pessoa assim quando Calum também era). – Mas isso não significa que ela não seja meio imatura às vezes. Até eu me surpreendo com isso, e olhe que tive mais de 16 anos para me acostumar aos rompantes dela de insensatez...

—Falou a dona da lucidez – comentou Michael para Demi, que concordou.

Julie olhou para ambos, desgostosa – era difícil desconfiar da vida com Mike e Demi conversando civilizadamente um com o outro, rindo e brincando, sem parecer que Michael era um idiota sem salvação e Demi uma idiota apaixonada. Ela estava cercada de idiotas e John parecia estar levando tudo numa boa. Era irritante!

—Eu... – começou John, parando assim que Julie levantou a mão.

—Eu não preciso saber – disse ela, colocando a mão sobre os olhos. – Eu não quero saber. Minha nossa, já estou vendo a hora de sofrer uma pane no sistema com toda essa reflexão. A vida era tão mais fácil antes, sem pensar, apenas agir, sem se preocupar com a opinião alheia...

—Você se preocupa com a opinião alheia? – questionou Demi.

—Não como você é claro, mas... – Julie sorriu. – Peça o champanhe para comemorar, mamãe...

—Sem chance – recusou Liz. – Você ainda é menor de idade.

—Ashton e eu estamos namorando! – exclamou Julie, sem pausa.

—Nós o que? – perguntou Ashton, duvidando de seus ouvidos. Ele não ouviu certo, isso sim era certo.

—Nossa, tira até um peso dos ombros ser espontânea assim – continuou Julie, ignorando-o. – Estava com saudades de agir assim. É tão libertador. Estou me sentindo tão leve.

—Namorando – repetiu Luke, duvidando do juízo da sua irmã, enquanto ela balançava a cabeça, concordando. Ignorar Ashton era uma coisa, seu irmão era outra.

—Eu perdi algo? – questionou Ash.

—O juízo, provavelmente – respondeu Michael. – Você está namorando ela?!

—Você está colocando lenha na fogueira – observou Demi, fascinada pelo desenrolar dos acontecimentos. Julie era sua heroína!

—É claro que estou – sorriu Mike de lado. – Alguém precisa.

—Já era a hora – disse Calum. Revirando os olhos, completou: – De vocês estarem namorando.

—Nós estamos namorando? – perguntou Ashton, ainda descrente. Ele tinha perdido algo; com toda certeza ele tinha perdido algo. – Quando foi que você me perguntou? Porque não estou me lembrando de nada disso.

—Você decidiu isso – disse Julie, tentando parecer chorosa e desiludida. – Você não lembra?

—Eu não...

—Você sim – discordou ela. – Quer dizer, “eu quero você” foi bastante autoexplicativo, embora um pouco possessivo... Eu rimei! Eu gosto de rimar!

—Você não gosta – retrucou Luke, satisfeito por existir algo que ele tinha certeza. Ele estava desorientado, como estava desorientando, o champanhe que sua irmã tanto queria não seria nada mau agora.

—Eu gosto quando rimo corretamente – corrigiu-se Julie – e não quando estou apenas repetindo as mesmas palavras, porque repetir as mesmas palavras não é rimar.

—Oh, o namoro fez bem para ela – zombou Liz. – Ela aprendeu a diferença. Mais ponto para Ashton!

—Isso me lembra que estou feliz por você, mamãe – disse Julie. – Estou muito, muito feliz por você. E-eu... Eu não sei. Não vejo nada de agradável em John, mas também nada desagradável – disse ela rapidamente, antes que sua mãe reclamasse, embora Liz tenha continuado calada, ouvindo. – Mas não é eu que tenho gostar dele, é você. Se ele é uma boa pessoa, se você está feliz, eu estou feliz.


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Notas finais do capítulo

Sem comentários.
Oh, acho que vou postar o próximo hoje, não sei, falta apenas editar, porque está um pedaço no celular, outro em um arquivo, está tudo espalhado, falta colocar tudo junto e fazer sentido.



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