Isso não é... escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 57
Isso não é tudo.


Notas iniciais do capítulo

Eu queria tanto terminar "Isso não é..." nesse mês, mas acho que não será possivel com dois dias faltando para o fim de fevereiro. Eu já estava criando planos para uma outra história - bem, eu tenho plano para várias histórias, mas a próxima será um Calum+Luke e outro de fantasia que estou escrevendo com minha amiga. Vamos ver.
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All you have to do is stay a minute

Just take your time

(Tudo o que você tem que fazer é ficar por um minuto

Leve o tempo que precisar)

 

57-Isso não é tudo. (As coisas são muito mais do que aparentam.)

Sábado, 21 de maio.

O simples toque no vidro, como se fosse com os nós dos dedos, fez com que Julie fechasse os olhos e tentasse ignorar tudo que acontecia ao seu redor... quase tudo. Os lábios de Ashton foram gentis contra os seus – muito, muito gentil. Julie queria mandá-lo beijá-la direito, mas isso seria se afastar e ela não perderia nada, nem mesmo a gentileza dele e a paciência dela... A não ser que a batida contra o vidro não parasse.

Quando a batida voltou, Julie apertou os olhos com força, desejando ser louca como Ashton achava que ela era e estar imaginando aquele som, mas aquela era uma batida persistente e Julie não tinha paciência.

—O que é agora? – rosnou ela, virando-se para ver quem a atrapalhava. Nem se beijar mais em paz podia!

Oh, droga, pensou Julie, com um suspiro resignado, diante da visão de quem os dedos que batiam no vidro pertenciam. Sua sorte era grande – Julie ainda estava para conhecer alguém mais sortuda do que ela. Por que ele? Por que logo ele? Por que de tantas pessoas na face da Terra, que poderiam arruinar seu encontro, tinha que ser um guarda?

O guarda bateu novamente os nós dos dedos no vidro, pedindo para abaixá-lo, enquanto sua outra mão segurava sua identificação como guarda de trânsito.

—Acene e sorria, Ashton – murmurou Julie, acenando e sorrindo ao se inclinar sobre o mesmo e ligar o carro, para abaixar o vidro. – Acene e sorria. E deixe comigo. – Abaixando o vidro, Julie encarou o guarda e perguntou: – Eu te conheço?

Com a sorte de Julie, ela o conhecia. Com a sorte de Ashton, o guarda não gostava dela. De qualquer jeito, Julie duvidava que fosse ter um encontro melhor do que aquele algum dia na sua vida, porque a probabilidade de ser presa e tudo mais era muito alta.

—Boa noite – disse o guarda, ignorando o cumprimento estranho. Jovens em estacionamento no meio da noite não era uma novidade. Jovens que flertavam para não receber multas também não. Diante de tudo isso, o que era uma jovem estranha dizendo que o conhecia?

—Eu definitivamente te conheço – insistiu Julie. – Você já... Ah! – exclamou ela, lembrando-se. – Você me deu carona uma vez.

—Você pega caronas com guardas de trânsito? – questionou Ashton, cético.

—Eu sou dou caronas para a prisão – disse o guarda. – Você já foi presa?

—E para hospitais – complementou Julie.

—Teve uma vez que... Sim – disse o guarda, lembrando-se da única vez que tinha dado uma carona ao hospital. – Você é a garota que quebrou o braço do irmão?

—Você quebrou o braço de Luke?

—Eu não quebrei o braço dele! – discordou Julie. – Luke apenas queria aprender a andar de bicicleta e eu o ajudei.

—Ele foi o caminho todo reclamando que era sua culpa, que você o forçou a descer a ladeira, dizendo que era o jeito mais rápido de aprender.

—Era o jeito mais rápido de aprender!

—Por isso que você também estava com o braço engessado?

—Sim, sim... – murmurou Julie, irritada. – O que você quer?

—Carteira de habilitação e documentos do carro – pediu o guarda.

Ops, pensou Julie. Ela sempre se esquecia do que deveria fazer depois que começava, sua mente acabava se perdendo, embora os resultados fossem incríveis quando isso não acontecia. Infelizmente isso raramente não acontecia.

—Pegue a minha bolsa, Ashton – pediu Julie, esticando a mão.

—Por que você trouxe sua bolsa? – questionou Ashton, pegando ela no banco traseiro. – Eu pensei que você não saísse de bolsa com pessoas conhecidas e confiáveis.

Julie sorriu. Ela não saia, mas aquele foi um dos raros momentos que deu ouvidos ao seu instinto que dizia "leve-a, você vai precisar". Ashton poderia agradecer depois.

—Aqui – disse Julie, dando sobre o ombro sua carteira de habilitação ao guarda, mantendo os olhos em Ashton. – Minha carteira de habilitação.

—V-você... – gaguejou Ashton, estreitando os olhos depois.

—Eu – concordou Julie. – Agora pegue os documentos do carro. Ou você quer que o guarda pense que você roubou o carro? Pior, que eu o roubei?

—Você não é quem está dirigindo – disse o guarda, recusando-se a pegar a carteira. – Eu quero a habitação do condutor.

—Eu sou a condutora.

—E por que ele que está no volante?

—Ash queria sentir que estava no controle – confessou Julie, tentando parecer séria. Ela não iria rir, ela não iria rir...— Ele não gosta do fato de eu dirigir no nosso primeiro encontro. Eu nem deveria sair num encontro com uma pessoa dessas, mas... Olhe para ele, me diga se você não iria querer...

—Pare – pediu o homem, levantando a mão. Ele não queria saber. – Você acha que eu acredito nessa história?

—Parece bem razoável e realista para mim – avaliou Julie. Todos os fatos se encaixavam.

—Eu poderia prender vocês.

—Por quê? Não tem nem uma prova que isso é mentira...

—Porque isso não é uma mentira – interrompeu Ashton rapidamente, antes que Julie arruinasse tudo. – Ela queria por um momento sentir que era uma garota dos filmes da Disney, comigo pegando-a e levando-a em casa... Vamos – disse ele, abrindo a porta e saindo. – Venha para o seu assento, princesa. O sonho acabou.

Cavalheiro, o guarda abriu a porta e observou ao lado de Ashton o que Julie faria. Aquela garota o achava idiota? Embora aquela fosse a primeira vez que ouvia aquela história. As desculpas evoluíam, o mundo evoluía. Os jovens de hoje estavam perdidos, no seu tempo não existia isso, tudo isso.

—Claro – disse Julie. Os dois saíram da frente, dando passagem para ela, mas não era necessário, pois Julie pulou a marcha, esperando não estar mostrando mais do que deveria e queria.

—Você não...

—O carro está parado, travado, não estou quebrando nem uma regra... – disse Julie, ajeitando-se no assento. – Eu acho.

—Bem, sim... – murmurou o guarda, não se lembrando de nem uma lei que dizia o contrário. – Acho que está tudo dentro da lei... Mas estou de olhos em vocês – disse ele, afastando-se sem se virar, apontando ora para os seus olhos, ora para os deles. Quando já estava longe o bastante, o guarda lhe deu as costas se e gritou: – Estou de olho em vocês!

—Quando foi que... Desde quando você...

—Você não vai entrar? – questionou Julie, colocando o cinto e olhando para frente. Respire, Julie, respire; você sabe dirigir um carro. Primeira lição... qual era a primeira lição? Ela não podia se esquecer da primeira lição agora!

Julie acertou todas as perguntas (ela nunca confessaria que não acertou todas as perguntas a ninguém), e tinha certeza que essa era uma delas. Regular o banco ou ajustar os retrovisores? Ou colocar o cinto?

Bem, pensou Julie. A ordem dos fatores não deveria influenciar no resultado. Do que importava qual era a primeira lição? O que importava era que tudo estivesse bem, que ela estivesse seguindo todas as leis e que ela soubesse dirigir um carro!

—Você sabe dirigir um carro? – perguntou Ashton, sentando-se cauteloso ao seu lado.

—Como será que eu tenho uma carteira de habilitação então? Será que minha carteira é falsificada?! Oh-oh, por que será que o guarda não me prendeu?

Percebendo que seus pés alcançavam os pedais e seus olhos enxergavam acima do volante, Julie pulou para o próximo passo: ajustar o retrovisor da frente e os das laterais. Ela odiaria amassar o carro de Liz. E precisar pagar os consertos com o dinheiro da sua poupança.

—Vire aquilo um pouco para lá... – pediu Julie, apontando para o retrovisor do lado de Ash. – Não, para cá. Saia da frente – rosnou ela, retirando o cinto com tudo e inclinando-se sobre Ashton para chegar ao que queria.

—Quando foi que você tirou a carteira? – Ash não se lembrava dela ter desaparecido sem explicação; ele se lembraria dela desaparecendo sem explicação.

—Quando eu estava te evitando – respondeu Julie, olhando para cima e sorrindo ao estar satisfeita com a posição do espelho. – Ou você achava que eu estava escondida debaixo dos lençóis, lamentando o meu primeiro beijo perdido? Eu sou uma pessoa prática!

—Hum, sei, vai me levar para a casa agora, pessoa prática?

—Pode ser, mas... Eu tenho o sentimento que eu tinha algo que eu queria fazer, mas eu não lembro o que era...

—Comer. Você está com fome, lembra?

Se existia algo que Julie precisava ser lembrada era sobre estar com fome.

Quando ela foi des-hospitalizada, Julie sempre estava com fome – deveria ser uma das várias reações dos vários remédios que ela tomava. Agora, com o sistema livre de drogas, Julie não tinha mais fome. Não que ela não tivesse fome nunca ou não comesse, Julie apenas se esquecia de comer, porque ela só possuía fome depois de muito tempo em jejum. Mas ela nunca ficava satisfeita, era como se tivesse um buraco sem fundo na barriga – um buraco negro que sugava toda a comida para outro universo, mas que mantinha a falsa ilusão de saciedade, visto que a informação que desaparecia não era perdida, ela continuava no horizonte de eventos para quem observava.

Julie estava com fome. E nervosa – isso era perceptível pela física quântica. Dirigir um carro com alguém ao seu lado, observando-a, guiando-a, e praticamente no ponto morto e numa lerdeza, era diferente de dirigir na vida real, com carros passando, semáforos brilhando e pessoas descuidadas.

—Tem certeza que quer dirigir? – perguntou Ashton, olhando-a preocupado, quando ela não o respondeu.

Não, Julie não tinha. Ela não queria dirigir, ela não queria que um acidente acontecesse, mas... Ela não queria viver com medo. Ela não viveria com medo. Viver com medo não era viver.

Colocando a mão no freio de mão, Julie respirou fundo, fez uma prece rápida e desejou que aquele carro fosse de marcha automática – ela era péssima passando a marcha; se o carro morresse no meio de uma ladeira não seria sua culpa! – antes de empurrá-lo para baixo e testar sua sorte.

 

—Oh meu Deus! – exclamou Julie, de boca cheia. – Agora eu entendo porque comer primeiro, beijar depois. Você tem que fazer o que é melhor primeiro! Mais uma porção! – gritou ela, levantando uma mão sem parar de colocar uma panqueca na boca com a outra. – Isso é tãããã...

—Você deveria parar de comer um pouco – observou Ashton, colocando chocolate em cima de suas próprias panquecas. – Você sabe como fica quando come muito doce.

—...ããão. – Julie respirou fundo, sem fôlego, e completou: – Bom. Por que você não me trouxe aqui antes?

Ashton balançou a cabeça, nem um pouco surpreendido. Julie dopada de doces era pior do que Julie bêbada. Ash não entendia isso. Como alguém ficava bêbada com doces? Julie era mais bêbada cheia de açúcar na corrente sanguínea do que com álcool, passando por todos os estados de embriaguez misturados.

No estado que ela estava, Julie só escutava o que queria – ela sempre escutava o que queria, mas dessa vez não era uma escolha intencional. Era como se a mente de Julie estivesse a milhares e milhares quilômetros de distância; sua lucidez ia e voltava sem sinal.

—Porque só abre depois das dez horas e eu não iria te trazer tão tarde.

—E o que você fazia tããão tarde? – A resposta era obvia, percebeu Julie, parando com o copo a meio caminho da boca. – Uh, eu não quero saber, quero? Embora isso seja uma mentira, eu quero saber, porque não faço a mínima ideia do que seja.

—No que você está pensando?

—Eu não sei – disse Julie, desviando o olhar para os diversos atendentes que a encarava. Ninguém iria pegar mais? – No que eu deveria estar pensando? Do que... nós... falávamos?

—Mamãe gosta das panquecas daqui – respondeu Ashton, simplesmente, dando de ombros.

—Apenas isso?

—E o que mais seria?

—Mais uma porção! – gritou Julie novamente. Ninguém se mexeu. Devagar, ela virou-se para Ashton. – Ash...

—Eu pego para você – suspirou ele, levantando-se.

—Yesss, baby. Hasssta la visssta! – acenou Julie, carregando no sotaque e no s. – E traga refrigerante de limão para que possamos fingir que estamos brindando, porque eu não posso beber porque estou dirigindo!

Julie estava louca se achava que Ashton a deixaria dirigir. Ela dirigindo bem já era um risco, foi um risco; ela dirigindo bêbada seria o fim.

 

—Julie. – Ashton a cutucou. – Julie. Acorde. Chegamos.

—Já? – bocejou Julie, abrindo os olhos. – Que horas são?

—Antes da meia noite.

—Por que você não ficou dando voltas no quarteirão até depois da meia noite? – murmurou ela, tombando para o lado até encontrar o ombro dele.

—Porque não quero ser confundido com um sequestrador e preso. Acorde. – Ash a cutucou novamente.

—Eu estou acordada – murmurou Julie, abrindo os olhos, mas não se moveu.

—Você consegue andar até a porta? Quer que eu te acompanhe?

—Cuidado, mamãe está esperando com uma lanterna.

—Está tarde.

—Ela está esperando – repetiu Julie, observando sua própria casa. – Não está vendo a luz da televisão pela fresta da porta? E Luke já deve ter caído no sono, embora tenha dito que ficaria esperando. E Calum nem tentou... O que foi? – perguntou ela, virando-se a cabeça para vê-lo melhor.

E lá estava, pensou Ashton. O momento perfeito. Embora Julie não parecesse pensar o mesmo – ela nunca pensava o mesmo. O que fazia um momento perfeito? A proximidade, o elemento surpresa e a vontade. Ash seria louco de dizer que não sentia atração por Julie, que não queria beijá-la a cada segundo, quando ela dizia algo inteligente, algo louco ou simplesmente nada; quando a olhava e sentia vontade de desenhá-la; quando estava ao seu lado e sentia-se confortável.

Naquele momento, Ashton queria saber se beijar Julie seria tão maravilhoso quanto ele lembrava que era. Sua lembrança de quase oito dias sem beijá-la – e nem ninguém – dizia que sim, mas lembranças eram supervalorizadas.

—Hum, Ashton? – chamou Julie, com uma pequena oscilação na voz. (Momento perfeito, pensou Ashton novamente.) – Pouco espaço.

—É o que vem depois do encontro.

—Estamos seguindo algum cronograma? – perguntou Julie, não recuando. – Você quer me beijar por que alguém disse que é o que acontece depois de um encontro? Você vai me levar até a porta e me beijar?

—Julie, Julie, Julie... É o que eu irei fazer – sorriu ele. – Nós iremos ter um final de encontro digno da Disney.

Beijando-a rapidamente nos lábios, antes que Julie pudesse reclamar, Ashton saiu do carro, deixando-a apenas com um sentimento de antecipação. Filmes da Disney a parte, ela sentiu uma camada de frio sobre sua pele, o que era bastante desconfortável e agradável ao mesmo tempo.

—Saia – disse Ashton, abrindo a porta do lado dela e esticando a mão.

—Eu acho que não estou me sentindo bem.

—Vamos, Julie, rápido, não temos o dia todo.

—Noite – corrigiu Julie.

—Está vendo? Você está bem – afirmou Ashton, colocando-a de pé contra sua vontade e entrelaçando o braço ao dela. – Se você já está se sentindo bem para corrigir os outros, você está bem para ser beijada. Agora, onde você quer ser beijada?

—Existe isso de não estar bem para ser beijada? – questionou Julie, curiosa. Ashton levantou a sobrancelha quando a ficha dela caiu. Oh-oh, Julie, você e sua maldita boca grande e cérebro ocupado. – Porque eu acho que não estou – completou ela rapidamente. – Eu realmente acho que não estou me sentindo bem. Eu posso cair se ficar de pé. Acho que tudo está girando. Acho que estou tendo uma reação atrasada de ter dirigido sobre pressão. Ou pode ser algo que eu comi.

—Julie, cale-se. Como vou te beijar se você continuar falando?

—Sem chance – disse Julie. – Eu não posso.

Não, ela não podia, percebeu Ashton, mas ele podia calá-la e beijá-la. Aceitando o seu fim, Ashton viu-se sem alternativa além de pressioná-la contra a porta, como originalmente tinha dito que faria.

Era impressionante como era diferente ser aquele que dá o primeiro passo, porque Julie o encarou com uma mistura de ansiedade e nervosismo, que ele sabia que sentiu quando ela tinha praticamente feito o mesmo com ele; foi bom saber que ele não era o único a se sentir assim; foi saber que ele provocava esses sentimentos nela, que ele era a causa daquilo.

—O que você está fazendo? – perguntou Julie, quando Ash obviamente não fez nada. – Ou pretende?

—Estou esperando você pedir.

—Eu não vou.

—Eu sei – concordou Ash. – Mas eu aceito essa sua pergunta como um consentimento.

Batendo as mãos com cuidado na bochecha dela, embora com pressão suficiente, Ashton fez o que ela tinha feito com ele e inclinou-se até que apenas seus narizes estivessem se tocando, vendo os cílios de Julie piscarem rapidamente, a respiração dela tornasse um pouco superficial, a boca ficar entreaberta, a língua... Ashton completou o espaço que faltava, colando os seus lábios com dela e pensou: doce, os lábios dela eram doces.

Julie não gostava do fato de estar beijando Ashton por ser o final do encontro, mas ela gostava do fato de estar beijando Ashton – ela gostava muito do fato de estar beijando Ashton para se separar por vontade própria. Agora, ele a beijava direito. E o gosto estava ainda melhor, porque ele tinha comido panquecas com calda de chocolate.

Contudo, quando a mão direita de Ashton deslizou da bochecha dela para a nuca, puxando-a mais para perto, Julie afastou-se e apertou o rosto contra o ombro dele, estremecendo-se nos seus braços.

—O que foi? – questionou Ashton, recuando. – Você está chorando?

—O que? Não! – riu Julie, olhando para ele e arregalando os olhos, como se quisesse mostrar os olhos secos. – Eu sou sensível na nuca, você sabe! – reclamou ela, empurrando o rosto contra o ombro dele novamente e rindo.

—Você está ouvindo? – Ashton ouviu o sussurro de Liz através da porta. – Sim, sim – ela disse para si mesma. – Faltam dois minutos para a meia noite, eu vou abrir a porta daqui sessenta segundos. Um, dois, três... – Liz começou a contar. – Acho que vou pegar um pouco de água. Quatro, cinco...

—Temos sessenta segundos, Julie – riu Ashton, passando os braços ao redor dela e puxando-a para si. – O que você quer fazer?

—Cinquenta agora, provavelmente – disse Julie, hesitante ao abraça-lo. – Estamos saindo? Isso para você é tipo um teste drive?

—Por quê?

—Porque eu acho que deveria me preparar. O que vamos ser depois?

—Amigos. Como sempre.

—Essa frase necessita de um “e” ou “mas”. Você sabe que eu gosto de você e não gosto do pensamento de ser usada

—Você acha que... – Ashton estava sem palavras. – Eu quero continuar sendo seu amigo, Julie. Eu gosto de ser seu amigo, eu não quero perder isso, mas... Eu também percebi que gosto de você muito mais do que isso. Eu quero ficar ao seu lado mesmo que você não me queira, eu quero que você me queira ao seu lado mesmo quando não quiser mais ninguém...

—Isso será impossível – interrompeu Julie. – Porque eu sempre vou querer Luke e Calum ao meu lado mesmo quando eu não os quiser lá.

—Eu quero que eu também seja um dos que você queira que esteja ao seu lado mesmo quando não quiser ninguém – corrigiu-se Ashton. – Mas eu quero ficar ao seu lado, eu quero te beijar, não apenas quando fomos nós dois. Eu quero...

Desde que Julie fugiu de casa e Ash a levou para sua casa, Ash sabia que gostava de Julie muito mais do que uma amiga, mas e se ele apenas achasse que gostava dela por que a viu toda sensível e queria dizer algo que a fizesse feliz? E se depois de muito pensar Ashton achasse que Julie era demais para ele aguentar? Ele já a achava incrivelmente irritante nos seus dias bons, imagine nos ruins. Não seria certo ficar ao lado dela e depois descobrir que não.

Julie teve seu tempo para pensar nisso e Ashton queria o seu para não magoá-la, mas agora ele percebia que era o que fazia quando se recusou a dar uma resposta para Julie. Ash devia ter dado uma resposta definitiva a Julie quando ela disse que provavelmente estava apaixonada por ele. Ele teve vários momentos para dar uma resposta a Julie, mas ele não fez. Agora era o momento.

Ashton respirou fundo. Ele sabia o que tudo isso significa. Ele não podia mais adiar a verdade. Ashton não estava nervoso ou ansioso – não apenas isso ao menos. Ele estava apaixonado.

—Eu... – Ashton abriu a boca, mas Liz era mais rápida.

—Ding, ding, dom, o tempo acabou – disse ela, abrindo a porta. – Então – Liz bebeu um gole de água, olhando de um para o outro ao se encostar no batente da porta. – Como foi o encontro?

—Um momento – pediu Julie, com os olhos fixos em Ashton.

—Levem o tempo que precisar – disse sua mãe, não arredando o pé de onde estava. – Onde vocês estavam?

Ashton olhou para Liz, querendo que ela entendesse que era para sair dali. Privacidade seria bom, mas Liz não parecia achar o mesmo nem Julie, que não parecia preocupada com a plateia. Ash suspirou. O que quer que ele fosse dizer, seria na frente dela.

Virando-se para Julie e perguntando-se como ela podia estar com vergonha de beijá-lo quando era apenas os dois e não ficar com o fato de estarem abraçados em frente a Liz, que os observava como se eles fossem seu melodrama romântico favorito, Ashton confessou:

—Eu quero você.


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Notas finais do capítulo

Como tornar um encontro inesquecível? É o que eu estava pensando quando viajei, e quando foi parada pela policia ali estava a resposta para a minha pergunta!

P.S. Existem lugares que se pode ter carteira de habilitação aos 16 anos. Alguns lugares dos EUA, França... Eu particularmente penso que a história se passa no hemisfério norte, por causa da questão das estações, e ainda tem o modo de ensino, por essas e outras razões, penso que "Isso não é..." é ambientada no oeste da França.



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