Estou profundamente perdida. Não sei como ainda não cai em depressão. Não sei se isso é força. Eu só não sei. De nada. Perdi todas as orientações, as minhas bússolas, estou sem norte.

Minha querida Carla, a minha dama de companhia, me disse que não estou mais a mesma. Acredito nisso. Perdi um pouco da essência da antiga Isla Krys.

Afirmo tudo isso pois tem dez dias em que recebermos a confirmação do acidente que ocorreu no porto. Minha mãe, Julie Robert Krys, e meu pai, Louis Robert Krys, morreram. Caíram na plataforma superior, junto com outros casais. E isso me deixou arrasada.

Creio que todos nós estejamos assim. Tenho mais três irmãos. As meninas são mais velhas do que eu, e o rapaz, mais jovem. A primogênita, Ella, está muito pior que todos os outros juntos. Ela era quem convivia mais com nossos pais, e há mais tempo. Ela ainda é solteira, mas nesse no ano passado ela entrou na sociedade. Ela ainda não se casou pois preferia conhecer mais pretendentes para conseguir uma situação ainda melhor das que tinha. Acredito que ela esteja arrependida, pois como a própria mesmo disse, “será muito mais complicado para conseguirmos sobreviver nessa sociedade nesse momento tão doloroso”.

Para piorar as coisa, ontem recebemos mais duas cartas. Uma era do banco. Dizia que a casa em breve seria leiloada. Pois o homem restante - meu irmão - não tem a idade para assumir a propriedade, e que meus pais não deixam legalmente outro alguém como herdeiro, além dos que poderiam serem dados como herdeiro, são de uma parte tão distante de nossa família que nem mesmo seria adequado se o fizesse. Sem contar, é claro, que a minha irmã não pode se responsabilizar, afinal não tem direito para tal como mulher. Tudo discurso do banco para tomar o que é nosso por direito.

A segunda carta foi de meu tio. Tio Julio, irmão da nossa mãe. Ele nos convidou a morar com ele, afirmando que seria o mínimo que poderia fazer, em memória de meus pais e de seus irmão e amigos.

A parte boa é que ele sempre fora muito bom para com todos nós. E não duvido nada que continuará sendo. A parte considerada por muitos desagradável é que ele é dono de uma das maiores casas de jogos e de diversão “profana” da cidade. Mamãe sempre nos disse que tendíamos a nos viciar em coisa que, como a mesma falava, eram perigosas. E essa era uma delas.

Estou escrevendo tudo isso pois estou sozinha aqui, no quarto que fora apenas meu durante a maior parte da minha vida. Em breve dividirei o quarto com as minhas irmãs. Essa parte, na verdade, eu considero agradável demais, afinal nós manterá um pouco mais perto uma das outras.

As malas já estão arrumadas para logo os empregados virem pegá-las. Também sentirei falta dos nossos queridos empregados, sobretudo Carla e de  Angélica, que é nossa governanta.

Dispenso-me dessas paredes com um pouco de tristeza. Mas também alívio. Elas me lembram a mamãe. Agora posso chorar sem ter que me esconder dentro de mim, sem nem poder olhar pela janela sem me lembrar do doce que tive durante toda a minha vida, mas que agora parece-me ter sido roubado com tamanha violência.

Obrigada, minha casa. Já Amanheceu e vou fazer o último dejejum aqui. Bom dia. E espero por boas novas.

Sinceramente em queda,

KRYS, Isla.