Underneath escrita por Milly Winchester


Capítulo 2
II. Bancando a detetive


Notas iniciais do capítulo

DEMOREI MAS CHEGUEI, VIADO!

Não quero enrolar muito, portanto, boa leitura!



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QUEM DIABOS são vocês? 

Eles viram-se ao mesmo tempo, pasmos. Se entreolharam por um segundo, provavelmente perguntando a si mesmos como não haviam percebido que eu os seguia o tempo todo. Elevo meus supercílios rigidamente e cruzo os braços, aguardando uma resposta. Vejo o pomo de adão de Sam subir e descer, e ele parecia limpar a garganta. Enfim, suspira e abre a boca, aparentemente tentando encontrar palavras para me explicar o que diabos está acontecendo.

— Olha, Dorothy, não é o que você está pensando — ele gesticula, em uma tentativa completamente falha de me acalmar.

— Responda agora! Quem são? Por acaso são integrantes de alguma seita? Depois de ver esse pentagrama entalhado no carro de vocês, não duvido dessa possibilidade! 

Dean revira os olhos e olha para o parceiro. Os dois pedem uma pausa e eu faço o mesmo, rolando os olhos impacientemente. Se afastam por alguns segundos e cochicham alguma coisa. Do que estão falando? Seguro a vontade de ir até lá e apressá-los. Quando voltam, a aflição está estampada em seus rostos.

— Tudo bem, Swan. Vamos abrir o jogo. Não somos agentes do FBI — Dean informa ironicamente, me fazendo querer soltar um "não me diga!".

— Eu sou Sam Winchester e esse é o meu irmão Dean. Somos... Hum... Caçadores.

Franzo o cenho.

— Isso é algum tipo de piada?

— Não, Swan. Caçamos todo tipo de coisa que faria você mijar nas calças. Fantasmas, bruxas, metamorfos, vampiros e até mesmo demônios. Pronto, esclarecido — explicou, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. 

Malucos. Essa é a minha conclusão sobre os homens parados na minha frente. São malucos! Completamente pirados! Meneio a cabeça e não posso conter a risadinha rouca carregada de escárnio que escapa dos meus lábios quase que instantaneamente. O tal Dean Winchester parece estar irritado.

— Bem, digamos que estão falando a verdade. Por que estão aqui e por que acham que sou a culpada por trás do que está acontecendo? — interrogo, inconformada. 

— Porque achamos que algo sobrenatural matou e seu chefe e, bem... As pessoas que morreram são todas próximas a você — deduz Dean, ironicamente, o que me faz querer socá-lo. — Isso é uma coincidência bem estranha.

Me seguro para não pular no seu pescoço e estrangulá-lo, cerrando os punhos. Não posso reprimir a careta de desgosto, mas logo, uma ideia ilumina minha mente. Se eu estivesse em um desenho animado, garanto que uma lâmpada se acenderia em cima da minha cabeça. Sorrio gananciosa, e os Winchester me encaram, presunçosos. Afinal, por que não? Não tenho mais nada a perder. Depois de ver o porta-malas desses caras, não duvido do que disseram sobre serem caçadores, mas isso não os torna menos malucos. Até que faz sentido, e por um lado, eu estou feliz pelo sobrenatural existir, sempre gostei desse tipo de coisa. Deve ser por isso que estou levando esse assunto tão na boa, mas sei que nem tudo é um mar de rosas. Mesmo assim, minha curiosidade não iria me permitir ficar parada e não me aliar àqueles doidos de pedra, portanto, decidi expor minha proposta. 

— Tudo bem, Losechesters. Vou ajudá-los a resolver este... Caso — gesticulo.

— O quê?! — brada o mais baixo, furioso.

— Olha, Dorothy, eu não acho que seja uma boa ideia — afronta Sam, me olhando com uma cara de cachorrinho que caiu da mudança.

Não, não. Isso não funciona comigo. Cruzo os braços e me aproximo perigosamente dos dois, lançando-lhes um olhar que julgo ser intimidador. Eles iriam aceitar. 

— Primeiro de tudo: pare de me chamar de Dorothy. É Dot — repreendo, erguendo o indicador na sua direção. — Segundo... Sammy boy, meus amigos estão morrendo. Meu chefe morreu. Minha mãe está morta — engulo em seco ao pronunciar essa frase. — Eu tenho o direito de saber quem foi o bastardo que a matou, tenho o direito de querê-lo morto e tenho o direito de querer ajudar vocês dois, capiche? E eu sei que não vão resistir em deixar eu ajudá-los. Pouco me importa o que pensem. Não tenho nada a perder, docinhos — posiciono as mãos na cintura, confiante. — E então? Fechado?

Os dois irmãos se entreolham e Dean revira os olhos. Qual é o problema desse idiota comigo, afinal? Qual é o problema de eu ajudar? Oh, já sei. O espírito heroico de Dean... Eles não querem que eu morra. Eu? Dot Swan? Morta por um Crepúsculo, um Gasparzinho, uma Emily Rose ou por um cosplay barato do gênio Michael J. Fox em Teen Wolf? Na-na-ni-na-não! A covardia não está no meu sangue.

Sam suspira.

— Tudo bem. Mas é só este caso. Depois, você esquece de tudo e de que estivemos aqui — ordena Dean, me encarando friamente.

— Eu não queria me lembrar dessa sua cara feia mesmo — debocho, apertando sua mão e selando o acordo mais divertido e desafiador que eu jamais havia selado.

{...}

Saio do banheiro, puxando inutilmente aquela saia apertada e que insistia em subir e deslizar para cima sobre as minhas coxas. Por acaso esse traje deve me fazer parecer uma agente do FBI? Se sim, não está fazendo um bom trabalho, pois quando me olhei no espelho a alguns segundos atrás, parecia mais uma secretária desajeitada. Solto uma lufada de ar e vou ao encontro dos irmãos Winchester, que me esperam encostados no Impala. Dean parece reprimir uma risada e eu sinto vontade de socá-lo. 

— Com essas roupas, está parecendo uma diretora magricela — satiriza ele, de braços cruzados e com um sorrisinho bobo no rosto.

Quem esse cabeça de bagre acha que é? 

— Ora, seu... 

— Calma aí, tigresa — ele ergue uma das mãos, interrompendo os palavrões que eu estava prestes a soltar. Semicerro os olhos e o encaro. — Guarde sua fúria para o seu vilão, ok? 

Faço uma careta e empurro-o para o lado, a fim de abrir a porta do Chevrolet. Antes de entrar no veículo, apoio as mãos na porta e mexo os dedos freneticamente, levando meu olhar até Dean.

— A sua sorte é que fiz as unhas ontem — alerto, lançando-me sobre o banco macio do Impala e fechando a porta.

Percorremos o trajeto até o necrotério em silêncio. Dean inclusive ligou o rádio por alguns momentos, e tenho que admitir, ele tem bom gosto. Led Zeppelin é definitivamente um clássico. Tudo que podia se ouvir era a música Stairway To Heaven e o som dos dedos de Dean batucando no volante com o ritmo da música. Logo, finalmente chegamos. Descemos do carro ao mesmo tempo e caminhamos para perto da entrada do estabelecimento. Sam me pede uma foto de identidade, e tiro ela de dentro da minha carteira, cuja encontrava-se na bolsa que eu carregava. Entrego a ele e ele me devolve ela em um distintivo, me encarando.

— Sabe fingir bem? 

Não posso conter a risadinha de escárnio que escapa dos meus lábios. 

— Querido, eu fiz teatro — sorrio debochadamente.

Avanço na frente dos Winchester e entro no necrotério, me dirigindo ao balcão onde uma atendente me espera com uma carranca de desprezo. Essas pessoas mal trabalham, ficam o dia inteiro sentados recebendo ligações e passando informações, como diabos podem ficar cansados e emburrados? Não os entendo. Acharia até engraçado ver essas secretárias fazendo o que eu faço. Ou melhor, fazia. Quase esqueci que perdi o meu emprego. Ótimo.

— FBI, agentes Forbes, Young e Murs — pronuncio e nós mostramos os nossos distintivos.

— Bom para você — a idosa secretária de cabelos vermelhos devolve, enquanto masca um chiclete de maneira irritante. Ela está parecendo uma vaca mastigando.

Sorrio amargamente e me seguro para não pular no pescoço da velha, arrancar aquele chiclete da boca dela e enfiar naquele lugar onde o sol não bate. Ela continua me olhando com desprezo e quando eu estou prestes a cogitar em fazer isso, Sam pigarreia e toma a frente.

— Senhora, nós precisamos ver o corpo de Albert Rodric. Poderia guiar-nos até a sala dos corpos? — ele pergunta educadamente, e por um momento eu me derreto com a gentileza do Winchester mais novo. 

A velha sorri maliciosamente para Sam.

— É claro, gracinha.

Ao notar a tentativa de sedução da velha de cabelos tingidos, meu estômago revira e eu tenho vontade de vomitar. Reprimo uma gargalhada e percebo que Sammy sorri forçado. A recepcionista sai de trás do balcão e puxa Sam pela gravata. Desajeitado, ele anda e eu o sigo. Reprimo outra risada e a idosa abre a porta da sala, revelando as gavetas de parede típicas de necrotério. Anda até elas e as vasculha. Quando encontra a gaveta certa, sai do local e nos deixa sozinhos, antes de, é claro, dar uma piscadela para Sam. Aquela velha realmente conseguiu ser mais rápida do que eu. Não que eu queira algo com Sam! Eu mal o conheço.

— Parece que ela gostou de você, Sammy. Por que não pede o seu número? — satiriza Dean, exibindo um sorriso sacana. 

Sam revira os olhos e em seguida me encara.

— Dot, tem certeza de que pode ver isso? 

Dessa vez, sou eu quem reviro os olhos.

— Eu não sou uma franguinha, baby. Manda bala. 

Ele sorri para mim. Droga, que sorriso bonito. Estou com inveja. Também quero! Sam puxa a gaveta onde se encontra o corpo do meu chefe e eu me deparo com a pior coisa que eu já vi na minha vida. Meu chefe, pálido e coberto por um fino lençol branco. Os olhos fechados e os lábios sólidos feito pedra. Cubro a boca, reprimindo um grunhido, e me arrependo de ter dito que eu aguentava. Não, eu não aguento, mas finjo que sim. Sam

parece notar que estou fingindo, mas não diz nada. Os Winchester examinam cada parte do corpo do meu chefe morto e eu permaneço ali, imóvel, sem saber o que fazer. 

— Está tudo bem, Swan? Você parece meio... — Dean dá uma risadinha. — Verde. 

Levo meu olhar até ele e o fuzilo o idiota, tentando não simplesmente pular no pescoço dele e enfiar as minhas unhas naquela bela e saudável garganta a fim de rasgá-la por inteiro. Minha ameaça indireta não parece funcionar muito bem, pois o sorrisinho sacana de Dean prevalece. O barulho de Sam mexendo em algo chama a minha atenção, e vejo que ele tirou um cotonete sabe se lá da onde. Me pergunto mentalmente o que ele fará com tal objeto e quase vomito o meu rim esquerdo quando ele enfia o cotonete na orelha do meu chefe morto. Por acaso ele está com vontade de tirar a cera de ouvido do Rodric? Nojento. Muito nojento. 

Depois de cutucar bastante o pobre tímpano do meu falecido chefe, Sammy boy analisa um pó amarelado na ponta do cotonete. De onde já se viu cera de ouvido amarela? Será que o Rodric estava doente antes de morrer? Antes mesmo que eu pudesse anunciar a minha dúvida, vejo que Sam e Dean trocam um olhar cúmplice, como se soubessem a resposta para a monha pergunta.

— Enxofre — declara Sam, franzindo o cenho e comprimindo os lábios. Meu queixo cai e ele guarda o cotonete com o tal enxofre dentro de um pequeno saco plástico.

— Isso não nos leva a nada! Ou leva? Talvez sim! Isso pode significar que o meu chefe era um tipo de mutante e no lugar da cera de ouvido, tinha enxofre! — deduzo genialmente, sorrindo.

Sam e Dean me encaram como se eu fosse louca. Parece que a minha teoria não é muito plausível, no final das contas. Sam pigarreia e balança o saco plástico com o cotonete com enxofre na minha frente.

— Enxofre significa atividade demoníaca. E isso nos leva à seguinte hipótese: quem matou e está matando os seus conhecidos é um demônio — esclarece Sam, me deixando ainda mais boquiaberta.

Ok, calma, Dorothy, tome o seu tempo para processar isso. Suspiro profundamente e rolo os olhos pela sala em uma tentativa de digerir aquela informação sem surtar. 

— Um demônio? Está dizendo que um demônio matou a minha mãe? — entro em pânico involuntariamente. 

— Achamos que sim — responde Dean calmamente, em uma tentativa falha de me deixar mais relaxada.

Isso é demais para mim. Com certeza é. Ando em círculos com as mãos presas ao couro cabeludo, em outra tentativa de processar a informação e botar esse cérebro mole, pequeno e suculento dentro da minha cabeça para funcionar. Dean e Sam parecem incomodados com o meu comportamento um pouco ansioso, então eu paro, respiro, conto até dez e abro os olhos, já me sentindo levemente mais calma.

— Tudo bem. Vamos matar esse bastardo! — exclamo sorrindo, mas ao lembrar que não era só isso, meu sorriso se desfaz. — Mas como vamos fazer isso? 

— Melhor conversarmos em outro lugar — sugeriu Sam.

Saímos do necrotério e tomamos rumo a uma lanchonete qualquer. A minha fome e a minha ansiedade se misturam instantaneamente e quase me fazem explodir, já que ambas pareciam querer me fazer inchar como um balão. Roer as unhas durante o trajeto é inevitável, e quando vejo que havíamos chegado, salto de maneira nada delicada para fora do Impala e sou seguida pelos Winchester para dentro do estabelecimento. Não demoro a me sentar em uma mesa qualquer, pedir uma comida qualquer e ficar de prontidão para ouvir o plano.

— Quem além do seu chefe e da sua mãe que era conhecido seu morreu até agora? — questiona Dean, segurando o hambúrguer gorduroso que havia pedido entre as mãos e mordendo-o com vontade.

— Natalie, minha ex colega da faculdade, Jason, meu ex-namorado e Denise, a velhinha da igreja que sempre me oferecia doces. Acho que essas são as únicas pessoas com as quais eu costumava me relacionar, a não ser é claro, o Rodric e a minha mãe — logo, percebi que estava faltando alguém. — Ah, e falta um. O Sean é o meu melhor amigo e nada aconteceu com ele até agora. 

Dean me encara, intrigado.

— Você sabe o que isso significa, certo?

Pisco algumas vezes. O que ele acha que eu sou? O Akinator? Que tenho uma reluzente e redonda bola de cristal? Mesmo assim, disfarço.

— O que significa? É claro que eu sei o que significa! — dou uma risada nervosa, mas meu sorriso se desfaz. — Não, eu realmente não sei. 

— Isso significa que Sean é o próximo. 

Franzo o cenho e abro a boca, estupefata. Comprimo os lábios e cutuco os deliciosos e aromáticos waffles com calda de chocolate que estão no meu prato com o garfo. Largo o talher de maneira bastante ruidosa, atraindo a atenção de alguns clientes ao meu redor para mim. Mesmo assim, não me importo e encaro Dean.

— Isso deveria fazer eu me sentir melhor? Se sim, não está funcionando. Na verdade, só me deixa mais angustiada — digo rapidamente, me atrapalhando e praticamente vomitando as palavras, denunciando o meu nervosismo diante daquela situação.

— É exatamente isso que você deve evitar. A angústia. Regra número um do caçador: não fique com medo. Esqueça ele, tranque todas as suas inseguranças em uma caixa a sete chaves — leciona Dean, de boca cheia. 

Franzo o cenho. Desde quando o Losechester se tornou um tutor nato? Reviro os olhos e corto um pedaço do meu waffle, me apressando em enfiá-lo na minha boca. Escuto um pigarro vindo de Dean.

— Você tem algum inimigo? Sabe, alguém que queira pendurar você de cabeça para baixo bem acima de um oceano repleto de tubarões? — o Winchester mais velho eleva a sobrancelha ironicamente. 

Faço uma careta, me lembrando de uma pessoa que provavelmente desejaria fazer isso comigo. 

— Raven Rousey. Aquela víbora desgraçada não tirava os olhos do meu namorado quando estávamos juntos e ela foi o motivo do nosso término. Além do mais, acho que ela me idolatra, pois pelo que sei, eu sou um assunto que não abandona os seus pensamentos e ela está sempre tentando bolar algo para que eu me ferre bonito — reclamo enquanto beberico o café na pequena xícara entre as minhas mãos.

— Ótimo. O plano é o seguinte: amanhã você visitará Sean enquanto nós investigamos essa tal Raven. Você deve protegê-lo, pois como eu disse, ele é o próximo e como é o último, garanto que esse demônio não vai querer perder tempo — bola e saboreia o plano idiota como se fosse uma porção de uramaki. Reviro os olhos mais uma vez.

— O seu plano é inútil, mas como sei que eu não sou experiente o suficiente para me pronunciar, estou de acordo. Essa é a minha única opção, de qualquer forma — resmungo comendo mais um pedaço do waffle. — Mas o que têm me deixado intrigada ultimamente é essa pergunta maldita... Por que esse demônio está matando pessoas próximas a mim? O que ele tem contra mim, afinal?

Sam suspira, fechando a tela do notebook na qual estava extremamente concentrado desde que havíamos chegado na lanchonete. Ele me encara apreensivamente.

— Isso é uma coisa que descobriremos depois — anuncia, olhando de relance para o irmão. — Portanto, mãos à obra.

{...}

— Como diabos você pretende me ensinar algum truque de defesa? Não sei se percebeu, mas não tenho uma coordenação admirável, principalmente para esse tipo de coisa — aponto para o alvo não muito longe de onde estamos.

Dean esboça uma careta de reprovação e me estende uma Taurus — só sei o nome da bugiganga porque ele me contou — intacta, como se fosse nova. Não me surpreenderia se Dean fosse um maníaco por armas, do tipo que passa horas polindo cada uma delas até que ele consiga ver o seu reflexo nelas. Faço beicinho enquanto olho para o revólver e tento persuadi-lo para que eu não tenha que aprender a atirar. Sim, eu quero aprender a me defender, mas tudo parece tão difícil, e... Argh! Cansativo. 

Dorothy Marie Preguiça Swan deveria ser o meu nome completo. 

— Você tem cara de descoordenada mesmo — ele dá um sorriso irônico e balança a arma, me incentivando para que eu a pegue. — Anda. Se vamos fazer isso, você pelo menos precisa ter uma noção de como não morrer. 

Reviro os olhos e a contragosto puxo a Taurus de sua mão, me surpreendendo com o peso da mesma. Com medo de empunhá-la, ergo a arma devagar até que ela fique na altura do meu olho. Dean solta um muxoxo de reprovação e arranca a arma das minhas mãos. Levanta ela na mesma altura que imaginei, fecha um dos olhos para mirar e atira. A bala parece avançar em direção ao alvo em câmera lenta e eu a acompanho com o olhar até a mesma penetrar no centro, perfurando e atravessando o alvo que por coincidência, os Winchester tinham no bagageiro do Impala. Eu não ficaria surpresa se acabasse encontrando petróleo ou ouro naquele porta-malas.

Dean, evidentemente impaciente, me entrega a arma com um olhar congelante, que quase me transformou em pedra ali mesmo. Talvez Dean seja a reencarnação da Medusa?! Épico.

Mordo o lábio e afasto os devaneios bobos que costumam inevitavelmente brotar na coisa suculenta que mora dentro do meu crânio — não tenho certeza se devo chamar essa coisa de cérebro, visto que não é muito eficiente e obviamente não cumpre o trabalho de um. Posiciono a Taurus e sigo os recentes movimentos do Winchester mais velho, fechando um dos olhos e me esforçando para que funcione.

Por favor. Pelo amor do santo Deus, funcione!

Pressiono o gatilho e mais uma vez, observo a bala rodopiando em direção ao alvo. Abro um sorriso e a cena parece se passar com lentidão diante dos meus olhos. Ansiosa e precipitada do jeito que sou, vejo minhas recém criadas expectativas murcharem assim que vislumbro a bala avançando e passando bem longe do alvo.

Fracasso fracassadíssimo.

Encaro Dean com um sorriso constrangido e ele parece furioso e desapontado. Arranca a Taurus da minha mão e caminha em direção ao alvo, pretendendo desmontá-lo. Faço uma careta novamente e depois que ele termina de desmontar o alvo rapidamente, o acompanho de volta ao Impala. Sam está sentado sobre o capô mexendo em seu laptop. Coço os braços, irritada com a quantidade de pernilongos que planejam me devorar viva durante todo o período em que eu estiver próxima à essa reserva infernal de Golden. 

— Encontrei o endereço dela — revela Sam.

Enterro as mãos nos bolsos e exibo um sorriso malicioso. Dean, que guarda o alvo já desmontado no porta-malas, me encara com uma perceptível desconfiança. Cerra o bagageiro e caminha na minha direção com algo em mãos, mas não consigo ver o que é.

— Não pense que vamos dar para você o endereço da tal Rousey para que você, sei lá, assassine-a sorrateiramente — ele avisa, apontando o indicador para mim.

Eu?! Mas eu sou uma santa!

Faço cara feia e ele responde abrindo um sorriso de puro deboche. Em seguida, me estende o que estava em suas mãos. Movo o olhar até o tal objeto e não posso deixar de rir quando leio o rótulo. Spray de pimenta!

— Isso é sério? — tento controlar a gargalhada, mas Dean não parece estar brincando.

Meu sorriso se desfaz e fito a expressão séria de Dean. Encolhida, aceito o spray — uma péssima forma de defesa contra demônios, então deduzi que fosse uma piada. 

— É água benta — ele diz como se fosse óbvio. — A embalagem é para ser enganosa.

— Claro! — sorrio constrangida enquanto guardo o spray no bolso do blazer. — Água benta...

Ouço Sam pigarrear.

— Ok, Dot, vamos levar você até a casa desse Sean e verificaremos a casa dessa Raven.

Abro os braços, sorridente.

"Partiu"?!


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Notas finais do capítulo

Deixem aquele feedback, por obséquio! Fico no aguardo de um retorno e vejo vocês no próximo!