-sabe, prazo é o que você já teve demais. –ele deu um chute na barriga de Frank que se contorceu. –vamos rapaz, diga as suas últimas palavras. –ele disse engatilhando a arma.
Eu continuava escondida atrás das caixas, observava tudo sem conseguir me mexer, minhas pernas estavam duras e meu cérebro não passava as informações necessárias. Fechei os olhos ainda tentando ouvir que aquilo não estava acontecendo, mas a prova de que aquilo era real foi os dois disparos que vieram logo a seguir. Suspirei e abri os olhos devagar, o corpo morto de Frank inteiro ensangüentado, tentei correr ao seu encontro, mas meu corpo ousava em não me obedecer. Continuei a chorar, o moreno saia do galpão rindo, com o maior sangue frio, e aquilo estava me deixando furiosa, meu peito doía demais, e eu nada mais poderia fazer, ele passou em algum lugar perto de mim e finalmente meu corpo voltou aos sentidos, corri atrás dele com a faca na mão e o acertei, ele se virou assustado afinal achava que só havia o Frank no galpão e que este já estava morto, tentou revidar, mas eu acertei outra facada em suas costa e este caiu no chão, virei seu corpo e vi que ele ainda estava vivo, com toda a raiva que eu sentia comecei a esmurrar a cara dele, quebrei seu nariz e o rosto dele já estava se tornando desfigurado por tamanha força que eu aplicava os golpes, não sei da onde eu tirei tanta força mas agora isso não importava. Peguei a arma que ele havia derrubado no chão e enfiei seu cano na boca dele, estava prestes a atirar quando alguém segurou meus braços, olhei rápido pensando ser o Frank, mas não era, era o Gerard.
-mas como você sabia...
-o Mikey me contou, disse que você falou durante o sono na aula de filosofia esse lugar. Agora larga essa arma vai.
-NÃO! –eu gritei.
-Daia, o Frank não gostaria que você sujasse suas mãos com esse cara.
-como eu vou saber, ele nem vivo está mais para me dizer. –eu cai no choro novamente.
-ninguém gostaria que você virasse uma assassina...
-tivesse esse monstro pensado nisso antes de matar o meu Frank. –eu dei uma cotovelada nele.
-ele me devia dinheiro, eu tinha todo o direito... –o moreno falou mais eu o interrompi colocando de novo a arma em sua boca.
-então, você se importa mais com o dinheiro do que com a vida de uma pessoa seu bosta.
-Daiane, se acalme...
-ME ACALMAR, ME ACALMAR? COMO SE A PESSOA QUE EU AMO ESTÁ MORTA ALI NO CHÃO, E VOCÊ VEM PEDINDO PARA EU ME ACALMAR. EU NÃO POSSO MAIS VIVER SEM O FRANK, EU NÃO VOU CONSEGUIR.
-é claro que você vai você é forte...
-EU NÃO QUERO MAIS VIVER, NÃO SEM ELE...
-Daiane, você tem a mim e também tem a sua mãe, não é o fim do mundo...
-desculpe Gee. –eu dei um último suspiro e engatilhei a arma apontando para ele, fechei os olhos e disparei o revólver. Gerard correu em minha direção, desesperado, eu não havia atirado nele e sim e mim mesma, na minha fonte, consegui virar a arma bem na hora. De repente toda a dor que eu sentia em meu peito e angustia sumiram, senti perder o chão aos meus pés, meu corpo aos poucos ia amolecendo e eu perdia cada vez mais rápido os sentidos que um dia tive minha visão já estava turva e a audição falha, mas mesmo assim pude ouvir um último grito vindo do meu melhor amigo, cada vez mais esse grito ia ficando mais longe até que uma hora cessou. Tudo cessou, já não tinha motivos para chorar, já não tinhas lágrimas para derramar, tudo havia secado junto com a bala que adentrou em minha cabeça. Abri os olhos lentamente e já não vi o velho galpão, estava tudo escuro, eu não tinha sangue em minha roupa e muito menos em meu rosto, já não havia sensações ao meu redor, nem boas e muito menos ruins, simplesmente tudo havia acabado. Toda a dor e também todo o arrependimento, vi lá na frente um garoto correndo em minha direção. Era o Frank, este já não tinha sangue em sua roupa e parecia mais feliz do que nunca, corri também em sua direção e o abracei, me sentindo a pessoa mais segura do mundo, finalmente nós poderíamos ficar juntos para toda a eternidade.

Uma vez me disseram que na vida você tem escolhas, e a minha escolha foi entregar minha vida para ficar com a pessoa que amo, essa pessoa que pode não ter tido a chance de me fazer feliz em vida, mas quem sabe em morte ou nisso em que nos encontramos novamente agora ele possa ter a chance de mudar tudo. Pois o destino marcou-nos para não termos uma vida juntas e sim manter-nos separados, mas nosso amor foi mais forte e resistente e é por isso que agora onde nós estamos não existe mais nada a não ser nós dois.
Nós, não escolhemos ao céu ou ao inferno, escolhemos o caminho do coração que falou mais alto, e é nesse que para a eternidade estaremos ligado, pois nosso amor consegue ser mais forte que a vida ou a morte. Consegue ser mais forte que a barreira do mundo e suas futilidades, consegue vencer até mesmo o próprio destino, o pai das cartas, o dono do tabuleiro.