Não consigo me lembrar muito bem dos fatos. Novamente, eu estava nessa situação. Não sei ao certo quanto tempo passei ali, imergido naquela escuridão. Meu corpo doía e meus pensamentos estavam totalmente estagnados.

Eu escutava vozes distorcidas ao longe, comecei a ficar perturbado com isso, e, onde diabos eu estava. Eu estava morto? Estava no limbo?

—- Marinette—-

A partir daquele momento, eu quase não pude acreditar no que meus olhos viram. Onde aquela lança havia o acertado, uma espécie de gosma negra saiu, e tomou seu corpo inteiro. Seus gritos monstruosos ecoaram em meus ouvidos. Tentei me aproximar, mas fui impedida pela garota Akumatizada. Meus olhos estavam nublados, só o que eu podia ver era Chat sendo consumido por aquilo.

Tentei me desvincular de seus braços e acabei caindo novamente ao chão. Lentamente ela e levantou, apertando minha garganta com seus dedos frios.

— Dê-me seu miraculous, Ladybug! Assim, conseguirei meu objetivo! Seus olhos estavam brilhando em chamas púrpura.

— Por favor, essa não é você de verdade. Ouça, nada do que está fazendo trará ela de volta! Você não compreende? Hawk Moth só está usando você!

— Calada! Eu vou pegar os miraculous de ambos e vou realizar meu desejo! Minha mãe vai voltar para mim!

— Pare com isso!

Minha garganta já doía de uma forma horrível. Meus olhos estavam lacrimejando e minhas mãos já procuravam qualquer coisa para agarrar-se. Meus dedos encontraram algo gelatinoso e percebi que eram seus olhos. Não pensei duas vezes e cravei meus dedos ali. Não queria machucá-la mas, eu precisava. Ou eu morreria.

Ela me jogou no chão e gritou, meus sentidos voltaram nos poucos segundos seguintes. Porém, ao que voltavam, meus olhos se fixaram novamente em Chat Noir. Ele estava debruçado no chão, coberto com aquela aura negra. Ele grunhia, agora, parecendo mais um animal. Tratei de me esconder atrás de um escombro, resultado da briga.

— Lucky Charm. Minha voz foi quase inaudível, mas realmente não precisava ser pelo fato de que somente Tikki precisava ouvi-la.

Em minhas mãos, caíram um escudo e um bastão. Olhei novamente para a garota, que jogava suas lanças em todas as direções. Percebi que, por ela jogar lanças, deixava certa abertura na hora do combate. Suspirei fundo, e posicionei o escudo em meu braço. Levantei-me e me coloquei a correr em sua direção. Como pensei suas lanças não penetravam em minha defesa. Segurei o bastão com força e quando senti o choque, tratei de passar-lhe pelas pernas.

Soltei o escudo e segurei firme seu ombro enquanto arranquei-lhe o colar.

— Como ousa? Joguei-me para trás e quebrei a corrente com as mãos. Logo, observei a pequena borboleta negra voando.

— Você tentou fazer o mal, pequeno Akuma. Meu dedo indicador deslizou sobre meu ioiô, e o lancei em sua direção. – Eu te liberto do mal.

Puxei a mim novamente e toquei com a ponta do dedo sobre ele, libertando a borboleta branca.

— Bye bye, pretty papillon. Joguei meus artefatos para cima, dissolvendo-os. – Miraculous, Ladybug.

A garota estava confusa no chão, e eu corri na direção do Chat. Ele não tinha melhorado. Seja lá o que for. Virei-me para a garota e ela aprecia totalmente purificada. Um desespero tomou conta de mim. Eu não podia pensar em mais nada. Porém, quanto mais eu corria, mais parecia que eu estava em câmera lenta, e quando finalmente pude chegar perto dele, ele saiu pulando para dentro da floresta. Eu não pude segui-lo. E não sei dizer bem ao certo o motivo. Na verdade, eu não queria admitir o motivo.

Eu estava com medo dele.

Quando eu estava quase me jogando no chão para ver se ele estava bem, ele me lançou um olhar totalmente hostil. Fiquei alguns minutos em choque, pensando em suas mudanças. O que poderia ter causado tais mudanças físicas e mentais? Pude perceber pelos três ou quatro segundos que nos encaramos. Suas roupas tinha se dissolvido.

Na verdade, acho que se fundiram nele. Seus cabelos haviam crescido de uma maneira inacreditável. Suas pernas estavam cobertas por um tipo de pelo. Seu pescoço/ombros e metade dos seus braços estavam cobertos por isso também. Mas, seus olhos. Seus olhos eram o que haviam mudado mais.

Fiquei ouvindo a voz da garota me chamando, e minha de-transformação iminente. Quando quase pude ouvir a voz de Tikki, uma corrente de energia percorreu por minha espinha. Despedi-me da garota e saí dali o mais rápido possível.

—-

Chat tinha sumido. Eu fui ao Mestre Fu e ele me contou tudo o que eu precisava saber.

Pelo fato dele ter consumido todas aquelas Akumas enquanto eu estava ausente, seu coração foi tornando-se negro. Não em um sentido figurado, mas literalmente. Envolvido em uma espécie de gosma negra. Como um câncer. Ele me instruiu a quando achá-lo, retirar seu anel imediatamente. E eu tinha de ser rápida. Se por acaso, houvesse uma lua cheia e ele estivesse sob aquele poder, ele nunca mais poderia ser purificado. Procurei-o por três dias seguidos, mas não o encontrei. Conversei com Tikki sobre isso e ela me pediu para levá-la à biblioteca, onde, depois de procurarmos bastante, achamos um livro sobre as Akumas.

De certo, aquelas borboletas eram como almas. Porém, as negras estavam consumidas pelo ódio. O pior de tudo é que eu tinha quatro dias para achá-lo. Antes da lua cheia.

Adrien havia viajado. Ele não tinha me avisado. E também, ele não atendia o celular. Eu já estava totalmente frustrada e chateada com toda essa situação. Desesperada.

Então, eu resolvi investigar mais. Primeiro, eu achei muito conveniente essa questão do Adrien fazer essa viagem bem quando, Chat Noir some. Outra questão é: Como ele estava estranho comigo, e não me lembro de ele ser tão egoísta e arrogante. Isso começou pouco antes de começarmos a sair juntos. Uma pulga ficou atrás de minha orelha. E seus olhos, seus olhos estavam cada vez mais parecidos.

Eu fui até sua casa. Claro que se alguém me visse certamente pensaria que eu estava furtando ou algo assim. Mas ele era meu namorado poxa, eu tinha direito de saber o que diabos estavam acontecendo. Pulei sorrateiramente para dentro do seu quarto. Eu tinha certa esperança de encontrá-lo ali. Porém, nada aconteceu. Comecei a inspecionar cada detalhe. Até que parei perto da tela do seu computador. Observei bem e percebi a carta que eu havia dado a ele.

Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu tomei aquele papel em minhas mãos e apertei-o contra o peito. Uma dor indescritível tomou meu peito. Um peso gigante parecia esmagar meu corpo inteiro.

Ajoelhei-me naquele local e não vi mais o tempo passar.

—- Adrien—

Quanto tempo eu estava naquele local? Submerso em tristeza. Quantas bolhas eu já havia feito, ou já tinham passado por mim? Eu poderia contá-las? Certamente que não. Talvez centenas ou até milhares.

Como eu posso estar vivo nesse local, se é que estou vivo. Ou será isso lugar nenhum? Estou preso. Mas onde é aqui? Posso ouvir uma voz. Mas de quem é essa voz? De quem? Quem é essa pessoa? E o que ela está falando? Mal posso ver seu rosto. Estou sonhando? Não tem como ter mais ninguém aqui comigo. Estou sozinho.