Cheguei a meu quarto e de prontidão já atirei Plagg pra fora de mim. Eu não estava com paciência para mais nada que não fosse dormir. Aquela conversa tinha sido muito cansativa para meus neurônios loiros. Joguei-me na cama e tive uma escuridão em meus olhos, e logo estava de dia. Eu havia dormido assim tão rápido? Meu corpo doía e eu estava extremamente cansado. Mas eu sentia fome, muita fome.

Levantei-me e fui até a cozinha, meu café da manhã já estava posto e rapidamente devorei aquela comida toda. Fazia algum tempo que não comia tanto assim. A noite passada estava em minha cabeça e a sensação de prazer ao purificar aquela Akuma estava ainda em minhas garras.

Plagg se recusou a conversar comigo durante o dia, mas não fiz questão nenhuma disso. A escola estava muito chata. Eu nem queria olhar para Marinette, mas não por vergonha ou medo. Na verdade, estava aborrecido com o que havia me dito anteriormente. “Não quero um parceiro como você” ou algo assim. Quem ela pensa que é? Acha que é grande coisa? Pois eu me viro muito melhor sem ela. Sim, eu me viro melhor sozinho afinal, sou um gato. Gatos trabalham sozinhos.

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Não sei bem como cheguei ali ou como deveria agir. Bem, vou explicar. Marinette estava em minha frente, nervosa e totalmente envergonhada. Digo, estava tão corada que suas orelhas estavam rosadas.

Estávamos em baixo de um salgueiro e o cheiro da água do lago estava quase me seduzindo. Algumas pessoas estavam passando ali perto, mas não chegava a ser tão próximo para nos reconhecer ou ouvir o que conversávamos.

— Amo você.

Ama-me? Como tem tal direito? Como pode falar isso, sendo que nem de mim se lembra. Impossível.

— Amo você, Agreste.

Não diga tal coisa. Isso é imperdoável.

— Amo você, desde o dia do guarda-chuva. Sei que é estranho, mas eu não consigo controlar meus sentimentos após isso. Não é assim com outras pessoas, só quando é com você. Eu não consigo controlar meu corpo e as palavras não saem de minha boca como eu desejaria que saíssem. Desculpe-me, talvez você não entenda o que eu realmente quero dizer. Eu não consigo explicar, só sei que amo você, Adrien.

Seus olhos encontraram os meus e senti meu corpo se eletrizando. Eu… já amei esta pessoa antes. Eu certamente não deixei de amá-la 100% mas, não a amo como antes. Ou será que amo? Algo em mim está diferente, mas não sei dizer ao certo o que seria.

— Marinette… Eu não sei se sou bom para você.  O que estou dizendo? Mas, suas palavras da noite passada ecoavam em minha cabeça. “Não quero um parceiro como você”.

— Não é possível, você é tudo que eu sempre quis. Meu coração batia tão forte, e eu não entendia porquê.

Ela se aproximou de mim e abraçou-me. Tudo foi tão rápido, mas ao mesmo tempo, lento. Seu cabelo remexendo-se ao movimento de seu corpo, e seus olhos fechando-se. Ela era realmente adorável. Então, se eu sentia isso por ela, por que meus sentimentos estavam… selados?

 Eu a segurei. E senti o cheiro do seu cabelo. Meu coração parecia explodir.

— Eu aceito. Ouvi um som de surpresa saindo de seus lábios.

Ela afastou-se um pouco, mas não me soltou.

— V-você pode repetir isto? Acho que não ouvi direito…

— Eu aceito seus sentimentos. Meus olhos estavam com lágrimas, mas por quê? Eu não estava entendendo mais nada sobre meu coração. Somente que eu poderia morrer ali, abraçado nela.

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Estávamos namorando. Sim, posso dizer que estávamos. Víamos-nos todos os dias após a aula, e quando fugia de Natalie, eu conseguia deixá-la em casa. Meu pai não protestou contra isso afinal, é normal um homem ter relações com mulheres. Certo? Até uma vez, nós conseguimos ficar sozinhos juntos, mas seus pais chegaram bem na hora que eu estava quase fazendo alguma coisa mais interessante com ela. Eu tenho que admitir, aquele corpo era tudo que um rapaz como eu poderia querer no mundo. Mas, às vezes, eu pensava em me transformar em Chat Noir e invadir seu quarto novamente, mas acho que ela teria uma visão totalmente diferente de mim, afinal, éramos como rivais quando vestíamos nossas máscaras.

Porém, minha verdadeira relação com LadyBug estava totalmente destruída. Eu estava decidido a botar um ponto final nisso. E estava quase a odiando. Mas eu a amava. Como seria isso possível? Eu poderia amá-la e odiá-la ou mesmo tempo? É certo que dizem que, o amor e o ódio andam juntos. Sei que LadyBug era Marinette. Mas eu sinceramente, estava de saco cheio da heroína preferida da cidade. Eu a amava. Mas não queria que ela se metesse do que não era da sua conta, e ela já estava passando dos limites.

E aquele seria o dia. Tínhamos, totalmente dessincronizados, purificado uma Akuma, mas desta vez não tive tempo para fazê-lo eu mesmo. Ela havia sido mais rápida e a capturado com aquele espelho, ioiô.

Protestei de imediato.

— O que pensa que está fazendo, joaninha?

— Estou fazendo meu trabalho, gato.

— Essa pertence a mim. Todas pertencem a mim.

— Não Chat. Nenhuma pertence a você, nem a mim. Eu simplesmente purifico-as e as liberto. Porque você não tenta deixar que os adultos trabalhem? Talvez se você parar de brincar de ser herói.

— Brincar de ser Herói? Eu cuidei muito bem e melhor dessa cidade sem você, joaninha.

— É mesmo? Quantas Akumas você já consumiu Chat? Como está ouvir a voz delas em sua cabeça ein? Como está seu coração? Já está totalmente negro? Eu vou te falar uma coisa e uma vez só. Eu não tenho medo de você. E quando o dia chegar, eu vou ter o prazer de arrancar esse anel do seu dedo e purificá-lo. Seu Kwami vai me agradecer. Ou você acha que as dores que você tem sentido, são só em você?

Como ela sabia disso? Eu sim, estava sentindo algumas dores nas mãos e uma pontada no peito, mas eu achava que era sobre eu não estar comendo direito ou não estar dormindo direito. E isso se dava em razão de eu estar tendo alguns pesadelos. Pesadelos com vozes e mãos me segurando no escuro. Às vezes rostos.

— C- como você… Eu automaticamente dei alguns passos pra trás. Ela não poderia saber disso, poderia?

— Eu fui ao ancião. Ele me contou tudo Chat! Contou-me dos efeitos que isso está tendo em você. Contou-me que você está sendo consumido por tudo isso! Você não tem percebido uma marca no seu peito? Uma marca de uma Mariposa? Ou acha que isso tudo é só uma coincidência?

Minhas pernas tremeram. Minha mão foi ao meu peito e instantaneamente eu senti uma dor horrível, uma pontada e minha cabeça girou. Peguei meu bastão e saí dali como pude, aos tropeços. Ouvi sua voz ao longe, mas nada mais se passava em minha cabeça.

Pulei direto pra minha cama e Plagg se desvinculou de mim, caindo ao meu lado, ambos estávamos ofegantes e ele se encolheu, gemendo. Minha cabeça girou novamente e minhas costas doeram. Senti minha consciência se perdendo.

—-

Acordei com meu celular tocando alto. Minha cabeça doía e meu corpo estava acabado. Lembrei-me das palavras de LadyBug “Uma marca de uma Mariposa” . Levantei minha camiseta e realmente percebi uma mancha sobre meu peito esquerdo. O celular não parava de tocar. Era Marinette.

 - Oi, sou eu. Meus olhos ainda não aceitavam a pouca luz do sol que entrava pela minha janela.

— Adrien? Onde você está? Liguei para você a noite toda.

— Eu… estava dormindo. Ontem foi cansativo pra mim. Suspirei e senti uma dor cansada nas costas.

— Precisamos conversar… Eu… Você está muito distante. Por favor, vamos nos encontrar.

— Mari… como assim? Levantei-me e fui até a janela, meus olhos começavam a se acostumar com a luz.

— Sinto que você está diferente. Por favor não vamos ter essa conversa por telefone, preciso realmente te encontrar pessoalmente.

— Tudo bem, como quiser. Que horas quer que eu passe na sua casa para te buscar?

— Pode ser às 05. Que incômodo.

— Tudo bem. Mas eu realmente não tinha nada programado para esse dia.— Até lá.

— Até.

Antes de desligar o celular, pude ouvir algum murmúrio. Eu estava realmente encrencado.