O rapaz de cabelos bem pretos e arrepiados vinha acompanhado de um amigo e mais cinco ou seis garotas que os seguiram assim que entraram, dando risinhos e fazendo caras de apaixonadas enquanto ele não via. O garoto deveria ter a idade de Mônica e Carmen, por sorte estaria na sala de aula delas, quem sabe Deus não era bom e dava esse presente?

— Caraca, mi, que gato! – Mônica exclamou para uma Carminha que tentava fechar a boca, mas não conseguia.

— É mesmo? Não achei tanto assim... – Carmen respondeu tentando não demonstrar que acreditava no contrário.

— Pois eu achei... Será que ele é da nossa sala? – Mô perguntou mais para si mesma do que para a outra menina, sem tirar os olhos daquele sorriso que brilhava como em comercial de pasta de dentes.

Carminha, para sair do transe e tirar a amiga do dela também, a puxou pelo braço e começou a conduzi-la escola a dentro. Mônica ainda arriscou uma última olhada para trás e foi nessa hora que seus olhares se cruzaram. Ela sorriu para o menino e acenou, o mesmo ficou sem reação, mas acabou coçando a cabeça e sorrindo de volta.

A baixinha não se lembrava de já tê-lo visto, mas claro, não saia muito de casa e ainda por cima estudava num colégio em outro bairro. Isso era bom, não era? Agora ela iria conhecer muita gente nova que já devia ter conhecido bem antes.

As duas amigas andaram por todo o lugar, a escola era enorme e estavam meio perdidas, foi quando acabaram sendo atropeladas por duas garotas que vinham carregando tantos livros que parecia que não podiam ver por onde andavam.

— Não acredito! Não veem por onde andam? – Carminha exclamou nervosa.

— Calma, Ca! Elas não veem mesmo! Não percebe que estão carregadas de livros? – Mônica respondeu tentando amenizar a situação e já ajudando as duas meninas a recolherem tudo. – Aqui, tô! – Mô estendeu alguns livros para uma das meninas.

— Ei! Não acredito, o que cê tá fazendo aqui, Mô?

— Magali! Nossaaaaa! Tava tão entusiasmada com o colégio novo que nem lembrei que cê já estudava aqui. – A garota respondeu com um sorriso enorme, afinal, conhecia mais gente então. Daí virou-se para a outra menina – E você, você é a Denise não é? Sempre te vejo nas fotos com a Maga nas redes sociais!

— Sim, sou Denise, a única. E não faço a menor ideia de quem seja você.

— Desculpa, meu nome é Mônica, sou vizinha da Maga e aluna nova do terceiro ano.

— E que a propósito vai se atrasar no primeiro dia de aula se não procurar a sala comigo. Agora. – Carminha falou impaciente.

— Pelo visto quem não enxerga direito é você, mon amour. – Denise disse apontando para a plaquinha que estava na porta atrás delas com o dizer “3º Ano”.

Carmen, que era muito loira, ficou com o rosto escarlate e entrou na sala bufando, deixando Mônica sozinha com as duas meninas.

— Desculpe minha amiga, ela só tá um pouco estressada porque tivemos que mudar de colégio. – A baixinha pediu um pouco envergonhada.

Assim que tirou os olhos das duas percebeu que alguém se aproximava por trás delas, era ele, o carinha da entrada. Ele passou a olhando fixamente e piscou um dos olhos sorrindo em sua direção, o suficiente para ela derreter lentamente.

— Não-a-cre-di-to-ga-ro-ta! – Denise falou com a mão na boca. – Mal chegou e chamou a atenção dele... Logo dele!

— Vocês conhecem? – Mônica perguntou com esperança que alguém pudesse apresentá-los.

— Ele é do segundo, Mô, estuda na nossa turma. Se quiser, a gente pode te apresentar na hora do intervalo. – Magali disse sorrindo.

— Nossa! Quero sim, valeu! – Respondeu dando o maior sorrisão, o que fez as meninas gargalharem, já sabiam o efeito que ele causava nas novatas e até mesmo nas veteranas.

— Agora faz um favorzinho? Dá um perdido naquela chata, porque vai ser difícil de aguentar, viu? – Denise pediu revirando os olhos, se referia claramente a Carmen.

— Dê, não fala isso! – Maga repreendeu a amiga.

— Denise é um livro aberto, daqui só saem verdades. – Respondeu fazendo beicinho pra amiga que a olhou balançando a cabeça em discordância.

— Ah gente, eu sei que ela parece ser meio chatinha, mas é uma ótima amiga, juro. Agora tenho que ir, minha aula vai começar já já, até mais tarde, meninas.

Mônica entrou o mais rápido que pôde para contar as novidades para a amiga que escrevia sem parar num dos cadernos cor-de-rosa que dispôs na mesa. Sentou ao seu lado e a cutucou com o ombro.

— Elas são legais, não faz assim.

— Eu conheço a de maria-chiquinhas, sabia? E não, não vou com a cara dela. – Carminha respondeu sendo clara e direta como sempre.

— Beeeeeem, elas são da sala daquele gatinho, ele é do segundo, mas ficaram de nos apresentar, que tal?

— Gostou mesmo dele, né?

— Sim, acho que foi amor à primeira vista. – Mônica respondeu com ar sonhador, mas dois segundos depois elas caíram na gargalhada, ambas sabiam que a baixinha jamais havia se apaixonado de verdade, no máximo tinha gostado muito de um cara, mas só.

Elas continuaram a bater-papo até o primeiro professor entrar, Carminha já estava mais relaxada, Mônica sabia que no fundo a amiga também havia ficado com ciúmes das duas novas colegas, era muito possessiva com tudo.

A aula de matemática passou voando, ocupou os três primeiros tempos antes do intervalo, aquele professor era o de estatística, e até que as meninas haviam gostado bastante da didática dele que já veio com todo gás no primeiro dia de aula, afirmando que aquilo era preciso, pois era um ano decisivo onde no fim dele todos prestariam a tão esperada prova do vestibular.

— Agora deixa eu te perguntar uma coisa... – Carminha falou arrumando suas coisas para saírem para o intervalo. – Você é toda saidinha, palhacinha quando está longe dos meninos, mas quando eles chegam você morre de vergonha, e aí?

— Ah ami, cê sabe como eu sou... Eu brinco, mas na hora h acabo amarelando um pouco. – Mônica respondeu rindo nervosa.

— Então ó, só quero te lembrar que a senhora vai conhecer o carinha para o qual acenou e sorriu sem nem saber quem era. – Carmen disse dando um sorriso irônico na direção da amiga.

— Affs! Odeio você me deixando nervosa quando deveria me acalmar.

Elas saíram em direção ao refeitório e logo avistaram a Magali acenando para que sentassem com ela, Denise e um grupinho que conversava animadamente. Logo que se aproximaram Maga foi fazendo as apresentações.

— Hey gente, essa aqui é minha vizinha, Mônica e a amiga dela, Carmen. Meninas, esses aqui são Xaveco, Cascuda, Marina e o Cascão.

Eles se cumprimentaram e Mônica percebeu que tanto o Cascão quanto a Marina eram de sua sala. Magali explicou que a turma era bem maior, porém, a maioria já havia saído do colegial; Cascão suspirou triste, também já deveria ter terminado o colégio, mas deu uma caída nos estudos e acabou repetindo... Duas vezes!

— Ah, e bom... Aí vem quem você queria conhecer. – Falou mais baixo dando risinhos com as outras meninas.