Dark Cigarette escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 5
Capítulo 4 - Praia


Notas iniciais do capítulo

Sim, demorei, e não, não consegui cumprir o prazo. Pois é. Mas aqui está o capítulo mais importante até agora (eu acho né). Vai ter mais um, e eu acho que só. Pra quem gosta de ler ouvindo música, recomendo "Dark Cigarette", do Makeshift Cities, que, bem, foi a música que inspirou esse negócio todo. É isso. Espero que gostem!



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She’s got the summertime sun on her back

Exotic tattoos from her feet to her neck

So take another drag on that dark cigarette

I know you act so cool

But I can see right through

 

Ela tem o sol do verão nas costas

Tatuagens exóticas de seus pés até seu pescoço

Então tome mais um trago naquele cigarro escuro

Eu sei que você age tão legal

Mas eu posso ver através disso

            Makeshift Cities – Dark Cigarette

Julian nunca matara aula antes, tanto porque nunca sentira o impulso quanto porque sempre tivera medo de ser pego, mas, com Emma ao seu lado, não parecia difícil acreditar no que estava fazendo. Se tinha alguém que podia convencê-lo a fazer qualquer coisa, essa pessoa era Emma Carstairs. Fora assim durante toda a sua infância, e talvez fosse porque ela voltara a chamá-lo pelo apelido, mas era assim agora.

— Você ainda lembra o caminho? – perguntou Julian. Emma franziu o cenho, como se estivesse se concentrando.

— Acho que sim. Perto da sua casa, certo? Nós costumávamos ir a pé.

Julian concordou, lembrando de como Emma sempre corria à frente, apostando que chegaria primeiro. Ele nunca fizera muito esforço para ultrapassá-la; se contentava em observá-la correr, os cabelos loiros esvoaçando atrás dela como uma capa.

— É. Deve ser a uns dez minutos daqui.

Houve um momento de silêncio depois disso, durante o qual Emma ligou o rádio e abriu as janelas. O ar-condicionado, informou ela brevemente, não estava funcionando. Julian não se surpreendeu; era um milagre que o carro sequer andasse. Era mesmo a cara de Emma insistir numa lata velha daquelas só porque o modelo era legal, tanto quanto era a cara de Julian manter o Toyota só porque era coisa de família.

Como previsto, eles demoraram pouco para chegar à praia onde costumava ir quando eram mais novos. Eles haviam descoberto o local em uma de suas muitas peregrinações, e ficaram satisfeitos ao perceber que quase ninguém parecia ir ali, talvez porque a caminhada fosse longa demais para valer a pena, já que a área ficava oculta por uma elevação. Como ficava perto da casa dos Blackthorn, não era nenhum sacrifício para Julian – e nem para Emma, que costumava passar a maior parte do tempo lá.

Emma estacionou de qualquer jeito e saltou para fora do veículo. Julian saiu um pouco mais devagar, apenas para encontrá-la equilibrando-se num pé só enquanto tentava tirar os sapatos.

— Não mudou nada – comentou ela. Julian ofereceu o braço, e Emma se apoiou nele. – Quer dizer, não acredito que ainda não tem ninguém.

Descalça, ela correu até o mar, sem parecer se importar em molhar a barra dos jeans escuros que usava. Julian, como sempre, se deixou ficar para trás, observando. Era verão, e Emma usava uma regata escura que deixava à mostra grande parte de suas tatuagens. Ele sentiu vontade de perguntar o que cada uma significava, a história por trás delas. Havia tantas partes daquela nova Emma que ele não conhecia.

Ao perceber que o amigo não a seguira, Emma se virou para trás, franzindo a testa por causa do sol.

— Jules? – chamou. – Você não vem?

Julian ficou tão zonzo pelo uso do apelido que demorou um pouco para entender o que ela estava dizendo.

— Você vai entrar? — perguntou, incrédulo.

Emma lhe lançou um sorriso desafiador antes de lhe dar as costas e tirar a regata, ficando apenas de sutiã. O desenho de uma espada descia por sua espinha, e asas adornavam suas omoplatas, ligando-se ao cabo da arma. Julian observou, boquiaberto, enquanto ela desabotoava os jeans e os chutava para longe, abandonando-os na areia e pulando de cabeça no mar logo em seguida.

Ela emergiu poucos segundos depois, de frente para o rapaz na areia.

— Vamos lá, Jules!

Na mente de Julian, a cena se transformou em uma muito parecida de um tempo anterior, de uma outra vida, antes de conhecerem aquele lugar como a palma de suas mãos, quando conheciam um ao outro ao invés disso. Ele não hesitou em puxar a camisa por sobre a cabeça, jogar as calças no chão e correr para a água.

Entrou devagar, se acostumando com a temperatura. Quando alcançou Emma, ela estava radiante como uma criança, a despeito das tatuagens em sua pele. Vê-la ali não era chocante como vê-la atrás do balcão de um bar, ou mesmo na faculdade; vê-la ali era vê-la em casa, e, até onde Julian sabia, ele era parte da casa dela.

Emma jogou um pouco de água no rosto do amigo, despertando-o de seus devaneios. Constrangido, Julian se deu conta de que a estava encarando, mas ela não fez nenhum comentário, pelo que ele ficou grato.

— Você costumava vir aqui? – perguntou Emma. – Nesses quatro anos?

Julian deu de ombros. Não queria dizer a verdade: havia tentado, mas não era a mesma coisa sem ela. Doía.

— Não muito. Fiquei ocupado com coisas da escola.

— É, a escola – Emma inclinou a cabeça para trás, aproveitando o sol quase a pino. – Fiquei feliz em saber que você continua pintando. Acho que não seria você sem isso.

— É, acho que não – Foi a vez de Julian de borrifar um pouco de água nela. – Fiquei feliz em saber que você continua louca. Definitivamente não seria você sem isso.

Emma voltou a olhá-lo, uma provocação no olhar.

— Esse é o momento em que eu começo uma guerra d’água ou tento te afogar?

Subitamente, Julian achou que eles estavam próximos demais. Ele deu um passo para trás, só o suficiente para a impressão passar.

— Não acho que seja necessário – provocou. – Você sabe que eu estou certo.

Como sempre, Emma não lhe deu ouvidos: ela começou a bater na água, tentando acertar Julian.

Eles passaram mais algum tempo nisso, tornando, aos poucos, a se acomodar nos papéis de quatro anos atrás. Era confortável, agora, especialmente quando eles não pensavam demais no assunto.

Por fim, Emma reclamou que estava com fome, e eles se arrastaram de volta à areia. Ela declarou ter trazido sanduíches, e Julian bateu palmas, irônico.

— Olha só – disse. – Finalmente você criou alguma responsabilidade.

— Cale a boca – retorquiu Emma, bem-humorada. – Eles estão no meu carro faz uma semana.

***

A despeito dos protestos de Julian, Emma – que depois admitiu ter colocado os sanduíches ali após conversar com o amigo por mensagem – pegou o almoço improvisado e eles se sentaram no capô do carro para comer.

— Eu realmente senti falta disso – comentou Emma, indicando o mar com um gesto.

— Eu imagino – Julian riu, provavelmente pensando nas tardes que eles haviam passado na praia em frente à casa dos Blackthorn. – Aliás, ahn, se você quiser ver a Livvy, o Ty e o resto do pessoal... Nós podemos ir.

Emma mordeu o lábio inferior. Ela não sabia por quê, mas achava que ainda não estava pronta para aquilo.

— Acho que nós devíamos avisar antes.

— Eu não quis dizer agora – Julian apressou-se em dizer. – Só... Me avise quando quiser ir. Eles vão ficar felizes em te ver. Livvy vai adorar suas tatuagens.

— Eu sempre fui uma má influência para ela – concordou Emma.

Julian estendeu a mão em sua direção, mas hesitou, deixando-a pairar acima de seu ombro. Depois de um instante, pareceu decidir que estava tudo bem; seus dedos traçaram a linha da asa que cobria sua omoplata esquerda. Emma sentiu sua pele se arrepiar.

— São lindas – murmurou ele. – Todas têm um significado?

Emma demorou para encontrar foco o suficiente para responder. Ter Julian percorrendo suas tatuagens com os dedos ardia; era quase como ser tatuada uma segunda vez.

— Algumas delas – disse ela, por fim, quase sem voz. – Só gostei do design das asas. A espada...Bem, sempre gostei de espadas.

O dedo de Julian desceu por sua coluna, parando onde ela sabia que haviam pequenas letras pretas desenhadas.

— E a inscrição?

Emma respirou fundo.

— “Tempere-nos com fogo, e ficamos mais fortes”. É uma espécie de lema de família.

Ela tatuara a frase depois da morte dos pais, depois que Diana muito delicadamente a lembrara de ser forte. As mãos de Julian pareceram hesitar, talvez porque o toque subitamente parecia muito íntimo, e ele forçou uma risada.

— E o que seus pais acharam disso?

Emma lembrou da mãe rindo quando ela pedira uma assinatura de permissão para fazer uma tatuagem aos dezesseis anos, dizendo que ela teria que esperar mais alguns anos, e do pai, como ele ficara impressionado ao ver o resultado da espada. E seus olhos se encheram de lágrimas.

— Meus pais morreram há alguns meses – disse, simplesmente. Desistiu de pensar sobre o assunto. Deixou as palavras pesarem no ar, sem ligar para o que Julian poderia estar pensando. – Eles não viram a inscrição.

Ela esperou que Julian se afastasse, surpreso, nem que fosse só por um segundo, mas ele não fez isso. Os dedos dele hesitaram por alguns segundos, como se ele considerasse a hipótese, mas logo sua mão estava sobre o ombro de Emma, em um gesto reconfortante.

— Sinto muito, Em – murmurou ele.

Emma assentiu, sem confiar na própria voz. Subitamente, a tentação de se apoiar em Julian, como fazia quando era pequena, pareceu irresistível; ela se deixou cair para trás, como se estivesse desmoronando, até estar recostada no peito dele. E ele a acolheu, passando os braços em torno dela cuidadosamente.

— E quem cuida de você agora? – perguntou Julian, na voz mais suave do mundo.

Emma quis dizer que podia cuidar de si mesma, mas não conseguiu. Ao invés disso, fechou os olhos.

— Diana Wrayburn – respondeu. – Por isso voltei para Los Angeles. Ela me queria na faculdade, e, bem, acho que eu lhe devia isso.

Houve um momento de silêncio, então Julian voltou a falar:

— Você sabe que pode contar conosco, não sabe? Minha família e eu – Ele fez uma pausa, e, por um instante, pareceu incerto, mas suas palavras soaram seguras: - Você sempre vai ter um lugar conosco. Comigo.

Emma estivera com tanto medo de ter perdido aquilo. Sem pensar, ela se virou e jogou os braços ao redor de Julian, apertando-o contra o corpo. Ele retribuiu o abraço sem hesitação. Ela conseguia ouvir a respiração dele, sentir as mãos acariciando seu cabelo. Aquela era uma mania antiga.

— Emma? – A voz de Julian era quase um sussurro.

— Sim?

— Senti sua falta.

Emma o apertou com mais força.

— Eu também.

No instante seguinte, eles estavam se beijando. Emma achava que fora ela a fazer o primeiro movimento, porque sentia falta de Julian e de quem era com ele, mas eles estavam tão próximos que era difícil saber; de todo jeito, ele estava retribuindo, e era isso que importava.

O beijo foi calmo, reconfortante, e não demorou muito para que eles se reparassem. Julian secou as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto de Emma com a ponta dos dedos.

— Você ficaria surpresa - começou. - se eu dissesse que já esperava por isso?

Emma riu, terminando de secar o rosto com as costas da mão.

— Obrigada.

— Por...?

Ela o puxou para perto novamente.

— Por estar aqui.

Julian sorriu.

— Nesse caso, obrigado por voltar.

Eles permaneceram algum tempo abraçados, e Emma se perguntou como aquilo podia ser tão diferente de tudo que já tivera com outros garotos. Sem pressa. Sem insistência. Só os dois, ouvindo a respiração um do outro, e aquela cumplicidade familiar.

Por fim, ela largou o amigo e se abaixou para apanhar suas calças, abandonadas ali na areia, tateando os bolsos à procura de um cigarro.

— Merda - resmungou. - Esqueci o isqueiro. Como consegui esquecer o isqueiro?

Julian a observava, curioso, e, ela diria, um pouco receoso.

— Hm, você vai ficar bem?

— Vou - Emma suspirou, tornando a relaxar no capô do carro. Por puro costume, pôs o cigarro entre os lábios. - É só um mais um mal hábito.

Ele ainda a olhava de um jeito estranho. Quase na defensiva, Emma contou a história de como começara a fumar antes do funeral dos pais, na esperança de fazê-lo entender o vício.

— Não é pra fazer pose nem nada disso - concluiu. Por algum motivo, parecia importante que ele entendesse isso. - Apesar do que Diana pensa - Ela ponderou por alguns segundos. - E apesar de ajudar mesmo na pose. Mas eu não estou tentando fazer esse papel, sabe? Não com você.

Para sua surpresa, Julian riu.

— Emma, você sempre foi assim - disse ele. - Eu nunca ia achar que você está tentando "fazer pose".

Emma pegou o cigarro que tinha na boca e o jogou na areia, do jeito que faria para apagá-lo.

— Certo - disse, se levantando. - Está quente demais para ficar de bobeira aqui, não?

Antes que Julian pudesse responder, ela já estava correndo em direção ao mar. E, embora nunca olhasse para trás, Emma sorriu ao ouvir os passos dele seguindo-a.


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Notas finais do capítulo

Então? Não revisei nada, só fiz e postei, portanto me avisem se tiver algum erro. Até o próximo!



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