Naquela manhã seca, um casal estava sentado em uma pequena mureta olhando para o através.

            Luke estava sentado na mureta com um cigarro entre os dentes. Sua aparência havia melhorado muito após tomar um banho. Vestia uma calça jeans justa e uma camiseta ambas pretas, e um casaco com estampa militar. Em seus pés, mini coturnos marrons amarrados. O rapaz estava sereno, como se não tivesse acontecido absolutamente nada. Como se fosse um dia comum na sua vida, com mais uma conquista.

            Ele aproveitou o resíduo momento de solidão para analisar a noite. Tudo começou com uma festa na 6ª avenida, muita música, a casa completamente escura a não serem luzes neon, várias pessoas dançando, conversando, bebendo... Até mesmo se drogando. Luke bebeu um copo de vodka... E outro... E outro. Em algum momento ele se esbarrou com Val, e aí não teve jeito. Luke passou a noite no motel mais vagabundo da cidade, era decrépito, mas era barato e lá ele não teve problemas com identidade ou coisas do tipo.

            Se sua consciência pesa? Não. Ele mal se lembrou de sua namorada Theresa, mal se lembrou de que levou para a cama a melhor amiga dela, mal se lembrou de coisa alguma. Ele estava completamente embriagado e nada importava no momento. Afinal, uma ou duas noites não poderiam terminar com um relacionamento de anos. Ou poderia?

            O garoto virou o rosto e pode ver a namorada se aproximando lentamente do local. Theresa era muito magra, alta, de cabelo preto na altura dos ombros e franja na testa. Seu rosto pálido, porém bonito exibia um sorriso tão puro e inocente. Ela vestia uma leagging preta e uma jaqueta jeans. O que parecia ser aquilo nas mãos dela? Uma caixinha branca com uma embalagem, uma marca quase impossível de se decifrar pela distância, mas Luke não demorou a entender e sorriu.

— Eu trouxe cigarros para você. — a garota estendeu a mão — imaginei que os seus podiam estar acabando.

            Luke segurou a garota pela cintura e a puxou para si. Ele a beijou, mas não com vontade. Já fazia tempo que ele não desejava Theresa, mas ela não podia se dar conta disso. Ela segurou o rosto de Luke durante o beijo, não foi muito demorado, mas nem tão rápido. Depois disso, ela se sentou na mureta ao lado dele.

— Eu esperava te ver ontem. — a garota soltou a frase no ar, sem dizer mais nada junto a fumaça do cigarro que tinha acabado de acender. Notava-se a tristeza demonstrada nas suas palavras.

— Todd ficou doente, e minha mãe pediu para ajudá-la. Você sabe aquele cara não faz nada pela gente. — Mentiu. A pessoa a quem Luke se referia era seu padrasto Carl, com quem sua mãe tem um relacionamento conturbado há dois anos. Carl bate nela, ameaça o irmão mais novo de Luke e promete matá-lo caso tentem algo contra o homem. A única pessoa que sabe da história é Theresa, mas não de tudo.

— Seu padrasto não é muito amigável... — Era assim que ela o via, como uma pessoa orgulhosa e antipática, não psicopata. Não poderia saber ou correria risco de vida também. Luke sabia disso, e mesmo não “amando” Theresa ele não queria que aquele monstro tentasse algo contra ela.

            Apenas uma vez Luke enfrentou Carl, foi quando Theresa inventou de visitá-lo (mesmo ele falando para não fazer isso) e o homem queria ir pessoalmente ver a jovem, o que era muito perigoso já que ele poderia fazer qualquer coisa com ela. Talvez essa tenha sido uma das poucas vezes que Luke demonstrou bravura e pareceu se importar com Theresa, infelizmente este espetáculo não teve plateia para aplaudi-lo.

— Realmente não é. — Luke fechou os olhos, e tragou mais uma vez.

            Uma hora e meia depois e algumas cinzas de cigarro pelo chão, Theresa encontra-se recostada no ombro do namorado, suspirando e olhando para o céu. Ela sonhava em um dia visitar a Noruega com Luke e observar auroras boreais, mergulhar nas águas do oceano que banha a Nova Zelândia, comemorar a vida na Suíça... Seus sonhos pareciam estar tão longes, como se tivesse amarrada por correntes em New Hampshire. Mas para ela, já ter a companhia e do calor que emanava de Luke já satisfaziam suas vontades um pouquinho.

            O que ela não sabia era que aquele momento de “compaixão” entre eles seria um dos últimos.