— Cale a boca, Lizzy! – Jane gritou e girou a chave na ignição. – Olhe, lá! Charles!

Elizabeth olhou para onde a irmã apontava, porém só conseguiu ver um homem alto e forte entrar em um carro vermelho. O desespero tomou conta da sua mente e preocupada com a própria segurança, tentou abrir a porta do carro.

— Está achando que me deixará na mão? – Jane perguntou com os olhos irritados. – Vamos seguir aquele carro e entrar na despedida de solteiro. Você será a minha odalisca e eu, o garçom que irá desmascarar o meu noivo.

Lizzy cobriu o rosto com o véu, não estava disposta a passar vergonha como a loira. Como suas roupas mostravam mais do que o necessário, parecia que toda a humilhação da situação estava depositada sobre os seus ombros. Jane, mesmo com o olhar psicótico e bigode dourado, estava linda e plena, sem um fio sequer fora do lugar.

— Vou contar tudo para a mamãe – a mais nova murmurou. - Ela sabe que a fabulosa filha modelo está fazendo papel de imbecil?

Jane não respondeu, estava concentrada em estacionar o carro em frente a mansão Darcy sem chamar atenção.

Esperaram por quinze minutos, Jane observou o noivo descer do carro com os olhos vendados e segurou-se para não sair correndo e ir ela mesma cegar Charles de verdade. Lizzy ficou agachada durante todo o tempo e distraiu-se olhando as fotos de George no celular. Por um momento, iludiu-se com a ideia de que ele voltaria para ela assim que sentisse sua falta. Contudo, sua razão dizia que não era verdade, que George realmente pegou o dinheiro da lua da mel e viajou sem dar satisfações, que limpou a conta conjunta que haviam criado para as despesas do casamento e se mandou por completo.

— Lizzy, acorda porque iremos entrar! -  Jane disse animada e puxou o véu da irmã. – Você vai entrar primeiro.

— O quê?! – Elizabeth indagou chateada. – Quem disse que vou entrar? Quem te falou que irei participar desse seu plano maluco? – Pausou e respirou profundamente. – Querida Jane, eu não iria te falar isso, mas cansei de boazinha: Charlie tem todo o direito de ganhar uma despedida de solteiro de seu melhor amigo.

Como efeito dominó, Lizzy viu o pescoço de Jane ficar vermelho e depois as suas bochechas. Uma expressão perturbadora surgiu em meio as feições doces e como se fosse uma ameaça, Jane encarou a imã.

— Elizabeth, você vai descer desse carro. Tocar o interfone. Dizer que é a dançarina contratada e entrar. E rápido!

Sem ter outra opção, Elizabeth desceu do carro. No caminho rumo ao portão, sentiu o frio da nudez espalhar por todo o seu corpo. Tentou cobrir-se com o pouco de pano que existia, todavia nenhuma manobra funcionava. Desistiu quando encontrou o portão e o interfone do grande muro da mansão.

Com os dedos trêmulos, apertou o botão. Percebeu que a luz da pequena câmera instalada superior ao aparelho se ascendeu. Assim, sem pensar, sorriu e acenou. Dez segundos foi o tempo suficiente para um barulho ensurdecedor ecoar e o portão se abrir. Lizzy hesitou em entrar, uma parte da sua consciência queria voltar para casa, sentar no sofá e chorar por causa de George; a outra parte queria ajudar Jane e brincar de espiã por um dia. É comum o noivo fugir e ao mesmo tempo limpar a conta bancária da noiva? Indagou-se. Um frio passou por sua espinha. É agora ou nunca! Entrou e deixou o portão aberto.

Observou o jardim e procurou o caminho que deveria tomar para chegar até a cozinha. Nunca tinha visto um jardim tão completo e ao mesmo tempo tão sem rosas na vida. A fonte era gigante e as carpas coloridas brilhavam na água, porém não era o necessário para dar vida ao local, quem morava ali era rico e hipócrita. Péssimo paisagista. Após um momento perdida, resolveu entrar pela porta da frente. Não havia tantas pessoas, contudo conseguiu passar despercebida pela grande porta de madeira. Viu um garçom e começou a segui-lo, deduziu que uma hora o rapaz teria que ir para a cozinha recolocar em sua bandeja novas taças com vinho.

— Ei, você aí! – Alguém chamou e seu corpo congelou por completo. – É a dançarina que a empresa mandou?

Vagarosamente e muda, virou-se para encarar o homem que havia feito a pergunta. Não conseguiu conter um ganido quando deparou-se com o tal amigo de Charles. Sentiu os olhos deles passear por todo o seu corpo e uma pontada de arrependimento surgiu. Para não sair correndo, mentalizou que estava nessa situação constrangedora por causa de Jane, sua irmã querida que sempre cuidou dela. 

— Você é a dançarina que a empresa mandou? – Ele indagou com o tom rude. – Se não sabe falar, pelo menos sabe dançar?

Elizabeth assentiu com um sorriso tímido. Esse homem está olhando para os meus peitos!

— Ótimo. Venha ao meu escritório, vou fazer o cheque.

Sem ter outra opção, Lizzy seguiu-o. Subiram as escadas do hall e adentraram em um longo corredor. Com os pés doloridos, ela subiu mais escadas e finalmente, chegaram em um grande escritório.

— Então, devo fazer o cheque no seu nome ou no nome da empresa? – Ele perguntou após sentar atrás da grande mesa de madeira nobre.

A garota coçou a cabeça, não sabia sobre o que ele estava falando. George havia levado todo o seu dinheiro para algum lugar, talvez um paraíso fiscal. Por que algumas pessoas tem a brilhante ideia de fazer uma conta conjunta? Ela não dizer o porquê, confiou tanto em George que esqueceu que ele faliu três empresas. 

— Pode ser no meu nome – disse em um tom murmurado.

— Está de brincadeira, não? - Ele perguntou e deu uma gargalhada. – Sou um Darcy, não sou idiota. Só fiz essa pergunta para saber se você era uma pessoa confiável. É óbvio que não tem cheque no seu nome e muito menos no nome da empresa. Já paguei pelos serviços com o seu... Como vocês chamam esse tipo de pessoa?... Chefe? 

Elizabeth não pode conter revirar os olhos. Repetiu mentalmente a frase “sou um Darcy” e tentou conter a expressão de nojo. Como um cara era tão babaca? Era o mistério. Na verdade, ela estava começando a acreditar que todos os homens do mundo eram idiotas. Nem mesmo Charlie tinha se salvado dessa lista, sua falta de malícia acabara de se tornar um defeito aos olhos de Lizzy.

— Ok – ela respondeu com sarcasmo.

Darcy ignorou a atitude nada convencional da garota e começou a falar sobre suas exigências.

— Sente-se, por favor – falou e indicou a cadeira a sua frente. Esperou Elizabeth se sentar e continuou: - Sei que uma hora você ficará nua, contudo não quero que fique nua na frente dos convidados. Quero que fique nua somente para Charlie, ele merece – Pausou e respirou profundamente com tédio. – A noiva dele é mais gostosa que você, então seria bom se você fizesse um bom trabalho. Alguma coisa diferente… Alguma coisa que irá fazer o coitado desistir do casamento e querer todas as noites uma… como você…

Elizabeth parou de prestar atenção quando entendeu que na verdade a dançarina contrata era uma prostituta contratada para fazer Charlie desistir do casamento. Como o melhor amigo do noivo da sua irmã era tão babaca? Como ele conseguia se sentir tão confortável destruindo um noivado?

Por instinto levantou-se da cadeira, não sabia em qual parte das exigências o tal Darcy estava e não estava interessada em saber. Deu as costas e começou a andar rumo a saída. Não iria ficar ali sentada enquanto um idiota rico e pretensioso estava colocando em prático um plano para deixar sua irmã infeliz.

— Ei, onde pensa que está indo? – Darcy perguntou e puxou o braço de Elizabeth.