Touken Ranbu - Espadas Guardiães escrita por Sonnet


Capítulo 3
Capitulo 3




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Cristina abriu os olhos lentamente focando a visão reconhecendo seu quarto enquanto tentava se levantar, seu corpo estava estranhamente pesado e instintivamente olhou em volta como se procurasse algo enquanto calçava os chinelos, passou lentamente as mãos pelos cabelos sentindo que algo lhe incomodava mas a sonolência excessiva a entorpecia a tal ponto que não consegui pensar, assim que abriu a porta bocejou olhando a imensa sala imersa em um silêncio inexplicável e incômodo.

— Aizen... Rafael... Pai?

Ela andou vagarosamente olhando em volta e se apoiou na mesa da sala suspirando profundamente incomodada com aquele silêncio, curiosa ela andou observando a porta aberta da biblioteca para ver se Akihito dormira novamente na mesa imenso nos livros, mas não havia ninguém , não tinha sinal de que mais alguém, além dela estivesse naquele apartamento, abruptamente ela parou colocando ambas as mãos nos ouvidos notando que nem o som da própria respiração escutara, não havia som, uma agonia crescente pressionara seu peito dominando-a, trêmula ela fechou os olhos implorando em silêncio que aquilo parasse, de repente um flash de uma lembrança subitamente veio a sua mente fazendo a abrir os olhos, a visão de um rapaz de cabelos longos verdes e olhos bicolores que a encaravam com um brilho de interesse retornou a sua mente desaparecendo como se um sonho distante, sem saber por que olhou para sua mão que estava lisa.

“— Havia algo... Tinha algo aqui...”

De repente sua mente foi invadida por outro flash, dela olhando a própria mão com um corte profundo que sangrava e em um movimento instintivo ela esfregou o polegar na palma da mão com força sentindo um nó se formar na sua garganta e seus olhos nublarem com as lágrimas.

“— Aquilo foi um sonho? Ou... Não... Que lugar é este??”

Ela parou levando as mãos a frente do rosto observando ambas enquanto uma sensação sufocante de vazio e frio a invadia como se sua mente se apagasse aos poucos, lembranças e sensações iam pouco a pouco desaparecendo enchendo com uma angústia cada vez mais apavorante, em desespero ela se abraçou com força ao mesmo tempo em que cerrava as pálpebras em uma tentativa de não perder nada, mas para seu desespero aquilo se mostrou inútil e era como se tudo se esvaísse em fumaça independente da sua vontade.

— O que está... Acontecendo?!!

Ela tentará gritar  a pleno pulmões o mais alto que pode, mas sua voz não saiu, nenhum som ecoava como se não existisse, apavorada ela se deixou cair de joelhos, mas ao chegar ao chão ela sentiu a garganta apertar ao notar que não sentirá nem o corpo tocar no piso e só piorou quando notou que nele pingava gotas de água e se olhou refletida naquela superfície branca notando que seu rosto estava coberto de lágrimas e não sentira escorrer.

“—Ojou-Sama”

Uma voz chegou aos seus ouvidos em um quase um sussurro, trêmula ela sorriu ajeitando o cabelo atrás da orelha e falou instintivamente.

“—Nikkari já me disse para me chamar de... Cristina...”

Ela parou aturdida olhando para o chão branco levando as mãos à cabeça que começava a latejar juntamente com flashs de algum acontecimento, o rapaz de olhos bicolores estava à cima dela nu com um sorriso nos lábios finos lhe falando algo quando ela puxava a mão repousada no peito dele e via sangue e um corte profundo.

“— Ojou-sama...”

“—Nikkari...”

O nome dele lhe veio novamente aos lábios sem qualquer esforço ao escutar a voz novamente em um tom suplicante, de repente uma pontada mais forte a fez se curvar agarrando a própria cabeça, viu Ren ordenar e forçar um rapaz de tapa olho a ataca-la, um brilho suplicante no olho dourado lhe dizia para correr e logo após uma dor latejante nas costas a fez cair de joelhos gritando, como em um reflexo do que vira seu corpo foi invadido por uma dor latejante e quente nas costas deixando suas pernas tão fracas que ela caiu de joelhos no chão com as palmas espalmadas no chão que formigavam, as sensações de calor e frio vacilavam na sua pele como se tudo beirasse o real e o irreal, tomada pela dor que se espalhava pelo corpo todo ela puxou as mãos e notou que uma delas deixava um rastro de sangue fresco e imediatamente a virou olhando uma cicatriz aberta na palma, a mesma que vira no primeiro flash, seus lábios se curvaram em um sorriso de alívio e o silêncio do ambiente não era mais algo inquietante, mas de repente o chão começou a vibrar cada vez mais forte como se o prédio todo entrasse em colapso e o barulho de vidro trincando lhe chamou a atenção fazendo-a virar o rosto na direção das imensas janelas de vidro, rachaduras se espalhavam pela superfície lisa e espelhada enquanto o tremor se intensificava, assustada ela se levantou dando uns passos para trás trêmula sem saber o que fazer, mas assim como começou o tremor estranhamente parou.

— O que...

Antes que ela terminasse de falar os vidros se curvaram para dentro do apartamento como se fossem feita de látex, quando chegaram quase na metade do apartamento elas pararam e começaram a vibrar e em segundos, grande rachaduras trincaram todo o vidro estourando-o com violência trazendo um grito esganiçado e fino para dentro do cômodo, assustada Cristina cruzou os braços na frente do rosto protegendo-o, porém os vidros pareciam passar pelo seu corpo sem toca-la e um odor fétido de sangue podre invadiu o ambiente, era tão forte que imediatamente lhe causou fortes náuseas, mas o que viu logo em seguido a fez estremecer e lentamente andou até a sacada com os olhos fixos no imenso vórtice de energias corrompida que tomava quase todo o céu, várias pequenas trombas d'águas de cor vermelha escura que vinham do solo pareciam alimenta-lo, estática ela olhava aquele espetáculo sem conseguir pensar até que sentiu algo pingar na sua pele e passou a mão levando ao nariz, um cheiro metálico a fez estremecer e desviar os olhos novamente para as inúmeras trombas de água que se elevavam do solo.

— Isso é sangue fresco...

O barulho de gritos aterrorizados chegara até ela que se inclinou no ferro do parapeito, mesmo o prédio sendo tão alto ela conseguia ver a movimentação das ruas, pessoas corriam desordenadas tentando fugir de sombras disformes que as perseguiam e abatiam sucessivamente.

—Não... Isso não está...

As palavras morreram em sua garganta quando ela sentiu o chão tremer novamente e correu os olhos para sua base, um enorme ser composto por energia corrompida tão densa que lembrava piche se agarrara ao edifício, seus tentáculos pegajosos se espalharam pelas ruas absorvendo os corpos inertes e sem sangue, mas havia três figuras distintas que lutavam contra ele cortando e contendo seu enorme corpo, quando eles conseguiram dar um golpe mais profundo o ser gritou de forma tão estridente que ela tampou os ouvidos e se jogou no chão, aturdida mas tomada pela curiosidade ela voltou a grade tentando olhar para baixo e ver quem eram os que lutavam contra aquele ser, assim que fixou o foco do olhar ela piscou diversas vezes incrédula.

—Youkais???

Uma Kyuubi vermelha saltava pelos prédios destruindo tentáculos que subiam, mais acima um Tengu de belíssimas asas negras dava cobertura a uma Yuki-onna que congelava a todos que se aproximava da base do prédio, absorta com aquele visão ela correu a mão pela grade, mas um dos fina a fez puxar a mão, havia um pequeno corte na lateral e um pequeno caco de vidro encravado por onde escorria um filete de sangue, sem saber por que sentiu a mente ficar em alerta e quando a gota do seu sangue caiu ela sentiu um medo indescritível lhe invadir, seus olhos acompanharam pequena gota que ia na direção do monstro caindo diretamente na sua boca fazendo-o parar,  perplexos com aquela súbita pausa os três youkais se entreolharam e lentamente dirigiram seus olhares para cima onde estava Cristina, um terror indescritível invadiu a face deles, mas antes que fizessem algo, o ser soltou um riso enlouquecido e em uma velocidade assustadora seus tentáculos invadiram as paredes do prédio destruindo por completo, apavorada a morena correu para dentro do apartamento se jogando dentro do quarto, mas antes que fechasse a porta os tentáculos invadiram agarrando sua perna e arrastando-a de forma violenta para fora, em uma última tentativa de resistência ela agarrou a grade de ferro com toda a força que tinha mas a força do monstro era maior e aquele toque pegajoso começara a queimar sua pele fazendo-a soltar um grito agudo de dor.

— Acalme-se, estou aqui!

Uma voz feminina doce e amorosa ressoou em seus ouvidos fazendo-a olhar para os lados, mas um violento puxão a fez soltar o ferro, erguendo-a no ar dando-lhe uma visão aterradora do ser que se aproximava subindo o prédio com a boca aberta deixando evidente inúmeras fileiras de dentes pontiagudos e disformes, uma fumaça densa preta e fétida saíra se espalhando pelo ambiente.

“— Tampe a boca e o nariz isso é shouki... é fatal para humanos, mas para alguém como você pode torna-la um deles...”.

 Cristina rapidamente tapou a boca tremendo e como se tudo ficasse em câmera lenta dos céus ressoavam trovões que rasgaram as nuvens, em uma sincronia tão perfeita que formavam algo parecido a um cometa que se aproximava rapidamente em sua direção e quando chegou perto o suficiente ela conseguiu distinguir uma imensa loba branca com rajados azuis no pelo, viu-a saltar na direção do monstro que lhe segurava e abrir boca soltando uma infinidade de raios na direção do ser que sucumbiu soltando-a em uma queda mortal.

— Haaaaaaa!!!

Mesmo com uma firme sensação de segurança não conseguiu controlar o grito que escapou de sua garganta ao sentir a pressão do ar durante a queda.

— Se agarre em mim!!

A voz feminina ecoou na sua mente em um tom firme e autoritário que a fez rapidamente abrir os olhos, vislumbrando a loba que se punha ao seu lado ela rapidamente levou as mãos ao pelo do pescoço agarrando-a e assim que fechou os dedos viu-a se posicionar abaixo do seu corpo acomodando-a em seu lombo, por instinto a montou jogando as pernas uma em cada lado enquanto segurava com firmeza se curvando sobre ela tomando cuidado para não cair.

— O que é... Onde eu estou e cadê todo mundo?!!

A imensa loba não lhe respondeu se afastando rapidamente da batalha pousando em uma cobertura de outro edifício curvando-se levemente em sinal que ela poderia descer, Cristina escorregou de um lado caindo em pé sobre o chão firme e por mais estranho que fosse sentia-se segura perto daquele ser imenso, em silêncio a loba se distanciou olhando firmemente para o vórtice, que mesmo afastado, emitia um cheiro de sangue fresco, sem saber o que fazer Cristina desviou os olhos para o imenso e crescente vórtice no céu.

— O que eu estou fazendo aqui? E... o que é aqui??

— Você está em perigo aqui... —A lobo virou lentamente o focinho pra ela encarando com os imensos olhos dourados. — Como chegou aqui?

Suspirando ela cruzou os braços desviando os olhos do vórtice para a loba, já não sabia mais o que era realidade ou sonho e nem como responder à pergunta dela que lhe olhava com um visível ar carregado de preocupação.

— Nem sei o que é aqui! — Ela suspirou mexendo nos cabelos ondulados e repicados que estavam bagunçados. — Só lembro de estar no templo Suzuki e ... — Um brilho estranho se passou nos olhos dourados fazendo-a omitir a parte que invadira o templo para pegar as espadas, como se fosse levar alguma bronca, suspirando ela deu os ombros e apontou para o prédio que ruía. — E acordei ali, naquele apartamento que não sei por que é igual a minha casa onde moro com meu pai...

A loba se aproximou encarando-a e gradativamente os imensos olhos se arregalaram sendo tomados por um brilho maternal e amorosamente curvou a cabeça encostando o focinho no rosto de Cristina suspirando.

 “— Você precisa acordar.”

— Acordar??

A loba esfregou o focinho no rosto dela que sentiu o corpo anestesiar e sua consciência se enfraquecer, em um gesto instintivo ela levou as mãos ao pelo acariciando deixando a cabeça encostada na da loba.

 “— Me perdoe e se cuide...”.

Lentamente viu a loba se distanciar andando de costas e gradativamente abriu a boca soltando um forte rugido, um vento frio e estranhamente acolhedor tocou sua pele ao mesmo tempo que sua mente se apagava, seu corpo pendeu suavemente para trás caindo em queda livre da cobertura do prédio, a última visão que teve foi dos olhos dourados carregados de tristeza, quando sua mente se afundou em um sono profundo ela escutou uma última vez a voz amável da loba.

“— Acorde.”

Imersa na escuridão sentiu um cheiro bom de terra molhada sendo aquecida pelo sol quente e lentamente forçou as pálpebras pesadas, mas sem conseguir abrir os olhos tentou mover o corpo que estava de bruços e sentiu alguém segurar sua mão com delicadeza enquanto roçava os dedos entre os dela, alguns minutos depois ela conseguiu abrir os olhos gradativamente piscando várias vezes tentando manter o foco, ao seu lado estava Nikkari sentado com a mãos entre a sua e o rosto virado para fora observando a chuva que caia, encostados em uma parede próxima estavam três rapazes, um tinha os cabelos curtos e escuros, vestia um uniforme parecido com o exército imperial com um casaco azul marinho escuro, calças brancas e sapatos pretos e nos antebraços tinha protetores pretos com um desenho no punho de um brasão de um trevo de três folhas, na outra ponta encostado na parede estava um rapaz com a cabeça pendendo pro lado sonolento vestido com um kimono azul claro com um desenho brancos nas bordas, por baixo um peitoral de armadura e uma hakama azul escura, seus pés tinham meias pretas e um sandália com tiras azuis, seus cabelos tinham uma tonalidade de preto azulado presos em um rabo de cavalo, o terceiro estava mais perto dela encostado com a cabeça encostada na parede jogada pra trás e os olhos fechados, aparentava ser mais velho e mais alto que os demais no cômodo, seus cabelos eram até quase a linha dos ombros na cor preta com um tom de loiro por baixo, vestia uma calça preta  com detalhes que pareciam asas com botas de armadura preta iam até os joelhos, em seu tórax definido haviam duas tiras de couro preta com detalhes amarelos e sob os ombros usava um kimono branco com detalhes nas bordas preto com uma ombreira preta no lado direito, sentindo o corpo estressado por estar naquela posição tentou se levantar puxando a mão que Nikkari entrelaçava fazendo-o virar imediatamente na sua direção.

— Cri... Mestra!

Os olhos bicolores de Nikkari se voltaram rápido com brilho de alívio evidente e ao escutarem a voz do rapaz os outros se aproximaram vendo-a suspirar tentando se levantar apoiando ambas as mãos no chão, mas seu corpo quase voltou ao colchão quando um dor incomoda irradiou das costas fazendo-a fraquejar.

— Mestra...

O coro dos três a surpreendeu, mas não mais do que o toque firme da mão de Nikkari que a envolveu pela cintura ajudando-a a sentar e com a outra ajeitou alguns travesseiros nas costas recostando-a, seus rostos estavam tão perto que ela pode notar marcas escuras abaixo dos olhos sinalizando que ele não dormira por um longo tempo, por um milésimo de segundo seus olhos se cruzaram e o viu sorriu aliviado antes de sentar ao seu lado fora do colchão, Cristina relaxou notando o ambiente a sua volta deixando-se afundar no travesseiro correndo os olhos pelo lugar, estava em um cômodo de uma casa construída em madeira pura, as portas tinham a estrutura de madeira e forradas com um fino papel de seda branco, deveria estar na casa principal do templo Suzuki, abaixou os olhos olhando para si e notou que vestira uma fina yukata branco e tinha algumas bandagens que lhe envolviam o tórax e também as sentira nas costas.

— Há quanto tempo estou...

Ela falara sentindo a voz falhar devido a garganta seca e viu um copo de cerâmica lhe ser estendido pelo rapaz de cabelos esverdeados, ela acenou agradecendo e continuou olhando-o esperando a resposta que não tardou.

— Dois dias mestra...

Cristina suspirou irritada com o tratamento formal que ele estava lhe dando, sugestivamente o olhou encarando-o fazendo o rapaz entender enquanto bebia a água, mas antes de terminar ela desviou os olhos para os três que a olhavam ansiosos abaixando o copo entre as pernas cruzadas.

— Vocês me chamaram de mestra?

Cristina passou lentamente a mão pelos cabelos sentindo-os estranhamente bem penteados e notou que o rapaz de kimono branco com bordado azul a olhava ansioso com um certo temor.

— Eu os penteei mestra, espero que não se sinta ofendida...

— Não me ofendeu... Obrigada por cuidar de mim, mas... — Ela desviou os olhos rapidamente para fora ao escutar além da chuva o barulho de um riacho, e se bem se lembrava de que não havia nenhum no templo, hesitante se voltou para os rapazes a sua frente com um brilho confuso nos olhos.

— Onde eu estou e quem são...

Cristina apontou para eles olhando para Nikkari antes de voltar os olhos para os três novamente, o rapaz de cabelos curtos pretos fez uma pequena reverência olhando-a com respeito, seus olhos eram de um tom de azul turquesa escuro que lembrava uma joia.         

— Eu sou Horikawa Kunihiro, eu servi a Hijikata Toshizou... — Ele lhe sorriu com uma animação contida. — Junto com o Kane-san... Quero dizer meu parceiro Kanesada.

— Eu sou Nagasone Kotetsu, sou a espada de Kondo Isami, posso ser falso, mas trabalharei muito mais duro que um verdadeiro Kotetsu.

Nagasone se aproximou ficando ao lado de Horikawa encarando-a com os olhos dourados que pareciam com ouro se curvando logo em seguida fazendo uma breve reverência que deixou seu peitoral mais exposto é evidente, Cristina desviou de leve o olhar sentindo o rosto começar a queimar, aquilo era estava além do permitido para manter a mente sã, por alguns segundos o brilho dos olhos bicolores, que estavam fixos nela, se tornaram incertos para depois voltar a transmitem um brilho sarcástico e divertido.

— Eu sou Yamatonokami Yasusada, eu sou uma das espadas favoritas de...

— Okita Souji?? — O rapaz abriu um largo sorriso acenando a cabeça, Cristina correu os olhos pelos três. — Kondo Isami... Hijikata Toshizou... Vocês são espadas que pertenceram aos integrantes do Shinsengumi?

Ela colocou as duas mãos na frente da boca soltando um gritinho feliz, mas quando ia falar algo a porta de correr se abriu e um homem de longos cabelos escuros e olhos azul turquesa escuro entrou vestindo um kimono azul por cima de um vermelho escuro e uma blusa preta que ia até o pescoço preta, na cintura tinha parte de uma armadura e por baixo uma hakama branca e botas pretas, uma expressão carregada emoldurava o rosto belo do rapaz que suavizou ao nota-la acordada, Horikawa se afastou vendo-o se aproximar dando espaço para ele falar com Cristina, ela o olhava admirada pois seria ele a outra espada de Hijikata? O rapaz se ajoelhou em cima dos tornozelos na frente dela fazendo uma pequena reverência.

— Mestra, fico feliz que tenha acordado, eu sou Izuminokami Kanesada, espada do...

— Vice comandante do Shinsengumi Hijikata Toshizou... — Cristina notou que o interrompera e encolheu os ombros com vergonha, se Akihito estivesse ali já tinha lhe repreendido. — Me perdoe, eu... Sou meio...

— Meio ansiosa... — A voz de Aizen vinha da porta, o ruivo tinha um sorriso largo e um olhar úmido ao vê-la. — Não liguem para falta de educação, ela é uma grande admiradora do Shinsengumi e das espadas japonesas...

Cristina sentiu o rosto corar querendo enforcar o ruivo, porém ao vê-lo se aproximar com as mãos trêmulas sentiu uma dor no coração e estendeu os braços oferecendo o abraço que ele precisava, o ruivo se jogou em seus braços soluçando e ela notou que o pequeno corpo todo tremia.

— Nunca mais faça isso... Deixou-me preocupado... Eu... Droga.

Cristina sorriu fechando os olhos se curvando aconchegando-o em seu colo beijando sua testa.

— Pode deixar eu não pretendo ser cortada por uma espada de novo.

Os dois riram juntos com o tom cômico dela e o ambiente tomou um ar mais relaxado e tranquilo, ela acarinhava os cabelos vermelhos até que o rapaz se recompusesse e contasse aos demais tudo desde que foi acordado por Cristina até descobrir as espadas seladas no templo, no final Izuminokami suspirou contando o que se passara com ela depois do ferimento.

— Digo por todos, que estamos aliviados em vê-la desperta... — O rapaz passou a mãos pelos cabelos ponderando durante um tempo até que soltou um longo suspiro encarando-a. — O Iwasaki-sama não permite nossa saída e se recusa a fornecer qualquer informação, pois segundo ele você não passa de uma ladra e Aizen de um garoto abusado.

— Peraí, o Ren está nos mantendo presos??

Cristina erguera a mão apontando a porta, seu tom de voz era tão ríspido a tal ponto que todos a olhavam assustados, menos Aizen que já sabia o que ia acontecer, Izuminokami acenou positivamente sentindo que algo de ruim iria acontecer.

— Não conseguimos saber nem em que era estamos ou onde estamos...

Cristina olhou com os olhos arregalados para Nikkari que falara apontando para fora com o polegar sem se tirar os olhos dela fazendo a ter certeza que não estava na época dela, a morena se esticou não sentindo mais as costas incomodarem e viu ao longe uma pequena vila de casas de madeiras e telhados de feno, não havia mais os imensos prédios de ferro nem as vias cheias de carros.

— O seu sangue acionou o relógio das eras, não conseguimos ver qual data estava marcada...

Aizen a olhava atento, pois ela se calara e estava com a cabeça baixa segurando o lençol com os punhos fechados com força, de repente o som da respiração  pesada dela demostrava o seu nível de descontentamento e o quanto tentava controlar a raiva que lhe invadia, porém  o eco da voz de Ren ressoando áspero a fez trincar os dentes, mas ao escutar a voz de Shokudaikiri em um tom  suplicante, seus olhos assumiram um brilho mais escuro e sem esperar qualquer outro evento ela tocou no ombros do ruivo.

— Aizen... Vem comigo.

Ela levantou tão rápido que nenhum deles conseguiu segura-la e com passos largos alcançou a porta abrindo-a com força.

—Mestra...

Os cinco a chamaram espantados por ela não sentir qualquer dor, a expressão de Aizen antes de atravessar a porta era para que todos só seguissem. Cristina atravessou o curto espaço do corredor de madeira, que levava a sala principal, com passos largos, rápidos e firmes, sem nem ao menos parar quando alcançará a divisória de onde vinha a voz do rapaz a abriu com força fazendo com que o som seco ecoasse por todo o cômodo causando um sobressalto nos ocupantes da sala, tentando controlar a raiva ela trincava os dentes enquanto corria os olhos castanhos avermelhados pelo cômodo parando em Hasebe que dera um passo para trás ficando ao lado de Ookurikara que mantinha um olhar atento, mas impassível, Shokudaikiri estava ajoelhado na frente de Ren de costas para porta, lentamente ele se virou parando seu o orbe dourado na mulher na porta, aos poucos um brilho de espanto e alívio tomou conta deles.

— Olha só quem acordou, a bela adormecida.

Cristina mantinha os olhos no rapaz no chão que tinha uma expressão nítida de dor, as lembranças do que Ren o forçará a fazer a invadiram tão forte que sua mandíbula doía de tanto forçar os dentes e os punhos estavam cerrados, imediatamente ela desviou os olhos para o rapaz loiro em pé que lhe encarava com desprezo.

— Eu dei ordens para que você e seus lacaios perma...

Antes que terminasse Cristina avançou tão rápido quanto um predador sedento por sangue, sem que ninguém esperasse ela desferiu um soco no rosto do loiro fazendo dar um passo para trás e antes que se recuperasse, voltou com a mão fechada com a mesma força atingindo no rosto com o dorso fazendo-o ir direto para o chão, na mesma hora Cristina escutou o som metálico indicando que todos se preparavam para desembainhar as espadas.

— O que foi Ren? Precisa que suas babás lhe troquem a fralda e te protejam de uma mulher?

O tom de voz de Cristina beirava o ácido e sarcástico deixando-o em alerta pois sabia o que poderia acontecer, na mesma hora desviou os olhos dos delas não deixando-a ver sua raiva e levantou a mão em uma ordem silenciosa para que Hasebe e Ookurikara embainhassem suas espadas, a morena apenas fez um sinal com a cabeça para os seis que estavam às suas costas escutando um barulho seco voltando os olhos para o loiro que se levantara com a face vermelha.

— Quem te deu o direito de nos encarcerar e omitir qualquer coisa deles??

— Eu sou o saniwa designado pelo templo neste lugar e é de minha responsabi...

—Para mim isso não vale de porra nenhuma!!

Cristina o encarou com os braços cruzados e as sobrancelhas comprimidas estreitando os olhos de raiva, mas por sua vez o loiro não se diminuía e a olhava com um ar superior.

— Você invadiu o templo, roubou as espadas... E sim por sua culpa estamos aqui.

A morena voltou-se revirando os olhos e mordendo os lábios suspirando sabendo que ele falara a verdade, precipitara-se antes que seu pai resolvesse algo e acabara por acionara aquela cadeia louca de eventos, mas não era a única culpada ali.

— Tenho minha parcela de culpa, mas mesmo as espadas me aceitando como mestra você não parou, usou a força para obrigar uma espada a atacar uma pessoa desarmada e indefesa pelas costas...

— Você é tudo menos indefesa Cristina... — o loiro sussurrando dando um passo para trás observando o brilho inconstante nos olhos castanhos dela, mantendo o ar superior ele se sentou na mesa no centro do cômodo e falou apontando para que ela fizesse o mesmo. —Sente-se irei permitir que saiba o que descobrimos...

Ela estreitou mais ainda os olhos corando diante da afirmação sarcástica do rapaz, porém sem desviar os olhos dos dele.

“— Ela não abaixou a cabeça para ele e nem desviou o olhar quando assumiu seus erros...”

Izuminokami desviou os olhos levemente para Nagasone que murmurou com um tom impressionado na voz grossa. Alguns minutos depois Hasebe se sentara ao lado de Ren servindo um chá morno, o loiro se mantinha em silêncio enquanto Cristina esperava pacientemente pela informação de um dos dois, o que não tardou pois assim que Hasebe lhe estendeu o chá começou a falar.

— Souza-sama, descobrimos que estamos no ano de 1281, na perto da baia de Hakata, na cidade de Fukuoka, já mandamos uma mensagem para o templo dando nossa localização, agora só temos que aguardar...

— Então eles virão logo?

—Nós cremos que sim...

Cristina olhava o rapaz analisando-o sua maneira polida e calma contrastava com a força e destruição com que lutara contra Nikkari, um sorriso terno emoldurou seus lábios ao notar a suavidade que ele preparava e servia o chá, lembranças de sua infância vagavam na sua mente quando ela aprendera com Akihito a cerimônia do chá e sem notar desviou os olhos para o loiro a sua frente e viu nos olhos azuis um brilho conflitante que beirava o remorso, porém não demorou muito para que ele piscasse pondo a xícara na mesa voltando a olha-la em seguida com um olhar frio, sua voz tinha um tom arrogante quando falou erguendo uma das mãos fazendo um sinal para que Hasebe se calasse.

— Em outras palavras você terá que se manter quieta e obediente deixando que façamos aquilo que nos é designado.

Sem esperar qualquer reação ele se levantou fazendo um sinal para que os outros o seguissem deixando o cômodo absorto em um silêncio pesado e sem falar nada Cristina se levantou virando-se aos rapazes e sorrindo.

—Melhor descansarmos. — Ela olhou para fora notando a escuridão tomar o céu. — Já está ficando tarde.

Todos se entreolharam incomodados, mas foi Horikawa que se pronunciou ainda sentado sobre os calcanhares.

—Mestra, você acabou de acordar me permita fazer algo para que se alimente...

— Eu ajudo!!!

Yamatonokami expressara a mesma preocupação com o olhar ao se prontificar e assim que a viram acenar positivamente com a cabeça sorriram fazendo uma leve reverência antes de se levantarem, durante a refeição Yamatonokami falara em tom irritado da impertinência com que Ren falara com ela e por fim Aizen imitara o loiro arrancando risos dos demais, alguns minutos todos concordaram que era tarde e decidiram dormir para amanhã saberem o que fazer, os rapazes se encaminharam para o quarto ao lado e deixaram claro que ficariam se revezando em vigília, mas horas mais tarde Cristina se revirava na cama sua mente ia e vinha lembrando das coisas que Akihito lhe contara, dos papiros que lera e da própria existência de Aizen, mas tudo lhe parecia tão irreal até agora, correu os olhos para o lado de fora pensativa.

“—Eu estou no ano de 1281, mas por que essa data me parece tão familiar?”

Sentindo-se agitada ela se sentou ajeitando a yukata branca antes de se levantar e sair, sua mente estava uma confusão enquanto tentava alinhar tudo aquilo e ainda tinha o sonho que mal conseguia se lembrar, em silêncio ela andou pelo corredor externo de madeira da casa até chegar a uma grande pilastra de madeira onde se encostou fechando os olhos, a sensação do vento frio junto com o aroma de terra úmida lhe enchia com um alivio instigante.

— Mestra... Está tudo bem?

Cristina levou um susto com a voz grossa que vinha de suas costas fazendo-a se virar rapidamente, seus olhos se depararam com dois orbes dourados que a encaravam a alguns metros.

— Kotetsu-san?

Ao ver o homem se aproximar lentamente ela tentou não olhar para o abdômen definido totalmente a vista, mas sentindo o rosto corar se repreendeu mentalmente.

“— Cristina você já tem 20 anos e já viu um homem de abdômen definido de fora!!!”

O homem passou ao seu lado se recostando em pé na pilastra a sua frente, relutantemente o olhou com o canto dos olhos sentindo a curiosidade lhe invadir e inconscientemente mordeu os lábios.

—Há algo que queria perguntar Mestra?

Os olhos dourados se voltaram risonhos para ela que suspirou envergonhada soltando uma risadinha nervosa.

— O que aconteceu após eu desmaiar? Sabe quando aparecemos neste lugar?

Nagasone não desviou os olhos do jardim ao franzir as sobrancelhas, mas sentia o olhar da menina em si, após soltar um longo suspiro para tentar organizar os pensamentos começou a falar:

— Seu sangue nos banhou no exato momento que o relógio das eras foi acionado, quando chegamos aqui só escutávamos a discussão entre Nikkari-kun e o Iwasaki-sama, Kunitoshi-kun estava ferido e estávamos preocupados, mas quando Ren deu ordem para que Hasebe-kun e Ookurikara-kun interviessem nós despertamos tomando nossas formas humanas...

— Hasebe-kun e Ookurikara-kun? — ela se lembrou do rapaz moreno calado e do outro ao lado de Ren. — Mas e o homem de preto e olho dourado?

—Shokudaikiri-kun... — Ele a viu acenar a cabeça levemente se sentando no chão dando a certeza que queria prolongar aquela conversa, lentamente ele suspirou lembrando-se do estado do rapaz no chão. — Ele se recusou a ataca-la novamente e Ren-sama o puniu...

Na mesma hora um brilho raivoso se apoderou dos olhos castanhos dela demonstrando que repudiava as ações do outro mestre e o xingamento que proferiu baixo entre os dentes deixou claro sua intensidade, mas ela voltara a ficar em silêncio sabendo que tinha mais e estimulando-o a falar.

— Após isso Kunitoshi-kun se voltou para ele enfurecido falando que o seu pulso estava cada vez mais fraco e sua respiração cada vez mais lenta, o Ren-sama se aproximou rapidamente e atrevo=me a dizer que quando ele notou seu estado real pareceu profundamente abalado...

Cristina imediatamente ergueu a sobrancelha incrédula, pois era difícil crer que Ren estivesse “profundamente abalado”, mas de repente sentiu uma fisgada nas costas que a fez lembrar-se de todas as sensações do golpe e lentamente ergueu os olhos.

“— Quatro espadas banhadas pelo meu sangue e também vi o relógio se acionar quando meu sangue entrou nas engrenagens..., mas havia uma quinta energia no cômodo onde estavam”.

— Seu estado era realmente grave a tal ponto que... Não sabíamos se... — O rapaz parou estreitando os olhos encarando-a com um brilho tão sombrio que um arrepio nauseante subira a espinha dela. — Mas Shokudaikiri nos trouxe uma pomada que seu mestre usara com frequentemente e assim que a usamos a ferida fechou, mas você não recobrava a consciência...

—Obrigada... — Ela falara repousando as mãos sobre os joelhos encolhidos tentando finalizar o assunto que parecia incomoda-lo. —Você deve estar exausto seria bom descansar...

Nagasone deu os ombros acenando negativamente sentando-se no chão encostado na pilastra.

— Nós nos revezamos... Menos Nikkari-kun e Aizen-kun que ficaram ao seu lado acordados todos os dias...

“—Nikkari...” — De repente a voz do rapaz lhe chamando durante o sonho lhe veio à mente, mas para evitar a frustração de não se lembrar do que sonhara decidiu mudar o assunto. — Você era a espada do Capitão Kondo Isami...

Ele acenou afirmativamente vendo-a sorrir quase como uma criança lembrando-se que Aizen falara da admiração dela pelo Shinsengumi.

— Sim... — Ele a olhou notando a curiosidade estampada nos olhos castanhos avermelhados. — Ele era um homem rígido devido ao seu cargo, mas era um homem caloroso, amigável e muito estudioso.

Nagasone tinham um olhar longe com uma ponta de saudosismo na voz enquanto olhava para o jardim, de repente ele desviou o olhar para algo as costas dela e sorriu cruzando os braços na frente do tórax.

—Temos companhia... Konbanwa Izuminokami-kun.

— Konganwa Nagasone-kun...

Antes que pudesse se virar, Cristina sentiu o rapaz passar ao seu lado com passos tão leves que mal faziam barulho na madeira e em silêncio o viu se sentar entre os dois com uma postura ereta e um ar silencioso que era quase intimidador ao contrário de Nagasone que parecia relaxado, de repente a lembranças das palavras da apresentação dele lhe vieram à mente, “Hijikata Toushirou”.

— Desculpe não queria interromper, mas acordei e escutei vozes e vim verificar o que era...

— E se fosse o Iwasaki-sama?

Nagasone deu um sorriso relaxado cruzando as pernas em posição de lótus, o rapaz manteve o ar calmo olhando-o antes de responder.

— Ele não é meu mestre, devo respeita-lo não o obedecer.

Cristina tentou conter um sorriso ao escutar aquelas palavras ditas em um tom claro e forte e tentando conter a euforia aguçada pela curiosidade ela baixou o tom da voz na tentativa de não deixar transparecer.

— Não precisa se desculpar, a culpa foi minha por não baixar a voz e acorda-lo... — Os olhos turquesa escuro se viraram para ela com um ar compreensivo. — Você é o Izuminokami Kanesada, a uchigatana do vice capitão do Shinsengumi, estou certa?

— Sim, Toushiro Hijikata.

— Hijikata-san era um grande amigo do meu mestre, bastante rígido se bem me lembro. — Nagasone apoiou o queixo olhando para cima.

— Sim, ele precisava ser assim pelo bem do Shinsengumi... Ele nunca se perdoou por não ter consegui fazer com que Kondo desistisse de se render.

Cristina levou a mão agarrando  yukata na altura do peito quando um doloroso silêncio recaiu sobre os três, o tom de voz formal de Izuminokami tentava esconder a tristeza que brilhava nos olhos turquesa, sem notar ela soltou um pesado suspiro tentando conter a estranha angústia que lhe invadia chamando a atenção dos dois rapazes à sua frente.

— Mestra você está bem? Seus ferimentos ainda não curaram...

Cristina parou elevando o olhar para os dois notando que suspirara alto demais e sorriu fingindo que ajeitava a yukata branca em uma tentativa de tranquilizá-los falando em um tom relaxado.

— Estou bem sim, não se preocupe... Não parece, mas eu sou bem forte e ...

— Mestra, me perdoe minha insolência, mas você não ponderou os perigos que passaria e que iria impor aos que a acompanhava....

Cristina o olhou com a boca entreaberta com a frase incompleta morrendo em seus lábios, os olhos turquesas a encaravam com um brilho reprovador e severo e o tom de voz que usara parecia que estava falando com uma criança arteira.

— O que você fez foi muito irresponsável, imprudente...

Sentindo o rosto corar de vergonha ela segurou uma mecha do cabelo entre os dedos soltando um riso nervoso e sem graça se encolhendo contra a pilastra, Nagasone observava os dois sorrindo sabendo que o rapaz não pararia tão cedo com a bronca e decidiu intervir salvando sua nova mestra.

 — Mas foi de uma coragem louvável. – Nagasone falou cortando a fala de companheiro com um ar descontraído. — Grandes feitos não se conseguem apenas pela perseverança e força, mas também pela coragem.

Cristina parou olhando para o homem sentado de forma relaxada a sua frente que sorria com segurança e desviou rapidamente olhando para o outro que tinha um ar pensativo balançando lentamente a cabeça em sinal de aprovação causando nela uma sensação de alívio que não durou muito quando uma voz altiva ressoou as costas deles.

— Não a elogie Nagasone-kun, isso é perigoso!

 Os três se viraram para ver o dono da voz se aproximar, Aizen andava a passos lentos com o cabelo bagunçado e um sorriso maroto nos lábios, ao seu lado estava Horikawa que parecia totalmente desperto e Yamatonokami que bocejava com os olhos sonolentos.

— Não tem nada de perigoso Aizen...

 A morena o fulminara com o olhar dando um alerta para que parasse, mas o efeito foi contrário pois o ruivo estendera ainda mais o sorriso e um brilho moleque inundou seus olhos.

— Há é, então vejamos. — O ruivo começou a mostrar os dedos como se contasse e começou a enumerar. —Niagara, Foz do Iguaçu... Aquele lugar com as bolas na nova Zelândia...

Os quatro ficaram observando a interação dos dois em silêncio, Aizen que havia se sentado sorria de forma sonsa enquanto falava as peripécias dela que corava cada vez mais forte e em uma atitude desesperada ela agarrou a manga da blusa dele puxando-a com força e falando em voz alta.

— A-chan para!!!!

Cristina soltara o modo carinhoso que o chamava sem pensar fazendo-o corar de forma imediata se calando, os dois se olharam por alguns segundos antes do rapaz afundar o rosto entre as mãos tomado pela vergonha,

— Cris-chan isso é golpe baixo!!

Aquela súbita reação tirou risos altos dos demais o que fez o ruivo corar ainda mais a tal ponto que a orelha dele ficara vermelha, tentando não rir ela afagava os cabelos dele pedindo desculpas na tentativa de fazê-lo mostrar o rosto, mas sem sucesso, após alguns minutos com o ambiente mais leve Izuminokami sorriu olhando-a.

— Muito bem mestra, quando será nossa próxima batalha? – Izuminokami falou sem esconder certa animação. – Eu tive uma conversa com Shokudaikiri-kun e ele me disse que o exército retrógrado anda muito ativo, mais do que antigamente...

—Estou ansioso para entrar novamente em batalha Kane-san. – Horikawa sorria olhando para Izuminokami.

— HAHAHAHAHAH… será muito bom mesmo Horikawa-kun. – Nagasone fechou o punho direito em uma saudação de força e com a mão esquerda bateu com força nas costas de Yamatonokami que perdeu o equilíbrio caindo no chão.

— Na-naga-sone - kun...

Os quatro conversavam com tanta animação que não notaram de imediato o olhar vacilante dela diante das palavras de Izuminokami e que nervosamente entrelaçava os dedos na mecha do cabelo que caia no ombro, em silêncio apenas Aizen a observava sabendo exatamente o que se passava com ela.

—Mestra então...

Yamatonokami se virara de repente com um entusiasmo quase juvenil na voz, mas parou de súbito ao notar a tensão que ela transmitia fazendo com que todos a olharam sem entender.

— Eu não...

O olhar de Izuminokami perdera todo o entusiasmo tomando um brilho mais sério e frio deixando claro um leve descontentamento enquanto observava-a em uma postura retraída e vacilante em silêncio, Yamatonokami se virou para ela com uma preocupação e confusão visível nos olhos azuis.

— Mestra você está bem?

Cristina trincou os dentes sentindo o estômago se retorcer com as lembranças de sua infância, seus olhos pararam em Aizen que acenou com a cabeça demonstrando seu apoio dando-lhe coragem para falar.

—Perdão, mas creio que se ficarem comigo como mestra não entraram nessas lutas... Não desejo ser associada ao clã Suzuki nem ao templo.

 Suas palavras saíram rápidas e nervosas finalizadas por um longo suspiro enquanto mantinha os olhos desviados do grupo, pois não tinha coragem de encara-los, um longo e pesado silêncio envolveu-os a tal ponto que somente o barulho da respiração dos participantes rompia o silêncio, Cristina não sabia quanto tempo se passara mas quando a voz grave de Izuminokami cortou o silêncio seu tom de voz era de uma irritação e descontentamento tão grandes que a fizera estremecer por inteiro.

— Quer dizer que nos acordou por capricho?? — Izuminokami falava sem tirar os olhos dela. —Não sabe sobre nós? O quanto é importante repelir cada tentativa do Exército retrógrado e proteger a história!? O que você tinha em mente quando invadiu o templo? Que iríamos ter vidas humanas normais??

Todos se entreolharam visivelmente sem saber o que fazer, o olhar do rapaz sobre ela e o silêncio que se mantinha a corriam por dentro a tal ponto que ela sentia as mãos tremerem e uma sensação forte de mal estar a invadiu fazendo-a desviar o olhar novamente enquanto pensava:

“– Não foi capricho nem birra com os sacerdotes do templo..., mas ele tem razão deveria ter pensando antes e mais uma vez fui impetuosa e agi sem pensar... O que eu causei desta vez?”

Lentamente ela se levantou tentando controlar o corpo trêmulo e fez uma pequena reverencia mantendo uma aparente calma, mas sua voz não deixou mentir em como se sentia com aquela situação.

— Eu vou deitar, minhas costas estão latejando com o frio...com licença.

Antes que terminasse todos a viram se levantar e andar a passos rápidos na direção do quarto, quando a viram desaparecer na curva do corredor Nagasone foi o primeiro a suspirar olhando o companheiro demonstrando seu incômodo com aquela atitude, mas antes que fizesse algo Aizen se levantou com os punhos fechados com força falando com um tom seco

— Sua delicadeza continua a mesma Kanesada-san...

O rapaz mantinha os olhos no caminho que Cristina tomara franzindo as sobrancelhas.

— Kunitoshi-kun…

— Há 13 anos que a conheço... Inconsequente, cabeça dura, avoada tudo isso ela é, mas nunca faria nada por capricho. — O rapaz falava desviando lentamente os olhos para o companheiro ainda sentado, o brilho de revolta nos olhos dele eram visíveis. — Você acha que foi por capricho que ela protegeu vocês? Que ela foi cortada pela lâmina de Shokudaikiri-kun e que quase morreu por capricho? — O ruivo se virou seguindo o mesmo caminho que Cristina fizera sem parar de falar. — Você sabia que o conselho ordenou que trancafiassem todos em um cofre e que ela não comeu ou ficou calma após saber disso...

— Kunitoshi-kun, sei que sua convivência com ela é mais longa que a nossa, mas nossa existência é combater o exército retrógrado, como acha que faremos isso se nossa mestra não quer ser associada ao templo?!

A voz de Izuminokami continuava fria e séria enquanto observava o rapaz ruivo de costas, os demais se mantinha em silêncio como espectadores, mas quando Aizen se virou com uma expressão de tão profunda raiva que todos se sobressaltaram, pois era quase irreal aquilo vindo do Aizen que haviam conhecido.

— Kuso… – Ele sussurrou para si. — O que fiz de errado??

— Kane-san… Kunitoshi-kun... Nós também não entendemos...

Horikawa se levantou se interpondo entre os dois em uma tentativa de amenizar a tensão quase palpável, mas o ruivo de virou-se para o menor mantendo a voz baixa devido ao horário para que não acordasse a todos na residência.

— Era só perguntar, simples, e repreendê-la sem saber dos fatos que a fizeram falar aquilo.

 O ruivo se virou encarando o maior que estava visivelmente desconfortável com o tom de voz que ele usara, seus olhos dourados encaram todos.

 — Aizen-kun por favor nos conte o que aconteceu...

Horikawa falou em um tom de voz calmo e pacífico fazendo com que o ruivo deixasse a rigidez de lado e coçasse a cabeça suspirando:

—Provavelmente Rafael-sama irá comer meu fígado, mas isso é necessário para que entendam... — O ruivo notou que os rapazes se entreolharam com um ar temeroso e até questionador e suspirou fundo se sentando no chão com as pernas, mas era algo necessário para que entendessem a gravidade da situação. — Durante a última batalha na Fortaleza Goryokaku eu fui arremessado no meio do campo de batalha e me perdi de vocês... Ao final tentei encontra-los, mas sem sucesso e vaguei pelo Japão, um dia senti muito sono e adormeci acordando nos braços de Cristina, que tinha uns 8 anos, estava banhado pelo seu sangue, fomos um dos únicos sobreviventes do maremoto que atingiu toda a costa litorânea do Brasil... — Ele viu os demais se entreolharem e agitou uma das mãos fazendo o sinal que iria explicar depois e continuou. — Imediatamente Akihito, do clã Suzuki , me reconheceu como uma toudan e me levaram junto com Cristina, Rafael-Sama a adotou e frequentemente Akihito nos visitava, um dia ele não apareceu mais e após o quinto dia sem notícias nem mesmo com a rede de informações que Rafael-Sama possuía a preocupação era visível, na sexta noite Cristina acordou gritando...

Aizen olhou para a chuva que aumentara repentinamente levada pelo vento forte, tal como aquela noite, nervosamente ele passou uma das mãos no cabelo antes de continuar se lembrando de cada evento naquela noite.

— Ela chorava dizendo que vira o Akihito com uma mulher que batia e o machucava, sem nunca ter visto a mãe de Akihito-sama ela a descreveu perfeitamente, sem esperar Rafael-sama pegou o carro e pediu que eu protegesse Cristina em casa, mas vocês a conheceram e sabem o que aconteceu...

— Ela foi atrás...

Aizen olhou Nagasone que o encarava com os olhos dourados como se sentisse que algo ruim acontecera, o ruivo apenas acenou de forma afirmativa e suspirou antes de continuar.

— Eu e ela nos escondemos no porta mala do carro, quando chegamos vimos Rafael entrar por um ponto cego no muro onde tinha uma abertura... Claro ele nos achou, mas antes que falasse algo Cristina disse que ele não tinha muito tempo e ela sabia onde ele estava e rapidamente chegamos a uma casa afastada no templo com um cheiro de sangue que podia ser sentindo do lado de fora...

Uma tensão angustiante tomou conta deles que se olhavam imaginando o que encontraram, mas nenhum deles falava qualquer coisa deixando Aizen terminar.

— Akihito-sama estava no chão da casa, seu corpo coberto de marcas de chicote, até o assoalho de madeira estava coberto de sangue, Rafael arrombou a porta do lugar o tiramos de lá indo direto ao hospital e lá, Akihito-sama, quase morreu devido aos ferimentos e perda de sangue... — O ruivo suspirou fundo piscando lentamente os olhos e um sorriso brotando emoldurou os lábios quando ele falou. — Uma noite ele teve uma parada cardíaca, nos vimos tudo aquilo e desesperada Cristina se agarrou a ele chorando, foi quando vimos àquilo pela primeira vez, o quarto foi tomado por flores sino amarelas e uma energia quente que emanava de Cristina, ela tinha uns 10 anos só e nunca tínhamos sentindo qualquer energia mística vindo dela... Não é preciso dizer que nós ficamos em silêncio e quando aquela energia tomou todo o andar do hospital, Akihito-sama abriu os olhos, totalmente curado... Após a saída de Akihito-sama do clã a matriarca perdeu prestígio e posição dentro do Templo principal, vocês podem imaginar o que ela faria se descobrisse os poderes de Cristina??

O ruivo se levantou novamente se virando indo na direção do quarto, sua raiva se amenizara ao ver o rosto pálido de Izuminokami e toda a inquietude que brilhava nos olhos turquesa, Nagasone se levantou colocando ambas as mãos na cintura pensativa antes de se virar seguindo o caminho de Aizen em silêncio.

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A chuva fina caía insistentemente molhando o jardim, nem o aroma que tanto gostava de terra molhada a relaxada, não depois das palavras carregadas de decepção de Izuminokami, sentia-se invadida pela culpa e ansiedade por não atender a expectativas deles e subitamente um nó se formava em sua garganta enquanto internamente se questionava.

“— Pai o que eu faço? Eu tentei resolver tudo sozinha e de novo acabei...”

— Precisa dormir Ojou-sama...

— Nikkari...

Os olhos bicolores dele tomaram um tom mais sério quando viu a expressão dos olhos úmidos com lágrimas que ela se esforçava para não derramar, lentamente se aproximou sentando-se ao lado dela que lhe acompanhava com os imensos olhos castanhos, os dois ficaram longos minutos em silêncio antes que ela falasse em um tom mais baixo.

—Obrigada e me perdoe...

O rapaz se virou para ela sem entender aquelas palavras, havia um sorriso triste nos emoldurando os lábios finos, o vento frio insistia em carregar alguns fios ondulados para a frente do rosto fazendo-a afasta-los a cada dois segundos, em um movimento leve e rápido ele pegou a mecha mais insistente levando-a para atrás da orelha e sorriu vendo um leve rubor invadir as bochechas dela.

— Posso saber pelo que me agradece e o que devo perdoar?

Cristina sorriu ao escutar a voz em um tom divertido dele que lhe trouxe um certo alívio ao seu coração, por alguns segundos ela se perdeu no toque dos dedos dele que acarinhavam lentamente sua bochecha e nos olhos bicolores que a encaram com um brilho enigmático porém de repente a chuva e o vento ficaram mais fortes encharcando ambos fazendo-os quase correr para dentro do quarto dela.

—Ojou-sama está tudo...

Cristina se virou olhando o rapaz que parara bruscamente de falar olhando-a de cima a baixo antes de virar o rosto corado.

—Nikkari... o que...

Antes que ela terminasse o viu apontar para a yukata fazendo-a imediatamente olhar para baixo, seu rosto corou de forma violenta quando viu que a roupa estava quase toda transparente e sua roupa íntima era praticamente só de renda, sem saber o que fazer ela corria os olhos do rapaz para a roupa várias vezes com o rosto em brasas, sua mente entrara em um modo de vergonha profunda que  a fez soltar um gritinho enquanto corria para cama se enrolando como um tatu no lençol.

“—Que vergonha... alguém por favor abre um buraco e me enfia dentro!! Ele viu tudo...por que isso só acontece comigo? É karma só pode!!!”

Perdida nos próprios ela escutou os passos dele se aproximando dela antes de deixar algo, curiosa ela levantou a cabeça apenas descobrindo parcialmente os olhos a tempo de vê-lo sair e fechar a porta, pela silhueta podia notar que ele ficara encostado aguardando, seus olhos correram para a yukata branca dobrada a sua frente, lentamente pegou sacudindo e trocou de roupa rapidamente deixando a yukata molhada estendida.

—Nikkari... Pode entrar...

O rapaz demorou alguns segundos antes de abrir a porta se sentar na frente dela com o rosto visivelmente com traços de rubor, mas o sorriso calmo e o tom de voz não deixavam transparecer qualquer incômodo ou vergonha.

—Então... Por que me agradeceu e por que devo perdoar?

Os olhos bicolores se encravaram nos dela esperando a resposta, nervosa ela entrelaçava os dedos sem conseguir desviar daquele olhar penetrante, quase como num sussurro ela suspirou e falou:

—Primeiro por ter me protegido no templo e contra Ren quando chegamos aqui... — Cristina o viu piscar várias demonstrando uma ponta de espanto o que lhe tirou um sorriso dos lábios. —Bem e o outro por eu ter lhe despertado para nada... —Cristina abaixou o olhar mordendo o canto interno da bochecha. — Isso, quer dizer, essa guerra é algo importante para vocês e não levei em consideração isso...

O rapaz observava cada reação dela, os dedos enrolados de forma nervosa no lençol, os olhos que não o encaravam e o sorriso nervoso nos lábios, pela primeira vez na vida não sabia o que pensar e de uma certa forma era um sentimento conflituoso, pois sabia que não seria obrigado a lutar como antes mas por outro lado deseja protege-la, com um sorriso largo jogou o rosto de lado ainda encarando-a.

— Sobre proteger, estou aqui para servi-la... — De repente viu um brilho de profundo incômodo nos olhos castanhos que o fez sorrir sabendo que aquilo não a agradava, mas antes que ela falasse algo continuou como se não se tivesse notado. — Agora ser despertado assim, devo confessar que foi algo bem intempestivo..., mas foi libertador ser despertado por alguém que não me chamava para lutar.

— Eu nem sabia que meu sangue poderia te acordar…

Cristina falou em um tom teatral cômico e ambos riram daquele conjunto de desinformações, ela respirou fundo batendo de leve no futon no lugar ao seu lado fazendo sinal para que o rapaz sentasse ao seu lado, ato que prontamente atendeu tirando as botas de couro se acomodando ao lado dela com as pernas cruzadas virando-se com o sorriso de sempre e falou com a voz baixa:

—Aconteceu algo?

—Bem... — Cristina sentia-se em dúvida se devia ou não falar das palavras de Izuminokami, mas senti que ele a compreenderia. — Kanesada-san e os outros estavam bem animados em voltar as batalhas, mas... eu disse que não queria ter qualquer relação com o templo Suzuki...

—Kanesada-san não teve a melhor reação...

Ela balançou a cabeça negativamente suspirando em ficou olhando as mãos apoiadas sobre as coxas entrelaçando lentamente os dedos.

—Eu poderia saber o motivo disso, Ojou-sama?

Cristina virou o rosto para olha-lo e notou que ela a encarava firmemente com a cabeça virada para seu lado, ele piscou lentamente umedecendo os lábios com a língua enquanto vagava pelas suas piores lembranças de infância, hesitava em emitir qualquer palavra sobre aquele incidente, mas queria que ele soubesse e que não a odiasse, como Izuminokami aparentava.

—Eu tenho dois pais, Rafael e Akihito... Akihito é o filho único e primogênito do clã Suzuki, ele nasceu com um poder que excede o da sua mãe, quando ele tentou abandonar o clã ela o encarcerou e quase o matou, mas eu, Rafael e Aizen o salvamos, porém ele estava ferido tão gravemente que quase veio a óbito e foi nesse momento... — Cristina olhou para as próprias mãos trêmula. — Foi nesse momento que meus poderes despertaram e eu o curei... —A morena ficou em silêncio lembrando da cena do hospital e da força que sentira vinda de seu corpo, sem notar ela deixou a cabeça pender pro lado apoiando no ombro dele enquanto continuava a falar. — O oráculo havia predestinado que a primeira criança da próxima geração nasceria com a alma e poderes da saniwa... Eu não sou filha biológica dele, mas nasci com os poderes destinados ao clã Suzuki e quando eu o usei até a materialização foi o símbolo do clã... Você já imagina Nikkari o que ela faria se descobrisse isso?

Cristina sentiu que ele permaneceria em silêncio, talvez não tivesse acreditando em suas palavras, o que era de se esperar pois ela estava falando contra uma das quatro famílias tradicionais que fazia parte do templo principal ao qual todas as espadas estavam ligadas, de repente ela sentiu um pequeno aperto no peito crescer ao pensar nisso, mas sentiu a mão dele repousar em sua cabeça e afagar seus cabelos com carinho.

—Eu nunca deixarei que ela lhe faça mal... Ojou-sama...

Cristina sorriu balançando a cabeça positivamente agradecendo em silêncio por ele acreditar e confiar em suas palavras, sem levantar a cabeça ela apenas fechou os olhos sentindo aquele toque macio, até que passados alguns minutos escutou a voz dele lhe chamara sua atenção.

— Há algo que queira saber?

Ela respirou fundo, havia muitas perguntas, mas uma delas ainda ficaria em suspenso, pois queria conversar com os pais primeiro, acenando de forma positiva ela ergueu a cabeça sentindo-o afastar a mão mantendo uma mecha entre os dedos e logo perguntou:

—Me conte o que é esse exército ret- retrogra….

Ela se esforçava para falar, mas a palavra não saia e quando notou que o rapaz ao seu lado tentava não rir começou a gaguejar e ficar corada, mas assim que ele não aguentou mais e começou a gargalhar ela agarrou o travesseiro com força batendo nele em cheio no rosto em uma tentativa de cala-lo, sem conseguir parar de rir Nikkari segurou o travesseiro contra o rosto e se deixou cair para frente olhando-a pelo canto dos olhos, viu-a cruzar os braços com um bico enquanto resmungava algumas palavras com o rosto vermelho, ele ficou alguns segundos observando-o em silêncio, nunca desde que foi despertado a primeira vez teve tal proximidade com uma saniwa, era sempre visto como uma arma para as batalhas e se acostumou a isso, mas ela era diferente... suspirando ele deixou um largo sorriso nos lábios quando afastou todo o travesseiro com uma das mãos elevada pedindo clemência.

— Go- gomen nasai Ojou-sama...

Ele falava tentando controlar o riso colocando o travesseiro embaixo da cabeça se mantendo deitado, mas Cristina o olhou de forma atravessada e desviou o olhar rapidamente dando a certeza que não ia perdoa-lo, em silêncio ele a encarou por alguns segundos e se sentou mais perto dela se curvando para se aproximar.

— Sei como ser perdoado.

Delicadamente ele pegou uma das mãos desfazendo o cruzamento dos braços e levou-a aos lábios encarando-a com os olhos bicolores com um brilho travesso.

— Gomen nasai Cristina.

A morena sentiu as bochechas esquentarem e suspirou erguendo os olhos para o teto rindo em seguida.

— Você...

—Estou perdoado?

Novamente ela riu encarando colocando o dedo indicador no nariz dele empurrando levemente puxando a mão, era tão fácil conversar e se entender com ele, era como se já o conhecesse a muito tempo.

— Ok senhor galanteador, você venceu! Conte-me sobre esses demônios que vocês lutam.

Nikkari sorriu colocando um dos dedos nos lábios e soltou leves risinhos olhando-a com o canto dos olhos.

“– Uma mestra inconsequente porém forte... Até onde você irá minha atual mestra? Estou curioso para descobrir.”

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Aizen se aproximou da porta sentindo os demais as suas costas menos Izuminokami que ficara para trás com uma expressão de culpa enquanto olhava o jardim pensativo, quando colocou a mão na porta do quarto que ocupavam escutou o riso de Nikkari vindo da porta ao lado, exatamente do quarto de Cristina, sem falar nada desviou-se indo naquela direção, estranhando tal atitude os demais o seguiram em silêncio

— Calma Ojou-sa... Cristina...

Assim que chegaram na porta viram os dois sentados lado a lado no futon, o rapaz de cabelos verdes tinha as mãos na cintura dela enquanto a morena o ameaçava com o travesseiro.

— Precisa de ajuda Cristina??

Os dois olharam para a porta assustados ao escutar a voz de Aizen soar forte e ríspida com a mão no cabo da tantou sorrindo, Cristina suspirou e se levantou fazendo um sinal em silêncio para que entrassem e quando finalmente se sentaram ela os olhou com um brilho indagatório notando a ausência de Izuminokami.

— Desculpe o Kane-san às vezes ele é um pouco...

Horikawa começou a falar com a voz baixa deixando claro estar incomodado com a atitude do companheiro, mas foi Nagasone que terminou a frase sentando-se com as pernas cruzadas.

— Indelicado...

— Eu compreendo a reação dele e de todos também... Só que é um pouco...

—Não se preocupe mestra, Aizen-kun nos contou sobre as ações da matriarca do templo Suzuki.

Antes mesmo que Horikawa terminasse se falar ela olhou para Aizen que mantinha os braços cruzados sobre o peito soltando um longo suspiro pesado se sentando no chão a frente dela, Cristina mantinha os olhos no ruivo receoso pela história que ele contara pois era um segredo que Rafael avisara para que nunca saísse do conhecimento da família, ela apenas esticou a mão tocando a mão do menor entrelaçando seus dedos e falou sorrindo:

—Obrigada Aizen... — A morena se virou para os demais ajeitando-se em cima do futon. — Muito bem quero pedir algo a vocês... — Cristina sentiu o olhar de todos sobre si, mas o que mais a incomodou foi o de Nikkari que tinha um ar risonho só esperando ela falar, ignorando-o ela se virou para as três espadas recém despertas. — Me contem sobre esse exército re...

De repente ela parou escutando a risadinha contida do rapaz ao seu lado e o encarou estreitando os olhos fechando punho na almofada entre eles, rapidamente ele ergueu as mãos pedindo clemência e se virou rápido aos companheiros antes que ela lhe sufocasse novamente.

— Ela quer saber sobre o exército retrógrado.

O rosto de Aizen se demonstrou a tensão que se passava em sua mente quando encarou a morena, pois o ruivo sabia o que ela estava decidindo, ao seu lado os demais demonstravam uma hesitação devido ao relato do rapaz sobre a Matriarca Suzuki, lentamente se entreolharam como se escolhessem quem falaria, mas antes que se pronunciassem a voz baixa e potente de Izuminokami ressoou na porta fazendo-os se virar automaticamente.

—Tem certeza do que está querendo fazer mestra? Quer mesmo entrar nessa guerra?

Cristina o encarava sem medo ou raiva, apenas um brilho decidido estava estampado nos orbes castanhos, lentamente ela acenou a cabeça.

— Não só quero saber desse inimigo..., mas também sobre vocês. — Ela correu os olhos pelos outros três sentados à sua frente que a encaravam ainda com hesitação. — Eu não gosto de brigas, prefiro ignora-las... Gosto menos ainda do templo e das suas regras idiotas, mas... — Ela olhou para Nikkari ao seu lado antes de voltar o olhar para Izuminokami que a encarava com um ar respeitoso. — Aoe-san me contou que somente pela minha ordem e energia que vocês podem entrar em campo de batalha pois sou um catalisador de suas forças..., mas quero saber o porquê dessa guerra e por que é tão importante para vocês.

Izuminokami Fez uma reverência para ela antes de entrar e sentar-se no espaço aberto por Nagasone e Horikawa bem a frente dela, seus olhos azul turquesa a encararam como se pondera-se as palavras dela antes de se decidir em explicar tudo, o que não tardou pois segundos depois o rapaz começara a falar:

— O exército retrógrado tem como objetivo modificar a linha do tempo apagando fatos históricos e nós... nós tivemos nossa energia despertada pela primeira saniwa para combatê-los, apenas nós somos capazes de detê-los...

Cristina escutava tudo com a máxima atenção sem tirar os olhos do rapaz a sua frente que falava de forma objetiva, era algo simples de entender, mas que não tirava a importância pelo qual lutavam, o rapaz contou sobre toda primeira guerra entre eles e o exército e como isso desgastou a energia vital da saniwa até o final da última luta...

— A saniwa estava muito fraca para nos manter em nossas formas completas e assim foi decidido que deveríamos ser postos em sono profundo e acordados apenas se eles novamente ressurgissem, o que aconteceu apenas mais 2 vezes... Nessas vezes foi predisposto o pacto de sangue e o limite de quantas Toudans cada saniwa despertaria, tal como o número de saniwas... — Izuminokami respirou fundo notando com certo orgulho interesse dela por tudo que ele falava e notava que ela absorvia todas as informações dadas, pois a cada situação mais forte ela demostrava algum sentimento como se pensasse e compreendesse o que eles sentiam. — Também foi criando o relógio das eras, um objeto carregado de energia mística que possibilitava a viagem segura pelo tempo-espaço e cada saniwa leva uma réplica pequena consigo que faz uma espécie de...

Izuminokami parou tentando achar o termo exato, mas sem sucesso enquanto olhava os companheiros, mas a voz de Cristina soou pensativa chamando a atenção dos rapazes.

— A linha de Adriadne...

Cristina tinha o olhar baixo escorrendo os dedos entre as mechas ondulados do cabelo, seus pensamentos foram invadidos pela lembrança de uma lenda grega que lera quando criança, de repente uma sensação de que era observada a invadira fazendo ergueu a cabeça rapidamente deparando-se com o olhar espantado dos rapazes, menos do ruivo que se mantinha em silêncio apenas observando.

— S-abe a princesa de Creta que ajudou o herói Teseu... Ela deu um rolo de fios para que ele prendesse na saída da caverna e não se perdesse no labirinto do Minotauro... E com essa linha ele conseguiu achar a saída... — Ela fez um sinal com ambas as mãos como se esticasse um fio invisível. — Bem então eu pensei que os relógios seguem a mesma base, fazendo um ponto de conexão para que sempre voltemos ao tempo correto...

— Sim, seria bem isso. — Izuminokami falou em um tom baixo quebrando o silêncio, ele mesmo ficara impressionado com a linha de pensamento dela. — Há mais alguma coisa que deseja saber mestra?

Cristina permaneceu em silêncio pensativa e de repente algo lhe veio à mente.

—Bem, você disse que eles querem mudar e nós devemos lutar para manter..., mas e se uma pessoa que morreu no passado puder ser salva?

— Não devemos mudar nenhuma linha dos fatos históricos, se algo aconteceu ele deverá se repetir, mesmo que... — Izuminokami abaixou os olhos encarando as próprias mãos por alguns segundos antes de voltar os olhos para ela. — Mesmo que haja a possibilidade de salvar não deverá ser feito.

Cristina o observou em silêncio, pois sabia da história do seu antigo portador e de todos, os componentes do Shinsengumi tiveram, na maioria, fins trágicos e a dor de vê-los se repetir deveria ser absurda, lentamente ela se levantou indo até o grupo se sentando a frente do rapaz, delicadamente ela esticou a mãos tocando a dele sob os joelhos e lhe deu um sorriso carinhoso.

— Obrigada Kanesada-san...


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