The Good, the Bad and the Egg escrita por Lady Nymphetamine


Capítulo 7
Epílogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/703743/chapter/7

Muitos jantares haviam se passado desde que a família Charming ficara maior com a adesão de Lilith e Malévola. Fora difícil no começo, mas agora parecia algo tão natural. Aos sábados, Emma e Lily almoçavam com Snow, David e Neal, por vezes indo ao parque e levando também Henry e Ruby. Domingo, a noite era na casa de Regina. Às vezes a Rainha arranjava algum pretexto, e Malévola sabia que o fazia com as melhores intenções, para deixar a dragoa sozinha com as duas filhas na casa desta. Logo haviam aprendido a conviver juntas, não sem muito trabalho e esforço, mas estavam conseguindo.

Nesta noite, depois de Lily retornar para a própria casa e Emma também ir embora com Henry, ficavam apenas Regina e Malévola na suíte principal da mansão Mills. As duas feiticeiras estavam no banho, ao que a Rainha saía primeiro envolvida em um robe quente. A dragoa sempre se demorava um pouco mais na água e no vapor em temperatura escaldante. Regina arrumou os cabelos diante do espelho e então foi para o canto do quarto.

— Venha aqui, pequenino…

Ela estendeu as mãos e pegou um grande ovo preto, como uma pedra de carvão, de dentro de um carrinho de bebê. O balançava como a uma criança, ainda que tivesse quase dez quilos. Quando Mal saiu do banheiro enxugando os longos fios de cabelo loiros, ela se deparou com Regina cantando baixinho enquanto ninava o ovo.

— Eu costumava cantar para Henry antes dele dormir. Será que o bebê pode me escutar? Quer dizer, essa casca parece ser bem dura.

— Eu tenho certeza que sim. Dragões são mais habilidosos do que vocês humanos imaginam - Mal respondeu se aproximando por trás e beijando a morena no pescoço.

A Rainha sorriu com o carinho e depois colocou o ovo de volta no lugar, perto da saída do aquecimento do quarto, precisava ficar em um lugar quente para chocar. A dragoa então passou os braços ao redor da cintura da outra, ficando de frente e exibindo o próprio corpo nu, sem nenhum dos pudores que eram típicos dos seres humanos. 

Os olhos de Regina acompanhavam as curvas como seguindo uma trilha sinuosa do pescoço para baixo, até que se deteve em um ponto. Levou então as pontas dos dedos para a escura cicatriz de pele repuxada, algo entre um corte e uma queimadura bem feia, que ficava imediatamente acima do coração, no ponto em que a espada assassinara a loira. Esta deve ter percebido o que pensara, pois logo comentou, cobrindo a mão da Rainha com a própria:

— Não dói.

Mas isso não a tranquilizava o bastante, pois a morena parecia que iria chorar quando falou:

— Naquele dia…

A voz falhou e nada saiu, ao que a dragoa apenas a abraçou cheia de carinho. Já sabia o que iria dizer e como tais lembranças eram dolorosas a ambas. Malévola morrera em um esquema de Gold para trazer a magia para este mundo, fazendo Emma e Regina acreditarem que poderiam desta forma salvar Henry. O sentimento era de traição e impotência, de desespero e desalento. Por isso a loira beijava-lhe o rosto.

— Está tudo bem - ela disse. - Eu não sou do tipo que permanece morta. Além disso, eu perdoei você e Emma há muito tempo. Afinal, eu não teria feito diferente, não é? Qualquer coisa por um ovo.

Regina se afastou só um pouco para poder olhá-la enquanto as engrenagens rodavam lentamente em sua cabeça e determinadas coisas passavam a fazer sentido, até que disse:

— Foi por isso que escondeu de mim quando você pôs o ovo na Floresta Encantada?

Essa era uma questão muito delicada, a qual Malévola jamais falara ou desejaria falar pelo fato de saber que humanos eram pouco habilidosos no trato com a verdade, que esta os fazia frágeis e machucava demais. Era chegado o momento de ter esta conversa. A dragoa então pegou a Rainha pela mão e a levou até a cama, onde ambas se sentaram, sem perder contato visual, pois a morena já ficava tensa com tanto mistério em ter a sua resposta.

— Regina - Malévola começou séria, a única forma que sabia ser para tratar com tanta delicadeza -, nós não somos Amor Verdadeiro agora, nem éramos na Floresta Encantada.

As palavras talvez fossem mais duras do que pretendera, mas a Rainha não emitiu qualquer comentário, se limitando a prender a respiração por um instante ao receber o baque. Sim, ela sabia que a loira era daquele jeito, o que deixaria passar, mas não significava ser capaz de aguentar inabalável. Também sabia reconhecer a verdade quando a via dançando na sua cara. Aquelas palavras eram tão somente unilaterais e se referiam apenas a ela: a vingança que a cegou para o amor durante muitos anos e, depois, a previsão do pó de fada que a isolou do resto do universo, determinando que o seu Amor Verdadeiro deveria ser Robin Hood. 

Malévola continuou:

— Você não faria bem ao ovo lá, por isso preferi manter em segredo.

Não havia muito, em verdade não havia nada que Regina pudesse responder quanto a isso. Ela não servia para ninguém naquela época, muito menos para si mesma, quanto mais para um bebê ou para ajudar a namorada que passava por um momento difícil. Desviou o olhar sentindo vergonha de si mesma, de suas lembranças ruins:

— Eu não sei porque você decidiu me dar essa segunda chance.

— Já te disse o que acho sobre segundas chances - o conteúdo da frase poderia soar frio, mas viera acompanhado de um delicado toque no queixo, guiando-a para que voltasse a olhá-la.

— E quanto ao pó de fada? Você disse que só funcionava em humanos.

Esta era uma pergunta que a atormentava desde o instante em que havia escutado as palavras. Malévola não era exatamente do tipo que gostava de explicar, era até um pouco impaciente com a falta de conhecimento alheio, pois, depois de milênios, tudo lhe parecia um tanto óbvio. Era difícil lembrar que não, o que a fazia observar o comportamento nervoso de Regina, a ansiedade pela resposta, lembrando da jovem que fora até o seu castelo ter aulas de magia há muitas décadas. Passou a ponta do polegar pelo rosto da Rainha e disse calmamente, como um animal que observa a presa antes de devorá-la:

— Quando sua fadinha usou o pó de fada, ele avaliou todos os seres humanos existentes na Floresta Encantada. Não considerou os outros mundos ou sequer outras… Formas de vida - acrescentou com desdém.

— Então você está querendo dizer… - Ela sabia, já havia entendido, mas queria que a outra dissesse explicitamente.

— Um dragão jamais estaria no seu destino - a resposta foi explícita, mas não direta. - Fadas são puritanas demais quanto ao trabalho e a função, além de não chegarem nem perto de qualquer coisa que considerem… Bem… Elas só conseguem conviver com outras fadas e humanos - e acrescentou rindo como quem lembrava de algo engraçado. - Mas têm um gosto bom, os ossinhos quebram fácil nos dentes, têm até um cheiro gostoso quando queimam.

Regina quase esqueceu o que a outra dissera antes, pois a olhava com os olhos arregalados:

— Sem comer fadas aqui!

— Eu sei, você é desmancha-prazeres, já não me deixa comer os anões…

— Anões e fadas são amigos, não comida!

— Eu sou quase uma dragoa vegana com você.

As duas riram, o ambiente se tornou mais leve e descontraído. Assim era melhor. Sentadas uma de frente para a outra, Mal finalmente se levantou e foi colocar uma bonita camisola de seda preta, em forte contraste com a pele alva. Ficou diante do espelho, passando os dedos entre os cabelos para arruma-los, aquecendo-os para que secassem em suaves cachos. Mas o assunto, que fora deixado como encerrado, estava longe de ser considerado inacabado por Regina. Como um cachorro que não largaria do osso, insistiu:

— Então você poderia ser meu Amor Verdadeiro?

A outra voltou-se e respondeu como se aquela fosse a conversa mais trivial do mundo como falar do clima:

— Querida, qualquer pessoa poderia ser o seu Amor Verdadeiro se você acreditar que ela o é.

Mas as palavras só deixavam a Rainha ainda mais confusa. Estava pronta para contra-argumentar quando Malévola continuou:

— Não existe destino. Eu tenho mais de três mil anos de vida, eu vi civilizações iniciarem e caírem, conheci muitos oráculos, magos, todos que se diziam capazes de prever o futuro e, acredite, eles lidam apenas com probabilidades. Não existe certeza, até Gold, que pode ver o futuro, lhe diria isso se o perguntasse. Às vezes, as medidas que tomamos para escapar de um possível futuro são o que o concretizam, pois tudo se trata da energia gasta em acreditar. Veja Édipo!

Agora ela já estava sendo cruel. Os dedos de Regina foram se fechando com força no lençol, até que se levantou de vez da cama, porém, no caminho de sair do quarto, foi impedida por um abraço apertado de alguém às suas costas. Seu coração estava doendo, Malévola sabia o que havia causado então a beijou mais uma vez no pescoço e a virou de frente, falando de uma forma mais delicada:

— Eu não disse que o que você sentiu não era real ou que não deveria ter acontecido. Você o amou e foi feliz, o que é lindo. Mas esqueça o pó de fada. O considere como… Como é mesmo o nome daquela coisa que Henry usa?

— Tinder? - Regina falou com a voz ainda chateada.

— Sim, um Tinder para aproximar do melhor pretendente humano. Não significa que vá dar certo. Você fez dar certo. Amor Verdadeiro é algo construído, é viver junto, brigar, se amar, se entender, cuidar. Nenhum pó de fada pode fazer isso por você. 

A Rainha começava a ficar menos triste, pois havia sido tão bonito o que fora dito, que tocava as mãos da outra, apertando de leve as pontas dos dedos. Ela então disse:

— Você está dizendo então…

— Que nós podemos vir a ser esse Amor Verdadeiro que você procura se nos dermos a chance.

As palavras fizeram com que ambas sorrirem e então, não saberiam dizer da parte de quem, talvez por ambas, veio o beijo. Elas estavam felizes desta forma, ainda que o futuro fosse incerto, ou talvez não fosse tão incerto assim. Quando se separaram, ainda ficaram abraçadas por mais algum tempo e os olhos da morena fitavam o ovo. Malévola não havia dito nada sobre a concepção, mas Regina lembrava bem da enciclopédia. Não acreditava na hipótese de auto-fecundação, assim como sabia que as duas estavam sendo exclusivas em seu relacionamento. Sobravam apenas duas hipóteses: ou a Rainha era a outra mãe e o bebê nasceria meio humano, meio dragão, com aparência humana, ou a dragoa era mãe única, caso em que nasceria apenas dragão. A morena sorriu diante desta última hipótese.

— A que se deve essa cara? - A loira perguntou beijando-a no rosto.

— Nada, só um pensamento que me ocorreu - foi evasiva.

Queria guardar a suposição apenas par si, dentro de seu coração, enquanto esperava ansiosa pelo nascimento do bebê.

Talvez o Amor Verdadeiro estivesse mais perto do que haviam pensado.

 

 

FIM (de verdade)

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim! Muito obrigada a todos que acompanharam a história, seus comentários são sempre muito importantes. Se quiser conversar sobre alguma coisa do enredo, qualquer coisa, ideias, dúvidas, (ou só pra bater um papo legal sobre o ship Dragon Queen) pode mandar mensagem que respondo a todo mundo feliz! Para mais histórias de Mal e Regina ou de Mal, Regina e Emma, clica no meu perfil! =*