The Good, the Bad and the Egg escrita por Lady Nymphetamine


Capítulo 6
Capítulo 06




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Emma seguiu com o seu carro em direção a Granny’s, chegando apenas alguns instantes antes de Regina. As duas escolheram uma mesa mais afastada para poderem conversar sem serem interrompidas, ao que Ruby se aproximou e pegou os pedidos de café. Finalmente estando em privacidade, restava ainda um silêncio incômodo. Era claro o desconforto que a situação causava e por motivos de se achar a errada naquele momento, Regina foi a primeira a falar:

— Desculpe pelo que aconteceu na prefeitura. Desculpe por não ter trancado a porta, desculpe por… Tudo.

Não conseguia nem ao menos listar. Não que se sentisse culpada por estar tendo algo com Malévola, mas sim pela forma como isso só acrescentava à grande bola de neve de coisas que Emma precisaria aprender a lidar naquele momento.

— Eu sei que as coisas andam confusas, mas… - Regina ainda tentava falar, mas foi subitamente interrompida.

— Você a ama? - Emma perguntou direta.

A Rainha não precisou usar palavras para responder, pois ela abriu um sorriso e os seus olhos brilhavam só de parar para pensar a respeito.

— Acho que é um pouco cedo para afirmar com certeza - disse.

— Eu sei que você me disse que costumavam sair na Floresta Encantada, só espero que não seja como antes - a Xerife ainda se lembrava do sonho.

Regina piscou algumas vezes com este comentário. Claro, muito poderia ser inferido com base no fato de Malévola ter posto o ovo sozinha, além disso, de ter sido presa pela Prefeita no subsolo da cidade. Não deixava margem para dúvidas quanto ao sentimento da morena não ser dos mais românticos ou confiáveis. Por isso viu-se obrigada a ser mais explícita:

— Eu mudei, você sabe. Ela não precisa mudar. Malévola sempre foi… Ela sempre foi perfeita, sabe? Eu não poderia ficar com ela antes, mas agora é diferente.

— Eu tive um sonho - Emma começou. - Mostrava a minha vida, como ela seria se Malévola tivesse conseguido te impedir de lançar a Maldição das Trevas.

— E? - A Rainha ficava nervosa só de imaginar.

— Ela te colocou sob efeito da Maldição do Sono para te parar - havia certa tristeza na voz. - Ela achava que você não a amava de volta e por isso não tinha coragem de testar se o Beijo de Amor Verdadeiro funcionaria.

As palavra foram tão pesadas que tudo que Regina conseguiu fazer foi abaixar o rosto, pois sentia que os seus olhos começavam a marejar. Ela fora assim mesmo, tal comportamento não lhe era nem um pouco estranho. Para a sua felicidade, o café chegava, ao que a morena punha um sorriso falso em seu rosto, porém ainda se movia inquieta mais uma vez, antes de conseguir falar:

— Você se importa com ela.

— Claro que me importo, ela é minha mãe - a resposta saiu mais rápida e natural do que Emma poderia ter esperado, surpreendendo até ela mesma. - Quer dizer… Eu quero fazer isso dar certo.

— Foi o que o seu sonho te disse?

— O sonho serviu pra mostrar que as coisas precisavam ser como foram e que ainda temos chance de ser todos felizes. O que eu vi, aquilo não foi bom pra ninguém. Temos a chance de sermos felizes, mas algo precisa ser feito.

— E o que você tem em mente?

Emma então pegou o celular de Regina sobre a mesa e digitou uma mensagem, mostrando pouco antes de enviar. Era para Lily com os dizeres “Que tal jantar hoje em minha casa com a sua mãe? Chamei Emma e os Charming, espero que não se importe”. A Prefeita não pareceu muito feliz de estar sendo usada para o esquema, achava que já havia se envolvido além do limite que Lilith poderia aceitar, porém a resposta logo veio com um “Ok. 20h”. Foi como se um peso fosse tirado dos ombros da Rainha e ela sentiu que finalmente deixava o ar sair de seus pulmões.

— Bem… Funcionou - disse.

— Vai funcionar mesmo é de noite, no jantar. Eu não vou deixar que nada mais atrapalhe e essas pessoas precisam conversar.

E por “essas pessoas”, Emma incluía a si própria. Estava mais do que na hora de agir e abandonar o ciúme, aquele mesmo que sentira do bebê Neal e agora sentia por Lily. A irmã não tivera qualquer culpa, pedira por isso tanto quanto ela e perdera muito mais carregando as trevas em si. Ela iria conseguir, era a Salvadora e o seu papel era dar a todos os Finais Felizes. Este pensamento a fez sorrir.

— Pensando em que? - Regina perguntou curiosa.

— Nada - Emma mentiu, mas logo acrescentou. - Você é madrasta de minha mãe, agora vai ser minha madrasta também.

Enquanto a loira ria, a Rainha revirava os olhos e tomava a sua bebida desejando ter acrescentado uísque. 

Mais tarde, em sua casa, Regina, com a ajuda de Henry e até mesmo de Emma, já havia acabado de preparar o jantar, que se encontrava agora no forno. Enquanto a Salvadora foi para a própria casa se arrumar, a Prefeita fazia o mesmo em sua residência. Ela se encontrava sozinha em seu quarto, olhando para dentro do closet ainda de roupão de banho, tendo dificuldades quanto ao que escolher. Esta noite não era sobre ela e agradecia muito por isso, porém queria estar bonita. Se pegou pensando em Malévola e automaticamente uma de suas mãos foi parar no rosto, lembrando do toque macio da dragoa contra a sua pele. Deu um passo para trás, para se encostar na parede, até que sentiu algo macio, quente em suas costas, que logo a envolvia.

— Eu posso não ouvir pensamentos normalmente, mas os seus gritam - disse uma voz.

Imediatamente a Rainha sorriu, sem precisar se virar, apenas voltando o rosto para olhá-la de lado.

— Não conseguia decidir o que vestir - a morena disse.

— Ainda não entendo a obsessão de vocês humanos com roupas - Mal falou. - Você tem uma pele tão linda - as mãos iam descendo pelos braços da mulher a sua frente. - Deveria mostrá-la mais.

— Só pra você.

Então se virou por completo e beijou a loira sobre os lábios em um gesto carinhoso, romântico, sem a malícia habitual. Havia um sentimento ali, uma necessidade e uma ânsia, algo que Malévola já experimentara naquela boca havia muitos anos, em circunstâncias totalmente distintas.

— O que houve, querida? - Perguntou ao se separar do beijo. - Algo está errado? Você não deveria se preocupar com esta noite.

— Não, não é isso… - Regina estava um tanto relutante em falar, então abaixou o rosto no pescoço da outra como quem procura abrigo, segurança.

O gesto já era familiar de Malévola, quando a Rainha estava pensando em alguma coisa que a consumia por dentro, mas que não conseguia expressar. Havia pouco o que fazer em tais circunstâncias além de dar apoio incondicional. Geralmente este tipo de cena vinha acompanhada de tristeza e raiva, fosse por Snow White, pela morte de Daniel, por uma terrível noite com Leopold ou as lições desumanas de Rumpelstiltskin. Mas aqui, neste mundo novo, em Storybrook, a dragoa tinha que pensar um pouco mais no que poderia estar desencadeando tal reação. Era como um animalzinho de rua que demandasse amor, um gato que desejava ser afagado. Talvez fosse exatamente isso que ela precisava: amor. Enquanto os compridos dedos passavam pelos cabelos negros em forma de carinho, falou com a voz suave:

— Nós duas merecemos uma segunda chance em tudo. Eu estou tendo a minha agora com Lily, Emma, minha família. As coisas podem ir devagar.

Mas Regina balançou a cabeça de forma negativa, fechando os olhos pelo que lhe pareceu uma eternidade. A conversa com Emma daquela manhã parecia estar gravada a ferro em brasa na sua mente, repetindo tal qual um disco arranhado. “Você a ama?”. E se elas duas não fossem para ser? E se Malévola não fosse o seu Amor Verdadeiro? Robin era, era a sua Alma Gêmea. Esses pensamentos eram confusos e começavam a doer em sua cabeça e seu coração. Nunca fora muito de acreditar em destino, mas tudo se provara tão certo com o que Tinkerbell lhe mostrara, então como poderia negar? Não, este não era o momento para ocupar a dragoa com tais coisas, Mal já tinha muito com o que se preocupar, seus próprios problemas, para que Regina fosse mais um. Sendo assim, a Prefeita se recompôs e se afastou com um sorriso que não alcançava os olhos escuros:

— Vai ficar tudo bem, se preocupe com as suas filhas.

Depois de falar, deu um breve beijo sobre os lábios da loira e se distanciou para olhar as próprias roupas do closet.

— Azul? - Perguntou exibindo um bonito vestido de mangas longas, que terminava na altura acima dos joelhos.

— Vai ficar lindo em você.

A resposta de Malévola, embora seguisse o rumo de conversa traçado pela morena, não significava que ela não percebera o que estava sendo feito ali, pelo contrário. Nada passava despercebido pelos seus sentidos aguçados e ela sabia que a Prefeita estava escondendo algo, mas não forçaria. Se a Rainha não estava pronta para falar, não a obrigaria. Disse então com a voz mais calorosa:

— Muito obrigada por organizar este jantar, Regina. Significa muito para mim.

— Não precisa agradecer, só quero ajudar - a resposta veio em igual tom.

As duas se olharam pelo que pareceram longos segundos, até que a morena desviou, sem conseguir mais sustentar o olhar. Havia certas distinções culturais entre humanos e dragões que incomodavam e uma delas era a capacidade de ficar olhando fixamente, como um felino, analisando movimentos como se pudesse ler a alma das pessoas. Fazia Regina se sentir nua, mais do que estava sob o roupão. Percebendo que o seu momento ali deveria acabar, Malévola então disse:

— Vou deixá-la se arrumar então, não quero estragar a surpresa - mas, antes de sair, fez como se lembrasse de algo e acrescentou: - Só mais uma coisa, eu não sei que outros usuários de magia você conheceu, mas não devem ter sido os mais sagazes se nenhum deles pensou em lhe dizer que o pó de fada só funciona com humanos.

A dragoa deu uma piscadela e então sumiu em uma nuvem de fumaça negra. Regina sentiu que deixou de respirar naquele instante. Isso era de muito mal gosto. Malévola então sabia no que ela estava pensando o tempo todo, deveria ter imaginado, não poderia enganar um ser milenar. Sorriu, embora ainda estivesse um pouco nervosa por não haver compreendido por completo  significado daquelas palavras e desejasse que fosse mais clara sobre um assunto tão importante. Porém, não era a hora para isso, haveria bastante tempo depois do jantar, se tudo corresse bem.

A noite escurecia e a Rainha estava praticamente pronta, apenas colocando seus brincos diante do espelho do quarto quando escutou o barulho da campainha. Ouviu passos apressados pela casa que desciam as escadas.

— Henry! O que eu disse sobre correr? - Ela reclamou.

Mas o filho nem ao menos devia ter escutado, pois ele abriu a porta do mesmo jeito, ao que Regina escutava vozes no andar inferior. Deixou então o próprio quarto e se dirigiu para o hall de entrada, onde Emma estava segurando uma garrafa de vinho e um pacote de latas de cerveja.

— Eu não sei como vocês gostam disso - a morena falou.

— Você fica com sua cidra e eu com minha cerveja - a Salvadora se defendeu indo colocar as bebidas na geladeira da cozinha.

Enquanto isso, a loira aproveitava para sentir o cheiro da comida no forno.

— Está ficando bom - ela disse.

— Claro, minha mãe que fez - Henry provocou. - A outra mãe.

— Elas gostam de costelas - Regina comentou para Emma, checando o ponto da carne. - Suas mães. Snow gostava bastante de costelas e Mal… Nem preciso falar, ela ama tudo que possa esquentar até quase virar cinzas ou quebrar os ossos com os dentes.

— Ou seja, qualquer animal - a Salvadora pontuou.

— Faz parte da natureza.

Henry não perdeu a deixa para começar a cantarolar “O Ciclo da Vida”, fazendo as duas mulheres rirem. Quando o momento passou, ficou um silêncio um tanto constrangedor no qual as duas se encaravam, certamente lembrando de mais cedo. Foi o garoto quem quebrou o momento:

— Então, tudo certo? Quer dizer, vocês acham que vai dar tudo certo? Lily não me parece tão aberta a conversar.

— Ela vai estar - Regina comentou. - Do lado de Mal, Lilith vai estar aberta ao diálogo.

— Eu espero - Emma disse.

— Se o seu plano falhar…

— Não vai falhar - a Xerife tinha confiança. - Não vai falhar porque eu conheço eles. Posso até não conhecer Malévola muito bem, mas conheço você e, se você confia nela para fazer isso dar certo, então vai dar sim.

A Rainha não parecia ter a mesma fé, mas nada disse. Esperava de verdade que tudo funcionasse. Foi quando a campainha tocou de novo e agora Emma e Henry foram atender andando igualmente rápido, mas com suficiente noção para não correr. A morena cruzava os braços e ia logo atrás, desistindo de reclamar, pois havia coisas que não se mudava. A Salvadora abriu a porta e lá estava Malévola, com um bonito vestido verde de alças, pois o frio não incomoda a quem tem fogo dentro do coração. Acompanhada da mãe, estava Lily um pouco mais atrás, não parecendo exatamente feliz, mas ao menos se deu o trabalho de colocar uma calça jeans nova com uma blusa social de tecido fino.

— Boa noite - a mais velha cumprimentou.

Lilith, por sua vez, só fez erguer o pacote de cerveja que trazia em mãos, mostrando-o para Emma, pois esta era a sua forma de dar “oi”. A Salvadora pegou as bebidas enquanto Henry fechava a porta. Malévola sorria, embora ela também estivesse um pouco nervosa, sabia ocultar enquanto se aproximava de Regina e passava brevemente os dedos pelos da Prefeita, de uma forma bem discreta, pois respeitava o espaço da morena e deixaria que ela ditasse o avanço da relação. Esta ficou feliz com o cuidado, em especial por ser diante de seu filho.

— Vinho? - Emma interrompeu o momento.

Ela certamente era quem estava mais nervosa ali. Conseguia lembrar ainda do sonho, do abraço, até do cheiro de Malévola naquele mundo irreal. Vê-la em carne e osso diante de si era algo um tanto estranho, em especial considerando que nunca foram muito próximas de verdade. Queria mudar isso.

— Uísque - a dragoa respondeu.

— Emma - Regina chamou a Xerife -, poderia por favor pegar aquela caixa de Blue Label que fica na dispensa? Henry sabe onde está. E os copos de cristal. Lily - então se voltou para a outra -, eu sei que você e Emma gostam de cerveja, já tem umas na geladeira, fique a vontade para se servir.

Enquanto os três iam para a cozinha, a Rainha seguia para a sala de estar acompanhada de Malévola. Em um instante longe dos olhos de todos, a dragoa deu um breve beijo sobre os lábios rubros de sua anfitriã.

— Você é um amor - ela disse.

— Não, você que é. Obrigada.

Mas a conversa não pode prosseguir muito. Mal as duas haviam sentado no sofá, Emma voltava com dois copos de uísque, um com gelo e o outro sem, enquanto Lily trazia duas latas de cerveja. Já Henry ficava só com suco mesmo.

— Achei que preferisse quente - a loira comentou estendendo o copo sem gelo para sua mãe.

A dragoa a olhou pelos que pareceram ser vários segundos, antes de aceitar o copo, medindo, calculando o que estava acontecendo e como deveria agir. 

— Acertou, obrigada - disse finalmente.

Um novo momento silencioso e constrangedor se formou. Todos bebiam, sentados nas poltronas ou nos sofás diante da lareira, mas ninguém falava nada. Emma tentava pensar o que poderia falar, algo que fosse agradável, a cerveja ajudaria depois que começasse a subir sua cabeça, mas não agora. Decidiu arriscar:

— Poderíamos ir caçar um dia desses - a frase saiu tão rápida em meio ao seu pensamento desordenado que chega ficou desconexa, pois logo estavam olhando para a Salvadora sem entender muita coisa. Ela tratou de acrescentar, olhando de Mal para Lily: - Vocês caçam, não é? Pelo menos uma vez na semana. Podemos ir juntas.

Era uma excelente ideia de atividade em família, não a melhor para os humanos, mas certamente a favorita dos dragões. O pensamento fez Malévola abrir um largo sorriso com seu batom muito vermelho, tal qual o sangue de suas presas:

— Eu adoraria.

Imediatamente, Lily fez um ruído de desgosto, claro, estava agora lutando com a irmã por atenção e perdendo a única coisa que era apenas das duas dragoas. Bastou um olhar de sua mãe para que ela se retratasse:

— Certo… Mas ela não pode se transformar, vai ser um saco.

— Emma possui outras habilidades, com magia - Malévola pontuou. - Cada um foca naquilo que faz de melhor. Vocês duas seriam uma excelente equipe de caça.

— Só fiquem longe do acampamento dos Merry Men, eu não aguento mais receber reclamações sobre disputa de territórios das caças entre vocês - Regina pontuou.

— Como quiser - Mal concordou de pronto.

A campainha tocou mais uma vez e Emma se levantou para ir abrir a porta. Lá estava os seus pais, ou ao menos o casal que havia assumido a sua paternidade desde o começo. Mary a abraçou e beijou com afeto, controlando o próprio nervoso com o pensamento de “ela é nossa filha”, ao que David logo fez o mesmo. Eles traziam um bolo pudim, algo que a Princesa havia tomado gosto por fazer e que, nas palavras dela, “quem não ama pudim?”. Comida aproxima pessoas, então era uma boa oportunidade. A Salvadora então os levou não para a sala, mas para a cozinha, indo guardar o doce.

— Quem já chegou? - David perguntou. Mas foi Mary quem respondeu:

— Somos os últimos, querido - ela era esperta em notar. - Por isso Emma nos trouxe para a cozinha e não para a sala.

— Olha… - A filha voltou-se para eles já entregando cerveja nas mãos de ambos. - Eu não quero brigar, eu quero tudo menos brigar. Então vamos ser legais.

— Claro - David falou de imediato. - Querida, nós queremos que isso dê certo tanto quanto você.

— Ótimo, pois eu vou precisar de toda ajuda que eu puder ter.

Seguiram finalmente para a sala de estar, onde os outros já estavam esperando. Ainda que Lily soubesse de quem se tratava, tivesse ciência que os veria, seus olhos brilharam em amarelo vivo quando os viu, tomada de uma raiva instantânea e automática. Felizmente, a cor sumiu tão rápido quanto veio. Malévola, por sua vez, se virou minimamente e sorriu de uma forma inteiramente fria para ambos. Apenas Regina e Henry se levantaram de seus lugares e os cumprimentaram de verdade.

— Acho que o jantar está quase pronto - a anfitriã comentou.

— Que bom, eu estou faminta - Emma ficava feliz por alguém falar alguma coisa. - Vamos comer?

A grande mesa de jantar da mansão Mills tinha o formato redondo, porém, ainda assim, o lugar da Rainha era reservado de costas para as janelas, com uma visão ampla para a entrada da sala de jantar. Enquanto os convidados iam tomando os seus lugares, a Prefeita ia para a cozinha e Henry ia logo atrás dela para ajudar a levar os pratos quentes. Emma, por sua vez, observava o dilema moral que se formava em quase toda festa de família: onde cada um deveria sentar. Malévola era prática e tomou de imediato o lugar à direita da dona da casa. Ao lado dela estava Lily, Emma viria logo depois para então o casal Charming e Henry. Isso iria colocar os problemas a uma distância segura, talvez não de uma bola de fogo, mas segura o bastante para o nível de civilidade que se buscava alcançar. 

Emma tratou de observar se todos estavam bem servidos antes de colocar as cervejas na mesa. Só se escutava o tilintar de talheres e um ou outro comentário polido a respeito da qualidade da comida. Era tudo falso demais, artificial demais, fazia a Salvadora lembrar de alguns de seus lares adotivos. Lily também estava nervosa:

— Odeio isso - comentou baixinho. - Nunca vai dar certo.

— Temos que nos esforçar - Emma respondeu e lançou um olhar para Regina em busca de ajuda, mas a Prefeita fez um gesto discreto como não saber o que poderia fazer. A Xerife teria que tentar um pouco mais. - Então… Natal está chegando. Eu pensei em um jantar em minha casa, sabe? Eu sei que aqui é maior, mas eu nunca fiz um jantar de natal, ao menos não um que não envolvesse comprar comida pronta, então eu acho que seria uma boa oportunidade pra chamar a família toda. Claro, se nenhum de vocês tiver planos.

Snow foi a primeira a responder, olhando brevemente para o marido antes de confirmar, como se a simples possibilidade de ter algo mais importante do que passar o natal em família fosse algo absurdo:

— Não, não, pode contar conosco!

— Neal vai gostar de brincar com as irmãs - David tratava de incluir as duas.

Lilith, por sua vez, desviava o olhar e mirava Malévola, que tomava mais um longo gole de uísque antes de responder para Emma:

— Regina me disse que esta festa, este tal de natal, era uma época importante neste mundo. Conte conosco para a festa - confirmou pela outra filha.

Mas Lily não havia gostado muito, ou talvez tenha sido aquela propensão, aquela que diz “entre dois caminhos escolha o pior”, ou ainda “não aguento ver uma bad que já quero me jogar”. Assim, a morena não se refreou em disparar:

— Se vamos passar o natal em família, nada mais justo que a família toda saber que vocês duas - e gesticulou para Mal e Regina - estão juntas. Essa merda já é fodida demais de qualquer jeito.

Snow pareceu que ia engasgar com a bebida e precisou colocar as duas mãos na mesa, mirando a madrasta diretamente. David e Henry, por sua vez, não pareceram se importar tanto, pois o Xerife estava tomando um gole de sua cerveja e a porção acabou levando muito mais tempo do que o normal, como quem evita participar de um assunto, afinal, não era problema dele. Já o jovem Autor, indicava pouca surpresa, muito mais conforto:

— Se você está feliz, por mim tudo bem - ele disse para a mãe morena. - Você já sabia? - Ele perscrutava a reação de Emma.

— Já sim - ela respondeu. - E eu estou feliz, elas estão felizes. E assim… - Ela não poderia perder a oportunidade - Quem não gostaria de ter um dragão?

A fala fez com que as pessoas rissem, exceto Lily, que se escondia com a sua cerveja, e Mary, que ainda estava em choque. Mas Mal não deixava de perceber que não era exatamente causar o bem o que sua filha desejava, então colocou uma mão por debaixo da mesa sobre o joelho desta, falando baixinho, de forma que apenas as duas pudessem ouvir:

— Eu te amo - pois seu coração milenar era capaz de perdoar até mesmo a ofensa destinada a ela, quando se tratava de um ato desesperado de amor.

— Isso significa que Mal e Lily vão morar aqui? - Henry perguntou ficando empolgado. - E aí minha mãe vem também? - E olhava para Emma. - Se formos irmãos, eu não divido o meu quarto.

— Eu que não quero o seu quarto - a Salvadora respondeu rindo. 

Enquanto mãe e filho provocavam um ao outro, Regina se inclinava na direção de Mal e sorria. Era por sorrisos assim que a dragoa mataria. Ela então tocou na face da Rainha e respondeu a pergunta do rapaz, mas falando para a morena:

— Quem sabe? Este aqui é um novo mundo em que muita coisa pode acontecer.

A ideia de “dar tempo ao tempo” e não adiantar as coisas parecia ser amplamente aceita ali na mesa. Lily não gostaria de perder a mãe, mas se alegrava que ela estava feliz com outra pessoa e que Emma estivesse tranquila com isso. Até mesmo Snow ia recuperando a cor em seu rosto e tomava mais de sua bebida par se recuperar e enfim dizer:

— Eu estou feliz por vocês. Quer dizer, depois de tudo, vocês mais do que merecem a felicidade.

Poderia parecer apenas mais uma frase pronta de princesa, mas era sincera, o que fez Emma sorrir largamente e pegar na mão dela. Lily apenas a olhou e não se moveu, incapaz de se aproximar de outras pessoas, mas, ao mesmo tempo, satisfeita com o revés favorável de sua tentativa de ferir a família.

A conversa se tornava mais agradável e, tão logo o jantar acabou, Emma vinha trazer o bolo pudim.

— O que é isso? - Mal perguntou olhando a coisa mole e úmida.

— Isso é pudim, acho que você vai gostar - Regina respondeu.

— Todo mundo gosta de pudim - Emma pontuou, já servindo taças para toda a família.

Mais tarde, depois de já tirarem a mesa, enquanto tomavam mais algumas bebidas na sala de estar, foi a vez de Snow falar o que pensava:

— Obrigada pelo convite. Quer dizer, foi bom, foi importante sermos incluídos.

A iniciativa levou David a também se manifestar, porém de uma forma mais direta a Malévola:

— Me desculpe pelo que eu fiz. Eu não tinha o direito, eu deveria saber que nada de bom poderia vir de Gold, ainda mais na Floresta Encantada.

— Não, não tinha o direito - as palavras da dragoa foram um pouco chocantes no clima de reconciliação. - Mas você fez para salvar sua amada, eu queimaria o mundo para salvar Regina. E não se pode dizer que não gerou nada de bom. Eu tenho Emma graças aquela poção e Lily graças ao Autor. Foram muitas coisas ruins, mas tudo… - ela suspirou e olhou para a Prefeita, quem mais tinha uma trajetória de vida semelhante. - Tudo acabou bem, como deveria estar.

A Rainha olhou de volta para Mal e se aproximou, tocando-a na mão e apertando de leve como uma forma de mostrar suporte. Foi a força que a loira precisava para continuar a falar:

— A única razão pela qual eu os perdoei e pela qual eu gostaria que Lily e Emma fizessem o mesmo é porque eu finalmente pude tirar este peso de meu peito e eu estou feliz com as minhas filhas. Eu não preciso que isso me destrua, como certos rancores já fizeram - e apenas Regina ali sabia que a referência era a Briar Rose. - Ficou no passado, eu quero seguir com a minha vida sem guardar rancor.

— Eu te entendo - Snow comentou. - Quer dizer, isso significa muito para mim e para David. Nós também tivemos a nossa cota de trabalho perdoando, nem sempre estivemos com a nossa filha - e a Prefeita tomou um longo gole de bebida com o sentimento de culpa. - Mas nós trabalhamos isso.

— Regina é uma das pessoas que nos é mais querida hoje - David acrescentou. - Somos agradecidos por termos ela em nossas vidas.

— Eu espero que consigamos chegar neste ponto - Malévola disse, deixando claro que ainda não haviam chegado ao acordo perfeito. 

— Já fico feliz com essa possibilidade - Snow respondeu.

— Eu também - o marido concordou.

Foi um momento de paz. Não era uma certeza, mas era uma promessa de tentar reconstruir, se reerguer e trazer boas consequências de algo que já havia causado tanta mágoa. Emma mordeu o lábio inferior de leve e chegou perto de Lily, quem ela podia sentir que estava mais deslocada naquele momento. 

— Nós não precisamos mais ter raiva - a loira disse.

— Eu não sei o que eu sou sem a raiva - a outra admitiu com as trevas revirando em seu peito.

— Você é minha irmã - a Salvadora foi bastante sincera e afetuosa -, é a filha de Malévola, Snow e David. Irmã de Neal, tia de Henry. Todos aqui te amam e vão te amar com ou sem trevas.

— Sendo ou não um lagarto gigante que cospe fogo - ela acabou rindo.

— Aí você já está se exibindo - a outra respondeu em igual tom.

Tudo estava bem. Aquela família estranha, um pouco desajustada e totalmente fora dos padrões de qualquer tradição, era a deles e eles se amavam na medida do possível, ou aprenderiam a lidar com as suas diferenças para poderem continuar a viver em paz. Emma estava satisfeita, saindo de ser a garota de orfanato que nunca conseguira ser adotada para alguém cercada de amor por todos os lados. Esse era o seu final feliz.

— A maldição está vindo! A maldição está vindo! - Escutou-se a ressonante voz de Leroy vinda da rua.

Ninguém entendeu nada, mas também não esperaram muito. Com uma breve troca de olhares, as bebidas foram deixadas de lado e todos seguiram para o lado de fora da mansão. Parados em fila no meio da rua, observavam enquanto a tempestade avançava engolindo toda a cidade sem qualquer piedade, dominando tudo que encontrava no caminho. Snow olhou para Regina e balançou a cabeça positivamente, depois para Malévola.

— Mais uma segunda-feira, não é? - A dragoa comentou, ao que os demais concordaram.

Era hora de todos os heróis unirem suas forças e lutar contra a ameaça iminente. Emma voltou-se para Lily, que mexia no celular procurando algo.

— O que está fazendo? - A Salvadora perguntou.

— Escolhendo nossa música-tema! - A outra respondeu.

Antes que Emma pudesse reclamar, a música já estava ecoando no aparelho e, porque não dizer, todo herói precisa de seu tema para deixá-lo mais forte contra as adversidades. Lily olhou para a irmã e segurou a sua mão enquanto sorria, exatamente como nos velhos tempos, ao que o som entoava a canção:

 

Ela gosta muito de viagem

Vodka, tequila e breja

Mas sempre quando chama uma mina

Escuta que o namorado não deixa

 

Nunca foi por qualquer conversinha

Que o coração dessa mina balança

Mas se bem que não é culpa dela

Se o dedo dela não curte aliança

 

Mas é fácil de ver que sozinha

Ela rouba qualquer cena

Mas dessa vez não vai 'tá sozinha

Porque toda loira tem sua morena

 

E fazer elas de namoradas

Isso todo mundo quer

Manda passar outro dia

Que a frase do dia é

 

Amiga, parceira

Só se for amiga solteira

Amiga, parceira

Só se for amiga solteira

 

Livre, louca, curte a vida

E o melhor vou te dizer

Não só sabe suas loucuras

Mas vive elas com você

 

(MC’s Pikeno e Menor - Amiga Parceira)

 

 

FIM


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Notas finais do capítulo

Calma que ainda não acabou!! Tem epílogo aí vindo pra abordar questões que não achei cabíveis nos capítulos regulares. ;)



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