Assassins escrita por Miss Desaster


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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A sensação de acordar com o gosto de meia suja na boca era ruim, mas estar com tubos ligados ao braço também não acrescentaria na lista de coisas agradáveis para se ter na lista de despertar de um sono muito perturbado. A definição de coisas boas não estavam favoráveis, com exceção de sair daquele terrível pesadelo.

Demorou um tempo para digerir o fato de que estava no quarto de um hospital, os tubos deveriam ter sido o primeiro sinal disso. Sua memória estava tentando organizar os últimos pensamentos antes de ter sido sedado, conclusão mais óbvia para a situação. Havia um cara que pediu o relógio que herdara do avô e a carteira, a atitude mais sensata foi colocar nas mãos no bolso e entregar tudo de valor que possuía e seguir com a vida. Aparentemente a mente de bandidos funciona de uma forma totalmente contrária, o homem sacou a arma e puxou o gatilho.

A partir desse momento tudo se tornou um borrão vermelho de dor e medo. Os homens são criados para não demonstrar ou sentir medo, mas quando a vida está na mira de um revólver provavelmente era permitido se apavorar. No primeiro instante o barulho da arma é mais alto do que os próprios pensamentos – que nessa altura já estão desordenados -, a bala entra no corpo com uma velocidade tão grande de que se torna difícil sentir dor naquele instante. Os médicos dirão que é o efeito da adrenalina misturado a rapidez do projétil. Quando o corpo processa que foi atingido as dores começam, a pele parece queimar na área e uma dor excruciante. O processo de pensar se tornava mais complexo com a evolução das dores, ver o sangue jorrando por buracos em duas partes do corpo só trazia o pensamento de que a morte era seu destino. Por último o corpo começa a desistir de se esforçar e os reflexos ficam mais lentos, a escuridão parece oferecer conforto e afastar as dores.

Uma mulher se aproximou quando estava prestes a fechar os olhos e deixar que seu destino fosse determinado, foi como ter ar soprado em seus pulmões e teve força para lhe pedir ajuda, já que a mesma já estava caminhando na direção oposta. Ela disse algumas coisas que não conseguia recordar, mas lembrava de que graças a essa desconhecida não acabara fechando os olhos para um sono eterno. Depois disso foi uma confusão com pessoas, sons e moveram seu corpo pela primeira vez depois de ter sido atingido. A dor logo foi aplacada já dentro da ambulância por algum tipo de sedativo e jurava tê-la visto pela última vez dentro do veículo com ele.

Moira entrou no quarto e abriu um sorriso imenso ao ver o filho de olhos abertos.

— Que susto você nos deu. – Ela disse e correu em direção à cama. – Não conhecíamos seu lado aventureiro.

— Se continuar me apertando desse jeito, de nada vai ter adiantado eu ter sobrevivido.

— Você não deveria brincar com essas coisas.

Os olhos estavam marejados e mesclava com o sorriso ao ver o filho acordado pela primeira vez em dois dias. Nenhuma mãe deveria passar por uma situação dessas ou similar. Moira passou as mãos pelo cabelo de Oliver e depositou um beijo na testa assim como fazia quando era criança, mas dessa vez ele não reclamou.

— Eu posso beber água? – De nada adiantaria entrar nessa discussão agora. Eles teriam todo tempo do mundo para falar sobre o ocorrido. – E uma escova de dente?

— Preciso chamar uma enfermeira antes. – Ela parecia receosa em sair do quarto, mas saiu pelo corredor em busca de alguém capaz de ajudar.

A enfermeira de meia idade chegou com uma expressão neutra e começou com as perguntas que deveriam ser de rotina. Tudo o deixava com vontade de levantar e sair correndo daquele quarto o mais depressa possível.

— Por quanto tempo eu dormi?

— 48 horas depois da cirurgia. – Ela respondeu e seguiu concentrada em escrever as anotações no prontuário ou observar as alterações das máquinas conectadas ao seu corpo.

— Pelo visto a maçã estava realmente envenenada. Quando vou poder ir pra casa?

— O cirurgião vai vir conversar com você, mas precisa passar por uma observação de no mínimo 24 horas.

Assim que a enfermeira saiu, estava autorizado a beber água e podia ter um banho para se sentir um ser humano outra vez. Ela havia perguntado se Oliver precisava de uma pessoa que o ajudasse na tarefa, mas já era humilhação demais estar naquele roupão com o traseiro de fora para quem quisesse apreciar a vista. Definitivamente foi um não.

Olhar para os dois pontos suturados no corpo não era sensação mais agradável do mundo, mas logo a água quente tratou de levar pelo ralo esses pensamentos. Era capaz de curtir um banho em paz. Ao menos por cinco minutos.

No momento em que pisou no quarto teve vontade de voltar para o chuveiro e ficar lá até poder sair do hospital sem maiores problemas. Uma sábia pessoa lhe disse certa vez: se tudo der errado, vá para o chuveiro. Suspirou na espera do policial se pronunciar, mas ele não precisava ser gênio para saber o teor da conversa.

— Boa tarde, Senhor Queen. Sou oficial Harper. É bom saber que já está se recuperando desse infortúnio. Podemos conversar?

— Tudo bem. – Quanto mais cedo tivesse a conversa, logo o policial terminaria o serviço e poderia ir embora.

— O senhor conhece a pessoa que atirou? – Ele puxou a cadeira e maneou a cabeça para que Oliver sentasse na cama.

— Não.

— Possíveis pessoas que gostariam de te ferir de alguma forma?

— Só os alunos descontentes com as notas das provas finais.

— O que o bandido queria? – Disse ele depois de transcrever a última resposta no bloco em mãos.

— Meu relógio e dinheiro. Uma pessoa viciada em vertigo é capaz de tudo. Essa droga está acabando com a nossa cidade.

— Temos nos esforçado para tirar esse entorpecente de circulação. – Ele olhou em direção da porta na hora em que Moira entrou trazendo uma bandeja de comida. – E sua relação com Felicity Smoak?

— Quem? – Nunca tinha ouvido o nome na vida e ele era bom com fisionomias e nomes.

— A pessoa quem ligou pra ambulância e te salvou. Ela disse que não o conhecia, apenas estava no local e ficou até que o socorro chegasse.

— Eu achei que ela tivesse vindo ao hospital. – Murmurou pensando na confusão depois dos tiros. – Teve alguém que apareceu depois que o bandido fugiu, mas também não a conheço.

— Ela veio até no hospital.

— Qual o nome dela? – Perguntou já sentindo que nenhum obrigado no mundo pagaria essa mulher por ter salvado sua vida.

— Felicity Smoak. – O policial já estava levantando da cadeira.

— Teria como entrar em contato com ela? Gostaria de agradecer por tudo.

— Posso verificar. – Guardou o bloco na farda e acenou na direção de Moira. – Estamos investigando esse crime. Assim que tivermos respostas entraremos em contato. Tenha uma boa tarde.

 

—-

A parte mais irritante de investigação eram os relatórios para informar o andar da mesma. Não era o que fazia tão depressa, mas gostava de fazer suas tarefas antes que elas fossem cobradas. Conseguiu preencher as páginas com todo aspecto que havia mudado na vida de Josh desde o momento que ele saíra da Liga.

Algo não encaixava naquele cenário mesmo olhando de outros ângulos, ela havia tentado de todas as perspectivas e terminavam com Josh vivendo uma vida comum. Uma pessoa não se daria todo o trabalho de fugir da organização para viver normalmente, mas era uma boa estratégia para alguém que quisesse ficar fora do radar por um período. Talvez não estava interessado em chamar atenção até que fosse estritamente necessário. Em 99% dos casos alguém que foge está correndo de alguém, então ao não encontrar nenhuma atividade suspeita a deixava com a sensação de ter deixado alguma brecha em toda rotina de seu alvo.

Em alguns dias não seguia Josh, andava no parque da cidade ou ia ao Centro e observava os cidadãos nos seus afazeres diários. Era uma tentativa de se sentir mais conectada e entender suas motivações, desejos e comportamento. Não poderia ser apenas aquilo. Algo que havia aprendido ao longo dos anos é que nada era preto e branco. Necessidades extremas levavam pessoas a atitudes diferentes do usual, mas o estranho é que Josh era um soldado de extremos.

Fechou o notebook assim que o relatório acabara de ser imprimido, precisaria levar até a próxima estação dos correios e com sorte chegaria na próxima semana. Teria mais um mês para o próximo relatório e saber o motivo de estar tão incomodada com esse caso em especial. Nada sobre Josh era excepcional, mas improvável com certeza.

Sentiu uma raiva súbita do homem não agir da forma esperada e facilitar seu trabalho, já que a tortura era carta fora do baralho.

Um zumbido estava preenchendo o ambiente até Felicity se dar conta de que era a vibração do telefone, era incomum que o mesmo tocasse e ainda mais com um número local.

Era o policial do caso que havia se metido algumas noites atrás, sua presença havia sido solicitada. Estava sentindo arrependimento desde o momento que foi até o hospital para ajudar alguém que não conhecia, dado seu nome verdadeiro e seu único telefone real ao longo dos anos. Começara a imaginar se o indivíduo havia morrido e agora estava metida num caso de assassinato.

A Liga ficaria muito feliz.

O policial não lhe deu informações para saber se o homem estava morto ou era o final desse processo. Em caso de morte não a chamariam até o hospital, então não se preocupou o suficiente para se apressar e parecer interessada demais. Ou suspeita.

Não ter um carro era uma das maiores frustrações de sua vida enquanto mantinha as viagens de trabalho. Carros eram rastreáveis.

—-

Após a saída do oficial do quarto pôde ter um pouco de paz, comer e ver os programas ruins que passavam nos canais disponíveis no hospital.

Deu um enorme trabalho convencer a mãe de que estava tudo em ordem, mas o que realmente a convenceu foi de que um hospital não era lugar para Thea mais tempo do que o necessário.

Os episódios de Friends o ajudaram a dar algumas risadas e no final da tarde, seu pai, Robert apareceu no quarto bem após o horário de visitas.

— Oi filho. Como está se sentindo? – Disse se aproximando e lhe dando tapinhas na mão. Os tapinhas que dava de encorajamento quando era criança.

— Como se tivesse sido atingido. – Sorriu um pouco e colocou a tv no mute.

— Você não precisa fingir comigo, Oliver. Não sou sua mãe e posso garantir nem ela acredita muito no que está dizendo.

— Me sinto preso, meu corpo dói em lugares que não acreditei ser possível e entediado. – A última coisa que gostaria de parecer é rabugento, deveria estar se sentindo agradecido por estar vivo sem as maiores consequências. O problema é que sua mente ia para lugares muito mais longe do que apenas a gratidão por sua vida.

— Bem melhor, não é mesmo? Posso te trazer um livro se precisar ficar aqui mais tempo do que o planejado. – Robert remexia na maleta de trabalho. O que não era surpresa, ele estava sempre envolvido com contratos sem fim, processos contra empresas milionárias e o celular sempre tocava nos horários mais inusitados. – Enquanto isso tenho um sobre locais para safari na África.

Oliver às vezes esquecia como o pai era uma pessoa aleatória e só ele para carregar livros sobre a África ou sobre lugares interessantes para se conhecer na Chechênia. Era reconfortante ter um pouco normalidade depois de tanto caos.

— Achei que estava interessado na Europa quando nos falamos da última vez.

— Nós sempre podemos descobrir coisas novas sobre o mundo. O que não falta são locais fascinantes para se conhecer. – Disse o pai enquanto retirava alguns papéis do livro.

— Você acabou de voltar da Indonésia, pai. – Pegou o livro e começou a olhar o que poderia ter atraído o pai para aquela região.

— E preciso começar a pensar no próximo ano. O dinheiro não irá se juntar sozinho. –Observando o filho na cama e se lembrou de algo esquecido ao longo do dia. – Sua mãe está preocupada. O que aconteceu, meu filho?

Lembrar do ocorrido deixava um nó na garganta de Oliver, não era preciso nem fechar os olhos para lembrar com clareza. Começava a se preocupar com o que faria na hora de dormir, se aquelas imagens o assombrariam na hora que seu corpo devia relaxar.

— A sensação de que você vai morrer é horrível. É quase como se ver da perspectiva de outra pessoa. O tiro também dói bastante. – Tirar aquilo do peito trouxe um alívio maior do que pretendia ou esperava.

— Eu não posso te falar que entendo o que sentiu, Oliver. Você não precisa enterrar suas aflições. Estaremos aqui pra ouvir suas palavras ou seu silêncio.

Oliver apenas concordou com um aceno, não teria nada pra dizer enquanto seu cérebro não conseguisse processar os eventos. Seus pais haviam criado os filhos sob o conceito de que você fala o que sente, não esconde ou faz jogos. Sua casa era um lugar de honestidade.

— O que acha dos leões? – Robert pegou livro e tirou o marcador na parte que falava das visitas aos leões, os perigos e aqueles animais pareciam ter dentes afiados.

— Não temos um lugar com menos aventuras?

— A vida é uma aventura, meu filho. Temos que aproveitar cada instante. – E com isso ele continuou concentrado em quais atividades os safaris costumavam incluir, as roupas que deveriam usar e as vacinas necessárias. Era essa atitude que tornava fácil estar perto do pai.

Oliver e Robert passaram o tempo lendo sobre a África e como seria impossível conhecer todo continente com o tempo que tinham de férias. As férias da família Queen sempre fora tradição desde quando eram crianças, conforme cresciam as viagens se tornavam mais longas e distantes.

Quando se deram conta já estavam no Marrocos, fazendo passeios de camelo e o magnifico pôr do sol em uma outra cidade que já havia esquecido nome.

A batida da porta foi suave o bastante para ouvir apenas se estivesse realmente concentrado. Uma loira apareceu no batente e passou os olhos entre Oliver e Robert.

Era ela. A mulher que o havia salvado.

O aperto que sentiu na garganta inimaginável, sua respiração começava a falhar, as memórias se misturando com imagens do presente e pelo canto do olho conseguiu ver seu pai com a expressão tensa sobre a reação que a mulher desconhecida havia causado.

Não havia nada naquela pequena figura parada a porta que lhe causasse medo, mas o vê-la era um golpe de emoções confusas. Após as lembranças ruins, foi reconfortante saber que existiu alguém bom o bastante para salvá-lo e por pensar que sua vida valia alguma coisa.

A massa de cabelos claros estava presa num rabo e lhe dava uma boa visão do rosto delicado. Pensou jamais ter visto olhos tão azuis como aqueles que o encaravam de volta com o rosto impassível.


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Notas finais do capítulo

Era pra ter sido postado há dois dias, mas imprevistos acontecem. Obrigada por quem ler ao primeiro capítulo, se quiserem deixar seus comentários ou sugestões.
Sinta-se em casa para me chamar no twitter também: @missdesaster
Até o próximo!



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